Antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que chegara sua hora de passar deste mundo ao Pai, como amasse os seus que estavam no mundo, até o extremo os amou.
No primeiro dia dos Ázimos (pães sem fermento) em que se imolava a Páscoa, perguntaram-lhe seus discípulos: Onde queres que preparemos a refeição da Páscoa?
Ele enviou dois de seus discípulos (Pedro e João), dizendo: Ao entrar na cidade, encontrareis um homem carregando uma bilha (cântaro) de água; segui-o até a casa em que ele entrar e direis ao dono da casa: O mestre pergunta-te: Onde está a sala em que comerei a Páscoa com os meus discípulos? Ele vos mostrará no andar superior uma grande sala mobiliada e ali fazei os preparativos.
Foram pois, e acharam tudo como Jesus lhes dissera: preparam a Páscoa.
Chegando a tarde, dirigiu-se para lá com os Doze. Durante a ceia - quando o demônio já tinha lançado no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, o propósito de traí-lo -, sabendo Jesus que o pai tudo lhe dera nas mãos, e que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-se da mesa, depôs suas vestes, e , pegando uma toalha, cingiu-se com ela. Em seguida deitou a água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido. Quando chegou a Simão Pedro, este lhe disse: "Senhor, queres lavar-me os pés!..."
Respondeu-lhe Jesus: "O que faço não compreendes agora, mas compreenderá em breve."
Disse-lhe Pedro: "Jamais me lavarás os pés!..."
Respondeu-lhe Jesus: Se eu não lavar teus pés, não terás parte comigo.
Exclamou então Simão Pedro: Senhor, não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça!
Disse-lhes Jesus: Aquele que tomou banho não tem necessidade de lavar-se; está inteiramente puro. Ora, vós estais puros, mas nem todos... Pois sabia quem o havia de trair; por isso disse "nem todos estais puros".
Depois de lavar-lhes os pés e tomar as suas vestes, sentou-se novamente à mesa e disse-lhes: Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa antes de sofrer. Pois digo-vos não tornarei a comê-la até que ela se cumpra no reino de Deus.
E perguntou-lhes: Sabeis o que vos fiz? Vós me chamais de Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou. Logo, se eu, vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também deveis vós lavar-vos os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também vós. Em verdade vos digo, o servo não é maior do que aquele que o enviou. Se compreenderdes estas coisas, sereis felizes, sob a condição de praticardes. Não digo isto de vós todos; conheço os que escolhi; mas é preciso que se cumpra a palavra da Escritura: Aquele que come o pão comigo levantou-se contra mim o seu calcanhar (Salmo 40, 10). Desde já vos digo, antes que aconteça, para que quando acontecer, creiais e reconheçais quem sou eu. Em verdade, em verdade vos digo: Quem recebe aquele que eu enviei, recebe-me a mim, e quem me recebe, recebe Aquele que me enviou.
Dito isto Jesus ficou perturbado em seu espírito e declarou abertamente:
Entretanto eis que a mão de quem me trai está à mesa comigo. Em verdade, em verdade, vos digo, um de vós me há de trair!
Com profunda aflição (entristecendo-se), os discípulos perguntavam entre si quem deles seria o que tal haveria de fazer.
E (Jesus) disse-lhes: Quando vos mandei sem bolsa, alforje, ou alparcas, faltou-vos porventura alguma coisa?
Eles responderam: Nada.
Disse-lhes pois: Mas agora, aquele que tiver bolsa, tome-a, como também o alforje; e, o que não tem espada, venda a sua capa e compre-a; Porquanto vos digo que importa que em mim se cumpra aquilo que está escrito: E com os malfeitores foi contado. Porque o que está escrito de mim terá cumprimento.
Então eles disseram: Senhor, eis aqui duas espadas. E ele lhes disse: Basta.
Um dos discípulos, a quem Jesus amava, estava a mesa reclinado ao peito de Jesus. Simão Pedro acenou-lhe para dizer-lhe: Dize-nos, de quem é que ele fala. Reclinando-se este mesmo discípulo sobre o peito de Jesus, interrogou-o: Senhor, quem é?
Jesus respondeu: É um dos doze que serve comigo do mesmo prato. É aquele a quem eu der o pão embebido. O filho do homem vai, segundo o que está determinado, mas ai daquele homem por quem ele é traído!
Em seguida, molhou o pão e deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. Logo que ele o engoliu, Satanás entrou nele. Jesus disse-lhe então: O que queres fazer, faze-o depressa. Mas ninguém dos que estavam à mesa soube por que motivo lhe dissera. Pois, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe falava: "Compra aquilo de havemos mister para a festa", ou "Dá alguma coisa aos pobres". Tendo Judas recebido o bocado de pão, apressou-se em sair. E era noite...
Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai e comei, isto é o meu corpo. Tomou depois o cálice, rendeu graças e deu-lho dizendo: Bebei dele todos, porque isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados. Digo-vos doravante não beberei mais deste fruto da vinha até o dia em que o beberei de novo convosco no reino de meu Pai.
Somente o evangelho de João menciona o "rito" de lavar os pés dos apóstolos realizado por Jesus.
Já sobre a ceia, há algumas diferenças entre os 4 evangelhos: a passagem que é dita nas missas católicas aparece mais claramente em Mateus e em Marcos, mas também brevemente em Lucas. Uma fala parecida no evangelho de João só aparece em outro trecho/ outro diálogo de Jesus.
Independente destas diferenças, é interessante notar como todos evangelhos citam que Jesus já sabia das intenções de Judas Iscariotes há algum tempo. Nesta passagem em particular Jesus diz que já conhece os discípulos que escolheu e cita o salmo 40, 10, colocando a passagem de João em acordo com a de Marcos: aquele que comer o pão com Jesus, o trairá.
Oras, se Jesus já sabia disto, é possível que ele não considerasse mais Judas um discípulo. Poderia Jesus ter escolhido fazer a ceia com 11 discípulos? Ou poderia ele ter escolhido outro discípulo, como por exemplo, Maria Madalena? Não dá para ter certeza e talvez isto nem tenha importância...
Muitos simbolismos podem ser interpretados na última ceia, tais como o homem carregando o cântaro de água (que pode ser simplesmente a água que Jesus usa para lavar os pés dos discípulos), porém tais elementos atraem atenção tanto de espiritualistas mais místicos, como de ateus que usam tais coisas para argumentar que o cristianismo é uma farsa montada ao longo da história. O viés místico tende a ser pouco claro, portanto dificilmente útil ou benéfico, já que tenta alegar elementos astrológicos e talvez previsões do futuro. Há quem diga que o homem do cântaro represente a era astrológica de Aquário que sucede a era astrológica que se iniciou com Jesus - a de Peixes. O signo de Aquário é chamado de "ar fixo" na astrologia e por ar, entende-se a racionalidade e a inteligência, enquanto o signo de peixes é a "água mutável". Por água entende-se o sentimento, mais interno e duradouro do que as emoções e expressões. "Fixo" significa abundante e/ou profundo enquanto "mutável" representa transformação, mudança ou talvez até mesmo transcendência... é uma linguagem bem subjetiva por indicar aspectos da mente, seja humana ou divina, e, por mais explicativa que possa ser, é intuitiva e teórica por não ter um raciocínio pautado no empirismo, no sensorial e no reprodutível. A linguagem mística portanto, precisa ser pautada na ética como qualquer outra, senão cai no charlatanismo etc.
Já o viés "ateu" neste caso, está mais para "anti theos" sendo até mesmo nocivo uma vez que não se pauta pela ética e tenta desqualificar não só uma religião, como toda a espiritualidade, descartando ou inferiorizando cosmovisões e modos de consciência. Além disto, é bom lembrar que não há conhecimento ou verdade sem os valores universais da ética. Contradizer esta proposta das raízes da "filosofia ocidental" (vide os textos de Platão), é, na melhor das hipóteses propagar opiniões de bases frágeis... ou na pior das hipóteses, propagar mentiras/ impor opiniões antiéticas.
O trecho onde Jesus pergunta se faltou alguma coisa aos discípulos, narrado por Lucas, aparece originalmente na "Predição da negação de Pedro", mas coloquei aqui no diálogo da ceia porque considerei que o evangelho de João foi o mais preciso ao descrever a saída de Judas durante a ceia. Assim, entende-se que Jesus sabia que um dos apóstolos carregava uma bolsa (possivelmente Judas Iscariotes) e dois carregavam espadas (possivelmente Pedro e mais um, talvez o Judas Iscariotes), mesmo ele tendo solicitado para que não carregassem nada além de suas próprias roupas no corpo. Pedro mostrava uma valentia para defender Jesus, mas possivelmente temia a morte, sendo ainda incapaz de ter uma fé plena até os momentos finais de Jesus. Talvez Pedro esperasse que Jesus lutasse para vencer seus inimigos ou para evitar a morte, mas nada disso fazia parte dos ensinamentos de Cristo.
Iscariotes, com menos fé ainda, se mostrava incapaz de priorizar os ensinamentos de Jesus em relação aos bens materiais e planejava traí-lo.
Indo além do ponto de vista meramente terrestre, as religiões afrodescendentes, a espiritualidade indígena e o espiritismo indicam que o mundo material e o espiritual estão interconectados. Eis porque diz-se que Iscariotes foi tomado por “Satanás”, pois os espíritos sabem de muitas coisas que acontecem na Terra, uma vez que eles ignoram o “filtro do corpo”, percebendo sentimentos e pensamentos dos seres humanos.
O nome de uma entidade “maligna” é irrelevante, afinal Jesus ensina que Deus é um, não diferente de Platão que indica que há um Deus Uno (acima de todos outros “deuses”, sejam eles daemons ou semi-deuses). Não há um poderoso “anti-Deus” no monoteísmo nem na filosofia fundada por Platão, pois o autor buscava a ideia (eidos) mais excelente (virtuosa) que era una (absoluta, plena, unificadora…) e imutável. Zeus Hegemon apresentado no texto Fédon, certamente é o deus e a virtude máxima, seja ele sinônimo de Demiurgo (o arquiteto, criador de tudo) e/ ou de Nous - a inteligência divina. O espiritismo e a Kriya Yoga também fazem um diálogo com o cristianismo, pautando não um deus antropomórfico, mas sim o Deus criador, mantenedor e renovador onipresente. Afinal, o próprio Jesus disse: Deus é espírito (não de carne e osso), adorai-o em espírito (internamente, psiquicamente/ mentalmente)!
Conspiração/ Traição de Judas (Mateus, Marcos, Lucas)
(...) um dos doze, chamado Judas, que tinha por sobrenome Iscariotes, foi ter com os principais dos sacerdotes, e com os capitães, de como entregaria Jesus;
Então disse: Que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei?
Os quais se alegraram, lhe pesaram trinta moedas de prata e convieram em lhe dar (o) dinheiro.
E ele concordou; e buscava oportunidade para lho entregar sem alvoroço.
Esta passagem aparece antes da ceia, após o "jantar em Betânia" citado nos evangelhos de Mateus e Marcos e na "Conspiração contra Jesus" nos textos de Lucas. Aqui optei pela sequência mais próxima do evangelho de João. De qualquer forma, é apenas um detalhe, pois talvez essas passagens talvez nem sejam excludentes entre si: Judas poderia ter se reunido com os sacerdotes antes da ceia e voltado a se reunir com Jesus e os apóstolos por um tempo até se juntar à "turba armada".
Predição da Negação de Pedro/ Adeuses, Despedidas (Mateus, Marcos, Lucas, João)
E, tendo cantado o hino, saíram para o Monte das Oliveiras. Tendo ele (Judas Iscariotes), pois, saído, disse Jesus: Agora é glorificado o Filho do homem, e Deus é glorificado nele. Se Deus é glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e logo o há de glorificar.
Filhinhos, ainda por um pouco estou convosco. Vós me buscareis, mas, como tenho dito aos judeus: Para onde eu vou não podeis vós ir; eu vo-lo digo também agora.
Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis.
Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.
Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, para onde vais?
Jesus lhe respondeu: Para onde eu vou não podes agora seguir-me, mas depois me seguirás.
Disse-lhe Pedro: Por que não posso seguir-te agora?
Então (o Senhor) Jesus lhes disse: Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos. Todos vós esta noite vos escandalizareis em mim (me abandonarão); porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersarão. Mas, depois de eu ressuscitar, irei adiante de vós para a Galiléia.
Mas Pedro, respondendo, disse-lhe: Ainda que todos se escandalizem (te abandonem) em ti, eu nunca me escandalizarei (não te abandonarei). Por ti darei a minha vida.
Respondeu-lhe Jesus: Tu darás a tua vida por mim? Na verdade, na verdade te digo que não cantará o galo enquanto não me tiveres negado três vezes.
Disse-lhe Pedro: Ainda que me seja mister morrer contigo, não te negarei. E todos os discípulos disseram o mesmo.
Jesus menciona que seus apóstolos não poderão segui-lo, pois irá morrer, mas depois de propagarem os ensinamentos de amor de Cristo, irão se encontrar em outra vida/ no reino dos céus. E o que identifica os seguidores de Jesus, ou seja, os cristãos, é viver a lei de amor como ele explica: "Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros." Isto é amar a Deus e ao próximo como a si mesmo. E "o próximo" é qualquer um que esteja necessitado ou que aceite os ensinamentos de Jesus, mesmo que esse seja de outra cultura, religião ou nacionalidade de acordo com os ensinamentos de Jesus (vide as passagens do samaritano, do centurião e quando João reprime outra pessoa que admirava as obras de Jesus). Assim é nítido que nada adianta o suposto cristão sair citando que "Jesus é o caminho ou a porta" se não ele não vive a lei de amor a todos.
(Continuação de Adeuses, Despedidas) (João)
Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim.
Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também. Mesmo vós sabeis para onde vou, e conheceis o caminho.
Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho?
Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto.
Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta.
Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras. Crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim; crede-me, ao menos, por causa das mesmas obras.
Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai. E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei.
Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito (Intercessor, o Consolador), para que fique convosco para sempre; O Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós. Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós. Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais, mas vós me vereis; porque eu vivo, e vós vivereis. Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós.
Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.
Disse-lhe Judas Tadeu: Senhor, de onde vem que te hás de manifestar a nós, e não ao mundo?
Jesus respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada. Quem não me ama não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai que me enviou. Tenho-vos dito isto, estando convosco. Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.
Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não a dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.
Ouvistes que eu vos disse: Vou, e venho para vós. Se me amásseis, certamente exultaríeis porque eu disse: Vou para o Pai; porque meu Pai é maior do que eu.
Eu digo agora antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis.
Já não falarei muito convosco, porque se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em mim;
Mas é para que o mundo saiba que eu amo o Pai, e que faço como o Pai me mandou.
Levantai-vos, vamo-nos daqui.
Jesus diz que há muitas moradas na casa de Deus e indica que seus apóstolos podem ir para uma destas moradas após seguirem seus ensinamentos de amor universal. De acordo com o espiritismo, estas moradas são os mundos superiores das almas que reencarnam mais e mais próximas de Deus. Embora muitos possam entender estes mundos como algo espacial ou situado em alguns pontos do espaço, isso não é necessariamente verdade:
Tomé pergunta sobre o caminho para seguir Jesus; Felipe pergunta aonde está o Pai e Judas Tadeu pergunta de onde Jesus virá, que se manifestará para eles, mas não para o restante do mundo. São perguntas um tanto espaciais, ou seja, que consideram um mundo físico, palpável e certamente material. Certamente porque os apóstolos ainda não tinham entendido sobre a realidade espiritual/ psíquica a qual Jesus se referia. O espírito sendo imortal pouco ou nada depende do espaço tridimensional como normalmente concebemos e percebemos; Jesus fala que está no Pai em estado de união, praticamente como iogues e swamis do hinduísmo (sanatana dharma) explicam. O indivíduo que alcança um estado de perfeição espiritual está uno a Brahman (Deus), o Todo criador, mantenedor e renovador de todas as coisas.
Jesus explica que enviará o "paráclito" não para religiosos, mas para aqueles que seguem seu ensinamento de amor como explicado tanto no texto de João, como de Mateus, Lucas e Marcos.
O espírito da verdade (paráclito) é aceito no espiritismo - conforme o ensinamento dos espíritos durante o século 18, Ele se manifestou aos humanos. O espiritismo então, propaga suas palavras, não vindo para contrariar o cristianismo e sim para complementá-lo, conforme o progresso intelectual da humanidade que mudou muito desde a época de Cristo.
No trecho: “Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras. Crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim”, Jesus fala de transcendência, pois vivia apenas para fazer a vontade de Deus, portanto Deus foi reconhecível através das obras de Jesus e sua bondade perfeita. Este era todo o sentido da vida de Jesus - Servir a Deus propagando o bem, a lei divina de amor. O único caminho para se “ver” Deus é a bondade que acaba por transcender a existência na Terra, ou seja, o caminho é viver os ensinamentos de Jesus.
Quando o espiritismo explica que a experiência de êxtase (espiritual) é muito elevada e que o extático penetra mundos espirituais conforme seu progresso, exaltando a magnanimidade de Deus e relativizando a vida terrestre, ele se refere ao possível efeito transcendente de se viver o verdadeiro bem, de crer e praticar os ensinamentos de Cristo. Esta é uma experiência diferente (interna e/ ou externa) em relação à existência terrestre - certamente similar em algum nível com o que o divulgador científico, Carl Sagan, disse na explicação sobre a 4ª dimensão e "estar fora de sua experiência" (no ep.10 da série Cosmos).
Enfim Jesus diz “crede-me, ao menos, por causa das mesmas obras”, afinal aquele que ama o bem verdadeiramente, ama a Cristo e seus ensinamentos e também ama a Deus e o encontra em seu interior, em sua alma. Assim, aceita seu amor, vivendo para propagá-lo. Quanto mais a pessoa vive os ensinamentos de Jesus e confia nestes, menos ela irá turbar seu coração, ou seja menos será levada por desejos mesquinhos, ira ou medo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário