Debates sobre o Matrimônio (Mateus, Marcos)
… (Jesus) foi para a região da Judéia, além do Jordão. As multidões voltaram a segui-lo pelo caminho e de novo ele pôs-se a ensiná-las, como era de costume. Os fariseus vieram perguntar-lhe para pô-lo a prova:
É permitido a um homem rejeitar sua mulher por um motivo qualquer?
Respondeu-lhe Jesus: Não lestes que o Criador, no começo, fez o homem e a mulher e disse: Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá a sua mulher e os dois formarão uma só carne? Assim já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu.
Disseram-lhe eles: Por que, então, Moisés ordenou dar um documento de divórcio à mulher, ao rejeitá-la?
Disse-lhes ele: Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim.
Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério.
Disseram-lhe seus discípulos: Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar.
Ele, porém, lhes disse: Nem todos podem receber esta palavra, mas só aqueles a quem foi concedido.
Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos, por causa do reino dos céus. Quem pode compreender isto, compreenda.
Fica claro que Jesus trata o homem igual a mulher nesta passagem. Quem faz a questão como se o direito de rejeitar fosse apenas do homem, são os fariseus. Não é difícil entender que tanto no tempo de Moisés (algum ponto entre o século 16 antes de Cristo e o século 13 antes de Cristo), como no tempo de Jesus (século 1) as sociedades humanas eram patriarcais, portanto predominantemente machistas: As mulheres quase não tinham direitos e os homens tinham muitos direitos.
Jesus ainda aponta a dureza dos corações como causa da permissão do divórcio, afinal quando os interesses mesquinhos como a ganância, a avareza e a luxúria dominam a mente humana, não há amizade verdadeira nem amor entre o casal. Pois nestes casos a pessoa ou o casal prioriza coisas como riquezas materiais, luxo, sexo, status, enfim, prefere valores meramente estéticos ou prazeres sensoriais, menosprezando, ignorando, ou até mesmo abominando, os bons sentimentos e emoções. Esta dureza dos corações é a falta de receptividade, de amizade, de devoção e de esperança, ou seja, é a falta de amor e a falta de buscar amar.
Por fim, a lei divina é imutável, pois prioriza o amor e o bem sempre, assim como as leis da natureza são sempre as mesmas independente da época e das civilizações humanas. Já a lei humana, muda de acordo com a sociedade e seus respectivos costumes e progresso. Assim, a lei humana apenas lida com os atos do homem e da mulher quando estes já não levam em consideração a lei divina de amar o próximo. Assim Jesus não proíbe o divórcio, pois sabe que a lei humana que permite o divórcio, serve quando não há amor nem amizade entre o casal.
Mistério da união profana e da união sagrada (Tomé, Filipe)
Jesus disse: “Miserável é o corpo que depende de um corpo, e miserável é a alma que depende desses dois”.
As formas de espírito maligno incluem as masculinas e as femininas. Os machos são aqueles que se unem com as almas que habitam uma forma feminina, mas as fêmeas são aqueles que se misturam com aqueles em forma masculina, embora alguém que foi desobediente. E ninguém poderá escapar deles, pois eles o detêm se ele não receber um poder masculino ou um poder feminino, o noivo e a noiva. Um os recebe da câmara nupcial espelhada. Quando as mulheres devassas vêem um homem sentado sozinho, elas saltam sobre ele e brincam com ele e o contaminam. Assim também os homens lascivos, quando vêem uma bela mulher sentada sozinha, a persuadem e a constrangem, querendo contaminá-la. Mas se virem o homem e sua mulher sentados um ao lado do outro, a mulher não pode entrar no homem, nem o homem entrar na mulher. Assim, se a imagem e o anjo estão unidos um ao outro, ninguém pode se aventurar a entrar no homem ou na mulher.
Muitos dos textos de Filipe e de Tomé foram feitos em linguagem não clara, parecendo abordar temas místicos e espirituais.
Aqui Tomé diz que um corpo que depende de outro é miserável e qualquer alma que dependa desses dois corpos também é miserável.
Filipe diz que espíritos malignos tem gênero, ou seja, um sexo. O espírito é alma, que em prática é mente, portanto, originalmente não possui um corpo físico dotado de órgão genital. Então ele deve indicar que estes são espíritos dependentes dos corpos/ apegados à carne, que buscam seres encarnados com alguma disposição a infidelidade ou ao sexismo.
Encontrando tais seres, os espíritos agem sobre eles, pois estão apegados/ viciados nas relações sexuais, ou seja aos dois corpos nestas condições. Mas os casais verdadeiramente unidos, ou seja, que se uniram sem priorizar interesses materialistas (sejam interesses financeiros, de bens ou interesses sexuais) e que honram um ao outro em amizade, buscando conhecer um ao outro, são invulneráveis a tais espíritos malignos (sejam "zombeteiros" ou "impuros" de acordo com o espiritismo). Estes casais verdadeiros estão mais “próximos ou unidos ao anjo”. Claro, este tema é polêmico por ainda ser tabu em grande parte da sociedade e por envolver intenções individuais que podem mudar conforme o passar dos anos para cada pessoa. É importante não ditar regras sobre a vida alheia quando se aborda tal assunto, pois cada pessoa adulta tem responsabilidade sobre suas escolhas e atos.
Enfim, somente no final do texto, Filipe menciona o bem. A partir daí é importante lembrar que textos com tais argumentos só são relevantes se o bem for considerado como prioridade: É muito mais importante estudar o bem e praticá-lo do que teorizar sobre o mal.
Desapego à matéria não é amor nem ódio (Filipe)
Aquele que sai do mundo, e assim não pode mais ser detido pelo fato de estar no mundo, evidentemente está acima do desejo do [...] e do medo.
Ele é mestre sobre [...].
Ele é superior à inveja. Se vier, eles o agarram e o estrangulam. E como este conseguirá escapar das grandes [...] potências? Como ele vai conseguir [...]?
Há quem diga: "Somos fiéis" para que [...] os espíritos imundos e os demônios. Pois se eles tivessem o Espírito Santo, nenhum espírito imundo se apegaria a eles.
Não tema a carne nem a ame. Se você a temer, ela ganhará domínio sobre você. Se você a ama, ela vai engolir e paralisar você.
E assim ela habita neste mundo ou na ressurreição ou no lugar do meio. Deus me livre que eu seja encontrado lá! Neste mundo, existe o bem e o mal. Suas coisas boas não são boas, e suas coisas más não são más. Mas há mal depois deste mundo que é verdadeiramente mal - o que é chamado de "o meio". É a morte. Enquanto estamos neste mundo, convém que adquiramos a ressurreição, para que, quando nos despomos da carne, sejamos achados em repouso e não andemos no meio. Pois muitos se desviam no caminho. Pois é bom sair do mundo antes que se peque.
Neste texto de Filipe, “a morte”, aparece como um lugar onde as almas apegadas à carne e aos bens materiais ficam vagando. Isto tem semelhança com alguns ensinamentos de Platão que indicava que a alma (psiquê) dos que amavam os prazeres sensoriais ficariam vagando na Terra, pois continuavam desejando tais coisas após deixar o corpo.
Já a ressurreição neste texto parece se referir à reencarnação em uma das moradas de Cristo, enfim, no Reino dos Céus.
Desapegar-se do corpo é uma maneira de libertar a alma de seu domínio: Assim a pessoa evita o vício e se mantém fora de disputas mesquinhas/ materialistas.
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