sábado, 28 de setembro de 2024

Leitura ecumênica de "Execução de João Batista" e "O Joio"

Execução de João Batista (Mateus, Marcos, Lucas) 

"Naquele tempo ouviu Herodes, o tetrarca, a fama de Jesus, e disse aos seus criados: Este é João o Batista; ressuscitou dos mortos, e por isso estas maravilhas operam nele. 

Herodes tinha prendido João, e tinha-o maniatado e encerrado no cárcere, por causa de Herodias, mulher de seu irmão Filipe; Porque João lhe dissera: "Não te é lícito possuí-la."

 E, querendo matá-lo, temia o povo; porque o tinham como profeta. 

Festejando-se, porém, o dia natalício de Herodes, dançou a filha de Herodias diante dele. Isto agradou a Herodes e por isso ele prometeu, com juramento, dar-lhe tudo o que pedisse; 

Ela, instruída previamente por sua mãe, disse: Dá-me aqui, num prato, a cabeça de João o Batista. E o rei afligiu-se, mas, por causa do juramento, e dos que estavam à mesa com ele, ordenou que se lhe desse. 

Mandou degolar João no cárcere. E a sua cabeça foi trazida num prato, e dada à jovem, e ela a levou a sua mãe. 

Então chegaram os seus discípulos, e levaram o corpo, e o sepultaram; e foram anunciá-lo a Jesus."

João Batista, como devoto de Deus e de seus ensinamentos, manteve-se firme até o final de sua vida terrestre, sem temer a violência dos poderosos que o odiavam.O tetrarca Herodes, por sua vez, mostrou-se um covarde entre uma corte de gananciosos, interesseiros e sádicos: Ele havia ordenado a prisão de João Batista, mas poupava sua vida porque sabia que o profeta tinha muitos admiradores/ fiéis. Eis então que o tetrarca ficou aflito quando a mulher que lhe despertou interesse pediu a cabeça de João Batista. Mais uma vez, Herodes toma uma decisão covarde e ordena a execução do profeta. Esta passagem mostra o quão mesquinha e violenta eram as classes dominantes da Judéia e do Império romano durante o século 1. Além de deixarem-se levar por desejos e por impulsos de violência, muitas vezes faziam isto abertamente, ou seja, não procuravam nem ocultar seus crimes. Infelizmente, muitas destas atitudes perduram até este século 21, devido a falta da aplicação e da prática da lei divina, que é de amor. Sem a lei divina de amor, a humanidade tomada por intensos desejos materiais, rivalidade e insensibilidade para com os outros, se afundaria em ações violentas e crescentes conflitos… Portanto humildade, solidariedade e esperança não são sinais de fraqueza, nem de ingenuidade - são condições essenciais de vida que todo ser humano deve buscar desenvolver. 

Muitas pessoas podem pensar que o amor é muito subjetivo ou relativo, mas Jesus não foi o único a ensinar sobre a importância deste sentimento e de como vivê-lo. O filósofo grego, Platão, apesar de parecer muito mais racionalista do que Jesus, também ensinava sobre o amor, ainda que não utilizasse exatamente esta palavra em seus textos onde registrou os diálogos de seu mestre Sócrates. Na obra o Simpósio (ou o Banquete), Platão indica que o desejo correto (orthos eros) deve evoluir para além do desejo do amor sensual que é limitado aos sentidos e a beleza meramente física/ corporal. O desejo deve ser direcionado à psiquê (palavra que abrange mente e alma) das pessoas e então deve ser expandido para todas as psiquês e para tudo que faz bem para todas as psiquês (as leis e obras que fazem bem a todas mentes/ almas). No diálogo Fedro, tratando mais a relação do desejo com os estados alterados da psique, o autor indica que o amor é chamado de "O Alado", por permitir que a pessoa alcance o "céu além" (hiper ouranos), a morada divina, onde as virtudes como temperança e justiça irradiam fulgor. A beleza mais sublime então está relacionada à psiquê/ alma, mas não é algo meramente subjetivo, muito menos alienante, pois relaciona-se com os resultados das intenções, decisões e ações humanas. Por isso, em sua obra "A República", Platão trata da relação da ideia (eidos) do bem e do belo (kalos) com o governo e as relações humanas nas Pólis (cidades estado). Este é o desejo pelo bem de todos que equivale ao amor ensinado por Jesus.

O Joio - Legendas: Tomé (ciano), Mateus (azul

"Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante ao homem que semeia a boa semente no seu campo; Mas, dormindo os homens, veio o seu inimigo, e semeou joio no meio do trigo, e retirou-se. E, quando a erva cresceu e frutificou, apareceu também o joio. 

E os servos do pai de família, indo ter com ele, disseram-lhe: Senhor, não semeaste tu, no teu campo, boa semente? Por que tem, então, joio? 

E ele lhes disse: Um inimigo é quem fez isso. E os servos lhe disseram: Queres pois que vamos arrancá-lo? 

Ele, porém, lhes disse: Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele. Receio que você vá com a intenção de arrancar o joio e arrancar o trigo junto com ele. 

Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; Pois no dia da colheita o joio ficará bem visível, e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Colhei primeiro o joio, e atai-o em molhos para o queimar; mas, o trigo, ajuntai-o no meu celeiro."

Os motivos pelos quais Jesus utilizou parábolas em seus ensinamentos parecem pouco claros ainda hoje, neste início de século 21. Embora o espiritismo indique que a maior parte do povo não estava pronta para entender Jesus durante o século 1, é possível que ele tenha propagado parte de seus ensinamentos através de parábolas para esconder de alguns indivíduos mais aversivos ou contrários à lei divina de amor. Mas como certamente seus ensinamentos não eram exclusivos para seus apóstolos, Jesus deve ter utilizado uma linguagem acessível às baixas classes sociais (pobres, desabrigados etc) da Galiléia do século 1, pois grande parte da população era composta de agricultores, pastores e artesãos. 

Assim, nesta parábola do joio, pode-se entender que o reino dos céus é o que fomenta o bem na Terra, ou seja, a lei divina de amor e os ensinamentos de Jesus. Esta lei e ensinamentos são comparados com as boas sementes que geram o trigo, o alimento do ser humano. O joio, por sua vez, é danoso, geralmente infectado por fungos tóxicos, por isso Jesus utiliza a representação desta planta que se assemelha ao trigo antes de se tornar madura, como se fosse os inimigos do amor esperançoso, da solidariedade e da humildade. Estes inimigos se misturam com as pessoas boas, e às vezes, eliminá-los pode atingir um ou outro inocente. 

Em casos onde pessoas boas estão sob o jugo de um líder poderoso e mau (egoísta, ganancioso e/ ou cruel etc), devemos simplesmente evitar imitar as ações dos inimigos e aguardar pelo momento possível para se fazer o bem. As ações que não devemos imitar (de "inimigos" ou de líderes "maus") geralmente são acusações sem embasamento, mentiras interesseiras, discursos de intolerância, agressões etc. 

Os casos onde pessoas boas ou inocentes acabam se envolvendo com inimigos, podem ter variados motivos: porque foram enganados ou porque têm laços familiares, ou devido a qualquer outra causa. Nestes casos, quando não for possível proteger ou resgatar o inocente, é necessário paciência para aguardar os resultados das ações de cada um, afinal cedo ou tarde o mal (o inimigo, o erro) fica evidente. Ao ficar evidente ele pode ser separado do bem e cada um deverá receber seu destino mais adequado.

É importante relembrar 2 pontos referentes a esta passagem: 

O primeiro é que Jesus ensina que na hora da condenação, nem seu Pai (Deus) julga; é o malfeitor (pecador etc) que não vai à luz, pois tem vergonha de sua obra e foge para as trevas. Isso é um tema central nos ensinamentos de Jesus: o perdão, que ele menciona em várias outras passagens.

O segundo é que a lei divina não requer que o bem se auto destrua, nem que permita a propagação da maldade, pois Jesus criticou os religiosos corruptos e defendeu os pobres e os necessitados. O joio deixa de ser parecido com o trigo quando amadurece, ou seja, é neste ponto que ele é separado do trigo - separa-se o mal do bem pelas ações que transparecem nas relações! Jesus não julga os outros sem observar suas ações antes e por isso não deve ter julgado nem mesmo Herodes até ele mostrar sua extrema covardia e egoísmo ao matar João Batista para possuir a filha de Herodias. Naquele momento em diante ficou claro publicamente que Herodes era egoísta e cruel: ao assassinar uma pessoa admirada por lutar pelo povo humilde, denunciando religiosos manipuladores (fariseus, saduceus etc) e líderes opressores (centuriões romanos etc).


 

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