domingo, 18 de dezembro de 2022

Capitalismo não combina com Filosofia nem com Espiritualidade

 

A Psique e a Intencionalidade materialista 
 O consumismo e a suposta necessidade da produtividade formam uma cortina de fumaça e tanto no que se refere aos interesses e comportamentos das sociedades humanas - O discurso pró consumo fomenta a compra incessante de produtos e serviços, por isso é obviamente a favor da lucratividade das empresas e portanto a favor do capitalismo com pouca ou nenhuma regulação. Já o discurso pró produtividade pode ser disfarçado com argumentos meritocráticos (de merecimento de recompensas através de muito trabalho) ou até mesmo com argumentos progressistas. Além desses fatos, estes dois discursos são materialistas em todos os sentidos da palavra: Fomentam um estilo de vida materialista e têm suas origens em pressupostos filosóficos materialistas. Esta combinação ideológica/ comportamental de produtividade e consumismo talvez tenha se tornado a maior distração dos séculos na história (a nível coletivo) da civilização humana. 
 O ser humano sempre teve necessidade de acumular bens? Sempre teve desejo de consumir produtos incessantemente? 
 Para responder tais perguntas basta imaginarmos (pode ser superficialmente) como eram as sociedade humanas na idade da pedra lascada, ou paleolítico: Rudimentares, espalhadas, lutando por sobrevivência, sem noção de agricultura, sem indústria alguma e sem dinheiro nem sistema monetário (ainda bem). Assim foi por mais de 200.000 anos de história do homo sapiens (o período fica bem maior se considerarmos as outras espécies de hominídeos). 
 E na idade da pedra polida/ neolítico? Aí surgem trabalhos mais refinados, desde ferramentas até comunidades que podem ser consideradas as primeiras cidades. Possivelmente a agricultura surge no final deste período, pouco antes da transição para era dos metais que ocorreu por volta de 5000 aC - 4000 aC, ainda que em ritmo diferente nas diversas regiões do mundo. 
 E nas eras dos metais? Apesar do surgimento da moeda (dinheiro) como unidade de troca e precificação (monetária) e também do surgimento da escravidão, certamente não existiam os conceitos de produtividade nem o estilo de vida consumista... Talvez os primeiros traços estivessem surgindo em elites interesseiras (sacerdotes, dinastias etc), mas nada além disto, pois não haviam os meios para explorar as massas de maneira rápida e eficaz. O comércio começa a se desenvolver, principalmente de maneira mais rápida através do tráfego naval/ fluvial, o que permite o acesso a produtos de terras diferentes / distantes, ao menos para pequenas parcelas de algumas nações/ culturas. 
 Os períodos posteriores a estes (Antiguidade etc) e anteriores a Era Colonial/ Renascença, já possuem diversas elites enriquecidas, como as que viveram no Império Romano, nas Dinastias chinesas etc. Isso se estendeu através da era medieval até a ascensão do Império Otomano que desafiou aristocracias e burguesias européias ao terminar a conquista do moribundo estado Bizantino em 1453. Nesta mesma época as críticas à religião institucionalizada (a igreja católica até então) ganham força com razão. Porém o domínio otomano das principais rotas comerciais tornam os interesses econômicos das elites das sociedade humanas impossíveis de se esconder. Com o desenvolvimento das embarcações (galeões) e das armas de pólvora (canhões etc), os conflitos e as guerras vão adquirindo motivos cada vez mais econômicos, ou seja, de interesse financeiro e de recursos naturais, mesmo porque a cisão da igreja cristã entre católicos e protestantes facilitou o surgimento de novas elites na Europa, principalmente nas nações protestantes. No final da renascença e no inicio do iluminismo (século 17), as guerras por motivos religiosos vão diminuindo no ocidente, não porque os seres humanos foram ficando piedosos (é claro), mas principalmente porque as motivações foram mudando. E como foram mudando? Subitamente todas elites européias se tornaram ateístas? Foi uma epidemia psicopatológica de desejo por recursos naturais e financeiros? Nada disto. 
 Isto pouco se fala em aulas de história: Foram algumas das mudanças na filosofia que fomentou a mudança na postura das elites. Não, as elites não eram amantes da filosofia como Anaxágoras, Sócrates, Platão ou Aristóteles (os filósofos gregos dos séculos 6, 5 e 4 antes de Cristo). A filosofia após Rene Descartes passa por um embate de materialistas contra mentalistas e obviamente o primeiro grupo vence as disputas durante a era moderna. Embora isto trouxe benefícios como o desenvolvimento de diversas áreas de estudo (que viriam a ser chamadas de ciência só a partir de 1834), também reforçou uma postura niilista nas elites (sejam financeiras ou intelectuais, pois por muito tempo, estas "elites" se tratavam da mesma classe de pessoas). Esta "vitória do materialismo" sobre outros pontos de vista, foi a elevação de uma estreita visão ontológica ao estado de dogma (expliquei sobre ontologia e bases filosóficas das ciências em outros textos). Este pressuposto filosófico se estendeu para além das áreas de estudo, afetando as lideranças da sociedade e seus sistemas, fossem elas monarquias, ou sistemas democráticos que estavam a surgir. 
 Na Europa e na América colonizada por estes, de um modo geral, apenas burgueses, aristocratas e o alto clero tinham acesso ao ensino (como acesso às universidades) até por volta do ano de 1717, quando o rei da Prússia, Fredirch Willhelm I, sancionou a obrigatoriedade dos estudos para crianças de 5 a 12 anos de idade. Pouco depois ele ainda proibiu empregar tais crianças no mercado de trabalho até que terminassem os estudos, mas esta "universalização dos estudos" na Europa ficou restrita apenas aos povos germânicos por quase um século. Os demais países começam a garantir o acesso gratuito das massas aos estudos (o povo, ou seja, a maioria pobre das nações), somente após o término da revolução francesa, acesso esse trabalhado e fomentado por raros pensadores como Johann Heinrich Pestalozzi que começou a publicar suas obras em 1797. 
 Seria muita ingenuidade pensar que os filósofos europeus (Voltaire, Locke, Newton, entre tantos outros) que montaram as bases da ciência tradicional entre os anos de 1684 e 1777 priorizassem valores coletivos como equidade e justiça, ou posturas individuais como a humildade e a solidariedade nas sociedades de sua época... Levantar a história de cada um dos filósofos mais influentes do ocidente certamente é um trabalho árduo, mas não impossível (eu particularmente não pretendo mais mergulhar a fundo em artigos sobre história, pois já tive minha overdose). O pouco que li sobre grandes nomes foi o suficiente para constatar que todos pertenciam a uma classe média alta ou alta e que quando não defendiam a meritocracia, defendiam outras ideologias de valor dúbio, como por exemplo, o racionalismo mecanicista e o empirismo como uma doutrina filosófica que se projeta para além do método de investigação e construção de conhecimento (epistemologia). 
 Tais filósofos (pós Descartes e anteriores à Revolução Francesa) tidos como pais da ciência fizeram algumas críticas aos supostos males da sociedade de seu tempo, mas geralmente de modo pouco assertivo ou até mesmo pouco útil: Faziam críticas a determinados trechos da bíblia pouco relevantes (à trindade, ao batismo de Jesus, por exemplo, ao invés de criticarem os indivíduos que fazem uso da religião como ferramenta de enriquecimento e de poder), podiam até defender a mistura de raças, mas geralmente se omitiam sobre a escravidão e a comercialização de povos da África subsaariana, uns defendiam uma maior igualdade de gênero, mas permitindo escravidão infantil etc etc... É claro, os grupos "sociais" (elitizados) com quais eles conviviam também deveriam exercer alguma influência neles, porém ao meu ver, os nobres, burgueses, sacerdotes e militares que entraram no campo da filosofia do período iluminista eram formadores de opinião (como existem formadores de opinião hoje, no século 21), e portanto, exerciam mais influência do que eram influenciados e assim deveriam ter mais responsabilidades. Não estou remoendo o passado aqui, e sim, apenas levantando fatos dos quais pouco se falam, seja na história ensinadas no ensino médio, seja na academia. Pois desde o ensino médio ao curso superior, vejo narrativas extremamente ingênuas da história e do sistema sócio econômico que predomina no ocidente desde a era moderna: São professores que ignoram fatos de suma importância, preferindo uma narrativa reducionista (que eles devem considerar um resumo aceitável) que diminui a história da ciência e da filosofia, ignora a história dos filósofos e descrevem o capitalismo praticamente como se fosse uma razoável força da natureza, sem interesses de determinados grupos de pessoas por trás. Portanto faço esse brevíssimo levantamento para colocar a importância destes personagens históricos e suas obras em seu devido lugar, tirando-as da posição dogmática de verdades superiores, quase dignas de idolatria! 
 Esta é a sociedade ocidental (da Europa e da América colonizada) quando surgem as democracias. Os sistemas de governo democráticos (ou seja, que dão poder ao povo, ao menos, supostamente) surgiram em um cenário marcado por elites manipuladoras que ditavam o que era verdade, seja na ciência, na filosofia bastante distanciada dos autores socráticos e platônicos ou em outras áreas como economia e governo. A tal elite intelectual que formou as bases da ciência tradicional e dos sistemas social e econômico nem conseguiu se livrar das piores características da religião, que continuou cheia de fundamentalistas e manipuladores das massas. Isto porque apesar de algumas conquistas, o pensamento difundido foi predominantemente (e meramente) racionalista, se mantendo indiferente a diversas questões essenciais do ser humano. Os sistemas democráticos por exemplo (o presidencialismo e o parlamentarismo) foram instaurados nas nações já com uma burguesia bem enraizada, cheia de poder e influência na sociedade. A filosofia que formou as bases da ciência criticou mais os pontos insignificantes das religiões do que os pontos mais nocivos à humanidade, como os dogmas, a hierarquização (autoritária) e a manipulação dos fiéis para que poucos líderes adquirissem riqueza e/ ou poder. 
 Obviamente os estudos científicos permitiram o desenvolvimento de tecnologias e o surgimento da indústria (isto é bom), mas desde sua origem na elite intelectual da era moderna, a filosofia e a ciência, deixaram um espaço considerável para se fazer o mal, ou seja, favorecer mais as pequenas elites, prejudicando mais as massas. 
 É neste contexto após o iluminismo, que acaba pouco antes da partilha (invasão) da África (1885 a 1914) e das duas guerras mundiais (1914 a 1918 e 1939 a 1945), que surgem as doutrinas da produtividade e do consumismo. Oras, os sociólogos sabem que a era moderna e seu discurso de que o homem é o centro do universo (que supostamente podia descobrir e fazer tudo) caem por terra após estes eventos fomentados por doutrinas racistas, violentas, falaciosas e opressoras como o darwinismo social, o fascismo e o nazismo. [*] 
 Enfim, foi durante as duas últimas duas décadas da partilha da África pelas "potências" européias (um punhado de governantes e de empresários enriquecidos) que finalmente surgiu um questionamento embasado (a fenomenologia, um movimento intelectual filosófico/ científico surgido na 1ª década do século 20) sobre os pressupostos filosóficos que serviam de base da ciência tradicional newtoniana, que permanecia intocável desde o século 18. Assim, a fenomenologia refuta os pressupostos da ciência tradicional e passa a trabalhar a questão da intencionalidade. Não vou detalhar mais a fenomenologia, pois já apresentei um resumo em outro texto sobre este movimento que lentamente ganhou força, mas não o suficiente para renovar a ciência. De certo modo, a dominância do arcaico modelo atomista/ materialista nas ciências resistiu até mesmo às propostas de Einstein (1916) e de Bertalanffy (1927). 

 "Surgem" as doutrinas da produtividade e do consumismo 
 Após o fim da 2ª guerra e da era moderna então surgiu um vácuo de doutrinas dominantes, ao menos no ocidente. É neste período de desenvolvimento industrial que são colocadas em prática as doutrinas da produtividade e do consumismo. E quem colocou em prática? As massas empobrecidas? Obviamente não. Quem propagou tais doutrinas foram novamente as elites, desta vez nem tão intelectuais assim, já que não havia mais necessidade de tanto intelectualismo: As mídias foram ampliadas pela industrialização, dando origem aos meios de comunicação em massa logo no período entre guerras. 
 Resumidamente, o discurso pró produtividade começa com Taylor e Ford (posso estar esquecendo de outros nomes), que tornaram-se modelos para o mundo empresarial por décadas, ao priorizar a qualidade e a velocidade da linha de produção da indústria. 
 Obviamente estes "gênios" praticamente esqueceram-se dos fatores humanos (ou não se importaram), como pressão no ambiente de trabalho e de variadas dificuldades sociais e econômicas que os trabalhadores enfrentavam em suas vidas profissionais. 
 Como eu não estudarei mais história, não trarei nomes de indivíduos poderosos específicos que fomentaram o consumismo e o acúmulo de bens. Basta entender que isto foi fomentado através da televisão, rádio, revistas e jornais, diretamente e indiretamente, em muitos dos filmes, séries, programas de auditório, matérias supostamente jornalísticas ou de entretenimento e principalmente em propagandas (geralmente das maiores empresas de qualquer segmento), desde o fim dos anos 50 até meados dos anos 90. Sim, muita "água rolou" neste tempo, como por exemplo, uma certa oficialização e propagação do liberalismo "renovado", ou seja, do neoliberalismo (direita), contra todos movimentos a favor da sociedade, da equidade e da infraestrutura dos países (esquerda). Em suma a nova direita venceu a esquerda na guerra fria, penetrando até mesmo nações que não estavam envolvidas diretamente em tal conflito. 
 Após os anos 90, com a proliferação da internet e das mídias digitais as falácias a favor de multimilionários e contra a maioria empobrecida das nações se intensificou: o conceito de pós verdade onde as narrativas sobrepõem os fatos, foi levado às últimas consequências, espalhando mentiras (fake news) surreais... Isto sem contar os algoritmos criados pelas empresas de mídia digital que fomentam "bolhas" de segmentação social ("panelinhas", grupos rivais religiosos, políticos etc). Mas a coisa não para por aí: O discurso meritocrata sobrevive, incitando a auto exploração ao lado da anulação de direitos dos trabalhadores em diversas sociedades - marcas registradas do neoliberalismo, ou seja, do capitalismo mais desregulado. 
 Até aqui levantei uma série de problemas, mas não mostrei argumentos contrários nem propostas alternativas... Como ajudar as massas de pessoas atarefadas pelo sistema capitalista? Recomendar que façam suas escolha seguindo a fé ou seu coração lhes parecerá mera ingenuidade, pois os discursos da produtividade e/ou da competitividade convenceram-os pelo medo ou pela fascinação. 
 O discurso da produtividade em geral alega uma suposta necessidade no trabalho submisso e/ou exagerado/ exaustivo. Utiliza/ causa uma dessensibilização nas pessoas, fomentando um sutil mas significante desprezo pela importância dos sentimentos, do sentir e das expressões... 

 Contra a falácia da produtividade e do consumismo 
 Então, uma possível resposta é contra-atacar o discurso, explicando/ mostrando a importância do sentimento e da condição mental. É preciso levantar a questão da intenção (como a fenomenologia fez ao trazer a intencionalidade) e dos motivos que levam as pessoas fazerem escolhas, mas não basta explicar friamente, pois estes discursos capitalistas são notoriamente frios (talvez, em alguns pontos, ao priorizar o ganho pessoal sobre o cuidar do próximo e do convívio pacífico, os discursos sejam perversos mesmo). 
 Tanto a psicologia, como a psiquiatria e até mesmo a religião indicam que o sentimento é interno da mente/ alma de cada indivíduo e não deve se adaptar à uma cobrança externa indiferente ao seu bem-estar. 
 A importância desse fator interno é tanta que ele determina as emoções e o sentir. Em estudos psicológicos, como os da logoterapia por exemplo, ele liga-se às motivações e às crenças que podem ser muito profundas. Este(s) sentimento(s) determinam um sentido de vida da pessoa. Este sentido resumidamente é uma busca por algo além de si: a busca por um grande amor em Vida, uma fé ou crença em algo maior, como o Criador, o Todo e/ ou Deus ou a busca pela realização de um objetivo, um projeto ou missão.
 Já a religião cristã, em sua origem, é praticamente contrária a estas doutrinas da produtividade e do acúmulo e consumo de bens, pois indica a importância do amor ao próximo e à tudo (Deus e sua criação). Várias passagens desde Isaias, até os 4 evangelhos sobre a vida de Jesus e os atos dos apóstolos indicam isto: 
 
..."Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. 
 Jesus disse: "É impossível que um homem (simultaneamente) monte dois cavalos ou estique dois arcos. Nenhum homem bebe vinho velho e imediatamente deseja beber vinho novo. Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom (riqueza, luxo). Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário? 
 Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas? 
 E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura? E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam; 
 Dá a qualquer que te pedir; e ao que tomar o que é teu, não lho tornes a pedir. 
 E como vós quereis que os homens vos façam, da mesma maneira lhes fazei vós, também. Se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? Também os pecadores amam aos que os amam. 
 E se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que recompensa tereis? Também os pecadores fazem o mesmo. 
 E se emprestardes àqueles de quem esperais tornar a receber, que recompensa tereis? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para tornarem a receber outro tanto." 
 E pediu-lhe um da multidão: Mestre, dize a meus irmãos que repartam comigo a herança. Mas ele lhe disse: "Ó homem, quem me fez um divisor?" Quem me pôs a mim por juiz ou repartidor entre vós? 
 Voltou-se para os discípulos e disse-lhes: "Não sou um divisor, eu sou?" Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui. E propôs-lhe uma parábola, dizendo: "Havia um homem rico que tinha muito dinheiro e não lhe faltava nada. Ele disse: Eu colocarei meu dinheiro em uso para que eu possa semear, plantar, colher e encher meu armazém com a produção. Seus campos produziram com abundância; E pensava consigo, dizendo: Que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos. 
 E disse: Farei isto: Derrubarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens; E direi a minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga. Tais eram suas intenções, mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? naquela mesma noite ele morreu. 
 Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus." 
 Um homem de posição se aproximou de Jesus e lhe perguntou: "Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna? " 
 Respondeu-lhe Jesus: "Por que você me pergunta sobre o que é bom? Há somente um que é bom (Deus). Se você quer entrar na vida, obedeça aos mandamentos". 
 "Quais? ", perguntou ele. 
 Jesus respondeu: " ‘Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não darás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe’ e ‘amarás o teu próximo como a ti mesmo’". 
 Disse-lhe o jovem: "A tudo isso tenho obedecido. O que me falta ainda? " 
 Jesus respondeu: "Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois, venha e siga-me". Ouvindo isso, o jovem afastou-se triste, porque tinha muitas riquezas. 
 Então Jesus disse aos discípulos: "Digo-lhes a verdade: Dificilmente um rico entrará no Reino dos céus. E lhes digo ainda: é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus". 
 Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele; E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas. 
 Aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado. 
 E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio. E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado. E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá. 
 E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, Pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento. 
 Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. 
 E disse ele: Não, pai Abraão; mas, se algum dentre os mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. 
 Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite. 

 A produtividade em si não deveria fazer mal contanto que respeitasse as necessidades básicas das pessoas que vão desde as fisiológicas como as sociais, de lazer, condições dignas de transporte, moradia etc. Obviamente para manter a saúde mental das pessoas e permitir a prática de suas respectivas espiritualidades, o consumo e aquisição de bens na sociedade deveriam ser moderados e certamente regulados para evitar injustiças. 
 Nota-se então que os discursos que priorizam a produtividade, o consumo incessante e o acúmulo de bens, são contrários ao sentido de vida, que se baseia num sentimento esperançoso de amor à alguém ou a uma tarefa/ missão/ fé. Tais discursos causam o vazio existencial bem como dificultam relacionamentos empurrando as pessoas para um vazio afetivo, podendo gerar depressão, stress e ansiedade. Além disto tudo, são movimentos contrários à doutrina de amor ensinada no cristianismo - São discursos de esvaziamento sentimental e emocional que pressionam as pessoas seja fomentando medo ou desejos insaciáveis como a ganância entre outros comportamentos nocivos... 

Leitura ecumênica de "as boas obras", "a oração" e "o amigo insistente"

Aqui continuo com os ensinamentos de Jesus, conforme os textos atribuídos a Mateus e a Lucas:  Fazer as boas obras discretamente (Mateus, Lu...