segunda-feira, 22 de abril de 2024

Leitura Ecumência de "Jesus conversa com Nicodemos"

Jesus conversa com Nicodemos (João) 

"E havia entre os fariseus um homem, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus. Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe: 

Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele. 

Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. 

Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer? 

Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de que eu tenha dito: Necessário vos é nascer de novo. O vento (espírito) assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito. 

 Nicodemos respondeu, e disse-lhe: Como pode ser isso? 

Jesus respondeu, e disse-lhe: Tu és mestre de Israel, e não sabes isto? Na verdade, na verdade te digo que nós dizemos o que sabemos, e testificamos o que vimos; e não aceitais o nosso testemunho. Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais? 

Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu. E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. 

Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. 

E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. 

Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. 

Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus."

Jesus pode ter falado que pessoas como Nicodemos teriam que renascer novamente devido aos seus pecados que podem ter sido muito grandes em número ou em intensidade, exigindo uma transformação completa do líder judeu. Mas para o espiritismo, Jesus pode estar se referindo à reencarnação. Enquanto o ser humano amar mais as coisas da Terra do que as coisas de Deus (amor, humildade, perdão, caridade…), ele não se junta à luz, à Deus, condenando-se aos mundos inferiores ou às reencarnações na Terra. Isto também está de acordo com a filosofia de Platão e com o hinduísmo.

“O que é nascido da carne é carne e o que é nascido do Espírito é Espírito.” Jesus estabelece aí uma distinção entre o Espírito e o corpo. O que é nascido da carne é carne indica claramente que só o corpo procede do corpo e que o Espírito independe deste. 

O Espírito sopra onde quer; ouves-lhe a voz, mas não sabes nem donde ele vem, nem para onde vai: pode-se entender que se trata do Espírito de Deus, que dá vida a quem ele quer, ou da alma do homem. Nesta última acepção — “não sabes donde ele vem, nem para onde vai” — significa que ninguém sabe o que foi, nem o que será o Espírito. Se o Espírito, ou alma, fosse criado ao mesmo tempo que o corpo, sua origem e começo seriam conhecidos. Como quer que seja, essa passagem indica o princípio da preexistência da alma e, por conseguinte, o da pluralidade das existências. 

Deus enviou Jesus para ensinar a importância transcendental da solidariedade, da humildade, do perdão etc. Transcendental porque é importante para a alma que vive tanto na Terra como além. Seus ensinamentos são o que verdadeiramente liberta a alma, salvando-a da escuridão. Tanto que na passagem, Jesus menciona que é o mal que não vai à luz (de Deus, do reino dos céus), pois a odeia e teme que suas obras (egoístas) sejam reprovadas. 

A explicação sobre a "condenação", ou julgamento, que Jesus fez à Nicodemos, também está de acordo com o reino divino onde não há espaço para malevolência e onde as virtudes emanam luz, mostrado no diálogo Fedro (Phaedrus) de Platão, como podemos ver na seguinte parte do texto de João: "Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus." O reino divino onde as virtudes emanam luz é chamado de "Hiper Ouranos" (além céus) por Platão e seria acessado por aqueles que domassem seus desejos mesquinhos e vícios, vivendo as virtudes (temperança, justiça, o bem) se assemelhando o máximo possível às divindades (semi-deuses) e ao "Zeus hegemon", ou "Theos" (Deus).

O espiritismo faz breves explicações sobre aqueles que fazem o mal e após a morte/ o desencarne encontram espíritos superiores (anjos, na linguagem do judaísmo, do catolicismo, do protestantismo e do islamismo): Eles não conseguem esconder seus desejos, intenções, preferências nem memórias/ lembranças de seus erros, crimes ou pecados, diante os espíritos mais puros e mais benevolentes.

Este texto escrito pelo apóstolo João (3: 16-21) está de acordo com outros de sua autoria (como João 5: 22) e com textos do espiritismo, mostram que Deus não pune e praticamente indicam que não há um inferno, embora em algumas outras passagens da bíblia, possa ficar a impressão de que a punição venha de alguém que não seja o próprio egoísta/ pecador. Esta explicação de Jesus dada à Nicodemos, está concordante com o espiritismo: Na verdade, as almas dos egoístas punem a si mesmas ao verem a manifestação (chamada de luz, neste texto de João) de Cristo e de Deus. Isto ocorre por que esta luz é pureza benevolente e envolvente*, e a alma mesquinha envergonha-se diante dela se arrependendo tardiamente, quando já não podem fazer o bem nem reparar seus erros. Por esta razão, tais almas cheias de obras más, terão que reencarnar um dia para buscarem a Deus numa nova chance de fazerem obras boas e de viver a verdade, que é indissociável da lei de amor ensinada por Jesus.

*Eu poderia utilizar a palavra onipresente para descrever a luz como manifestação de Deus, mas utilizo o termo envolvente me referindo à luz também como possível manifestação ligada aos anjos das religiões cristãs, ou espíritos mais puros, do espiritismo; A filosofia espírita estipula que existem seres gradualmente mais puros, desde os parecidos com os habitantes da Terra até os mais próximos de Deus/ unidos a Deus (seria o caso de Cristo certamente). Esta graduação de seres entre a Terra e Deus, pouco difere da hierarquia de anjos ou seres celestiais do judaísmo místico e de algumas religiões cristãs. A diferença das descrições de tais seres entre espiritismo e religiões cristãs é um assunto de menor relevância: O espiritismo, de modo similar a algumas vertentes do hinduísmo, aceita que a evolução das almas possa ser gradual, o que possibilita tornar-nos "anjos" (espíritos bons, puros...) ao longo de existências/ reencarnações, o que as religiões cristãs negam: A igreja católica aceita a possibilidade de santificação da pessoa, embora fechada ao seu próprio círculo religioso (católico) e basicamente todas igrejas sejam protestantes ou católicas pregam a salvação eterna ou a punição/ danação eterna... Embora eu tratei este último assunto como de menor relevância, ele não deixa de tocar num ponto importante: A esperança! Jesus trouxe esperança ou condenação? Certamente quem interpreta que Jesus trouxe a condenação, não entendeu o básico de seus ensinamentos.

 

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