"Jesus ensinava no sábado, numa das sinagogas. E eis que estava ali uma mulher que tinha um espírito de enfermidade, havia já dezoito anos; e andava curvada, e não podia de modo algum endireitar-se.
Vendo-a Jesus, chamou-a a si, e disse-lhe: Mulher, estás livre da tua enfermidade.
E pôs as mãos sobre ela, e logo se endireitou, e glorificava a Deus.
Tomando a palavra o príncipe da sinagoga, indignado porque Jesus curava no sábado, disse à multidão: Seis dias há em que é mister trabalhar; nestes, pois, vinde para serdes curados, e não no dia de sábado.
Respondeu-lhe, porém, o Senhor, e disse: Hipócrita, no sábado não desprende da manjedoura cada um de vós o seu boi, ou jumento, e não o leva a beber? E não convinha soltar desta prisão, no dia de sábado, esta filha de Abraão, a qual há dezoito anos Satanás tinha presa?
E, dizendo ele isto, todos os seus adversários ficaram envergonhados, e todo o povo se alegrava por todas as coisas gloriosas que eram feitas por ele."
A solidariedade não é um mero trabalho ou um favor - é uma necessidade, portanto é uma verdade para se viver; Assim sua prática é mais importante do que qualquer regra ou lei humana.
Interessante notar como a cena se passa em uma sinagoga (templo) e como a mulher estava sofrendo há 18 anos. Certamente Jesus realizou tal cura não só para ajudar a mulher, mas para mostrar como os religiosos estavam sendo insensíveis e contraditórios ignorando-a por tanto tempo.
A jarra de comida (Tomé)
Jesus disse: "O Reino do [Pai] é como uma certa mulher que estava carregando uma jarra cheia de comida. Enquanto ela estava andando [na] estrada, ainda a alguma distância de casa, a alça da jarra quebrou e a comida se esvaziou atrás dela na estrada. Ela não percebeu; ela não notou nenhum acidente.
Talvez esta passagem signifique que o reino do Pai (certamente sinônimo de "reino dos céus"), como destino dos indivíduos/ almas benevolentes e humildes, continua a existir independente das ações dos seres humanos, sejam os que se dizem religiosos ou outros.
Vale lembrar que Jesus diz a seus apóstolos para que não fiquem se preocupando com os assuntos do cotidiano terreno, como comida, vestimentas e outros bens materiais - A prioridade ensinada por Jesus é propagar o bem e todos seus respectivos aspectos (amor, piedade, humildade, esperança etc), por isso questões terrenas cotidianas não devem sobrepor a importância da caridade e da solidariedade - O ser humano precisa de alimentos e de outros bens básicos, mas não é a priorização de tais coisas que levam ao bem, ou ao "Reino dos Céus". Além disto, em outras passagens, Jesus indica que o "Reino dos Céus/ do Pai" não é simplesmente um destino "pós vida": ele deve ser colocado em prática durante a vida terrena, porque não praticá-lo é uma contradição para aqueles que são cristãos ou que buscam propagar o bem.
O inimigo poderoso (Tomé)
Jesus disse: "O Reino do Pai é como um certo homem que queria matar um homem poderoso. Em sua própria casa, ele puxou sua espada e enfiou-a na parede para descobrir se sua mão poderia continuar. Então ele matou o homem poderoso."
Esta parábola parece ter uma relação com o ensinamento da trave (ramo) no próprio olho, pois o homem crava a espada na parede da própria casa ao invés de golpear o inimigo (poderoso), certamente fez isso para destruir o mal que reside em si mesmo ao invés de julgar o próximo.
Assim é o Reino dos Céus: Não julga, não pune nem destrói, pois a bondade do Criador é expansiva e desvela todas as mentes/ almas fazendo que na hora da condenação, o pecador julgue e condene a si mesmo. Esta pureza do Criador transcende o espaço e o tempo, portanto não é possível evitá-la.
Tal passagem do evangelho de Tomé é mental/ espiritual e parece ter semelhança com alguns ensinamentos espíritas que indicam que a pessoa deve corrigir suas próprias intenções e ações para evitar obsessões e fascinações.
Quantas Vezes Perdoar/ Parábola do Servo Cruel (Mateus/ Lucas)
Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: "Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? "
Jesus respondeu: "Eu lhe digo: não até sete, mas até setenta vezes sete.
"Por isso, o Reino dos céus é como um rei que desejava acertar contas com seus servos.
Quando começou o acerto, foi trazido à sua presença um que lhe devia (10.000 talentos) uma enorme quantidade de prata.
Como não tinha condições de pagar, o senhor ordenou que ele, sua mulher, seus filhos e tudo o que ele possuía fossem vendidos para pagar a dívida.
"O servo prostrou-se diante dele e lhe implorou: ‘Tem paciência comigo, e eu te pagarei tudo’.
O senhor daquele servo teve compaixão dele, cancelou a dívida e o deixou ir.
"Mas quando aquele servo saiu, encontrou um de seus conservos, que lhe devia cem denários. Agarrou-o e começou a sufocá-lo, dizendo: ‘Pague-me o que me deve! ’
"Então o seu conservo caiu de joelhos e implorou-lhe: ‘Tenha paciência comigo, e eu lhe pagarei’.
"Mas ele não quis. Antes, saiu e mandou lançá-lo na prisão, até que pagasse a dívida.
Quando os outros servos, companheiros dele, viram o que havia acontecido, ficaram muito tristes e foram contar ao seu senhor tudo o que havia acontecido.
"Então o senhor chamou o servo e disse: ‘Servo mau, cancelei toda a sua dívida porque você me implorou.
Você não devia ter tido misericórdia do seu conservo como eu tive de você? ’
Irado, seu senhor entregou-o aos torturadores, até que pagasse tudo o que devia.
"Assim também lhes fará meu Pai celestial, se cada um de vocês não perdoar de coração a seu irmão".
Com razão, entende-se que o termo “perdoar 70 vezes 7” signifique perdoar sempre - afinal a misericórdia / o perdão são mencionados como uma das bases da solidariedade e do amor ao próximo em outros ensinamentos de Jesus.
Os 10.000 talentos que o “servo cruel” devia ao rei é uma quantidade equivalente a dezenas de toneladas de ouro ou prata, ou seja, uma fortuna imperial. Isto certamente quer dizer que se trata o quanto ele devia espiritualmente/ moralmente a Deus, afinal o servo cruel é um exemplo de pessoa que não vê a necessidade do próximo nem perdoa o próximo. O rei (personagem que representa Deus) perdoa o servo cruel, mas este último, por sua vez, não perdoou seu companheiro que lhe devia uma quantidade insignificantemente pequena. Além disto, o “servo cruel” se faz de vítima fingindo ser o único digno de perdão, ou seja, é nitidamente um grande egoísta.
A pessoa que não perdoa, naturalmente vai se tornando intolerante. A intolerância, por sua vez, é terrível, pois gera separatividade e rivalidades hostis, como o fanatismo, o ultra nacionalismo, o elitismo, o machismo, o racismo etc. O reino dos céus jamais admitiria uma alma assim tão egoísta e intolerante.
Para se propagar o bem, perdoar deve ser uma postura e uma prática constante. Não se trata de permitir o mal, mas de não fazer igual a ele, e denunciá-lo quando for útil para se propagar o bem. Afinal, "não se olha o cisco no olho alheio sem ver a trave no próprio olho".
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