domingo, 24 de julho de 2022

Humildade: do Biopsicossocial à Espiritualidade

Humildade é o começo e o fim de tudo que é bom. Tudo começa na humildade, no realizar os atos assumindo que não se conhece tudo: Assim começa a vida, os relacionamentos, os estudos, a espiritualidade... 

Particularmente, eu pensava que seu oposto era o orgulho, mas seu oposto certamente é a desistência/ o ceticismo pessimista/ o negacionismo materialista. 

A humildade é prática e é a ausência de toda e qualquer suposição, portanto é ausência de preconceito também. Isto é pré requisito para filosofia, para ciência e religiosidade. Assim também é para justiça - presunção da inocência nada mais é do que assumir que ainda não se conhece o outro a ser investigado ou julgado... 
A humildade assim nos direciona ao que é justo e ao que é belo. Nos direciona ao bem. Seu oposto direciona ao mal obviamente. 
Tudo começa na humildade. A vida terrestre começa assim, seja num olhar objetivo ou em um olhar  mais amplo. 
Para as doutrinas e filosofias espiritualistas, as almas se aperfeiçoam nascendo/ renascendo na Terra - pode-se dizer reencarnando. O verdadeiro aprendizado passa por isso: é preciso agir e interagir com alguma disposição ou aceitação ao novo e/ ou ao diferente/ o que era desconhecido até então.
Não se trata de perfeccionismo, pois o humilde não exige dos outros, por isso alguns podem pensar que humildade é ingenuidade ou ignorância, mas não é. Humildade é estar disposto a aprender e não se considerar melhor que os outros. Esta humildade possibilita o indivíduo se aperfeiçoar, portanto, após um processo de busca e aprendizado, permite se tornar perfeito. 

No início do texto mencionei que humildade era o começo (o pré requisito de todos saberes), mas também o fim e aqui vai o motivo: Todas as pesquisas e obras realizadas com fim mesquinho não constituem progresso de verdade, pois visam benefício de uns poucos e causa malefícios a uma maioria. Isto é um desequilíbrio que causa transtornos, dificuldades e até mesmo destruição na civilização. O progresso, como costumo ressaltar, requer uma empatia solidária - se mostrando contra a indiferença e o egoísmo. O progresso (começando na humildade) requer uma visão do coletivo e do todo, com esperança de melhora e de paz. Portanto a humildade está no fim também.


terça-feira, 12 de julho de 2022

O Bom Julgamento não tolera Vingança

Desmistificando a Esquerda e a Direita nos meios Esotéricos e Espirituais / Religiosos 

Há meses venho me decepcionando com pessoas supostamente espiritualizadas: Seja entre espíritas ou entre umbandistas. Entendo que não se trata de olhar toda religião ou doutrina deles como errada (mesmo porque entendo e aceito muita explicação do espiritismo e até algumas coisas da umbanda), afinal isto seria julgar. O que me incomodou foram alguns conceitos que muitos deles levantam como verdades em torno de como funciona a justiça espiritual, suas penas e punições. É o fato destas pessoas acharem que os espíritos que punem os pecadores e/ou malfeitores, ou seja, os algozes, os carrascos e afins, fazem parte de algo digno, ou até mesmo que exercem uma função de justiça mais ou menos elevada. Se tratando das religiões e filosofias que lidam com o assunto dos espíritos, algumas perguntas são (ou deveriam ser) mais recorrentes: 
Porque Deus permite que os espíritos nas "trevas" ou mais "trevosos" (zombeteiros, infelizes e impuros), atormentem os encarnados? 
Estes espíritos servem para cumprir as missões grosseiras, como punir encarnados vaidosos, egoístas, preguiçosos, gananciosos etc. Muitas vezes estes espíritos não sabem que estão realizando uma tarefa/ missão, permitida por Deus, pois eles se comprazem em atormentar os outros e fazem isso por prazer, sem receber ordens específicas. Isto é indicado no Livro dos Espíritos: 
570. Os Espíritos percebem sempre os desígnios que lhes compete executar? 
 “Não. Muitos há que são instrumentos cegos. Outros, porém, sabem muito bem com que fim atuam.” 
 571. Só os Espíritos elevados desempenham missões? 
 “A importância das missões corresponde às capacidades e à elevação do Espírito. O mensageiro que leva um telegrama ao seu destinatário também desempenha uma missão, se bem que diversa da de um general.” 
Os espíritos que atormentam e punem ganham acesso aos que precisam de correção/ punição, através de afinidade / por semelhanças, pois possuem propensões, gostos e intenções egoístas e vaidosas parecidas com as do encarnado que é o alvo de suas obsessões, fascinações ou subjugações. 
Estes espíritos inferiores são numerosos em torno de mundos onde ainda há muita iniquidade e injustiça, logo não representam a justiça em si, pois não são justos. Portanto eles jamais poderiam ser confundidos com anjos / espíritos elevados - eles são no máximo semelhantes aos habitantes encarnados do mundo onde interagem. Em geral não devem ter um bom juízo, ou seja, raramente devem ter uma boa noção de justiça, ainda mais, uma justiça superior e/ou divina. A justiça, ou o bom julgamento, não fazem parte de seus objetivos, aspirações nem intenções. 
O judaísmo místico e o cristianismo onde o espiritismo se apoia, explicam isto: A justiça representada por ordens angelicais (espíritos superiores) e/ou representadas em diagramas como a árvore da vida judaica/ hermética, não se trata destes espíritos que se comprazem em atormentar os encarnados, servindo como carrascos e executores. Esta justiça superior, chamada de Geburah no judaísmo místico (Força, Julgamento), está mais para a mão esquerda citada por Jesus: "quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita..." Esta passagem não trata só de ser discreto enquanto se faz um ato de caridade: ela também tem o significado místico onde a mão esquerda sendo o julgamento, não deve olhar o que a piedade (mão direita) faz, para não julgar o assistido, o socorrido. A justiça, ou a força no caminho do bem, é olhar a trave no próprio olho antes de incomodar-se com o cisco no olho alheio. Afinal de contas, quando falamos da sefirat Geburah ou de sua ordem angelical equivalente, estamos falando não só do caminho do progresso rumo à Deus, como estamos falando de um estado elevado de consciência ou de existência: A força de vontade, o bom juízo, o bom julgamento. 
Esta força de vontade voltada ao bem, ao lado da misericórdia e da piedade (que por sua vez, regem a caridade e a solidariedade) é o que deve fomentar a espontaneidade das boas ações, bons sentimentos etc. Geburah, a Força, o (bom) Julgamento é uma sefirat do lado esquerdo da árvore da vida, e à sua direita está Chesed, a Misericórdia, a Piedade. 




Portanto a esquerda não se trata de julgar os outros, nem de punir terceiros - As virtudes, ou sejam, as sefirats da esquerda - Hod, Geburah e Binah estão mais para o caminho da auto-correção, pois o Julgamento (Geburah) é a força de vontade para resistir as tentações e é ou faz parte da confiança em Deus! 
Quando ficamos impedidos de nos dedicar à solidariedade, ao ensinamento da lei divina de amor (ao ajudar o próximo mais diretamente - o caminho espiritual da direita), resta-nos só um caminho mais recluso, como o das orações, da escrita e da força de vontade para não cair nas tentações (seja de prazeres mesquinhos, ou de ofender o próximo etc). É o caso da (santa) Teresa d'Ávila, por exemplo, que era uma freira espiritualizada do século 16 que não tinha o direito de ensinar ao povo pelo fato de ser mulher. Santa Teresa D'Ávila teve uma vida cristã humilde, cheia de restrições, mas escreveu sobre suas experiências transcendentais/ místicas, conscientemente ou inconscientemente traçou paralelos com religiões orientais, além de trabalhar em obras de caridade e em raras oportunidades de discursar para alguns grupos de pessoas. Este caminho mais recluso e/ ou contemplativo é o caminho da esquerda e não se trata de punir pecadores! Aquele que pune o próximo, não está na esquerda da espiritualidade, nem do esoterismo, nem de coisa alguma - está imerso em pensamentos, sentimentos e atitudes inferiores, no máximo seguindo o lema "olho por olho e dente por dente", um caminho de meras retaliações e vinganças. 
A vingança é um ato rasteiro, onde se continua as ações ofensivas e/ou agressivas e por isso ela é condenada por várias religiões como o budismo, todas vertentes do cristianismo (catolicismo, protestantismo, espiritismo etc) e em algumas outras religiões e vertentes destas.

Leitura ecumênica de "as boas obras", "a oração" e "o amigo insistente"

Aqui continuo com os ensinamentos de Jesus, conforme os textos atribuídos a Mateus e a Lucas:  Fazer as boas obras discretamente (Mateus, Lu...