terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

As Margens entre Ciências Humanas/Biológicas e Misticismo

 

Falar de crenças ainda é um tabu no meio acadêmico/ científico. A psicologia que, em partes, deveria estudar seus efeitos e causas, está dividida. Tal divisão é profunda e é similar à que ocorre com alguns outros campos da ciência também. 

Em outro texto ( https://nea-ekklesia.blogspot.com/2021/07/a-alma-um-tema-talvez-inconclusivo-mas.html ) mencionei um médico, que ao observar pacientes que passaram por EQM, teorizou que a “consciência” existe além do cérebro. Uma "afronta" aos materialistas/ empiristas, feita por alguém que basicamente estudou uma ciência alicerçada sobre o método empírico: A medicina. Por um outro lado, a Organização Mundial da Saúde já admite que a espiritualidade tem sua importância na saúde mental de muitas pessoas. O Consciente/ a Consciência e as Crenças As crenças, se levadas a sério, têm sua influência não necessariamente na consciência - muitas vezes elas ficam no subconsciente (ou inconsciente) até serem resgatadas pela consciência. Obviamente toda informação em nossa mente/ aparelho psíquico, seja uma memória, um sentimento ou mesmo uma interpretação, não deixam de existir em momento algum: Elas apenas ficam inativas ou fora da percepção da consciência por determinados períodos (afinal, deixar de existir para voltar a existir depois de algum tempo, não é muito científico). Isto é claro nos estudos psicológicos da frente psicanalítica, sejam estudos de Freud, de Jung ou de outro estudioso desta área. Uma crença levada a sério é “um acreditar”, podendo ser considerada uma “certeza” da pessoa que acredita. 

Na frente fenomenológica da psicologia, esta crença faz parte da realidade do indivíduo. Afinal, para se estudar uma pessoa em particular (paciente, cliente etc), deve-se não só evitar preconceitos, como também suspender bases teóricas generalistas, que às vezes, por não levar em consideração os fatos particulares de cada pessoa, acabam colaborando para diagnósticos errados. Nestas abordagens fenomenológicas a consciência é uma atividade direcionada, sempre sendo uma consciência de algo, o que as aproximam da teoria geral dos sistemas. Sendo assim, a consciência do psicoterapeuta trabalha desvelando os “acidentes” (de certo modo, os fatos históricos constituintes do objeto/ ser) para chegar à essência do "objeto" (paciente etc). Então, mesmo com as diferenças entre psicanálise e fenomenologia, pode-se notar que a consciência (o consciente) é um elemento ativo do aparelho psíquico. Em ambas bases de estudo (quer você considere científicas ou não) a consciência não tem substância perceptível pelos 5 sentidos humanos, mas lida com informações captadas pelos sentidos e com intenções e elementos mais “profundos” de nossas mentes, sendo que estes últimos a frente psicanalítica posiciona no inconsciente. 

Voltando à pessoa que crê em algo, o seu interesse e/ou a sua fascinação são “aberturas” na mente que podem ser consideradas vulnerabilidades. Isto ocorre porque, em um relacionamento com outro indivíduo por exemplo, o interesse e a fascinação permitem a criação de um elo ou empatia com uma “pessoa”. Se esta pessoa for mal intencionada ela pode usar desta abertura psíquica para “atacar” o indivíduo fascinado ou vulnerável. Este ataque não é necessariamente algo destrutivo, podendo ser uma influência que se transmite pelo inconsciente. Uma manipulação emocional já pode ser considerada como uma influência mais naturalmente perceptível. 

Esta influência é “tratada” pela hipnose e por diversos meios chamados de mágicos, místicos e afins. Nestes últimos meios ela é frequentemente considerada um ataque astral. 

 

Das Teorias Místicas até as Científicas 

Ataques astrais podem ser feitos à distância quando o atacante tem um objeto do alvo em posse. Este tipo de ataque é mais difícil de ser realizado e recebe vários outros nomes genéricos pouco precisos, desde magia negra até vudu… 

Não estar com a mente, ou talvez mais precisamente, o inconsciente, aberto, é uma maneira efetiva de defesa contra influências nocivas (ou ataques astrais). Tranquilidade, estabilidade e fé são meios de defesa contra ataques astrais. Certamente estados de depressão e ansiedade são estados de vulnerabilidade, pois estão relacionados a vazios (literais) afetivos/ existenciais. 

É óbvio que céticos materialistas abominam estes fatos, geralmente negando-os pelo fato de praticamente não poderem ser detectados no espaço-tempo conhecido, como por exemplo, na atmosfera ou nos corpos humanos. 

Há teorias que afirmam que sentimentos e interações como essas afetam muito sutilmente os campos eletromagnéticos (não estou falando necessariamente de Kardec aqui, temos estudos muito mais recentes feitos pelo Heartmath Institute Research Center e por outros cientistas)… Isto deve explicar porque é mais fácil realizar ataques próximos, pois nestes casos os corpos ou cérebros devem manifestar algum tipo de campo sutil, ainda pouco conhecido na atualidade. 

Note que sofrimentos psíquicos, dos quais os leigos chamam de momento difícil, podem gerar vulnerabilidades. Todo sentimento negativo acaba se relacionando com algum tipo de sofrimento e pode eventualmente constituir psicopatologias ou comportamentos doentios. O termo doentio é usado aqui para definir nocivo - algo que propaga sofrimento, dificuldades e, em alguns casos mais extremos, doença e morte. 

 De acordo com teorias místicas, cascas astrais são formas residuais relacionadas aos corpos astrais (talvez às almas desencarnadas também). Ao atingir outros níveis de consciência (ou acessar planos superiores também?), a casca astral pode se dissolver ou permanecer algum “tempo” no plano astral, servindo para mentes (inconscientes ou espíritos) encarnadas ou desencarnadas. Esta casca pode ser habitada por elementais ou por vontades e desejos naquele nível de “consciência” (que a casca ficou). Sejam mentes ou espíritos, eles são apegados à vida terrestre e tendem a buscar “energias” como parasitas. 

Praticamente todos esses elementos são discutidos apenas entre místicos porque lidam com o “imaterial” ou incorpóreo. Porém eles também trabalham os sentimentos e o inconsciente, ocasionalmente chamado de subconsciente. Como mencionado anteriormente, de acordo com alguns métodos utilizados na psicologia, a consciência funciona como uma projeção de luz, ou talvez como um olhar. Ela é constituída de elementos como o direcionamento da atenção, da intencionalidade. Tais elementos interagem de maneira cíclica com o meio ambiente e com a própria mente: às vezes por ação, às vezes por reação. 

Este ciclo se estende até variadas "profundidades" do aparelho psíquico, atingindo o que as abordagens psicanalíticas chamam de inconsciente. Portanto afetam o sentimento também. Por fim, estas relações dos elementos do aparelho psíquico também interagem com o respectivo corpo. Assim, podemos considerar relações: 

Psíquica-psíquica: Da mente consigo mesma (ao pensar, lembrar) ou com outra mente (ao influenciar uma ou mais pessoas); 

Psíquica-corporal: Da mente com o próprio corpo (fatores psicossomáticos); 

Psíquica-social: Da mente com ambiente externo (interpretações de diversos elementos do ambiente etc); 

Psíquica-espiritual: Da mente com elementos pouco estudados e compreendidos, que geralmente passam pelo inconsciente (experiências transcendentais, visões e afins). Este último ainda é pouco aceito nas ciências do século XXI, mas alguns órgãos como a OMS (já mencionada anteriormente) já admite a importância da espiritualidade/ religiosidade na saúde de algumas pessoas. 

Nas teorias místicas, chakras e sefirots estão muito ligados aos sentimentos (emoções não necessariamente manifestadas no mundo físico). Eles relacionam-se com o aparelho psíquico e com o corpo físico, sendo que o aparelho psíquico existe no corpo astral, ou é sinônimo deste. Obviamente estas teorias não têm embasamento científico, mesmo porque são mais antigas do que o iluminismo europeu, e portanto, mais antigas do que chamamos de ciência. Mas mesmo nas ciências atuais, temos alguns estudos tímidos (por falta de transdisciplinaridade) sobre as relações do cérebro com outros pontos do corpo, seja com o sistema cardiovascular ou com o endócrino. (vide os estudos do Instituto Heartmath e de Srini Pillay, professor de psiquiatria da escola médica de Harvard) 

Nas teorias mais espiritualistas/ místicas, os sofrimentos podem atrair espíritos que buscam energias. Sofrimentos superficiais mas persistentes ou ampliados por desejos individualistas, egoístas, inveja e sentimentos similares podem ser destrutivos também “nestas teorias” e não apenas na psicologia cardíaca. 

Pensamentos e sentimentos, como praticamente tudo, depende de algum nível de relação. Sendo assim, podemos considerar uma pessoa demonstrando raiva, geralmente não atrai uma pessoa alegre. Atraímos o que pensamos, mas imaginar que só somos felizes com algumas determinadas coisas não atrai tal coisa. Isto ocorre porque há uma "infelicidade'' no caminho, por exemplo: “Só serei feliz quando tiver uma determinada casa”. Esta afirmação não só impõe uma condição, ela está centrada nesta condição que não é uma realidade naquele momento e que está obstruindo a felicidade. Ela também não afirma que a pessoa terá a casa, ela afirma que a felicidade só será alcançada SE aquela condição for satisfeita. A afirmação atira para o futuro, e por si só, jamais traz para o presente a “tão desejada condição”. Nas abordagens fenomenológicas da psicologia, esta condição certamente é nociva ao paciente/ cliente: É o que ele escolhe fazer com seu respectivo desejo ou dificuldade. 

*texto originalmente publicado em agosto de 2021, no blog Nea Ekklesia

3 comentários:

  1. A ciência tem muito que se desenvolver e não sei se o método empírico achará mais respostas sobre sentimentos, interpretação e a influência social na opinião e nas preferências dos indivíduos (incluindo valores, sentido etc). Tudo indica ao contrário: Há poucos dias eu tive o desgosto de ver que behavioristas "bem-conceituados" nos EUA provaram a não existência do inconsciente há algumas décadas (entre outras imbecilidades). Como provaram que algo não existe? O objetivo da ciência é buscar o que não existe? Certamente não, a ciência trabalha com o mensurável, porque predominantemente utiliza o método empírico de investigação, este que baseia numa ontologia materialista. Daí só explica o "mensurável" (matematicamente ou sensorialmente) e não deveria emitir opinião sobre o que não consegue mensurar... Até que consiga mensurar, e para isso ela teria que tentar, o que talvez exija outro método de investigação e/ou outro pressuposto filosófico/ ontologia...

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  2. Dentro da visão dominante na ciência (o monismo seja materialista ou eliminativo), a Psicanálise e várias (talvez todas as) abordagens fenomenológicas da psicologia não são científicas. Inconsciente e Id por exemplo em geral não são considerados mensuráveis. As teorias da Gestalt que obtém resultados expressivos também lida com "fatos não mensuráveis", enfim... Se estas frentes da psicologia não são ciência, devemos perguntar: Elas são filosofia? Então a filosofia já independe da ciência para tratar "sofrimentos e transtornos mentais" desde o final do séc. 19.

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  3. Com a postagem só tentei mostrar aproximações (talvez eu devesse explicar melhor no texto): Por exemplo, a ideia de aberturas psíquicas representadas por um campo é usada na Gestalt terapia da psicologia fenomenológica... A gestalt obteve sucesso em tratar pacientes/clientes e também teve sucesso em seu uso para causas mesquinhas em favor de poucos, causando sofrimento psíquico às massas (do mesmo modo do behaviorismo), como mostrado no "Dilema das Redes". O que eu quero dizer, é que muitas ideias e argumentos filosóficos parecem (nem que seja indiretamente) se aproximarem tanto de conceitos religiosos e/ ou místicos como de científicos. Obviamente não acho que deva simplesmente misturar tudo isso, mas falta muita clareza por parte de psicólogos, psiquiatras e neurologistas, sobre o que é cada campo do saber...

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