terça-feira, 7 de maio de 2024

Diálogo interreligioso sobre a Fé e Bondade de Jesus

As duas passagens seguidas mostram como a bondade de Jesus é vinculada a sua fé.

Tempestade Acalmada (Mateus, Marcos, Lucas) 

"A tarde daquele dia, entrando ele no barco, deixaram o povo (e) seus discípulos o seguiram; E eis que no mar se levantou uma tempestade, tão grande que o barco era coberto pelas ondas; ele (Jesus), porém, estava dormindo. 

E os seus discípulos, aproximando-se, o despertaram, dizendo: Senhor, salva-nos! Estamos perecendo! Não te importa que pereçamos? 

Jesus disse-lhes: Por que temeis, homens de pouca fé? Então, levantando-se, repreendeu os ventos e o mar dizendo: Silêncio! Cala-te!, e seguiu-se uma grande bonança. 

Ele disse-lhes: Como sois medrosos. Ainda não tendes fé? 

E aqueles homens se maravilharam, dizendo (cochichando): Que homem é este, que até os ventos e o mar lhe obedecem?"

Continuando a passagem anterior, o episódio da tempestade é uma provação da fé e da coragem daqueles que decidem seguir o ensinamento de Cristo. 

Jesus não temia nem mesmo a tempestade que ameaçava virar sua embarcação. Sua fé era inabalável, afinal ele veio cumprir a missão de propagar os ensinamentos de Deus. Embora certamente ninguém tenha alcançado uma fé equivalente a de Jesus, Ele mostrou a importância de se manter firme na fé, mesmo diante dos maiores perigos. Não se trata de ignorância ou de ação suicida, e sim, de crer firmemente em Deus e sua lei, mesmo diante das grandes dificuldades. Esta fé inclui uma certeza no que é certo/ no que é justo, mas mantendo humildade, pois justiça não inclui vingança nem “auto piedade”. Para uns pode parecer algo difícil, para outros, pode parecer relativo, isso porque tal certeza é um estado da consciência e/ ou um estado de mentalidade - é interior de cada ser. Ao mesmo tempo que é interior também é transcendente: relaciona-se ao respeito e amor por todos os seres / por Deus: o amor ensinado por Cristo. 

Expulsão dos Demônios/ O possesso e os porcos (Mateus, Marcos, Lucas) 

"E, tendo chegado ao outro lado, à província dos gergesenos (ou gadarenos, ambos povos do leste), saíram-lhe ao encontro dois endemoniados, vindos dos sepulcros (cemitério); eram tão ferozes que ninguém podia passar por aquele caminho. O qual não se vestia há tempos e tinha a sua morada nos sepulcros, e nem ainda com cadeias o podia alguém prender; Porque, tendo sido muitas vezes preso com grilhões e cadeias, as cadeias foram por ele feitas em pedaços, e os grilhões em migalhas, e ninguém o podia amansar. E andava sempre, de dia e de noite, clamando pelos montes, e pelos sepulcros, e ferindo-se com pedras. 

E, vendo Jesus ao longe, correu (correram) e eis que clamaram, dizendo: Que temos nós contigo, Jesus, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo? 

(Porque Jesus lhe dizia: Sai deste homem, espírito imundo.) 

E (Jesus) perguntou-lhe: Qual é o teu nome? 

E lhe respondeu, dizendo: Legião é o meu nome, porque somos muitos. 

Andava pastando distante deles uma manada de muitos porcos. E os demônios rogaram-lhe, dizendo: Se nos expulsas, permite-nos que entremos naquela manada de porcos. 

Jesus respondeu-lhes: Ide, permitindo-os que saíssem para aqueles porcos. Então, saindo eles, se introduziram na manada dos porcos; e eis que toda aquela manada de (uns dois mil) porcos se precipitou no mar por um despenhadeiro, e morreram nas águas. 

Os porqueiros (pastores de porcos) que aquilo tinham visto, fugiram e, chegando à cidade, divulgaram tudo o que acontecera aos endemoniados e acerca dos porcos. 

Eis que toda aquela cidade foi ter com Jesus, e viram o endemoniado, o que tivera a legião, assentado, vestido e em perfeito juízo, e temeram. 

Então começaram a rogar-lhe que saísse dos seus termos. 

E, entrando Jesus no barco, o que esteve endemoniado rogava-lhe (pedia-lhe) que o deixasse estar com ele. 

Jesus, porém, não lho permitiu, mas disse-lhe: Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes quão grandes coisas o Senhor te fez, e como teve misericórdia de ti. 

E ele foi, e começou a anunciar em Decápolis quão grandes coisas Jesus lhe fizera; e todos se maravilharam."

 

A fé de Jesus é vinculada à bondade/ ao bem porque não há fé verdadeira sem benevolência. Jesus entende que pensar e praticar o bem possibilita resolver todos os problemas da humanidade, portanto ele faz o bem porque acredita nisto e entende isto. Se todos fizessem o bem, o mal acabaria - usar a maldade/ ignorância do outro como desculpa para não fazer o bem é facilitar a propagação do mal e contradizer a Deus. 

Deus é bom e o ser humano tem o livre arbítrio para ser bom: para praticar a lei de amor benevolente com todos. Muitos fazem mal uso de seu livre arbítrio, mas não devemos tomar estes por exemplo, isto seria "nivelar por baixo" e seria abandonar a esperança, desistir da vida. A bondade/ benevolência é uma dimensão humana e espiritual, afinal o ser humano não é só corpo, é principalmente mente, psiquê, alma/ espírito.

Esta é uma das passagens que mostra a ação de espíritos sobre a Terra e os poderes da fé e da bondade ensinadas por Cristo. Espíritos são um assunto abordado em muitas religiões: umbanda, candomblé, hinduísmo (asuras e devas...), em variadas religiões ameríndias etc.

O termo "emdemoniado" utilizado no texto, geralmente entendido como "possesso" no catolicismo, é o que o espiritismo, a umbanda e o candomblé chamam de obsediado.

Independentemente se eram um ou dois indivíduos que habitavam o cemitério, as narrativas contam que eram uma legião de espíritos imundos que assombravam os homens naquela região ao leste da Judéia. Aquela certamente era uma região de uma sociedade diferente da judaica, pois criavam porcos, coisa que os judeus não faziam, pois consideravam estes animais impuros. (a menos que os porcos sejam um tipo de alegoria/ uma linguagem simbólica, o que não é comum nos textos de Marcos, Lucas e Mateus: as alegorias geralmente aparecem contadas por Jesus e não no texto em si) 

O espiritismo explica que "demônios" nada mais são do que espíritos infelizes (atormentados, tomados por egoísmo etc) e isto está em acordo com que Jesus diz nesta passagem: Ele chega ordenando para que o espírito (imundo) deixe o homem. Porém o espiritismo tem um olhar crítico sobre a parte de mandar esses espíritos aos porcos: Considera pouco provável uma grande quantidade de porcos naquela época e região, além de considerar uma exceção às regras da natureza (também criadas por Deus) permitir que supostos espíritos humanos (ou próximos de humanos) tomassem corpos de seres vivos tão diferentes como os porcos. 

Nota-se que Jesus quebrou uma cadeia de relações nocivas naquela região: Com sua fé que é verdadeira, e portanto bondosa, ele expulsou a legião de espíritos, libertando o(s) possesso(s) e incomodando a população local, que talvez tivessem ganhos (econômicos ou qualquer outro) com a criação de porcos. Esta população de estrangeiros inicialmente se mostra insensível com o(s) liberto(s) da possessão e pede para que Jesus fosse embora de suas terras. Possivelmente esta sociedade valorizava mais os animais do que a vida humana e do que a segurança, pois Jesus prestou-lhes um favor ao tornar o cemitério um lugar mais seguro e menos violento. Jesus então pede para que o(s) ex "endemoniado(s)" espalhe(m) para o povo local, como ele foi liberto e como Deus é misericordioso.

 

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