Diversos Conselhos / Sermão da Montanha (Tomé, Mateus, Lucas)
Descendo com eles, Jesus parou num lugar plano, e também um grande número de seus discípulos, e grande multidão de povo de toda a Judéia, e de Jerusalém, e da costa marítima de Tiro e de Sidom; os quais tinham vindo para o ouvir, e serem curados das suas enfermidades, Como também os atormentados dos espíritos imundos; e eram curados.
E toda a multidão procurava tocar-lhe, porque saía dele virtude, e curava a todos.
Levantando ele os olhos para os seus discípulos, dizia: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus.
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra! Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados; Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os corações puros porque verão a Deus.
Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir (serão consolados).
Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem e quando vos separarem (perseguirem), e vos injuriarem (caluniarem), e rejeitarem o vosso nome como mau, por causa de mim (do Filho do homem). Folgai (alegrai-vos) nesse dia, exultai; porque eis que é grande o vosso galardão no céu, pois assim faziam os seus pais aos profetas.
Mas ai de vós, ricos! porque já tendes a vossa consolação.
Ai de vós, os que estais fartos, porque tereis fome. Ai de vós, os que agora rides, porque vos lamentareis e chorareis.
Ai de vós quando todos os homens de vós disserem bem, porque assim faziam seus pais aos falsos profetas.
Mas a vós, que isto ouvis, digo: Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam; Bendizei os que vos maldizem, e orai pelos que vos caluniam.
Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra; e ao que te houver tirado a capa, nem a túnica recuses;
E dá a qualquer que te pedir; e ao que tomar o que é teu, não lho tornes a pedir.
Como vós quereis que os homens vos façam, da mesma maneira lhes fazei vós, também.
Se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? Também os pecadores amam aos que os amam. Se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que recompensa tereis? Também os pecadores fazem o mesmo. E se emprestardes àqueles de quem esperais tornar a receber, que recompensa tereis? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para tornarem a receber outro tanto.
Amai, pois, a vossos inimigos, e fazei bem, e emprestai, sem nada esperardes, e será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo; porque ele é benigno até para com os ingratos e maus. Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.
Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; soltai, e soltar-vos-ão. Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo.
E dizia-lhes uma parábola: Pode porventura o cego guiar o cego? Não cairão ambos na cova?
O discípulo não é superior a seu mestre, mas todo o que for perfeito será como o seu mestre.
E por que atentas tu no argueiro que está no olho de teu irmão, e não reparas na trave (palha, feixe) que está no teu próprio olho? Ou como podes dizer a teu irmão: Irmão, deixa-me tirar o argueiro que está no teu olho, não atentando tu mesmo na trave que está no teu olho? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão. Quando você lança o feixe para fora do seu próprio olho, então você verá claramente para lançar o argueiro (cisco) no olho do seu irmão.
O centro dos ensinamentos de Jesus possui a humildade como base, a devoção ao bem como prática e o não-julgamento / perdão como esperança de que todos um dia se reunirão no reino dos céus, com Deus. Crer no pós vida e no reino dos céus, não descarta a busca por equidade e justiça em vida: Na verdade, ao se propagar a humildade, o amor e a esperança, o progresso se desenvolve na Terra.
Allan Kardec recebeu as seguintes instruções sobre este assunto: “A rigidez mata os bons sentimentos; o Cristo jamais se escusava; não repelia aquele que o buscava, fosse quem fosse: socorria assim a mulher adúltera, como o criminoso; Nunca temeu que a sua reputação sofresse por isso. Quando o tomareis por modelo de todas as vossas ações? Se na Terra a caridade reinasse, o mau não imperaria nela; fugiria envergonhado; ocultar-se-ia, visto que em toda parte se acharia deslocado. O mal então desapareceria…”
“Começai vós por dar o exemplo; sede caridosos para com todos indistintamente; esforçai-vos por não atentar nos que vos olham com desdém…” “O egoísmo é a negação da caridade. Ora, sem a caridade não haverá descanso para a sociedade humana. Digo mais: não haverá segurança. Com o egoísmo e o orgulho, que andam de mãos dadas, a vida será sempre uma carreira em que vencerá o mais esperto, uma luta de interesses, em que se calcarão aos pés as mais santas afeições, em que nem sequer os sagrados laços da família merecerão respeito”. Importante também lembrar que em outros textos da obra de Kardec, ele diz que a caridade não é meramente material: é também escutar para compreender, respeitar e auxiliar os mais necessitados, ou seja, é empatia e solidariedade; é o que Jesus praticava.
Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem.
Porque não há boa árvore que dê mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto. Cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto; pois não se colhem figos dos espinheiros, nem se apanham uvas dos abrolhos. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca.
Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas.
Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.
Deus é bom e humilde, então sejamos bons e humildes. Não se julga o próximo, se não for para o bem dele e não antes de enxergar e corrigir os próprios defeitos e erros. Julgar as outras pessoas é algo muito perigoso: além da possibilidade de se equivocar classificando culpado um indivíduo inocente, o ato de julgar sem buscar entendimento ainda fomenta e reforça rixas e preconceitos altamente nocivos para o convívio em sociedade.
A passagem dos cães e dos porcos é considerada pouco clara, mas é possível entender algumas mensagens a partir dela: Os animais são seres vivos presos às necessidades básicas como a alimentação e a reprodução. Então seria necessário aguardar pacientemente as pessoas que priorizam tais atos, a superarem tais imperfeições rústicas e/ou vícios, antes de ensiná-las sobre a lei divina de amor. Mas outro significado possível é o seguinte: Os cães e os porcos na época e lugar em que Jesus andava, eram animais predominantemente desprezados. Os judeus não deviam confiar em tais animais certamente considerados impuros, então Jesus diz que não é preciso forçar seus ensinamentos para pessoas interesseiras ou impuras, que não querem aprender sobre o bem e a lei divina do amor, pois estas pessoas poderiam atacar os cristãos, ou fingir-se de amigos, para depois traí-los. Isto também tem relação com o conselho que Jesus dá para que seus seguidores se acautelem dos falsos profetas. Muitos líderes se dizem benevolentes, sejam religiosos, sacerdotes, patrões ou políticos, mas na verdade só pensam em se beneficiar às custas dos outros. Daí é preciso ver o que as pessoas fazem: Se suas obras são benevolentes, então seu coração é bondoso, mas se as obras (atos etc) são egoístas ou cruéis, então seu coração é mau.
Fazer o que cada pessoa faria por si mesmo, mas para o outro, é fazer o bem - o que eventualmente pode servir de exemplo para aqueles que querem o bem só para si mesmos. Este ato de fazer o bem, que consiste em ajudar os outros, principalmente os mais necessitados, é um caminho difícil (a porta estreita), pois pode ser cansativo e/ou perigoso e cheio de ameaças. A porta e o caminho largos são fáceis de serem atravessados, pois é a vida mesquinha, onde a pessoa pensa só em si mesma, geralmente prejudicando os outros sem se importar com vida alguma.
E por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo? Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.
Aqueles que oram ou que fazem discursos persuasivos, alegando serem sacerdotes (pastor, padre, bispo etc) de Deus e nada fazem de solidário, não serão reconhecidos por Deus, nem entrarão no reino dos céus/ numa das moradas de Cristo.
Aqueles que causam e perpetuam a iniquidade (desigualdade de oportunidades, de recursos), são responsáveis pela miséria das pessoas, pois querem tudo para si mesmos ou para um pequeno grupo de pessoas favoritas (seja por afinidade, interesse etc). Estes serão rejeitados por Cristo.
Fazer a vontade de Deus é uma prática central do cristianismo, pois é ser solidário, justo, piedoso e humilde. Não é priorizar as próprias vontades e desejos deixando a lei de amor em segundo plano - isto é hipocrisia e falsidade. Obedecer a Deus obviamente não é ser egoísta, mas também não é ser meramente autodestrutivo. Trata-se de fazer o bem e se esforçar em priorizar isto.
Conclusão do Discurso (Mateus, Lucas)
Qualquer que vem a mim e ouve as minhas palavras, e as observa, eu vos mostrarei a quem é semelhante:
É semelhante ao homem que edificou uma casa, e cavou, e abriu bem fundo, e pôs os alicerces sobre a rocha; e, vindo a enchente, bateu com ímpeto a corrente naquela casa, e não a pôde abalar, porque estava fundada sobre a rocha.
Mas aquele que ouve minhas palavras e não pratica é semelhante ao homem que edificou uma casa sobre terra, sem alicerces, na qual bateu com ímpeto a corrente, e logo caiu; e foi grande a ruína daquela casa.
Não adianta apenas ouvir, ou mesmo alegar que concorda com os ensinamentos de Cristo, e nada fazer. A palavra sem a paciência em lidar com os outros, sem caridade com os mais necessitados, sem a solidariedade entre as pessoas, se esvazia, ou seja, perde seu significado e seu sentido. Sendo assim, só há firmeza no bem, se o praticamos.
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