quinta-feira, 26 de maio de 2022

Militarismo e Espiritualidade tem algum nexo entre si?

 

No meio do ano retrasado, escrevi um texto onde citei alguns perigos do sensacionalismo propagado pelas diversas mídias sociais e pelas mídias de massa, combinado com o punitivismo fomentado entre as classes militares do Brasil (seja polícia, exército ou qualquer outra): https://nea-ekklesia.blogspot.com/2020/07/o-sensacionalismo-da-punicao.html

 A verdade é que os comportamentos fomentados por estas ideologias há décadas está trazendo consequências desastrosas. São ações de violência e até de extermínio: Só neste mês de maio de 2022, tivemos aqui no Brasil, tais casos em São Paulo, Rio de Janeiro e Sergipe. Utiliza-se força letal de maneira tão descontrolada contra suspeitos e criminosos pé de chinelo (sim, indivíduos envolvidos em crimes de valor insignificantes, afinal ladrões multimilionários continuam livres), que às vezes sobra violência para qualquer um que esteja no caminho - seja moradores de favelas, ou até mesmo transitantes que estejam próximos às operações policiais. O curioso é que há uma vasta camada da sociedade que apoia tais atos de violência, sendo boa parte desta "camada" supostamente religiosa, mais precisamente, "cristã". Este "cristianismo" conivente com a violência vem se propagando há tantos anos, que é difícil estabelecer um período preciso de quando ele tenha começado. 

Os movimentos obscurantistas que geralmente apoiam ou ignoram a propagação da violência devem ter alternado de religião para religião, de tempos em tempos. Em geral esses movimentos são liderados por pastores, padres e dirigentes defensores da insensibilidade em relação à todos que não façam parte de seus seletos grupos, embora alguns destes líderes cheguem a defender abertamente o uso da violência para matar. Alguém poderia dizer, "ah, mas tá na bíblia que Deus permitia matar infiéis" (velho testamento)... É aí que eu reforço algumas das observações feitas pelo fundador do espiritismo (Kardec) e vou além: Kardec dizia que o antigo testamento era essencialmente voltado a um povo primitivo, rude e com tendências violentas. Eu digo que o velho testamento, salvo algumas partes que priorizam a solidariedade, poderia ser excluído das religiões verdadeiramente cristãs. Não porque é tudo imprestável ali, mas por dois motivos: Primeiro, realmente se tratava de ensinamentos voltados a povos imersos em guerras e que sequer cogitavam a idéia de progresso. É uma ignorância enorme fingir que os povos da idade do bronze e do ferro (desde aproximadamente 3500 anos antes de Cristo até 470 antes de Cristo) não guerreavam por motivos absolutamente indefensáveis. As guerras eram mais frequentes do que os tempos atuais desse início do século 21 e não havia busca significativa de progresso, seja social ou tecnológico. Além das guerras registradas nos grandes impérios que tinham uma história escrita, existiam inúmeras outras guerras não registradas em povos e civilizações que não tinham uma linguagem escrita até o século 1. Em segundo lugar, o velho testamento era voltado a um pequeno grupo social ou uma cultura específica do oriente médio (hebraica/ judaica). A religião judaica se misturava com noções de sociedade e nação, invocando certo patriotismo pertencente somente àquela época e local (mais ou menos onde situa-se Israel até este início de século 21). O que as sociedades de vários outros países com estudo débil e/ou defasado dos dias de hoje podem entender ou aprender com tais "textos religiosos"?? Oras, se pastores e padres corruptos conseguem distorcer o significado das parábolas de Jesus, o que não conseguiriam usar maliciosamente do velho testamento? É fácil tais líderes fomentarem rixas e defender violência distorcendo diversos trechos da bíblia, e certamente, mais fácil é usar trechos do velho testamento com esta finalidade. 

 Mas apesar de tudo isto, toda violência é contrária aos ensinamentos verdadeiramente espirituais dos textos religiosos. É possível encontrar ensinamentos sobre a importância do perdão, da solidariedade e da equidade em inúmeros textos: Desde Isaias e os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João sobre Jesus até textos sobre personagens de outras religiões, como Krishna no Bhagavad gita, Buda, Rumi no islamismo etc. A violência é fruto de uma sociedade que aceita a brutalidade e essa brutalidade é contra o perdão e contra qualquer forma de progresso e evolução. Mesmo porque se o perdão for extinto da humanidade, as pessoas se destruiriam de tal maneira que seria impossível qualquer forma de progresso. A brutalidade só conseguiu se manter por milênios na civilização humana por causa de movimentos contra o perdão, a tolerância e a solidariedade. Na idade média, as guerras aconteceram debaixo do nariz da igreja européia por causa que o alto clero corrupto manipulou significante parte da sociedade com conservadorimo e obscurantismo. Já na era moderna até os dias de hoje, a brutalidade no ocidente (América e Europa) se propagou principalmente através de ideologias que idolatravam um determinado grupo de pessoas, como o machismo e o militarismo. Duas das principais ideologias por trás da Segunda Guerra Mundial, por exemplo, eram altamente militaristas: o nazismo e o fascismo. Se não houvesse o culto ao "machão", o militarismo nem conseguiria se sustentar, pois não existiria toda a classe de pessoas dessensibilizadas e obedientes (seja a um líder ou a uma ideologia que cria inimigos do nada) espalhada por diversos países e prontas para utilizar armas. 

As ações desta classe militar, sejam operações que nunca pegam os criminosos ricos ou seja em guerras, se apoiam em discursos mentirosos que defendem os lucros do comércio de armas e/ ou defendem a ideia que supostos inimigos perigosos estão tramando algo contra uma nação. Operações policiais e guerras não tem relação alguma com os ensinamentos de Jesus Cristo ou de Buda (nem com outros líderes verdadeiramente espiritualistas). Ações de violência ou de mera punição na Terra, nada têm de espiritualidade, nem da verdadeira fé. Este militarismo é fruto de paixões terrestres, ou seja, defende os que se entregam à ganância, à intolerância, à fúria, ao orgulho, à boataria e/ ou ao imediatismo. E nada disto é espiritual ou sequer contém alguma espiritualidade. Como poderia ser uma existência pós terrena daqueles que matam por uma destas causas? Como seria o "destino espiritual" de alguém que venera armas e punitivismo? Certamente não se trata de um destino pacífico...

Leitura ecumênica de "as boas obras", "a oração" e "o amigo insistente"

Aqui continuo com os ensinamentos de Jesus, conforme os textos atribuídos a Mateus e a Lucas:  Fazer as boas obras discretamente (Mateus, Lu...