domingo, 25 de maio de 2025

Leitura sobre Últimas orações e prisão de Jesus

Jesus ora ao Pai (João)

Jesus falou assim e, levantando seus olhos ao céu, e disse: 

Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o teu Filho te glorifique a ti; Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste.

E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.

Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer.

E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse.


Jesus estava no final de sua missão na Terra e mostrando-se humano pede a Deus para que lhe glorifique novamente, e que voltasse para junto do Pai com sua glória anterior.

Jesus viveu e ensinou a lei do amor universal; um sentimento que não é mero efeito corporal pois Deus nos deu força de vontade, intenção e decisão, ou seja, controle sobre "a carne". É uma tolice inconsequente reduzir-se a impulsos meramente corporais.

Ao fazer as últimas orações, Jesus indica a vida eterna para além da vida corporal e pede para que conheçam a Deus, que é Espírito e Deus dos vivos - portanto a vida não se resume a carne/ à vida mundana, ela é espiritual e eterna. 


Roga pelos Discípulos (João)

Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra.

Agora já têm conhecido (eles conhecem) que tudo quanto me deste provém de ti;

Porque lhes dei as palavras que tu me deste; e eles as receberam, e têm verdadeiramente conhecido que saí de ti, e creram que me enviaste.

Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus.

E todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e neles sou glorificado.

E eu já não estou mais no mundo, mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós.

Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse.

Mas agora vou para ti, e digo isto no mundo, para que tenham a minha alegria completa em si mesmos.

Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo.

Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal.

Não são do mundo, como eu do mundo não sou.

Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade.

Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.

E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade.


Ao falar que os apóstolos e aqueles que seguem os ensinamentos de Cristo não são do mundo, Jesus está dizendo que eles têm a vida eterna e um  destino (após a vida terrena) que não é a Terra, ou seja, não é “o mundo”. Mais uma vez, ele menciona que “o mundo” odeia aqueles que crêem em Deus, isto porque aqueles que se comportam como viciados, seja no acúmulo de riquezas materiais ou nos prazeres da vida terrena, odeiam a idéia de uma existência espiritual e desprezam humildade e pureza de coração. Isto está de acordo com a espiritualidade hindu e particularmente com a Kria Yoga: para unir-se com Brahman (Deus), o todo, é necessário também desapegar-se das coisas terrenas/ corpóreas - assim a alma se liberta do ciclo de reencarnações para unir-se com Deus. Não se desapega das coisas mundanas com ódio ou medo, mas sim com a alegria que Jesus pede, pois a lei de Deus é de amor.

No fim desta passagem, Jesus diz que enviou seus apóstolos  pelo mundo, assim como Deus o enviou. E embora os apóstolos tenham sido escolhidos por Cristo, eles também serão santificados na verdade.


Implora pela União de Todos que Crêem (João)

E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela tua palavra hão de crer em mim;

Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.

E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um.

Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste (a mim), e que os tens amado a eles como me tens amado a mim.

Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo.

Pai justo, o mundo não te conheceu; mas eu te conheci, e estes conheceram que tu me enviaste a mim.

E eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja.


Esta é certamente a oração mais sublime de Jesus: Após a predição da negação de Pedro e antes dele se entregar aos traidores e aos fariseus, Jesus pede ao Pai que todos sejam um em si, assim como ele é em Deus. Esta união, independentemente se é o supremo amor fraterno na Terra ou “no além”, é definitivamente um estado sublime (ou utópico) de existência. Ainda assim, é nítido que Jesus diz que o mundo não conheceu a Deus, e, anteriormente disse que o mundo odeia a si e ao seu Pai. Obviamente isto tem relação com as passagens onde Jesus diz que não se serve a dois mestres ao mesmo tempo: Não é possível viver interessado e preocupado com bens materiais (como o dinheiro, por exemplo) e simultaneamente viver (crer e praticar) os ensinamentos de Jesus Cristo.

Jesus também ensinou aos seus seguidores não temerem a morte (do corpo) enquanto se pratica a solidariedade e enquanto se tem a verdadeira intenção de praticar a lei divina de amor. 

De acordo com Platão, seu mestre Sócrates seguiu este mesmo ensinamento: Vivia na penúria e não temia a morte enquanto criticava os adoradores do dinheiro e dos excessos dos prazeres materiais. Enquanto Sócrates questionava estes membros proeminentes da civilização, ele sempre indicava o caminho do bem, da verdade e do belo (num sentido mais voltado à pureza bela, ou beleza mais pura).


Angústia Suprema (Mateus, Marcos, Lucas)

Jesus e os discípulos foram a um lugar chamado Getsêmani, e ele disse aos seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu oro. E tomou consigo a Pedro, e aos 2 filhos de Zebedeu, Tiago e João, e começou a ter pavor, e a angustiar-se.

Então disse-lhes: A minha alma está profundamente triste até a morte; ficai aqui, Orai, para que não entreis em tentação e vigiai.

Tendo ido um pouco mais adiante, apartou-se deles cerca de um tiro de pedra; e, pondo-se de joelhos prostrou-se em terra; e orou para que, se fosse possível, passasse dele aquela hora.  

E, orava, Dizendo: Aba, Pai, todas as coisas te são possíveis; afasta de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua.

E apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia.

Posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se como grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão.

Levantando-se da oração, veio para os seus discípulos, e achou-os dormindo de tristeza.

E disse-lhes: Por que estais dormindo? Levantai-vos, e orai, para que não entreis em tentação. e disse a Pedro: Simão, dormes? não podes vigiar uma hora? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.

Foi outra vez e orou, dizendo as mesmas palavras. E, voltando, achou-os outra vez dormindo, porque os seus olhos estavam pesados, e não sabiam o que responder-lhe.

E voltou pela terceira vez, e disse-lhes: Dormi agora, e descansai. Basta: é chegada a hora. Eis que o Filho do homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores.

Levantai-vos, vamos; eis que está perto o que me trai.


Esta é mais uma passagem onde percebe-se a humanidade de Jesus. Seu grande sofrimento mostra isto. Apesar disto, certamente Jesus não precisava que os discípulos vigiassem como sentinelas durante suas orações. Seu pedido para que eles orassem e vigiassem, faz sentido porque a verdadeira oração não é “mecânica” nem “automática” - é preciso se ater às palavras que está dizendo e direcionar sua atenção à Deus (ou aos anjos, santos, bons espíritos) durante as orações

Vale lembrar que a palavra anjo, citada por Lucas, vem do grego "angelos" e significa mensageiro. Isto mostra o poder da oração e sua relação com a intencionalidade e com a ética; Jesus viveu para propagar a importância do amor, portanto embora a palavra anjo significasse mensageiro, aqui ele significa algo como um ser que serve a Deus e aliado de Jesus; Certamente um espírito benevolente e muito elevado para espiritualidades e religiões como o espiritismo, a umbanda, o hinduísmo etc.


A Prisão de Jesus (Mateus, Marcos, Lucas, João)

Tendo Jesus dito isto, saiu com os seus discípulos para além do ribeiro de Cedrom, onde havia um horto, no qual ele entrou e seus discípulos.

E um dos doze, Judas, que o traía, também conhecia aquele lugar, porque Jesus muitas vezes se ajuntava ali com os seus discípulos.

Estando Jesus ainda a falar, surgiu Judas adiante uma multidão com lanternas, e archotes e armas (espadas e varapaus). Judas havia recebido a coorte e oficiais dos principais sacerdotes e fariseus. E o que o traía tinha-lhes dado um sinal, dizendo: O que eu beijar é esse; prendei-o.

Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre ele haviam de vir, adiantou-se, e disse-lhes: Amigo, a quem buscais?

Judas aproximou-se dele, e disse-lhe: Rabi, Rabi. E beijou-o.  

E Jesus lhe disse: Judas, com um beijo trais o Filho do homem?  

(Os oficiais e/ou os servos do sumo sacerdote) Responderam-lhe: (Viemos buscar) A Jesus Nazareno.  

Disse-lhes Jesus: SOU EU.

Quando, pois, lhes disse: Sou eu, recuaram, e caíram por terra.

Tornou-lhes, pois, a perguntar: A quem buscais?  

E eles disseram: A Jesus Nazareno.

Jesus respondeu: Já vos disse que sou eu; se, pois, me buscais a mim, deixai ir estes; 

Para que se cumprisse a palavra que tinha dito: Dos que me deste nenhum deles perdi.

E, vendo os que estavam com ele o que ia suceder, disseram-lhe: Senhor, feriremos à espada?

Então, aproximando-se eles, lançaram mão de Jesus, e o prenderam.

E um deles (Simão Pedro) feriu o servo do sumo sacerdote, e cortou-lhe a orelha direita.

E, respondendo Jesus, disse: Deixai-os; basta. Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão. Ou pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos?

E, tocando-lhe a orelha (do servo do sumo sacerdote), o curou.

E disse Jesus aos principais dos sacerdotes, e capitães do templo, e anciãos, que tinham ido contra ele: Saístes, como a um salteador, com espadas e varapaus (porretes)?

Tenho estado todos os dias convosco no templo, e não estendestes as mãos contra mim, mas esta é a vossa hora e o poder das trevas. tudo isto aconteceu para que se cumpram as escrituras dos profetas. Então, todos os discípulos, deixando-o, fugiram. E um certo jovem o seguia, envolto em um lençol sobre o corpo nu. E lançaram-lhe a mão.  

Mas ele, largando o lençol, fugiu nu.


Somente João não menciona o beijo de Judas - Ao invés disso, em seu evangelho, Jesus pergunta a quem seus inimigos procuram. Após alegarem que o procuram, Jesus atordoa todos seus adversários ao responder “Sou eu” (poderia estar relacionado ao nome EU SOU). De fato, Jesus já sabia que seus adversários queriam pegá-lo e também previra que Judas Iscariotes o trairia, então talvez por causa disto, a cena do beijo não apareça no evangelho de João.

O apóstolo que fere o servo do sumo sacerdote só é identificado por João, como sendo Pedro e o jovem que seguia envolto por um lençol, possivelmente era o apóstolo Marcos.  

Jesus reprova a ação ofensiva de Pedro claramente: Ao dizer que quem fere com espada será ferido com espada, ele indica que violência perpetua violência.
Mateus ainda afirma que se Jesus quisesse ele receberia legiões de anjos para impedir sua prisão e Lucas indica que Jesus chegou a curar o inimigo ferido por Pedro. Este ato de perdoar os inimigos cheios de intenções malignas é uma das maiores provas que Jesus revolucionou toda religiosidade do oriente médio e do ocidente até então. Nenhuma cultura religiosa popular pregava o perdão da maneira que Jesus fez: Fosse entre as seitas judaicas dominantes, entre os cultos do politeísmo greco-romano ou entre os povos celtas e germânicos tidos como “bárbaros”. Se uma ênfase na paz ou no perdão existia naquela época, ela circulava apenas entre seitas nada populares como os essênios, por exemplo. Isto mostra que a violência serve prioritariamente ao poder na Terra além de comprovar que o perdão e o amor ao próximo fazem parte do núcleo dos ensinamentos de Cristo. A violência e a intolerância propagadas por supostos cristãos séculos depois da morte de Jesus, é obviamente invenção de indivíduos corruptos que estão interessados em ganhar poder e influência sobre sociedades.

domingo, 18 de maio de 2025

Últimas mensagens de Esperança de Jesus

Obra do Paráclito (João) 
E agora vou para aquele que me enviou; e nenhum de vós me pergunta: Para onde vais? 
Antes, porque isto vos tenho dito, o vosso coração se encheu de tristeza. 
Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei. E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo. 
Do pecado, porque não crêem em mim; 
Da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais; 
E do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado. 
Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. 
Porém, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. 
Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar. 
Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar.
 
 Jesus diz que após deixar a Terra, enviará um consolador que não falará de si mesmo, mas das coisas que ouviu (certamente, das coisas que sabe) e das coisas que virão. Nada mais é detalhado, mesmo porque Jesus diz que seus apóstolos (e possivelmente todas pessoas de seu tempo) não poderiam suportar. Também não é esclarecido porque eles não podiam suportar: se são assuntos complexas de se entender, se são mensagens que podem causar forte reações emocionais... enfim, a questão fica em aberto. O que Jesus explica, é que o espírito que ele enviará é um consolador e é um espírito verdadeiro, ou da verdade.
O espírito da verdade que dá testemunho de Jesus, de acordo com o espiritismo, surge e profere algumas palavras aos médiuns durante o século XIX (19). Vale notar que médiuns não são determinados indivíduos de uma religião ou outra: todo ser humano é médium, pois vive nesta realidade "material" / tridimensional e na espiritual e seja sabendo disto ou não, faz o "meio" entre o mundo corporal e o espiritual. É bom citar isto porque desde o surgimento do espiritismo na França, o termo veio sendo empregado mais aos indivíduos que percebem fenômenos espirituais, sejam relacionados ao espiritismo, à umbanda ou a algumas outras espiritualidades/ religiões. Na época do surgimento do espiritismo também ocorrem muitos fenômenos entendidos como espirituais na França, EUA e Índia (embora este último país já tivesse um longo histórico de santos e milagres), além de surgirem muitos movimentos religiosos em variadas partes do mundo. Uma época onde o materialismo e o niilismo crescia notoriamente, primeiro entre as classes intelectuais enriquecidas absortas em orgulho e depois, com a propagação do uso da eletricidade e dos motores movidos à combustível fóssil, seria passada para as massas (no início do século 20, o materialismo é propagado entre as demais classes sociais, ou seja, a vasta população economicamente inferior às elites). Para se ter noção, neste período entre a segunda metade do século 19 e a primeira do século 20, a partir desses argumentos biologistas e niilistas, foram espalhadas ideias racistas e desumanas como a cranoscopia, a drapetomania e o Darwinismo social...  Esse niilismo junto às "crises" sócio econômicas fomentaram as duas guerras mundiais. 
Ainda que muitos neguem a Jesus, sejam céticos ou supersticiosos, o Paráclito, como diz seu próprio nome, vem trazer consolo e auxílio para toda humanidade - apenas aqueles que negam à Jesus (e a Deus) é que se condenam à decadência e infelicidade além da vida terrestre. O paráclito não fala de si mesmo porque isto poderia formar um novo culto ou religião. Ele fala de tudo o que ouviu, guiando a todos na verdade. 
 Interessante notar que o pecado de não crer em Jesus, é o mesmo de não crer em seus ensinamentos - a lei divina de amor ao próximo. A justiça mencionada significa que os que seguem o ensinamento de Jesus alcançam a vida eterna nas moradas de Cristo, ou seja, próximas à Deus, pois sendo Jesus, o filho de Deus e o humano mais benigno e puro que viveu na Terra, é justo que ele tenha se juntado ao Pai. Por fim, o juízo que parece se referir a um único príncipe da Terra, possivelmente se refere aos gananciosos que espalham a iniquidade na Terra e que negam à Deus, condenando-se a si mesmos às trevas. Estes odeiam a ideia de Deus todo poderoso em sua humildade e justiça, odeiam a ideia de abandonarem os excessos de bens terrenos (carros, vastos imóveis e terras, luxo, enfim, tudo o que se compra com dinheiro, inclusive, mais dinheiro) e de não terem mais os ardentes prazeres materiais (banquetes, farras, orgias etc). Estes opositores de Jesus e de Deus, que propagam a iniquidade e o egoísmo, em geral pensam que se não podem ter mais do que os outros, ninguém pode ter coisa alguma. 

 Tristeza da Separação, Alegria do Reencontro (João) 
 Um pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; porquanto vou para o Pai. 
Então alguns dos seus discípulos disseram uns aos outros: Que é isto que nos diz? Um pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; e: Porquanto vou para o Pai? 
Diziam, pois: Que quer dizer isto: Um pouco? Não sabemos o que diz. 
Conheceu, pois, Jesus que o queriam interrogar, e disse-lhes: Indagais entre vós acerca disto que disse: Um pouco, e não me vereis, e outra vez um pouco, e ver-me-eis? 
Na verdade, na verdade vos digo que vós chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria. 
A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem no mundo. 
Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará. E naquele dia nada me perguntareis. 

 Jesus fala sobre a imortalidade da alma: Seus apóstolos estão tristes pois Jesus disse que irá embora, mas ele voltará para junto de Deus e diz que os apóstolos poderão o encontrar um pouco depois (quando desencarnassem, após seguirem os ensinamentos de Jesus)… 

Oração em Nome de Jesus /  Fé dos Discípulos, Jesus vencedor do mundo (João) 
 Na verdade, na verdade vos digo que tudo quanto pedirdes a meu Pai, em meu nome, ele vo-lo há de dar. 
Até agora nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis, para que a vossa alegria se cumpra. 
Disse-vos isto por parábolas; chega, porém, a hora em que não vos falarei mais por parábolas, mas abertamente vos falarei acerca do Pai. 
Naquele dia pedireis em meu nome, e não vos digo que eu rogarei por vós ao Pai; Pois o mesmo Pai vos ama, visto como vós me amastes, e crestes que saí de Deus. 
Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez deixo o mundo, e vou para o Pai. 

Disseram-lhe os seus discípulos: Eis que agora falas abertamente, e não dizes parábola alguma. Agora conhecemos que sabes tudo, e não precisas de que alguém te interrogue. Por isso cremos que saíste de Deus. 
Respondeu-lhes Jesus: Credes agora? Eis que chega a hora, e já se aproxima, em que vós sereis dispersos cada um para sua parte, e me deixareis só; mas não estou só, porque o Pai está comigo. 
Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.
 
 Jesus indica que quando se pede a Deus, crendo Nele, em seus ensinamentos, e portanto, em seu filho, o fiel será atendido… Isto certamente também tem relação com os milagres alcançados por pessoas espiritualizadas desde a época de Jesus até os dias de hoje. Existem inúmeros relatos ao longo da história, sejam de pessoas santificadas pela igreja, de sris do sanatana dharma (hinduísmo) ou mesmo de médiuns como chamam o espiritismo e algumas religiões afrodescendentes. Crer em Deus inclui viver conforme sua lei de amor tão explicada por Jesus - é mais do que um mero estado mental; é um sentido de vida que inclui os bons sentimentos e os valores universais centrados no amor.
 De modo geral seguir (todos) os ensinamentos de Jesus é difícil. Jesus já sabia que seus apóstolos iriam se dispersar quando ele fosse capturado pelos inimigos, mas continuando os ensinamentos anteriores, ele então pede para que seus discípulos tivessem ânimo, ou seja, coragem. Para se ter a paz em Jesus, é preciso crer, isso dá a esperança de encontrar o reinos dos céus; De encontrar Jesus no futuro…

 

domingo, 11 de maio de 2025

Leitura sobre os Ensinamentos Finais de Jesus

 A Videira e os Ramos (João) 
Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. 
Todo o ramo em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto. 
Vós já estais limpos (purificados), pela palavra que vos tenho falado. 
Estai em mim, e eu em vós; como o ramo de si mesmo não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim. 
Eu sou a videira, vós os ramos; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. 
Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como o ramo, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem. 
Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito. 
Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos. 

 Aquele que realmente crê em Cristo é comparado ao ramo que gera frutos. Estes frutos são as boas obras ensinadas por Jesus: ajudar os outros, principalmente os mais necessitados, sem pedir nem esperar nada em troca. Fazer o bem por saber que Jesus é filho de Deus e, sendo uno com o Pai, trouxe os ensinamentos Dele para a humanidade. Estes que creem e realizam a obra divina, podem pedir o auxílio divino em sua jornada, que serão atendidos. 
 Aquele que não gera estes frutos em vida, após a sua morte terá vergonha de sua própria indiferença e/ou de seu próprio egoísmo diante a luz de Deus, condenando a si mesmo ao sofrimento duradouro, que tortura a alma, como o fogo causa dor ao corpo. 
Muitos religiosos gostam de citar que aqueles que não creem em Jesus, serão "lançados ao fogo". Ateus que criticam os evangelhos de Jesus como ensinamentos autoritários também usam este argumento, mas ambos (os religiosos e os ateus) não entenderam ou fingem não entender que isto é explicado (e refutado) no diálogo de Jesus com Nicodemos e em outros trechos do evangelho do próprio João: "é o pecador que não vai à luz por vergonha de sua obra má, e se esconde nas trevas"; "Nem o Pai (Deus) julga"! 
Ser lançado ao fogo, queimar no fogo do gehena e outros termos/ frases similares, são meras figuras de linguagem, úteis para um povo sedento por uma justiça que pune... E isso certamente fez sentido no século 1... Foi usado durante a idade das trevas quando ocorreram a maioria dos concílios que formaram a igreja, e continuou na era medieval, período em que existiram os cruzados e começaram as inquisições. Durou até a renascença, quando (re)surge timidamente o misticismo cristão, oprimido pelas igrejas católicas e protestantes, numa época em que as inquisições e os julgamentos por bruxaria continuaram acontecendo até o iluminismo... O espiritismo surgido na França do séc 19 ressalta um pouco essa piedade de Deus, mas ainda neste início do séc 21, infelizmente ainda temos multidões que acreditam em inferno e em um Deus punidor. Na verdade, desde o iluminismo vem crescendo uma alternativa tão tosca e tão anti-esperança quanto a idéia de inferno como punição eterna: o niilismo - a "certeza" da existência do nada após a vida terrestre. É possível provar a inexistência de algo ou prova-se o que é mensurável, evidente, ou seja, o que existe? Alguém que diz que tem certeza de que nada existe após a morte do corpo, certamente não entende o que é construir conhecimento nem o que é buscar a verdade, pois afirmar inexistência de qualquer coisa é uma contradição por si só, como explica Platão em algumas de suas obras, 4 séculos antes de Cristo. Fala-se sobre o que se conhece, investiga-se o que não é conhecido - isso é um princípio da filosofia "ocidental", no mínimo desde Platão.

 Preservar no Amor de Cristo / Amor Fraterno (João) 
 Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor. 
Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor. Tenho-vos dito isto, para que a minha alegria permaneça em vós, e a vossa alegria seja completa. 
O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. 
Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos. 
Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. 
Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer. 
Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda. 
Isto vos mando: Que vos ameis uns aos outros. 

 Seguir a lei divina, é permanecer no amor fraterno e puro de Deus. Este é o meio para que se tenha a alegria completa. 
Continuando, Jesus diz que se manter no amor de Deus, é amar uns aos outros. Em seguida chama seus discípulos de amigos, uma palavra que pode parecer informal, ou, para alguns, até mesmo superficial, mas se trata da verdadeira amizade - o puro amor fraterno. Amizade não é troca de favores - é devoção, piedade, solidariedade e requer humildade de todas as partes envolvidas no relacionamento. A amizade tem sua importância para além do cristianismo primitivo: A palavra amigo/ amizade aparece em antigos movimentos cristãos alternativos (como o bogomilismo no leste europeu, que apesar de sutis diferenças de crença, chamavam-se “amigos de Deus”) e em outras civilizações como no Bhakti yoga da Índia medieval, onde o serviço devocional a Krishna era chamado de Sakhya. A Sakhya não deve ser predominantemente rígida nem severa e sim, deve ter a leveza de uma amizade. A relevância da amizade também existiu na antiga cultura persa masdeísta, onde o nome da família real Aquemênida, veio de haxamanis, que significa “ter a mente de amigo”. É aceito tanto na religião judaico/ cristã como na história, que Kurus II (Ciro, o Grande), um dos imperadores da Pérsia Aquemênida, libertou os judeus. Nota-se assim que a verdadeira devoção ao Criador deve ser uma amizade com expressões do amor, como a devoção. 

 Ódio do mundo (João) 
Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, odiou a mim. 
Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. 
Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. 
Mas tudo isto vos farão por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou. Se eu não viera, nem lhes houvera falado, não teriam pecado, mas agora não têm desculpa do seu pecado. 
Aquele que me odeia, odeia também a meu Pai. 
Se eu entre eles não fizesse tais obras, quais nenhum outro tem feito, não teriam pecado; mas agora, viram-nas e me odiaram a mim e a meu Pai. 
Mas é para que se cumpra a palavra que está escrita na sua lei: Odiaram-me sem causa. 
Mas, quando vier o Paráclito (Consolador), que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito da verdade, que procede do Pai, dará testemunho de mim. 
E vós também testificareis, pois estivestes comigo desde o princípio. 
Tenho-vos dito estas coisas para que vos não escandalizeis (não caiam em pecado). 
Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus. E isto vos farão, porque não conheceram ao Pai nem a mim. 
Mas tenho-vos dito isto, a fim de que, quando chegar aquela hora, vos lembreis de que já vo-lo tinha dito. E eu não vos disse isto desde o princípio, porque estava convosco. 

 É possível que Jesus se refira aos deslumbrados pela matéria, quando diz que "o mundo o odeia". Assim, após falar da importância do amor fraterno e de "dar frutos" (praticar seus ensinamentos conscientemente), Jesus fala da vida espiritual - de uma vida além da Terra, o que incomoda os fanáticos pela vida terrena e os viciados nos prazeres e luxos da Terra. Ele também critica aqueles que odeiam por mera rivalidade, intolerância ou xenofobia, quando diz: "...Odiaram-me sem causa."
 E, por fim, fala dos que negaram seus ensinamentos e continuaram em pecado, provavelmente se referindo aos fariseus, saduceus, escribas e outros religiosos corruptos: Estes odeiam a Jesus, e por isso, também odeiam a Deus. 
Mais uma vez cabe a comparação de Maya, a ilusão, a priorização dos prazeres sensoriais do mundo (tridimensional etc) e/ ou do acúmulo de bens materiais, como inimigo de Jesus…  

domingo, 4 de maio de 2025

Leitura inter religiosa das "Despedidas de Jesus"

Jesus lava os pés dos discípulos/ A Última Ceia (MateusMarcosLucasJoão
Antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que chegara sua hora de passar deste mundo ao Pai, como amasse os seus que estavam no mundo, até o extremo os amou.
No primeiro dia dos Ázimos (pães sem fermento) em que se imolava a Páscoa, perguntaram-lhe seus discípulos: Onde queres que preparemos a refeição da Páscoa?
Ele enviou dois de seus discípulos (Pedro e João), dizendo: Ao entrar na cidade, encontrareis um homem carregando uma bilha (cântaro) de água; segui-o até a casa em que ele entrar e direis ao dono da casa: O mestre pergunta-te: Onde está a sala em que comerei a Páscoa com os meus discípulos? Ele vos mostrará no andar superior uma grande sala mobiliada e ali fazei os preparativos.
Foram pois, e acharam tudo como Jesus lhes dissera: preparam a Páscoa.
Chegando a tarde, dirigiu-se para lá com os Doze. Durante a ceia - quando o demônio já tinha lançado no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, o propósito de traí-lo -, sabendo Jesus que o pai tudo lhe dera nas mãos, e que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-se da mesa, depôs suas vestes, e , pegando uma toalha, cingiu-se com ela. Em seguida deitou a água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido. Quando chegou a Simão Pedro, este lhe disse: "Senhor, queres lavar-me os pés!..."
Respondeu-lhe Jesus: "O que faço não compreendes agora, mas compreenderá em breve."
Disse-lhe Pedro: "Jamais me lavarás os pés!..."
Respondeu-lhe Jesus: Se eu não lavar teus pés, não terás parte comigo.
Exclamou então Simão Pedro: Senhor, não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça!
Disse-lhes Jesus: Aquele que tomou banho não tem necessidade de lavar-se; está inteiramente puro. Ora, vós estais puros, mas nem todos... Pois sabia quem o havia de trair; por isso disse "nem todos estais puros".
Depois de lavar-lhes os pés e tomar as suas vestes, sentou-se novamente à mesa e disse-lhes: Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa antes de sofrer. Pois digo-vos não tornarei a comê-la até que ela se cumpra no reino de Deus. 
E perguntou-lhes: Sabeis o que vos fiz? Vós me chamais de Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou. Logo, se eu, vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também deveis vós lavar-vos os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também vós. Em verdade vos digo, o servo não é maior do que aquele que o enviou. Se compreenderdes estas coisas, sereis felizes, sob a condição de praticardes. Não digo isto de vós todos; conheço os que escolhi; mas é preciso que se cumpra a palavra da Escritura: Aquele que come o pão comigo levantou-se contra mim o seu calcanhar (Salmo 40, 10). Desde já vos digo, antes que aconteça, para que quando acontecer, creiais e reconheçais quem sou eu. Em verdade, em verdade vos digo: Quem recebe aquele que eu enviei, recebe-me a mim, e quem me recebe, recebe Aquele que me enviou.
Dito isto Jesus ficou perturbado em seu espírito e declarou abertamente
Entretanto eis que a mão de quem me trai está à mesa comigo. Em verdade, em verdade, vos digo, um de vós me há de trair!
Com profunda aflição (entristecendo-se), os discípulos perguntavam entre si quem deles seria o que tal haveria de fazer. 
E (Jesus) disse-lhes: Quando vos mandei sem bolsa, alforje, ou alparcas, faltou-vos porventura alguma coisa? 
Eles responderam: Nada. 
Disse-lhes pois: Mas agora, aquele que tiver bolsa, tome-a, como também o alforje; e, o que não tem espada, venda a sua capa e compre-a; Porquanto vos digo que importa que em mim se cumpra aquilo que está escrito: E com os malfeitores foi contado. Porque o que está escrito de mim terá cumprimento. 
Então eles disseram: Senhor, eis aqui duas espadas. E ele lhes disse: Basta. 
Um dos discípulos, a quem Jesus amava, estava a mesa reclinado ao peito de Jesus. Simão Pedro acenou-lhe para dizer-lhe: Dize-nos, de quem é que ele fala. Reclinando-se este mesmo discípulo sobre o peito de Jesus, interrogou-o: Senhor, quem é?
Jesus respondeu: É um dos doze que serve comigo do mesmo prato. É aquele a quem eu der o pão embebido. O filho do homem vai, segundo o que está determinado, mas ai daquele homem por quem ele é traído! 
Em seguida, molhou o pão e deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. Logo que ele o engoliu, Satanás entrou nele. Jesus disse-lhe então: O que queres fazer, faze-o depressa. Mas ninguém dos que estavam à mesa soube por que motivo lhe dissera. Pois, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe falava: "Compra aquilo de havemos mister para a festa", ou "Dá alguma coisa aos pobres". Tendo Judas recebido o bocado de pão, apressou-se em sair. E era noite...
Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai e comei, isto é o meu corpo. Tomou depois o cálice, rendeu graças e deu-lho dizendo: Bebei dele todos, porque isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados. Digo-vos doravante não beberei mais deste fruto da vinha até o dia em que o beberei de novo convosco no reino de meu Pai.

Somente o evangelho de João menciona o "rito" de lavar os pés dos apóstolos realizado por Jesus. 
Já sobre a ceia, há algumas diferenças entre os 4 evangelhos: a passagem que é dita nas missas católicas aparece mais claramente em Mateus e em Marcos, mas também brevemente em Lucas. Uma fala parecida no evangelho de João só aparece em outro trecho/ outro diálogo de Jesus.
Independente destas diferenças, é interessante notar como todos evangelhos citam que Jesus já sabia das intenções de Judas Iscariotes há algum tempo. Nesta passagem em particular Jesus diz que já conhece os discípulos que escolheu e cita o salmo 40, 10, colocando a passagem de João em acordo com a de Marcos: aquele que comer o pão com Jesus, o trairá.
Oras, se Jesus já sabia disto, é possível que ele não considerasse mais Judas um discípulo. Poderia Jesus ter escolhido fazer a ceia com 11 discípulos? Ou poderia ele ter escolhido outro discípulo, como por exemplo, Maria Madalena? Não dá para ter certeza e talvez isto nem tenha importância... 
Muitos simbolismos podem ser interpretados na última ceia, tais como o homem carregando o cântaro de água (que pode ser simplesmente a água que Jesus usa para lavar os pés dos discípulos), porém tais elementos atraem atenção tanto de espiritualistas mais místicos, como de ateus que usam tais coisas para argumentar que o cristianismo é uma farsa montada ao longo da história. O viés místico tende a ser pouco claro, portanto dificilmente útil ou benéfico, já que tenta alegar elementos astrológicos e talvez previsões do futuro. Há quem diga que o homem do cântaro represente a era astrológica de Aquário que sucede a era astrológica que se iniciou com Jesus - a de Peixes. O signo de Aquário é chamado de "ar fixo" na astrologia e por ar, entende-se a racionalidade e a inteligência, enquanto o signo de peixes é a "água mutável". Por água entende-se o sentimento, mais interno e duradouro do que as emoções e expressões. "Fixo" significa abundante e/ou profundo enquanto "mutável" representa transformação, mudança ou talvez até mesmo transcendência... é uma linguagem bem subjetiva por indicar aspectos da mente, seja humana ou divina, e, por mais explicativa que possa ser, é intuitiva e teórica por não ter um raciocínio pautado no empirismo, no sensorial e no reprodutível. A linguagem mística portanto, precisa ser pautada na ética como qualquer outra, senão cai no charlatanismo etc.
Já o viés "ateu" neste caso, está mais para "anti theos" sendo até mesmo nocivo uma vez que não se pauta pela ética e tenta desqualificar não só uma religião, como toda a espiritualidade, descartando ou inferiorizando cosmovisões e modos de consciência. Além disto, é bom lembrar que não há conhecimento ou verdade sem os valores universais da ética. Contradizer esta proposta das raízes da "filosofia ocidental" (vide os textos de Platão), é, na melhor das hipóteses propagar opiniões de bases frágeis... ou na pior das hipóteses, propagar mentiras/ impor opiniões antiéticas.
 O trecho onde Jesus pergunta se faltou alguma coisa aos discípulos, narrado por Lucas, aparece originalmente na "Predição da negação de Pedro", mas coloquei aqui no diálogo da ceia porque considerei que o evangelho de João foi o mais preciso ao descrever a saída de Judas durante a ceia. Assim, entende-se que Jesus sabia que um dos apóstolos carregava uma bolsa (possivelmente Judas Iscariotes) e dois carregavam espadas (possivelmente Pedro e mais um, talvez o Judas Iscariotes), mesmo ele tendo solicitado para que não carregassem nada além de suas próprias roupas no corpo. Pedro mostrava uma valentia para defender Jesus, mas possivelmente temia a morte, sendo ainda incapaz de ter uma fé plena até os momentos finais de Jesus. Talvez Pedro esperasse que Jesus lutasse para vencer seus inimigos ou para evitar a morte, mas nada disso fazia parte dos ensinamentos de Cristo. 
 Iscariotes, com menos fé ainda, se mostrava incapaz de priorizar os ensinamentos de Jesus em relação aos bens materiais e planejava traí-lo. 
 Indo além do ponto de vista meramente terrestre, as religiões afrodescendentes, a espiritualidade indígena e o espiritismo indicam que o mundo material e o espiritual estão interconectados. Eis porque diz-se que Iscariotes foi tomado por “Satanás”, pois os espíritos sabem de muitas coisas que acontecem na Terra, uma vez que eles ignoram o “filtro do corpo”, percebendo sentimentos e pensamentos dos seres humanos. 
 O nome de uma entidade “maligna” é irrelevante, afinal Jesus ensina que Deus é um, não diferente de Platão que indica que há um Deus Uno (acima de todos outros “deuses”, sejam eles daemons ou semi-deuses). Não há um poderoso “anti-Deus” no monoteísmo nem na filosofia fundada por Platão, pois o autor buscava a ideia (eidos) mais excelente (virtuosa) que era una (absoluta, plena, unificadora…) e imutável. Zeus Hegemon apresentado no texto Fédon, certamente é o deus e a virtude máxima, seja ele sinônimo de Demiurgo (o arquiteto, criador de tudo) e/ ou de Nous - a inteligência divina. O espiritismo e a Kriya Yoga também fazem um diálogo com o cristianismo, pautando não um deus antropomórfico, mas sim o Deus criador, mantenedor e renovador onipresente. Afinal, o próprio Jesus disse: Deus é espírito (não de carne e osso), adorai-o em espírito (internamente, psiquicamente/ mentalmente)!

Conspiração/ Traição de Judas (MateusMarcosLucas
(...) um dos doze, chamado Judas, que tinha por sobrenome Iscariotes, foi ter com os principais dos sacerdotes, e com os capitães, de como entregaria Jesus; 
Então disse: Que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei? 
Os quais se alegraram, lhe pesaram trinta moedas de prata e convieram em lhe dar (o) dinheiro. E ele concordou; e buscava oportunidade para lho entregar sem alvoroço. 

Esta passagem aparece antes da ceia, após o "jantar em Betânia" citado nos evangelhos de Mateus e Marcos e na "Conspiração contra Jesus" nos textos de Lucas. Aqui optei pela sequência mais próxima do evangelho de João. De qualquer forma, é apenas um detalhe, pois talvez essas passagens talvez nem sejam excludentes entre si: Judas poderia ter se reunido com os sacerdotes antes da ceia e voltado a se reunir com Jesus e os apóstolos por um tempo até se juntar à "turba armada".

Predição da Negação de Pedro/ Adeuses, Despedidas (Mateus, Marcos, Lucas, João
E, tendo cantado o hino, saíram para o Monte das Oliveiras. Tendo ele (Judas Iscariotes), pois, saído, disse Jesus: Agora é glorificado o Filho do homem, e Deus é glorificado nele. Se Deus é glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e logo o há de glorificar. 
Filhinhos, ainda por um pouco estou convosco. Vós me buscareis, mas, como tenho dito aos judeus: Para onde eu vou não podeis vós ir; eu vo-lo digo também agora. 
Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. 
Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros
Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, para onde vais? 
Jesus lhe respondeu: Para onde eu vou não podes agora seguir-me, mas depois me seguirás. 
Disse-lhe Pedro: Por que não posso seguir-te agora? 
Então (o Senhor) Jesus lhes disse: Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos. Todos vós esta noite vos escandalizareis em mim (me abandonarão); porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersarão. Mas, depois de eu ressuscitar, irei adiante de vós para a Galiléia. 
Mas Pedro, respondendo, disse-lhe: Ainda que todos se escandalizem (te abandonem) em ti, eu nunca me escandalizarei (não te abandonarei). Por ti darei a minha vida
Respondeu-lhe Jesus: Tu darás a tua vida por mim? Na verdade, na verdade te digo que não cantará o galo enquanto não me tiveres negado três vezes. 
Disse-lhe Pedro: Ainda que me seja mister morrer contigo, não te negarei. E todos os discípulos disseram o mesmo. 

 Jesus menciona que seus apóstolos não poderão segui-lo, pois irá morrer, mas depois de propagarem os ensinamentos de amor de Cristo, irão se encontrar em outra vida/ no reino dos céus. E o que identifica os seguidores de Jesus, ou seja, os cristãos, é viver a lei de amor como ele explica: "Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros."  Isto é amar a Deus e ao próximo como a si mesmo. E "o próximo" é qualquer um que esteja necessitado ou que aceite os ensinamentos de Jesus, mesmo que esse seja de outra cultura, religião ou nacionalidade de acordo com os ensinamentos de Jesus (vide as passagens do samaritano, do centurião e quando João reprime outra pessoa que admirava as obras de Jesus). Assim é nítido que nada adianta o suposto cristão sair citando que "Jesus é o caminho ou a porta" se não ele não vive a lei de amor a todos.

 (Continuação de Adeuses, Despedidas) (João) 
Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. 
Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também. Mesmo vós sabeis para onde vou, e conheceis o caminho. 
Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho? 
Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto. 
Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta. 
Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras. Crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim; crede-me, ao menos, por causa das mesmas obras. 
Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai. E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei. 
Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito (Intercessor, o Consolador), para que fique convosco para sempre; O Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós. Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós. Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais, mas vós me vereis; porque eu vivo, e vós vivereis. Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós. 
Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele. 
Disse-lhe Judas Tadeu: Senhor, de onde vem que te hás de manifestar a nós, e não ao mundo? 
Jesus respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada. Quem não me ama não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai que me enviou. Tenho-vos dito isto, estando convosco. Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito. 
Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não a dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize. 
Ouvistes que eu vos disse: Vou, e venho para vós. Se me amásseis, certamente exultaríeis porque eu disse: Vou para o Pai; porque meu Pai é maior do que eu. 
 Eu digo agora antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis. 
Já não falarei muito convosco, porque se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em mim; Mas é para que o mundo saiba que eu amo o Pai, e que faço como o Pai me mandou. 
Levantai-vos, vamo-nos daqui. 

Jesus diz que há muitas moradas na casa de Deus e indica que seus apóstolos podem ir para uma destas moradas após seguirem seus ensinamentos de amor universal. De acordo com o espiritismo, estas moradas são os mundos superiores das almas que reencarnam mais e mais próximas de Deus. Embora muitos possam entender estes mundos como algo espacial ou situado em alguns pontos do espaço, isso não é necessariamente verdade:
Tomé pergunta sobre o caminho para seguir Jesus; Felipe pergunta aonde está o Pai e Judas Tadeu pergunta de onde Jesus virá, que se manifestará para eles, mas não para o restante do mundo. São perguntas um tanto espaciais, ou seja, que consideram um mundo físico, palpável e certamente material. Certamente porque os apóstolos ainda não tinham entendido sobre a realidade espiritual/ psíquica a qual Jesus se referia. O espírito sendo imortal pouco ou nada depende do espaço tridimensional como normalmente concebemos e percebemos; Jesus fala que está no Pai em estado de união, praticamente como iogues e swamis do hinduísmo (sanatana dharma) explicam. O indivíduo que alcança um estado de perfeição espiritual está uno a Brahman (Deus), o Todo criador, mantenedor e renovador de todas as coisas.
Jesus explica que enviará o "paráclito" não para religiosos, mas para aqueles que seguem seu ensinamento de amor como explicado tanto no texto de João, como de Mateus, Lucas e Marcos.
O espírito da verdade (paráclito) é aceito no espiritismo - conforme o ensinamento dos espíritos durante o século 18, Ele se manifestou aos humanos. O espiritismo então, propaga suas palavras, não vindo para contrariar o cristianismo e sim para complementá-lo, conforme o progresso intelectual da humanidade que mudou muito desde a época de Cristo. 
No trecho: “Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras. Crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim”, Jesus fala de transcendência, pois vivia apenas para fazer a vontade de Deus, portanto Deus foi reconhecível através das obras de Jesus e sua bondade perfeita. Este era todo o sentido da vida de Jesus - Servir a Deus propagando o bem, a lei divina de amor. O único caminho para se “ver” Deus é a bondade que acaba por transcender a existência na Terra, ou seja, o caminho é viver os ensinamentos de Jesus. 
 Quando o espiritismo explica que a experiência de êxtase (espiritual) é muito elevada e que o extático penetra mundos espirituais conforme seu progresso, exaltando a magnanimidade de Deus e relativizando a vida terrestre, ele se refere ao possível efeito transcendente de se viver o verdadeiro bem, de crer e praticar os ensinamentos de Cristo. Esta é uma experiência diferente (interna e/ ou externa) em relação à existência terrestre - certamente similar em algum nível com o que o divulgador científico, Carl Sagan, disse na explicação sobre a 4ª dimensão e "estar fora de sua experiência" (no ep.10 da série Cosmos). 
Enfim Jesus diz “crede-me, ao menos, por causa das mesmas obras”, afinal aquele que ama o bem verdadeiramente, ama a Cristo e seus ensinamentos e também ama a Deus e o encontra em seu interior, em sua alma. Assim, aceita seu amor, vivendo para propagá-lo. Quanto mais a pessoa vive os ensinamentos de Jesus e confia nestes, menos ela irá turbar seu coração, ou seja menos será levada por desejos mesquinhos, ira ou medo.

 

Leitura sobre Últimos encontros com Jesus

Ressurreição e aparição a Maria Madalena ( Mateus , Marcos , Lucas , João ) Eis que no primeiro dia da semana, houve um violento tremor de t...