segunda-feira, 15 de abril de 2024

Leitura Ecumênica de "Vendilhões expulsos"

Vendilhões expulsos/ Jesus purifica o templo e ensina 

Legendas (Mateus: Azul, Marcos: Verde, Lucas: Vermelho, João: Amarelo) 

"Estava próxima a páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. Entrou no templo de Deus, e achou os que vendiam bois, e ovelhas, e pombos, e os cambiadores assentados

E disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda. Jesus, tendo feito um azorrague de cordéis (chicote de cordas), lançou todos fora do templo, também os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambiadores, e derrubou as mesas; E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todas as nações; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões! (Isaías 56, 7) Por isto os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: "O zelo da tua casa me devorou".

Responderam, pois, os judeus, e disseram-lhe: Que sinal nos mostras para fazeres isto? 

Jesus respondeu, e disse-lhes: Derrubai este templo, e em três dias o levantarei. 

Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu o levantarás em três dias?  Mas ele falava do templo do seu corpo. 

Quando, pois, ressuscitou dentre os mortos, os seus discípulos lembraram-se de que lhes dissera isto; e creram na Escritura, e na palavra que Jesus tinha dito

E foram ter com ele no templo cegos e coxos, e (Jesus) curou-os. 

Vendo, então, os principais dos sacerdotes e os escribas as maravilhas que fazia, e os meninos clamando no templo: Hosana ao Filho de Davi, indignaram-se, e disseram-lhe: Ouves o que estes dizem? E Jesus lhes disse: Sim; nunca lestes: Pela boca dos meninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor? (salmos 8, 3) 

Os príncipes dos sacerdotes, porém, os escribas e os chefes do povo, procuravam tirar-lhe a vida. Mas temiam-no e não sabiam como realizá-lo, porque todo o povo admirava sua doutrina e ficava suspenso de admiração, quando o ouvia falar

E, estando ele (Jesus) em Jerusalém pela páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome. Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia e não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem. E, deixando-os, saiu da cidade para Betânia, e ali passou a noite."

Deus não vende a sua bênção, nem o seu perdão, nem a entrada no reino dos céus. Não tem, pois, o ser humano, o direito de lhes estipular preço - Assim diz o espiritismo, em acordo com a passagem dos "vendilhões expulsos", e, portanto, também em acordo com as (verdadeiras) religiões cristãs. Isto tem todo sentido, afinal vender mercadoria de qualquer tipo é uma atividade humana / terrestre que visa tirar proveito material (lucro) e é incompatível com um lugar (templo, igreja etc) de disseminação da solidariedade e de atividades voltadas ao espiritual, como as orações. 

O dinheiro (ou qualquer outra "unidade monetária") precifica bens e serviços terrestres, e isto, por mais que se argumente que seja uma "necessidade" humana, geralmente fomenta a comercialização: a troca e acúmulo de bens terrestres (palpáveis, mensuráveis sensorialmente). Assim, o comércio de mercadorias supostamente relacionadas com a religião é um charlatanismo, pois indica uma priorização de bens materiais, geralmente o dinheiro, ante a fé e a espiritualidade. O vendedor de "coisas sagradas", sejam vendedores de animais para sacrifício (típicos do século 1, época de Jesus), o vendedor de indulgências (as "passagens para o reino dos céus", inventadas no século 15) ou o vendedor de curas e promessas de recompensas (inventadas no século 20 e existentes até este início de século 21), são todos charlatães: Independentemente de seus argumentos, o objetivo deles é tirar proveito de seus alvos, consequentemente causando-lhes algum prejuízo. Por isso o comércio jamais deve penetrar ou interromper a prática cristã, seja a solidariedade ou as orações. Para não se perder de vista a lei divina de amor, o verdadeiro religioso ou espiritualista (seja cristão, hindu, espírita ou de qualquer fé) deve praticar o comércio com moderação sem priorizar tal atividade ante a religião/ espiritualidade. A moderação em todas atividades voltadas aos interesses individuais e comerciais é importante para evitar que o apego aos bens materiais sobreponha o progresso do conhecimento intelectual e do desenvolvimento empático / colaborativo (progresso do Bem). Não há verdadeira espiritualidade nem religiosidade sem este desenvolvimento.

Além disto, as pessoas sejam "fiéis" ou não, devem realizar tais atividades separadamente dos templos e locais sagrados por uma questão de respeito, ética e lógica pois Jesus também explica que o templo é uma casa de oração. Ou seja, um lugar onde se busca a Deus, seja nos conformes do judaísmo ou de qualquer religião (católica, protestante etc). O espiritismo dá uma ideia de quão importante é purificar a mente/ a alma na busca por Deus e por sua lei de amor, mostrando como deve ser a mentalidade dos participantes de uma reunião cristã (seja uma sessão, culto ou missa): 

Perfeita comunhão de intenções e de sentimentos (entre os indivíduos); 

Cordialidade (afeto, amizade) recíproca entre todos os membros; 

Ausência de todo sentimento contrário à verdadeira caridade cristã; 

Um único desejo: o de se instruírem e melhorarem (por meio dos conselhos e ensinos dos bons Espíritos). Quem sabe que os Espíritos superiores (praticamente equivalente aos anjos das religiões cristãs e aos santos do catolicismo etc) se manifestam para nos fazerem progredir, e não para nos divertirem, compreenderá que eles se afastam dos interesseiros e dos curiosos que nenhum proveito tiram daí; 

Exclusão de tudo o que, apenas exprima o desejo de satisfação da curiosidade durante comunicações e solicitações; 

Recolhimento (concentração) e silêncio respeitosos, durante as conversas com os Espíritos; União de todos os assistentes, pelo pensamento, ao apelo feito aos Espíritos que sejam evocados; Concurso dos médiuns da assembleia, com isenção de todo sentimento de orgulho, de amor-próprio e de supremacia e com o único desejo de serem úteis. 

De acordo com Platão, seu mestre, Sócrates, também criticava aqueles que assumiam posições relevantes na sociedade (sejam governantes, poetas ou religiosos) e buscavam cada vez mais bens materiais e prazeres corporais. Por esta razão, cidadãos influentes das cidades-estado gregas, como os sofistas, por exemplo, inventaram uma série de acusações para condenar o filósofo: Sócrates, em sua apologia (defesa no tribunal) afirma que iria até o fim da sua vida, exercendo a filosofia e pergunta se aqueles que militam em favor do dinheiro e da fama não sentem vergonha. Pois, por fazerem parte de uma cidade com a reputação de ser tão sábia e forte como Atenas, deveriam se preocupar com a reflexão, a verdade e a alma, para que se tornem sempre melhores. 

Sócrates foi condenado a tomar um veneno mortal (sicuta) e aceitou seu julgamento, não num ato de desistência ou de submissão ante seus acusadores, mas em um ato de respeito às leis, que deveriam servir para uma sociedade justa e que busque se tornar sempre melhor, ou seja, que busque o progresso.

 

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