segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

A sensualidade é materialista demais para o cristianismo?

 

Quando o espiritismo surgiu, no séc 19, a mídia mais inovadora era o telégrafo - não era muito progresso desde da imprensa de Gutenberg do séc 15. O transporte terrestre mais veloz eram locomotivas. Em suma, a velocidade de informação era lenta, assim como as relações interpessoais. As opiniões eram bem mais irrelevantes e menos propagadas se comparada com os séculos 20 e 21. Relatos de fantasmas, eventos sobrenaturais e afins certamente pululavam muito mais que hoje. O materialismo estava espalhado mais entre as elites, sejam econômicas ou "intelectuais" de cientistas e filósofos (brancos ocidentais). A própria palavra cientista era novidade daquele século. A África estava prestes a sofrer a pior exploração de toda sua história e a cultura oriental chegava lentamente como algo exótico ou místico no ocidente dividido entre o cristianismo institucionalizado pelas igrejas e os intelectuais influenciados pelo racionalismo antropocêntrico. Esse era o contexto onde foram feitos os estudos espíritas liderado por um linguista pertencente a um grupo de pedagogos revolucionários da Europa (em prática, o professor de Kardec, Pestalozzi, causou uma revolução no ensino). 
 Hoje uma pessoa que relata os fenômenos descritos como "mediúnicos" pelos fundadores do espiritismo, certamente será taxado de louco, pois o materialismo tomou quase que completamente as classes "intelectuais" e ameaça engolir a vasta classe de pessoas com pouco estudo: Consumismo, imediatismo, meritocracia, culto ao corpo, exposição em mídia social, empreendedorismo forçado, são algumas das ideologias materialistas enfiadas goela abaixo do povo. Até mesmo igrejas cristãs vendem a meritocracia e o culto às riquezas materiais, afinal o que é mais fácil: Explicar as parábolas de Jesus e falar da importância do bem e do espiritual, ou prometer recompensas na Terra à uma maioria de pessoas empobrecidas? A ignorância das massas serve para manter os poderosos que parasitam a civilização humana através da desigualdade e da exploração descontrolada de recursos humanos / naturais. Kardec alertava sobre isso: se o discurso que só a matéria existe se espalhar, ninguém vai se importar com a mente, muito menos com temas sobre o espírito, a desencarnação/ morte/ pós vida. Nada vai impedir que todos entrem numa louca busca egoísta por riquezas materiais e prazeres na Terra... (já indiquei a relação do materialismo filosófico com a ideologia/ estilo de vida materialista em alguns textos como neste aqui: https://nea-ekklesia.blogspot.com/2022/06/os-perigos-dos-materialismos.html)
 E falando em busca por prazeres na Terra, entremos em um tema polêmico: 

O ato sexual é pecado na espiritualidades cristã? 
Há algumas poucas passagens no novo testamento sobre isto (não citarei o velho testamento, pois além de adequado a um povo mais rude e com menos progresso mental, tornaria o tema muito longo) - Mateus é um dos mais críticos aos atos sexuais, chegando a mencionar que Jesus falou da possibilidade de algumas pessoas se tornarem eunucas para seguí-lo, enquanto Paulo tenta delinear vagas regras sobre o assunto. Lucas critica mais o acúmulo de bens materiais, incluindo o dinheiro, deixando questões sexuais de lado. Pode-se entender os escritos de Mateus e Lucas, como duas alternativas diferentes entre si de resistir tentações da vida terrestre. Porém, focando na relação entre sexo e erro (pecado), é útil buscarmos outros evangelhos e aqui citarei 2 dos apócrifos: Tomé e Felipe. 
Em nenhum momento eles liberam a prática sexual para aqueles que querem seguir os ensinamentos de Cristo, mas porquê? Porque ambos focam na pureza de Cristo e esta pureza mental é a humildade e a esperança contínua de que todos seres humanos amem uns aos outros na ágape de Cristo - o amor incondicional, sem segundas intenções e sem busca por prazeres físicos ou materiais. 
Oras, então eles proíbem toda e qualquer atividade sexual? É claro que não, pois se fosse assim proibiriam a vida na Terra. Porém é bom lembrar que a humildade de Cristo e seu Pai, é amor e esperança do Criador. É como o amor de mãe para com toda sua criação e além, algo difícil de imaginar mesmo. 
Por um outro lado, Tomé torna este eixo de humildade/ amor/ esperança mais claro ao reforçar a importância de nos tornar como crianças: 

Como são os discípulos de Cristo (Tomé) 
Maria disse a Jesus: "Como são os teus discípulos?" 
 Jesus respondeu: "Eles são como crianças que se estabeleceram em um campo que não é deles. Quando os donos do campo vierem, eles dirão: 'Vamos recuperar nosso campo'. Então os meus discípulos (vão) se despir em suas presenças para que eles recuperem seu campo e lhe dêem de volta para eles. Por isso vos digo que, se o dono de uma casa sabe que o ladrão está chegando, ele começará sua vigília antes que ele chegue e não o deixará entrar na casa do seu domínio para levar para longe de seus bens. Você, então, esteja em guarda contra o mundo. 
Armem-se com grande força para que os ladrões não encontrem uma maneira de vir até vocês, caso a dificuldade que você espera (certamente) irá se materializar. Haja entre vós um homem de entendimento. Quando o grão amadureceu, ele veio rapidamente com sua foice na mão e colheu. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça". 
 Esta é uma passagem que mostra a importância da humildade e do desapego em relação às coisas materiais. A humildade também constitui a força de quem segue a lei divina de amor. 

 Desapego à matéria não é amor nem ódio (Filipe) 
Aquele que sai do mundo, e assim não pode mais ser detido pelo fato de estar no mundo, evidentemente está acima do desejo do [...] e do medo. 
Ele é mestre sobre [...]. 
Ele é superior à inveja. Se vier, eles o agarram e o estrangulam. E como este conseguirá escapar das grandes [...] potências? Como ele vai conseguir [...]? Há quem diga: "Somos fiéis" para que [...] os espíritos imundos e os demônios. Pois se eles tivessem o Espírito Santo, nenhum espírito imundo se apegaria a eles. Não tema a carne nem a ame. Se você a temer, ela ganhará domínio sobre você. Se você a ama, ela vai engolir e paralisar você. 
E assim ela habita neste mundo ou na ressurreição ou no lugar do meio. Deus me livre que eu seja encontrado lá! Neste mundo, existe o bem e o mal. Suas coisas boas não são boas, e suas coisas más não são más. Mas há mal depois deste mundo que é verdadeiramente mal - o que é chamado de "o meio". É a morte. Enquanto estamos neste mundo, convém que adquiramos a ressurreição, para que, quando nos despomos da carne, sejamos achados em repouso e não andemos no meio. Pois muitos se desviam no caminho. Pois é bom sair do mundo antes que se peque. 
 Neste texto de Filipe, “a morte”, aparece como um lugar onde as almas apegadas à carne e aos bens materiais ficam vagando. Já a ressurreição neste texto parece se referir à reencarnação em uma das moradas de Cristo, enfim, no Reino dos Céus. 
Desapegar-se do corpo é uma maneira de libertar a alma de seu domínio: Assim a pessoa evita o vício e se mantém fora de disputas mesquinhas/ materialistas. 

 O que entregar aos anjos e profetas (Tomé) 
Jesus disse: "Os anjos e os profetas virão a vocês e lhes darão o que vocês (já) têm. E vocês também, dêem-lhes o que vocês têm e digam a si mesmos: 'Quando eles virão e tomarão o que é deles?'" 
 Jesus diz que os anjos e profetas trazem algo para seus interlocutores. Certamente eles trazem o bem, os bons ensinamentos e os ouvintes de Jesus devem ser seus seguidores, os apóstolos, discípulos, enfim, os cristãos. Então é importante todos os cristãos perguntarem-se: Eu fiz o bem? Fiz tudo o que eu pude crendo na lei divina, que é de amor? 

 Jesus abençoa as crianças (Mateus, Marcos, Lucas) 
Apresentaram-lhe crianças para que lhes tocasse, mas os discípulos repreendiam os que as traziam.
 Jesus, porém, vendo isto, indignou-se, e disse-lhes: Deixai vir pequeninos a mim, e não os impeçais; porque deles é o reino de Deus. 
Em verdade vos digo que qualquer que não receber o reino de Deus como criança, de maneira nenhuma entrará nele. 
E, tomando-as nos seus braços, e impondo-lhes as mãos, os abençoou. 
 Certamente a maior parte da sociedade da época de Jesus tratava as crianças sem carinho e sem entender que elas são muito dependentes dos pais (de quem as criam). Pois a preocupação com a criança indefesa só começou a se propagar no início do século 18, e o entendimento da necessidade infantil por afeto só se propagou com estudiosos como Pestalozzi durante o século 19 na Europa. Jesus já sabia da importância de tratar as crianças com expressões de bons sentimentos, como o carinho, e também sabia como elas estão abertas a aprender não só racionalmente/ cognitivamente, como também são abertas às emoções que os adultos transmitem a elas. Esta receptividade da criança pode ser comparada com uma humildade interior, ou seja, um dos requisitos básicos para seguir a Cristo e a lei divina de amor ao próximo e a Deus. Sem receptividade e sem humildade não se entra no reino dos céus, na verdade, nem se vive em paz na Terra. Ser receptivo não é ser frágil, nem aceitar qualquer ideia apresentada, afinal Jesus também exige de seus discípulos, vigilância e devoção à solidariedade. Ele diz “sejam pacíficos (inofensivos, simples) como a pomba e espertos (prudentes) como a serpente”. 

 Como se tornar crianças do Reino dos Céus (Tomé, Filipe) 
Jesus viu crianças sendo amamentadas e disse aos seus discípulos: 
Estas crianças que estão sendo amamentadas são como aquelas que entram no Reino. Eles lhe disseram: Devemos nós, então, como crianças, entrar no Reino? 
Jesus lhes respondeu: Quando vocês fizerem o(s) dois um, e quando vocês fizerem o interior como o exterior e o exterior como o interior, e o acima como o abaixo, e quando você fizer o macho e a fêmea uma e a mesma, para que o macho não seja macho nem o feminino feminino; e quando você faz olhos no lugar de um olho, e uma mão no lugar de uma mão, e um pé no lugar de um pé, e uma semelhança no lugar de uma semelhança; então você vai adentrar [o Reino]. 
O Senhor fez tudo em um mistério, um batismo e uma crisma e uma eucaristia e uma redenção e uma câmara nupcial. [...] 
ele disse: "Eu vim para fazer as coisas de baixo como as de cima, e as de fora como as de dentro. Eu vim para uni-las no lugar." 
[...] aqui através de tipos [...] e imagens. 
 Tomé mostra que Jesus ensinava sobre a importância de abandonar o conceito de sexualidade: O homem não é melhor do que a mulher, nem vice-versa - pois ambos devem buscar características dos “dois lados” neutralizando a convenção social do que é um homem e do que é uma mulher. O verdadeiro amor, ou seja, o amor de Deus, pouco se importa com convenções terrestres de sexualidade/ “gênero”: Os sentimentos bons e puros estão muito acima de tabus, de interesses em prazeres sensoriais e de vantagens materiais. 
Interessante como isto também está de acordo com Sócrates e Platão: A busca pelo bem e pela verdade é essencialmente mental (de “psiquê”, ou seja, da alma), assim ela é muito mais sublime e mais importante do que os prazeres sensoriais intensos como os que envolvem a sensualidade e suas disputas, impulsos e vícios. 
Reforçando a importância do mental, ou seja, da alma, Jesus disse para seus discípulos tornarem seu exterior como o interior - Isto é ser verdadeiro (de certo modo, como a criança, que é espontânea, sem a mesquinharia, o preconceito e a malícia típicos de adultos), não esconder nada, tornar sua aparência externa harmoniosa com sua alma. Assim, o corpo puro, se torna como a alma, que em sua origem como criação de Deus, é luz pura: A luz no sentido espiritual, além do universo material. Isto é unir o corpo com o espírito, o gnóstico com o ortodoxo, o que pensa no bem da alma e do mundo espiritual e o que pensa no bem do corpo e no bem do mundo material. 

 Mistério da união profana e da união sagrada (Tomé, Filipe) 
Jesus disse: “Miserável é o corpo que depende de um corpo, e miserável é a alma que depende desses dois”. 
As formas de espírito maligno incluem as masculinas e as femininas. Os machos são aqueles que se unem com as almas que habitam uma forma feminina, mas as fêmeas são aqueles que se misturam com aqueles em forma masculina, embora alguém que foi desobediente. E ninguém poderá escapar deles, pois eles o detêm se ele não receber um poder masculino ou um poder feminino, o noivo e a noiva. Um os recebe da câmara nupcial espelhada. Quando as mulheres devassas vêem um homem sentado sozinho, elas saltam sobre ele e brincam com ele e o contaminam. Assim também os homens lascivos, quando vêem uma bela mulher sentada sozinha, a persuadem e a constrangem, querendo contaminá-la. Mas se virem o homem e sua mulher sentados um ao lado do outro, a mulher não pode entrar no homem, nem o homem entrar na mulher. Assim, se a imagem e o anjo estão unidos um ao outro, ninguém pode se aventurar a entrar no homem ou na mulher. 
 Muitos dos textos de Filipe e de Tomé foram feitos em linguagem não clara, parecendo abordar temas místicos e espirituais. 
Aqui Tomé diz que um corpo que depende de outro é miserável e qualquer alma que dependa desses dois corpos também é miserável. 
Filipe diz que espíritos malignos tem gênero, ou seja, um sexo. O espírito é alma, que em prática é mente, portanto, originalmente não possui um corpo físico dotado de órgão genital. Então ele deve indicar que estes são espíritos dependentes dos corpos/ apegados à carne, que buscam seres encarnados com alguma disposição a infidelidade ou ao sexismo. Encontrando tais seres, os espíritos agem sobre eles, pois estão apegados/ viciados às relações sexuais, ou seja aos dois corpos nestas condições. Mas os casais verdadeiramente unidos, ou seja, que se uniram sem interesses materialistas (sejam interesses financeiros, de bens ou interesses sexuais) e que honram um ao outro em amizade, buscando conhecer um ao outro, são invulneráveis a tais espíritos malignos. Estes casais verdadeiros estão mais “próximos ou unidos ao anjo”. 
Enfim, somente no final do texto, Filipe menciona o bem. A partir daí é importante lembrar que textos com tais argumentos só são relevantes se o bem for considerado como prioridade: É muito mais importante estudar o bem e praticá-lo do que teorizar sobre o mal. 

 O valor da alma e do corpo (Tomé, Filipe) 
Jesus disse: "Se a carne veio a existir por causa do espírito, é uma maravilha. Mas se o espírito veio a existir por causa do corpo, é uma maravilha das maravilhas. Na verdade, estou espantado com a forma como esta grande riqueza fez sua casa nesta pobreza." Ninguém vai esconder um grande objeto valioso em algo grande, mas muitas vezes alguém jogou incontáveis milhares em algo que vale um centavo. Compare a alma. É uma coisa preciosa e veio a estar em um corpo desprezível. 
 Estas citações (mais mentalistas/ espiritualistas) de Felipe e Tomé mostram como a alma em sua imortalidade é mais valiosa que o corpo, também colaborando para explicar o porquê da origem humilde de Jesus de Nazaré. O espiritismo reforça bastante este entendimento, pois de acordo com esta filosofia podemos evoluir de maneira praticamente infinita intelectualmente e sentimentalmente através de um número qualquer de encarnações/ reencarnações. A carne, ou seja, o corpo material / terrestre morre dentro de um período de tempo, mas o espírito prossegue em sua jornada em busca do bem maior, do Todo, de Deus. Quando Filipe compara o corpo com algo que vale um centavo e o chama de desprezível, não se trata de desprezar a vida alheia e sim, de não querer mais do que o necessário para si mesmo em vida. O corpo é temporário e não levamos bem material algum com nossa alma que pode e deve transcender para além da vida terrestre. Nós seres humanos, em prática somos essencialmente sentimento e pensamento, ou seja, alma. Temos instintos de sobrevivência e muito mais que isso: Temos capacidade de aprender, de expressarmos com artes, de inventarmos desde ferramentas até histórias, temos pequenos desejos e grandes sonhos ou objetivos, enfim possuímos complexidade em todo nosso âmbito mental (esta complexidade deve fazer parte da riqueza cuja Tomé indica que Jesus mencionou) e essa mente voltada a toda a diversidade na Terra possivelmente é uma parcela de nossa essência (alma), que tem um potencial literalmente transcendente. 

 Verdadeira causa das dissensões (1ª Epístola aos Coríntios) 
A vós, irmãos, não pude falar como homens espirituais, mas como a (homens) carnais, como a criancinhas em Cristo. Eu vos dei leite a beber e não alimento sólido que ainda não podieis suportar. Nem ainda agora o podeis, porque ainda sois carnais. Com efeito, enquanto houver contendas, não será porque sois carnais e procedeis de um modo totalmente humano? 
 Importante notar como as epístolas do apóstolo Paulo, escritas alguns anos após a morte de Jesus de Nazaré, trata os cristãos como seres humanos em seu contexto cotidiano de sua época (século 1) e local (Império Romano). 
 Paulo começa este texto explicando que não pode se comunicar aos cristãos como indivíduos espirituais, ou seja, os receptores de sua mensagem ainda não estavam desenvolvidos espiritualmente para receber as mensagens cristãs do apóstolo. Ele continua dizendo que passará seus ensinamentos como se estivesse dando leite às crianças, o que certamente explica porque Jesus deixou tantas mensagens na forma de parábolas. Por variados motivos, o povo chamado de carnal por Paulo, é o povo apegado à vida material: seja apegado às rotinas de trabalho, aos prazeres materiais, a determinadas pessoas e líderes, ao acúmulo de bens e riquezas como dinheiro etc. O mundo material é muito diverso e se apegar a ele, de acordo com Paulo, é a principal causa das contendas, ou seja, das disputas, rivalidades que acabam deixando Deus e sua lei de amor em segundo plano. Estes costumes rudimentares perduraram entre cristãos e pessoas de diversas outras religiões durante séculos depois da morte de Jesus, mais precisamente, ainda perduram até os dias de hoje, neste início de século 21, mas houve um lento e vago progresso: Com a divulgação da filosofia durante o período colonial, com a propagação das ciências e a revolução industrial na era moderna e com a difusão de sociedades mais democratizadas na pós-modernidade, a linguagem das parábolas vai se tornando obsoleta. Tanto que em meados do século 19, o movimento espírita tenta esclarecer várias das passagens de Cristo deixadas na forma de parábolas. 
 A soma (e / ou a intersecção) de todas estas passagens de textos cristãos arcaicos (do século 1 ao século 3) dão uma boa ideía da importância da humildade e da alma em detrimento à sexualidade e à priorização do corpo, dos prazeres do corpo e do acúmulo de bens materiais. Para finalizar, é interessante notar que a filosofia cristã do espiritismo reforça estas noções de maneira breve, se não for estudado os ensinamentos de Sócrates e Platão, pois uma das poucas menções espíritas sobre o assunto se dá no seguinte trecho do livro dos espíritos: 
 693. São contrários à lei da natureza as leis e os costumes humanos que têm por fim ou por efeito criar obstáculos à reprodução? 
 “Tudo o que embaraça a natureza em sua marcha é contrário à lei geral.” 
 a) — Entretanto, há espécies de seres vivos, animais e plantas, cuja reprodução indefinida seria nociva a outras espécies, e da qual o próprio homem acabaria por ser vítima. Pratica ele ato repreensível, impedindo essa reprodução? 
 “Deus concedeu ao homem, sobre todos os seres vivos, um poder de que ele deve usar, sem abusar. Pode, pois, regular a reprodução, de acordo com as necessidades; não deve, porém, opor-lhe obstáculos desnecessariamente. A ação inteligente do homem é um contrapeso que Deus dispôs para restabelecer o equilíbrio entre as forças da natureza, e é ainda isso o que o distingue dos animais, porque ele obra com conhecimento de causa. Mas os próprios animais também concorrem para a existência desse equilíbrio, porquanto o instinto de destruição que lhes foi dado faz com que, provendo à própria conservação, obstem ao desenvolvimento excessivo, quiçá perigoso, das espécies animais e vegetais de que se alimentam.” 
 694. Que se deve pensar dos usos cujo efeito consiste em obstar à reprodução, para satisfação da sensualidade? 
 “Isso mostra uma predominância do corpo sobre a alma e quanto o homem está apegado à matéria.” 
 Por fim, os ensinamentos de Sócrates distribuídos em algumas obras de Platão (como Filebos, Fedro, entre outros registros), ocasionalmente relacionam os prazeres sensoriais com o bem e com o mal, sendo possível chegar a uma classificação aproximada da seguinte maneira: Os prazeres mais suaves (da visão e da audição) são os mais próximos do bem, enquanto os mais ardentes (os sabores mais intensos ou deliciosos para o paladar e os prazeres sexuais para o tato, que são os que podem causar vícios) estão em uma posição oposta aos primeiros. Aqui segue um diagrama com um resumo sobre uma possível interpretação platônica sobre o assunto:

 


A conclusão pode parecer utópica nos dias de hoje: Tanto o cristianismo anterior ao século 19 (período que surge o espiritismo) como o posterior, indica que a sensualidade e a busca por prazer sexual estão mais para o erro (pecado) do que para uma atitude correta. Porém esta conclusão não contradiz a função básica do ato sexual que é a reprodução da espécie... Ela só bate de frente com a atual sociedade materialista que foi normalizando o sexismo, a vaidade e a objetificação do ser humano, principalmente da segunda metade do século 20 até este início de século 21.

Leitura ecumênica de "as boas obras", "a oração" e "o amigo insistente"

Aqui continuo com os ensinamentos de Jesus, conforme os textos atribuídos a Mateus e a Lucas:  Fazer as boas obras discretamente (Mateus, Lu...