sábado, 5 de outubro de 2024

Leitura ecumênica de "O tesouro. A pérola. A rede"

O tesouro. A pérola. A rede 

Legendas: (Tomé: ciano, Mateus: azul, Filipe: magenta

"Jesus disse: Também o reino dos céus (do Pai) é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pela alegria dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo. 

Outrossim o reino dos céus é semelhante ao homem negociante (mercador) que tinha uma remessa de mercadorias e buscava boas pérolas

Aquele mercador era astuto; Encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha (sua remessa de mercadoria) e comprou a pérola só para si. 

Vocês também, busquem seu infalível e duradouro tesouro onde nenhuma traça se aproxima para devorar e nenhum verme destrói. 

Quando a pérola é lançada no lodo, torna-se muito desprezada, nem se for ungida com óleo de bálsamo se tornará mais preciosa. Mas sempre tem valor aos olhos de seu dono. Compare os Filhos de Deus: onde quer que estejam, ainda têm valor aos olhos de seu Pai."

Jesus indica que Deus e o Reino dos Céus amam a pessoa que segue a lei divina de amor e espera que um dia todos seus filhos a sigam. Nesta esperança, Deus perdoa até mesmo aqueles que se distanciam de sua lei: basta estes que se distanciaram, voltarem a praticar a lei divina de amor com sinceridade/ de coração. 

Jesus também diz que o Reino é o que há de mais valioso para o ser humano. Porém este valor requer dedicação: ao descobrir tal tesouro, a pessoa que reconhece seu valor, passa a priorizá-lo acima de todos outros assuntos. Afinal de contas, trata-se do bem maior, ou, O Bem. Este bem é o que se deve amar verdadeiramente, ou seja, é o que há de mais amável, isto também está de acordo com o diálogo de Sócrates, na obra O Banquete, de Platão. 

Jesus que veio ensinar sobre a lei divina de amor, veio obviamente falar do reino dos céus também. É na dedicação aos ensinamentos de Jesus, que nos destinamos a encontrar o Reino dos Céus. É manter-se nos atos de amar o próximo, de perdoá-lo, de solidarizar-se, de ser humilde, enfim, tudo que Jesus ensinou. Este ensinamento é o que resolveria todos os problemas da humanidade se fosse colocado em prática por cada vez mais pessoas na Terra… Não se trata de imaginar um reino no além nem de realizar uma caridade fria ou a contragosto: É realizar a vontade de Deus, de Cristo, ou seja, do reino dos céus, amando ao Criador e a todas as pessoas na própria Terra. Embora pareça uma utopia, é uma atitude possível: basta colocá-la em prática encarando as dificuldades. 

A passagem de Filipe, ao comparar os filhos de Deus (todos humanos etc) com pérolas enlameadas, é semelhante à parábola do filho pródigo contada por Jesus, de acordo com Lucas: Deus é como o pai que SEMPRE perdoa seus filhos. Mas se o pecador "queima no gehena/ inferno (etc)" pela eternidade, estariam corretos estes textos de Filipe e Lucas? Sim! O que está errado é propagar a ideia que Deus pune eternamente alguém! Jesus insinua a reencarnação no Diálogo com Nicodemos e ao dizer que João Batista é Elias, além de indicar que o espírito sai do corpo na passagem sobre o "milagre de Jonas". As igrejas negaram tal explicação reencarnacionista nos concílios da Idade das Trevas! Ali, entre os anos de 325 e 787, foram caladas várias vozes dissidentes ante os imperadores e sacerdotes sedentos por poder sob a velha e capenga acusação de "heresia". Orígenes, Arius, Nestório entre outros, são exemplos dos perseguidos pelos sacerdotes mais alinhados aos poderosos naquela época. Isso porque as igrejas estavam se tornando instituições interessadas em manter o poder, com uma narrativa que dá  centralidade à autoridade e obediência, ou seja, ignorando os ensinamentos de Jesus! Esta autoridade "religiosa" obviamente era nada espiritual: gananciosa, negociava com o poder mundano de imperadores bizantinos e reis europeus. Para manter a obediência dos "fiéis" então, autoridades religiosas utilizaram-se (e algumas ainda utilizam) a intimidação, mantendo-os na ignorância, ao invés de serem exemplos vivendo em humildade, solidariedade e verdade como Jesus viveu.

Se as igrejas estiverem interessadas em propagar esperança, nenhuma delas, seja católica ou evangélica, perderá fiéis ao assumir a reencarnação como uma possibilidade relacionada à piedade de Deus!! Porque insistir em negar isso? Orgulho de determinados sacerdotes/ pastores? Ou interesse em manter fiéis/ religiosos sob o controle baseado em medo?

"Igualmente o reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar, e que apanha toda a qualidade de peixes. 

E, estando cheia, a puxam para a praia; e, assentando-se, apanham para os cestos os bons (o peixe maior); os ruins, porém, lançam fora. 

Assim será na consumação dos séculos: virão os anjos, e separarão os maus de entre os justos, E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes. 

E disse-lhes Jesus: Entendestes todas estas coisas? Disseram-lhe eles: Sim, Senhor. 

E ele disse-lhes: Por isso, todo o escriba instruído acerca do reino dos céus é semelhante a um pai de família, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas."

Continuando a importância de se praticar os ensinamentos de Cristo, Jesus fala sobre o resultado de se viver a bondade e de se viver a indiferença ou a maldade. Os peixes bons são os que realizam e priorizaram os ensinamentos de Cristo, os demais peixes não realizaram nem priorizaram. Como consequência de sua mentalidade e atitudes em vida, cada um terá o destino que merece: o bondoso colherá a bondade, sendo acolhido pelos anjos/ pelo “reino dos céus” e o maldoso colherá a maldade que plantou. Ao falar de consumação dos séculos e de anjos, Jesus certamente se refere ao pós-vida, ou seja, uma existência após a morte. 

Aqueles que veem o assunto da vida após a morte como uma possível causa do charlatanismo nas igrejas, contradizem estes ensinamentos de Jesus. É óbvio que o charlatanismo pode ser praticado por qualquer um, seja por uma pessoa que se autodeclare ateia, materialista, religiosa, espiritualista ou teísta. Alguns teólogos da libertação parecem seguir essa ideologia materialista talvez por buscarem uma aproximação com alguma linha de pensamento “socialista”, o que também se mostra desnecessário, já que os primeiros socialistas (antes de Marx e Engels), eram espiritualistas (Fourier, Owen entre outros). O fato é que a aproximação das típicas pautas dos movimentos sociais é uma realidade do cristianismo, porém são desnecessários os argumentos materialistas: Jesus Cristo se importava com as massas (a coletividade/ a sociedade), com os mais vulneráveis, e portanto, com a equidade. Além disto, diversas outras passagens e temas da bíblia cristã que não abordam o “pós vida”, podem ser usados para manipular fiéis, o que torna esta negação da existência após a vida terrestre, mais uma futilidade como as discussões em torno da negação da virgindade de Maria (típica do protestantismo), como o questionamento se Jesus era santo antes de ser batizado (típica do arianismo), a negação da ressurreição (típica dos espíritas) e tantas outras banalidades que se afastam da prática da lei de amor. Se estas coisas foram reais ou não, pouco importa. A diversidade é natural da vida terrestre e das civilizações humanas, mas estas divergências de opinião, JAMAIS deveriam sobrepor a importância dos ensinamentos de Cristo. 

Afinal um “conhecimento” que tem como OBJETIVO a rixa, a intolerância, o desespero, a dor, o ódio, o medo e/ ou a miséria não é verdadeiro, pois é ignorância pelo simples fato de ignorar o sofrimento alheio. Este é o caso tanto das falsas revelações religiosas ou místicas que inventam um Deus exterior misterioso e punidor, como também é o caso do discurso materialista niilista que incentiva a vivermos buscando grandes montantes de fortunas materiais e/ ou de prazeres mesmo que isso envolva enganar e prejudicar os outros, Também é o caso do discurso de incentivo à de se “defender” do estranho/ do diferente, que manifesta-se pelo incentivo ao uso (e produção) das armas, por exemplo. Na verdade, este é o discurso do medo, da desconfiança paranoica, da violência e do armamentismo. Ao vermos o número de guerras e conflitos com fins mesquinhos na história da humanidade, pode-se entender que a criação (e a utilização) de armas é uma ignorância que se transveste de conhecimento/ desenvolvimento de novas tecnologias. O verdadeiro conhecimento é o que leva ao bem e existem inúmeros deles na história das civilizações, sejam aplicados às relações humanas ou até mesmo às grandes obras, como algumas da engenharia. Platão indica esta relação de conhecimento verdadeiro com o bem em suas obras e Jesus de modo muito semelhante, vincula a verdade à lei de amor, ou seja, ao ato de fazer o bem, vivendo isto. Portanto este bem é lógica e é compaixão e solidariedade. Resumidamente se todos os seres humanos abandonarem o egoísmo e se ajudarem, todos os problemas da humanidade irão cessar. 

O trecho em que Jesus diz que o escriba versado tira coisas velhas e novas de seu tesouro, se refere ao religioso do judaísmo que realmente entendeu o que os profetas vieram ensinar na Terra antes de Cristo. É a pessoa que encontra coisas boas (tesouros) tanto entre ensinamentos antigos como em ensinamentos novos.

 

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