sábado, 26 de outubro de 2024

Leitura sobre os 2 Grandes Mandamentos/ O bom samaritano

O(s) (2) grande(s) mandamento(s)/ O Bom Samaritano (Mateus, Marcos, Lucas) 

"Os fariseus, ouvindo que ele (Jesus) fizera emudecer os saduceus, reuniram-se no mesmo lugar. Aproximou-se dele um dos escribas que os tinha ouvido disputar, e sabendo que lhes tinha respondido bem, perguntou-lhe: Qual é o primeiro de todos os mandamentos? 

E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes. 

E o escriba lhe disse: Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que há um só Deus, e que não há outro além dele; 

Eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? 

E Jesus lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês? 

E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo (isto é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios). 

Jesus, vendo que havia respondido sabiamente, disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás (não estás longe do reino de Deus). 

Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo? 

Respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. 

Ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. 

E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o, passou de largo. 

Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre o seu animal, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele; 

 Partindo no outro dia, tirou dois denários (dinheiros), e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar. 

Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? 

E ele (ou doutor da lei) disse: O que usou de misericórdia para com ele. 

Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira. E já ninguém ousava fazer-lhe perguntas."

Não basta dizer que ama Deus - para provar isto, é preciso mostrar amor a toda a criação de Deus praticando a solidariedade, por isso é correto amar o próximo como a si mesmo. O próximo não é apenas um familiar, nem um parente, nem alguém que pertence ao mesmo grupo religioso ou institucional. O próximo é praticamente todo indivíduo que encontramos pelo caminho, principalmente o mais necessitado. Jesus ainda ordena: “Vai e faça da mesma maneira", pois deve-se ter a atitude de ajudar o próximo sem querer obter vantagens ou compensações. Tal ato, além de fazer o bem à pessoa ajudada, serve para que não nos percamos na indiferença e/ ou no egoísmo. 

Esclarecido que o "próximo" não é referente à proximidade por mera afinidade nem por distância física; cabe lembrar que o ato de amar o próximo como a si mesmo não é passível de ser distorcido. Ninguém deixa de amar a si mesmo sem se destruir, nem passa a "amar menos" a si mesmo num dado momento para "amar mais" noutro: Isso seria uma falácia das mais patéticas. Quem acreditaria numa pessoa, que para fazer o mal a outra, diga que fez assim, porque estava amando menos a si mesmo naquele momento? Oras, se amasse menos a si mesmo, faria mal a si mesmo.

Este ensinamento de Jesus então é um dos centrais ao lado de amar a Deus. Mas o que é amar a Deus? É possível amá-lo e fazer mal a algumas pessoas? A resposta é não, porque Deus é espírito e é O criador onipresente de todas as coisas. Sendo espírito ele fez todos os seres humanos como espíritos à sua própria semelhança e ama todos, ama toda a sua criação. 

Vale lembrar que Deus sendo o espírito criador de tudo, não requer que cristão algum (nem outro religioso ou espiritualista) negue descobertas de estudos (científicos) como a evolução das espécies.

Aquele que crê em Deus não deixa de o fazer por entender que a vida terrestre evolui ao passar de longos períodos de tempo. Aquele que crê em Deus nem precisa negar a possibilidade da existência de eventos como o "Big Bang" ou a "Inflação Cósmica". Afinal Deus é espírito - sempre existiu e sempre existirá, então ciclos de criação e destruição do universo não refutam nem contrariam Deus. Discutir isso seria entrar em intrigas desnecessárias e tolas.

Se limitando aos ensinamentos de Jesus, que são muito mais importantes do que textos de linguagem do 1º milênio a.C. como os do velho testamento, é sempre importante lembrar que Deus perdoa todos os seus filhos, pois toda a vida é sua criação. Jesus disse: "nem meu Pai julga" - este fato é explicito em mais de um texto do evangelho de João, o evangelista, e também é reforçado em Mateus, quando este reforça a importância da misericórdia ao citar Oséias.

 

 

sábado, 19 de outubro de 2024

Leitura interreligiosa de Compaixão pelos sofredores/ Missão dos 72 discípulos/ Evangelho revelado aos pequeninos

Compaixão pelo povo que sofre/ Missão dos 72 discípulos (Mateus, Marcos, Lucas

E depois disto designou o Senhor ainda outros setenta (e dois), e mandou-os adiante da sua face, de dois em dois, a todas as cidades e lugares aonde ele havia de ir. 

Jesus percorria todas as cidades e aldeias. Ensinava nas sinagogas, pregando o Evangelho do reino e curando todo o mal e toda enfermidade. 

Vendo a multidão, ficou tomado de compaixão, porque estavam enfraquecidos e abatidos como ovelhas sem pastor. Disse então aos seus discípulos: A messe (seara) é grande, mas os operários (obreiros) são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da messe, que envie operários para a sua messe. 

E voltaram os setenta (e dois) com alegria, dizendo: Senhor, pelo teu nome, até os demônios se nos sujeitam. 

Jesus disse-lhes: Eu via Satanás, como raio, cair do céu. Eis que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões, e toda a força do inimigo, e nada vos fará dano algum. Mas, não vos alegreis porque os espíritos vos estão sujeitos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus. 

Esta passagem mostra a preocupação de Jesus com a grande quantidade de vítimas das injustiças propagadas pelas classes dominantes da sociedade. Jesus buscava ajudar a todos os desfavorecidos, injustiçados e oprimidos e orientou aos seus discípulos a orarem para que Deus enviasse (e, talvez, inspirasse) mais indivíduos solidários ao mundo. 

Nenhum tipo de orgulho é bom. Quando os discípulos dizem alegremente que os espíritos maus lhes obedecem, Jesus diz para eles não se alegrarem com isto, e sim, para se alegrarem por fazerem o bem, ou seja, por servirem a Deus e aos céus. Esta é uma lição de humildade e de gratidão. Tal lição é mais valiosa ainda para os grupos que lidam com espíritos, sejam espíritas, umbandistas, católicos, evangélicos ou qualquer outro, pois deve-se alegrar por ajudar o próximo, e não por meramente expulsar ou dar ordens a espíritos. 

A messe, seara, ou plantio, ou semeada, são as obras de Jesus: seus ensinamentos a todos e seu auxílio aos necessitados. O hinduísmo, com seus diversos tipos de yoga, está de acordo com a necessidade de se propagar o bem, como mostra o Bhagavad Gita (III: 4-8): “Nenhum homem pode escapar de agir, evitando a ação; não, e ninguém chegará à perfeição pela mera renúncia. Não, e nenhuma fração de tempo, em qualquer tempo, permanece inativa; a lei de sua natureza a compele, mesmo sem querer, a agir (pois pensamento é ato em imaginação). (...) Quem, de corpo vigoroso servindo à mente, aplica seus poderes mortais ao trabalho digno sem buscar o ganho, Ajruna, esse é honrado. Cumpre a tarefa a ti reservada!” 

O Evangelho revelado aos pequeninos (Mateus, Lucas) 

Naquela mesma hora se alegrou Jesus no Espírito Santo, e disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste às criancinhas (pequeninos); assim é, ó Pai, porque assim te aprouve. 

Tudo por meu Pai foi entregue; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. 

E, voltando-se para os discípulos, disse-lhes em particular: Bem-aventurados os olhos que vêem o que vós vedes. Pois vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que ouvis, e não o ouviram. 

Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. 

Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. 

Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve. 

Os humildes são os indivíduos mais apropriados para crer na lei divina de amor e pregar os ensinamentos de Cristo. As pessoas com mais conhecimento tendem a achar que sabem de tudo ou considerar a si mesmas como superiores às outras, assim como os indivíduos com mais bens materiais tendem a julgar de modo arrogante e preconceituoso os mais pobres taxando-os como vagabundos e/ou repulsivos. 

Cerca de 4 séculos antes do nascimento de Jesus na Terra, Sócrates ouviu do oráculo de Delfos que era o mais sábio entre os homens e que por isso, achando que nada sabia, foi questionar outros supostos sábios sobre suas respectivas “sabedorias”. Assim Sócrates descobriu que vários homens tidos como sábios, apenas se achavam sábios, enquanto ele mesmo, ao menos, reconhecia que nada (ou pouco) sabia. Sócrates passou a questionar diversos sábios, políticos, poetas, artesãos, entre outros, e descobriu que os mais bem-vistos eram os mais carentes de uma conduta reflexiva, enquanto os mais banais, lhe pareceram os mais razoáveis. Por causa desta perambulação, Sócrates passou a ser odiado por muitos. Sócrates então, diz crer que O Deus é sábio, mas a sabedoria humana nada vale. Por isso, em conformidade com Ele, seguiu investigando e interrogando para identificar aqueles que pensam que sabem, e então refutá-los. 

Já 18 séculos depois da morte de Jesus de Nazaré, Alan Kardec obteve a seguinte resposta sobre os inteligentes que pensam que sabem demais: “É que o homem está longe de conhecer todas as leis da natureza. Se as conhecesse todas, seria Espírito superior. Cada dia que se passa desmente os que, supondo tudo saberem, pretendem impor limites à natureza, sem que por isso, entretanto, se tornem menos orgulhosos. Desvendando-lhe, incessantemente, novos mistérios, Deus adverte o homem de que deve desconfiar de suas próprias luzes”... 

Além disto, muitos dos estudiosos (sábios e inteligentes) se apegam às teorias e desprezam a prática, deixando de lado a ação do acolhimento, da devoção e da solidariedade esperançosa. Sem esta prática, ou seja, sem a vivência do bem, não há conhecimento verdadeiro, nem amor ao próximo, nem compaixão verdadeira. 

Uma das características das crianças, mais útil à humanidade e mais bela, é a humildade (ainda que tal característica possa estar relacionada com inocência). O que Jesus também chamava de “pequenino”, ou ser como a criancinha, não é o tolo, o medroso, o ignorante nem o irresponsável - é o indivíduo humilde, receptivo e sem grandes pretensões. 

Jesus diz ainda que sua lei é suave e seu dever leve. Quem faz a lei divina difícil de ser cumprida, são os seres humanos corrompidos por orgulho, ganância e outros pecados. Sua lei é de amor e Deus não a fez difícil, pois ele nos dá esperança.

 

sábado, 12 de outubro de 2024

Leitura ecumênica de "Diversos Conselhos / Sermão da Montanha"

Diversos Conselhos / Sermão da Montanha (Tomé, Mateus, Lucas

Descendo com eles, Jesus parou num lugar plano, e também um grande número de seus discípulos, e grande multidão de povo de toda a Judéia, e de Jerusalém, e da costa marítima de Tiro e de Sidom; os quais tinham vindo para o ouvir, e serem curados das suas enfermidades, Como também os atormentados dos espíritos imundos; e eram curados. 

E toda a multidão procurava tocar-lhe, porque saía dele virtude, e curava a todos. 

Levantando ele os olhos para os seus discípulos, dizia: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus. 

Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra! Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados; Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os corações puros porque verão a Deus. 

Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir (serão consolados). 

Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem e quando vos separarem (perseguirem), e vos injuriarem (caluniarem), e rejeitarem o vosso nome como mau, por causa de mim (do Filho do homem). Folgai (alegrai-vos) nesse dia, exultai; porque eis que é grande o vosso galardão no céu, pois assim faziam os seus pais aos profetas. 

Mas ai de vós, ricos! porque já tendes a vossa consolação. 

Ai de vós, os que estais fartos, porque tereis fome. Ai de vós, os que agora rides, porque vos lamentareis e chorareis. 

Ai de vós quando todos os homens de vós disserem bem, porque assim faziam seus pais aos falsos profetas. 

Mas a vós, que isto ouvis, digo: Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam; Bendizei os que vos maldizem, e orai pelos que vos caluniam. 

Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra; e ao que te houver tirado a capa, nem a túnica recuses; 

E dá a qualquer que te pedir; e ao que tomar o que é teu, não lho tornes a pedir. 

Como vós quereis que os homens vos façam, da mesma maneira lhes fazei vós, também. 

Se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? Também os pecadores amam aos que os amam.  Se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que recompensa tereis? Também os pecadores fazem o mesmo. E se emprestardes àqueles de quem esperais tornar a receber, que recompensa tereis? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para tornarem a receber outro tanto. 

Amai, pois, a vossos inimigos, e fazei bem, e emprestai, sem nada esperardes, e será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo; porque ele é benigno até para com os ingratos e maus. Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. 

Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; soltai, e soltar-vos-ão. Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo. 

E dizia-lhes uma parábola: Pode porventura o cego guiar o cego? Não cairão ambos na cova? 

O discípulo não é superior a seu mestre, mas todo o que for perfeito será como o seu mestre. 

E por que atentas tu no argueiro que está no olho de teu irmão, e não reparas na trave (palha, feixe) que está no teu próprio olho? Ou como podes dizer a teu irmão: Irmão, deixa-me tirar o argueiro que está no teu olho, não atentando tu mesmo na trave que está no teu olho? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão. Quando você lança o feixe para fora do seu próprio olho, então você verá claramente para lançar o argueiro (cisco) no olho do seu irmão. 

O centro dos ensinamentos de Jesus possui a humildade como base, a devoção ao bem como prática e o não-julgamento / perdão como esperança de que todos um dia se reunirão no reino dos céus, com Deus. Crer no pós vida e no reino dos céus, não descarta a busca por equidade e justiça em vida: Na verdade, ao se propagar a humildade, o amor e a esperança, o progresso se desenvolve na Terra. 

Allan Kardec recebeu as seguintes instruções sobre este assunto: “A rigidez mata os bons sentimentos; o Cristo jamais se escusava; não repelia aquele que o buscava, fosse quem fosse: socorria assim a mulher adúltera, como o criminoso; Nunca temeu que a sua reputação sofresse por isso. Quando o tomareis por modelo de todas as vossas ações? Se na Terra a caridade reinasse, o mau não imperaria nela; fugiria envergonhado; ocultar-se-ia, visto que em toda parte se acharia deslocado. O mal então desapareceria…” 

Começai vós por dar o exemplo; sede caridosos para com todos indistintamente; esforçai-vos por não atentar nos que vos olham com desdém…” “O egoísmo é a negação da caridade. Ora, sem a caridade não haverá descanso para a sociedade humana. Digo mais: não haverá segurança. Com o egoísmo e o orgulho, que andam de mãos dadas, a vida será sempre uma carreira em que vencerá o mais esperto, uma luta de interesses, em que se calcarão aos pés as mais santas afeições, em que nem sequer os sagrados laços da família merecerão respeito”. Importante também lembrar que em outros textos da obra de Kardec, ele diz que a caridade não é meramente material: é também escutar para compreender, respeitar e auxiliar os mais necessitados, ou seja, é empatia e solidariedade; é o que Jesus praticava.

Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem. 

Porque não há boa árvore que dê mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto. Cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto; pois não se colhem figos dos espinheiros, nem se apanham uvas dos abrolhos. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca. 

Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas. 

Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem. 

Deus é bom e humilde, então sejamos bons e humildes. Não se julga o próximo, se não for para o bem dele e não antes de enxergar e corrigir os próprios defeitos e erros. Julgar as outras pessoas é algo muito perigoso: além da possibilidade de se equivocar classificando culpado um indivíduo inocente, o ato de julgar sem buscar entendimento ainda fomenta e reforça rixas e preconceitos altamente nocivos para o convívio em sociedade. 

A passagem dos cães e dos porcos é considerada pouco clara, mas é possível entender algumas mensagens a partir dela: Os animais são seres vivos presos às necessidades básicas como a alimentação e a reprodução. Então seria necessário aguardar pacientemente as pessoas que priorizam tais atos, a superarem tais imperfeições rústicas e/ou vícios, antes de ensiná-las sobre a lei divina de amor. Mas outro significado possível é o seguinte: Os cães e os porcos na época e lugar em que Jesus andava, eram animais predominantemente desprezados. Os judeus não deviam confiar em tais animais certamente considerados impuros, então Jesus diz que não é preciso forçar seus ensinamentos para pessoas interesseiras ou impuras, que não querem aprender sobre o bem e a lei divina do amor, pois estas pessoas poderiam atacar os cristãos, ou fingir-se de amigos, para depois traí-los. Isto também tem relação com o conselho que Jesus dá para que seus seguidores se acautelem dos falsos profetas. Muitos líderes se dizem benevolentes, sejam religiosos, sacerdotes, patrões ou políticos, mas na verdade só pensam em se beneficiar às custas dos outros. Daí é preciso ver o que as pessoas fazem: Se suas obras são benevolentes, então seu coração é bondoso, mas se as obras (atos etc) são egoístas ou cruéis, então seu coração é mau. 

Fazer o que cada pessoa faria por si mesmo, mas para o outro, é fazer o bem - o que eventualmente pode servir de exemplo para aqueles que querem o bem só para si mesmos. Este ato de fazer o bem, que consiste em ajudar os outros, principalmente os mais necessitados, é um caminho difícil (a porta estreita), pois pode ser cansativo e/ou perigoso e cheio de ameaças. A porta e o caminho largos são fáceis de serem atravessados, pois é a vida mesquinha, onde a pessoa pensa só em si mesma, geralmente prejudicando os outros sem se importar com vida alguma. 

E por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo? Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade. 

Aqueles que oram ou que fazem discursos persuasivos, alegando serem sacerdotes (pastor, padre, bispo etc) de Deus e nada fazem de solidário, não serão reconhecidos por Deus, nem entrarão no reino dos céus/ numa das moradas de Cristo. 

Aqueles que causam e perpetuam a iniquidade (desigualdade de oportunidades, de recursos), são responsáveis pela miséria das pessoas, pois querem tudo para si mesmos ou para um pequeno grupo de pessoas favoritas (seja por afinidade, interesse etc). Estes serão rejeitados por Cristo. 

Fazer a vontade de Deus é uma prática central do cristianismo, pois é ser solidário, justo, piedoso e humilde. Não é priorizar as próprias vontades e desejos deixando a lei de amor em segundo plano - isto é hipocrisia e falsidade. Obedecer a Deus obviamente não é ser egoísta, mas também não é ser meramente autodestrutivo. Trata-se de fazer o bem e se esforçar em priorizar isto. 

Conclusão do Discurso (Mateus, Lucas) 

Qualquer que vem a mim e ouve as minhas palavras, e as observa, eu vos mostrarei a quem é semelhante: 

É semelhante ao homem que edificou uma casa, e cavou, e abriu bem fundo, e pôs os alicerces sobre a rocha; e, vindo a enchente, bateu com ímpeto a corrente naquela casa, e não a pôde abalar, porque estava fundada sobre a rocha. 

Mas aquele que ouve minhas palavras e não pratica é semelhante ao homem que edificou uma casa sobre terra, sem alicerces, na qual bateu com ímpeto a corrente, e logo caiu; e foi grande a ruína daquela casa. 

Não adianta apenas ouvir, ou mesmo alegar que concorda com os ensinamentos de Cristo, e nada fazer. A palavra sem a paciência em lidar com os outros, sem caridade com os mais necessitados, sem a solidariedade entre as pessoas, se esvazia, ou seja, perde seu significado e seu sentido. Sendo assim, só há firmeza no bem, se o praticamos.

 

sábado, 5 de outubro de 2024

Leitura ecumênica de "O tesouro. A pérola. A rede"

O tesouro. A pérola. A rede 

Legendas: (Tomé: ciano, Mateus: azul, Filipe: magenta

"Jesus disse: Também o reino dos céus (do Pai) é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pela alegria dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo. 

Outrossim o reino dos céus é semelhante ao homem negociante (mercador) que tinha uma remessa de mercadorias e buscava boas pérolas

Aquele mercador era astuto; Encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha (sua remessa de mercadoria) e comprou a pérola só para si. 

Vocês também, busquem seu infalível e duradouro tesouro onde nenhuma traça se aproxima para devorar e nenhum verme destrói. 

Quando a pérola é lançada no lodo, torna-se muito desprezada, nem se for ungida com óleo de bálsamo se tornará mais preciosa. Mas sempre tem valor aos olhos de seu dono. Compare os Filhos de Deus: onde quer que estejam, ainda têm valor aos olhos de seu Pai."

Jesus indica que Deus e o Reino dos Céus amam a pessoa que segue a lei divina de amor e espera que um dia todos seus filhos a sigam. Nesta esperança, Deus perdoa até mesmo aqueles que se distanciam de sua lei: basta estes que se distanciaram, voltarem a praticar a lei divina de amor com sinceridade/ de coração. 

Jesus também diz que o Reino é o que há de mais valioso para o ser humano. Porém este valor requer dedicação: ao descobrir tal tesouro, a pessoa que reconhece seu valor, passa a priorizá-lo acima de todos outros assuntos. Afinal de contas, trata-se do bem maior, ou, O Bem. Este bem é o que se deve amar verdadeiramente, ou seja, é o que há de mais amável, isto também está de acordo com o diálogo de Sócrates, na obra O Banquete, de Platão. 

Jesus que veio ensinar sobre a lei divina de amor, veio obviamente falar do reino dos céus também. É na dedicação aos ensinamentos de Jesus, que nos destinamos a encontrar o Reino dos Céus. É manter-se nos atos de amar o próximo, de perdoá-lo, de solidarizar-se, de ser humilde, enfim, tudo que Jesus ensinou. Este ensinamento é o que resolveria todos os problemas da humanidade se fosse colocado em prática por cada vez mais pessoas na Terra… Não se trata de imaginar um reino no além nem de realizar uma caridade fria ou a contragosto: É realizar a vontade de Deus, de Cristo, ou seja, do reino dos céus, amando ao Criador e a todas as pessoas na própria Terra. Embora pareça uma utopia, é uma atitude possível: basta colocá-la em prática encarando as dificuldades. 

A passagem de Filipe, ao comparar os filhos de Deus (todos humanos etc) com pérolas enlameadas, é semelhante à parábola do filho pródigo contada por Jesus, de acordo com Lucas: Deus é como o pai que SEMPRE perdoa seus filhos. Mas se o pecador "queima no gehena/ inferno (etc)" pela eternidade, estariam corretos estes textos de Filipe e Lucas? Sim! O que está errado é propagar a ideia que Deus pune eternamente alguém! Jesus insinua a reencarnação no Diálogo com Nicodemos e ao dizer que João Batista é Elias, além de indicar que o espírito sai do corpo na passagem sobre o "milagre de Jonas". As igrejas negaram tal explicação reencarnacionista nos concílios da Idade das Trevas! Ali, entre os anos de 325 e 787, foram caladas várias vozes dissidentes ante os imperadores e sacerdotes sedentos por poder sob a velha e capenga acusação de "heresia". Orígenes, Arius, Nestório entre outros, são exemplos dos perseguidos pelos sacerdotes mais alinhados aos poderosos naquela época. Isso porque as igrejas estavam se tornando instituições interessadas em manter o poder, com uma narrativa que dá  centralidade à autoridade e obediência, ou seja, ignorando os ensinamentos de Jesus! Esta autoridade "religiosa" obviamente era nada espiritual: gananciosa, negociava com o poder mundano de imperadores bizantinos e reis europeus. Para manter a obediência dos "fiéis" então, autoridades religiosas utilizaram-se (e algumas ainda utilizam) a intimidação, mantendo-os na ignorância, ao invés de serem exemplos vivendo em humildade, solidariedade e verdade como Jesus viveu.

Se as igrejas estiverem interessadas em propagar esperança, nenhuma delas, seja católica ou evangélica, perderá fiéis ao assumir a reencarnação como uma possibilidade relacionada à piedade de Deus!! Porque insistir em negar isso? Orgulho de determinados sacerdotes/ pastores? Ou interesse em manter fiéis/ religiosos sob o controle baseado em medo?

"Igualmente o reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar, e que apanha toda a qualidade de peixes. 

E, estando cheia, a puxam para a praia; e, assentando-se, apanham para os cestos os bons (o peixe maior); os ruins, porém, lançam fora. 

Assim será na consumação dos séculos: virão os anjos, e separarão os maus de entre os justos, E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes. 

E disse-lhes Jesus: Entendestes todas estas coisas? Disseram-lhe eles: Sim, Senhor. 

E ele disse-lhes: Por isso, todo o escriba instruído acerca do reino dos céus é semelhante a um pai de família, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas."

Continuando a importância de se praticar os ensinamentos de Cristo, Jesus fala sobre o resultado de se viver a bondade e de se viver a indiferença ou a maldade. Os peixes bons são os que realizam e priorizaram os ensinamentos de Cristo, os demais peixes não realizaram nem priorizaram. Como consequência de sua mentalidade e atitudes em vida, cada um terá o destino que merece: o bondoso colherá a bondade, sendo acolhido pelos anjos/ pelo “reino dos céus” e o maldoso colherá a maldade que plantou. Ao falar de consumação dos séculos e de anjos, Jesus certamente se refere ao pós-vida, ou seja, uma existência após a morte. 

Aqueles que veem o assunto da vida após a morte como uma possível causa do charlatanismo nas igrejas, contradizem estes ensinamentos de Jesus. É óbvio que o charlatanismo pode ser praticado por qualquer um, seja por uma pessoa que se autodeclare ateia, materialista, religiosa, espiritualista ou teísta. Alguns teólogos da libertação parecem seguir essa ideologia materialista talvez por buscarem uma aproximação com alguma linha de pensamento “socialista”, o que também se mostra desnecessário, já que os primeiros socialistas (antes de Marx e Engels), eram espiritualistas (Fourier, Owen entre outros). O fato é que a aproximação das típicas pautas dos movimentos sociais é uma realidade do cristianismo, porém são desnecessários os argumentos materialistas: Jesus Cristo se importava com as massas (a coletividade/ a sociedade), com os mais vulneráveis, e portanto, com a equidade. Além disto, diversas outras passagens e temas da bíblia cristã que não abordam o “pós vida”, podem ser usados para manipular fiéis, o que torna esta negação da existência após a vida terrestre, mais uma futilidade como as discussões em torno da negação da virgindade de Maria (típica do protestantismo), como o questionamento se Jesus era santo antes de ser batizado (típica do arianismo), a negação da ressurreição (típica dos espíritas) e tantas outras banalidades que se afastam da prática da lei de amor. Se estas coisas foram reais ou não, pouco importa. A diversidade é natural da vida terrestre e das civilizações humanas, mas estas divergências de opinião, JAMAIS deveriam sobrepor a importância dos ensinamentos de Cristo. 

Afinal um “conhecimento” que tem como OBJETIVO a rixa, a intolerância, o desespero, a dor, o ódio, o medo e/ ou a miséria não é verdadeiro, pois é ignorância pelo simples fato de ignorar o sofrimento alheio. Este é o caso tanto das falsas revelações religiosas ou místicas que inventam um Deus exterior misterioso e punidor, como também é o caso do discurso materialista niilista que incentiva a vivermos buscando grandes montantes de fortunas materiais e/ ou de prazeres mesmo que isso envolva enganar e prejudicar os outros, Também é o caso do discurso de incentivo à de se “defender” do estranho/ do diferente, que manifesta-se pelo incentivo ao uso (e produção) das armas, por exemplo. Na verdade, este é o discurso do medo, da desconfiança paranoica, da violência e do armamentismo. Ao vermos o número de guerras e conflitos com fins mesquinhos na história da humanidade, pode-se entender que a criação (e a utilização) de armas é uma ignorância que se transveste de conhecimento/ desenvolvimento de novas tecnologias. O verdadeiro conhecimento é o que leva ao bem e existem inúmeros deles na história das civilizações, sejam aplicados às relações humanas ou até mesmo às grandes obras, como algumas da engenharia. Platão indica esta relação de conhecimento verdadeiro com o bem em suas obras e Jesus de modo muito semelhante, vincula a verdade à lei de amor, ou seja, ao ato de fazer o bem, vivendo isto. Portanto este bem é lógica e é compaixão e solidariedade. Resumidamente se todos os seres humanos abandonarem o egoísmo e se ajudarem, todos os problemas da humanidade irão cessar. 

O trecho em que Jesus diz que o escriba versado tira coisas velhas e novas de seu tesouro, se refere ao religioso do judaísmo que realmente entendeu o que os profetas vieram ensinar na Terra antes de Cristo. É a pessoa que encontra coisas boas (tesouros) tanto entre ensinamentos antigos como em ensinamentos novos.

 

Leitura sobre Últimos encontros com Jesus

Ressurreição e aparição a Maria Madalena ( Mateus , Marcos , Lucas , João ) Eis que no primeiro dia da semana, houve um violento tremor de t...