sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

As relações entre Lendas, Misticismo e Religião

 

Este texto na verdade é a junção de um monte de retalhos sobre temas de teor místico-religioso do Levante (costa mediterrânea do oriente médio), da Grécia e do Egito (bem pouquinho deste último) antigos, colocados numa ordem mais ou menos coesa. Como fiz um levantamento exagerado de informações "místico-religiosas" e afins para escrever sobre um cenário de RPG, estou compartilhando algumas semelhanças que existem entre estes conteúdos...

Mitologias/ Religiões da Grécia Antiga 

Quando ouve-se falar de mitologia helênica (mitologia grega), geralmente imagina-se criaturas fantásticas e deuses intrometendo-se na vida dos mortais. Os personagens, sejam deuses ou heróis, parecem cercados de tragédias, ambições e conflitos e a versão das histórias aparenta ser uma só. Mas na verdade existem mais versões das histórias lendárias e dos deuses. Mesmo porque a Grécia antiga não era um reino único e coeso: Eram cidades-estado independentes entre si, que só se aliavam em ligas ocasionalmente, sendo unidas como um único estado somente por volta do ano de 337 aC. 

A mitologia grega como ouvimos falar com mais frequência, ou com mais facilidade, é baseada nos poemas de Homero e de Hesíodo e conta histórias (ou lendas) que fazem parte de uma possível antiga religião politeísta da Grécia Antiga. Esta versão se trata apenas da versão mais popular da cosmogonia / religião da Grécia, onde os deuses são descritos de modo similar aos humanos: Agindo principalmente por impulsos, ganância e vaidade, portanto se envolvendo em diversos conflitos entre si. 

 

Outra versão da mitologia grega é o orfismo, uma vertente mística e tradicionalmente considerada criação do rapsodo (um poeta, mais lendário do que histórico) Orfeu, portanto possivelmente mais antiga que os poemas homéricos. O orfismo mostrou elementos considerados típicos das culturas orientais como a transmigração (reencarnação) das almas, além de apresentar diferenças na genealogia dos deuses quando comparada com os poemas de Hesíodo e Homero. 

Além das duas “correntes” citadas anteriormente, surgiram as versões mais novas difundidas pelos naturalistas/ filósofos pré-socráticos e por Sócrates. Estes filósofos procuravam explicações sobre a origem das coisas e rejeitaram em grande parte a explicação cosmogônica popular da Grécia antiga. Sócrates e Platão difundiram a ideia da imortalidade da alma (possibilitando a hipótese de reencarnação) e focaram na importância do Bem. A história da Atlântida contada por Platão e por outros filósofos também possuem algumas diferenças em relação à versão popular da antiga religião / mitologia grega. 

Enfim, estas versões descritas pelos filósofos pré-socráticos e socráticos trazem algumas semelhanças com as versões “materialistas” de Evêmero e de Filo de Biblos, onde os deuses, na verdade, foram antigos governantes poderosos da humanidade.

 

Poseidon (Netuno) O deus dos oceanos é tido como o personagem primordial na história da Atlântida, ou seja, a primeira divindade mencionada. Na versão popular (de Homero e de Hesíodo) Poseidon não é um deus primordial, pois é um dos filhos de Kronus e irmão de Zeus, mas há uma vaga semelhança com as histórias da Atlântida: Conta-se que quando Urano trouxe o círculo do zodíaco (outra possibilidade seria Aeon como um personagem distinto) para governar a Terra , ele teria destronado um deus (ou casal de deuses) dos mares: Ophion e Eurynome. Estas histórias, porém, podem mostrar um conflito / disputa de versões… Em Roma, Poseidon foi considerado Netuno. Na astrologia, Netuno é considerado regente da constelação de Peixes. 

Urano (Caelus) O deus dos céus faz parte da primeira geração de deuses na versão popular da mitologia grega. Ele e seus irmãos (incluindo sua esposa Gaia, a Terra) eram filhos de Khaos (o primórdio desconhecido). Urano teve 6 filhos e 6 filhas com Gaia: Os doze titanes theoi, ou seja, os titãs (talvez tenham alguma relação com os 12 signos do zodíaco). Embora na versão popular da mitologia Urano se mostra um personagem impiedoso, na versão (materialista, semi histórica) de Filo e de Evêmero, ele se redime posteriormente, ajudando Zeus a destronar o ambicioso Kronos. Também é interessante notar que mesmo na vertente popular da mitologia, entidades (deuses?) relacionados ao oceano governavam o mundo (ou universo?) antes de Urano, como citado anteriormente. Filo de Biblos conta que alguns sacerdotes fenícios da antiguidade misturaram a história dos reis (das civilizações em torno do Mar Mediterrâneo, como o Egito, a Grécia, a Fenícia etc) com eventos da natureza, como os climáticos, astronômicos etc. Esta versão misturada da história teria se tornado popular nas cidades-estado helênicas através dos poetas Homero e Hesíodo. A adição destes elementos climáticos/ astronômicos parece nítida na história/ lenda de Urano, de Gaia e de seus filhos titãs. Em Roma, Urano foi considerado Caelus. Na astrologia, Urano é considerado regente da constelação de Aquário. 

Kronos (Saturno) Um dos filhos de Urano, Kronos é considerado o titan theoi (deus forçado, ou deus que forçou muito, deus que deformou) da agricultura e da ambição. Ele teria punido seu pai por causa da forma que o mesmo tratava Gaia (mãe de Kronos) e então tomado a liderança dos deuses. Esta punição pode parecer um mero ato de violência, mas deve representar a idéia de separação do céu e da terra num processo de gênese do mundo ou do universo. Na versão da história da Atlântida, ele teria governado metade do mundo conhecido, enquanto Atlas governava a outra metade. Ainda nesta versão, o pai de Kronos, Urano, era um grande astrônomo/ astrólogo e não o céu propriamente dito. Na versão de Filo, baseada em escritas fenícias, Kronos foi rei do Império Egípcio (e possivelmente de uma ou mais cidades cananéias) em uma antiguidade distante. Em Roma, Kronos foi considerado Saturno. Na astrologia, Saturno é considerado regente da constelação de Capricórnio. 

Hades (Plutão) ? O filho de Kronos (e irmão de Zeus) é o deus dos mortos e do submundo. Não é necessariamente maligno, mas alguns autores criaram esta imagem sombria dele, como é mencionado na obra A República de Platão. Em Roma, Hades foi considerado Plutão. Na astrologia, Plutão é regente da constelação de Escorpião. 

Zeus (Júpiter) Na versão popular da mitologia, Zeus e seus irmãos, com a ajuda de algumas outras entidades, teriam vencido os titãs liderados por Kronos na guerra chamada de titanomaquia. Apesar de receber ajuda de sua esposa Métis para derrotar Kronos, Zeus, o deus dos céus e dos raios, ao suceder o titã na liderança do panteão, ficou receoso de perder sua posição recém-conquistada e a neutralizou. Assim, posteriormente Zeus casa-se com Hera. Na história da Atlântida é mencionado que o termo Zeus vem de Zis, que teria relação com bondade, piedade e com a palavra Zen. O que faz sentido na visão de Sócrates e Platão, que negavam que os verdadeiros deuses agiam por impulsos ou por mera vaidade, pois lideravam pelo bom exemplo. Filo menciona que Zeus é na verdade um título usado por Arotrios (que tem algum equivalente cananeu/ fenício) que talvez seja Jápetus e por Adodus (oriundo do fenício, Adad ou Hadad, divindade dos raios e trovões). Assim como na versão da história da Atlântida e do everismo, Filo menciona que Zeus derrotou o tirano Kronos... Em Roma, Zeus foi considerado Júpiter. Na astrologia, Júpiter é regente da constelação de Sagitário. 

Ares (Marte) Em algumas versões, Ares, o deus das guerras, é filho de Zeus e Hera. Hera foi cultuada em Argos e algumas outras cidades gregas ao menos desde o século 8 a.C. No mito, a rainha dos deuses dá o status de guardião a Argos Panoptes (o que tudo vê, um epíteto de Hélios também), que seria o filho do 1º rei mítico da cidade. Isto indica que sua importância na religiosidade é certamente mais antiga que o séc. 8 a.C. Ares por sua vez, foi descrito por alguns autores da Grécia antiga, como o deus principal da vasta confederação Cita (atuais Ucrânia, Rússia e Cazaquistão), sob o nome de Arash. Parte dos helenos colocaram sua origem na Trácia (Romênia) e consideravam-no um deus mais selvagem do que Athena, preferindo prestar culto à esta deusa. Em Roma, Ares foi considerado Marte. Na astrologia, Marte é regente da constelação de Áries. 

Hélios (Sol) Hélios não parece desempenhar um papel proeminente nos poemas de Homero e de Hesíodo. Porém aparece em um drama mais central na história da Atlântida e o Sol é mencionado como o maior representante do bem diante a Terra por Sócrates, no texto de sua obra “A República''. Após Roma conquistar os territórios dos antigos gregos, o culto ao deus Sol foi ganhando força (possivelmente começando pelas províncias orientais do império) chegando a se tornar o principal na religião romana… Em Roma, Hélios foi considerado Sol Invictus. Na astrologia, o Sol é regente da constelação de Leão. 

Afrodite (Vênus) Afrodite é filha de Urano na versão popular dos mitos gregos. Alguns autores a comparam com a deusa fenícia Astarte, esta que, por sua vez, apresenta semelhanças com a entidade mesopotâmica Ishtar… A deusa da beleza, às vezes considerada deusa do amor, também pode ser considerada a deusa da conquista. Em Roma, Afrodite foi considerada Vênus. Na astrologia, Vênus é regente da constelação de Libra (ou de Touro conforme algumas vertentes). 

Hermes (Mercúrio) Hermes é o deus da comunicação e das mensagens. Famoso nas representações gregas por carregar o caduceu (um bastão em torno do qual se entrelaçam duas serpentes e cuja parte superior é adornada com um par de asas), ele aparece como um sábio carregando o globo terrestre nas representações herméticas. Diferente da mitologia grega popular, na genealogia fenícia apresentada por Filo, Hermes foi conselheiro de Kronos e ambos teriam vivido na época de Athena, antes de Zeus Adodus subir ao poder. Em Roma, Hermes foi considerado Mercúrio. Na astrologia, Mercúrio é regente da constelação de Gêmeos. 

Selene (Luna) Selene é a deusa da Lua e irmã de Hélios, o Sol. Ela surge na tragédia de Hélios em uma das histórias da Atlântida, mas na vertente popular da mitologia grega, parece estar associada à noite e à “paixão-louca” pelo personagem Endymion. Endymion foi um pastor ou príncipe da Anatólia que foi colocado em sono eterno nunca mais envelhecendo, tornando-se assim, disponível para Selene. Os mistérios da noite e a paixão descontrolada de Selene por Endymion, podem indicar uma relação com o conceito de "lunático". Em Roma, Selene foi considerada Luna (que significa Lua). Na astrologia, a Lua é regente da constelação de Câncer. 

Gaia (Terra) A mãe dos titãs e de outras entidades foi esposa de Urano e avó de Zeus. É a deusa da Terra, possivelmente venerada pelas oráculos nas primeiras civilizações helênicas (antes do suposto ataque dos povos do mar do século XII aC e da Era das Trevas Grega). Em Roma, Gaia foi considerada a Terra. Na astrologia, a Terra é regente da constelação de Touro conforme algumas vertentes. 

O Judaísmo Místico, o Hermetismo e suas variantes 

A árvore da vida (resumidamente) é um diagrama usado em tradições místicas como no judaísmo e no hermetismo. Ela é composta de 10 partes ou frutos, chamados de sefirotes. Estas sefirot (no singular sefirá) representam arquétipos, ou sejam, estados do todo (a partir de uma visão macrocósmica) e estados da consciência humana (numa visão microcósmica). Para descrever a criação do universo, a árvore da vida deve ser lida de cima para baixo: 

Kether - a coroa, é o potencial puro das manifestações que acontecem nas outras dimensões. Representa a própria essência, atemporal e livre. É a gênese de todas as emanações canalizadas pelas outras sefirot. Conta-se que Deus, num gesto de humildade, olhou “para baixo” (possivelmente para o vazio?) e chorou, assim criando o universo. As lágrimas pelo outro, ou pelo próximo, é o gesto de suprema bondade que transcende os ciclos de criação e destruição… Originalmente relacionada a um ponto desconhecido ou secreto do universo, com o desenvolvimento da astrologia Kether passou a ser relacionada à Netuno. 

Chokmah - Sabedoria, se situa no topo da coluna direita, o pilar da misericórdia, conhecido como Abba, o grande Pai. Chokmah é a sabedoria e a energia pura ainda não materializada tendo caráter infinitamente expansivo. É o salto quântico da intuição, que deriva as manifestações artísticas. Analogamente, é o lado direito do cérebro, onde flui a criatividade e o mundo das ideias. De acordo com o Bahir: "A segunda (expressão) é sabedoria, como está escrito: 'YHWH me adquiriu no início de seu caminho, antes de suas obras antigas' (Pv 8:22). E não há 'princípio', mas sabedoria. Originalmente relacionada ao círculo do zodíaco (possivelmente as constelações), Chokmah passou a ser relacionada à Urano, após o desenvolvimento da astrologia. 

Binah - Entendimento, situa- se no topo da coluna esquerda, o pilar da severidade, é conhecida também como Amma, a grande Mãe. Binah é o entendimento, a primeira manifestação da forma sobre a força (Chokmah). Ela fez com que a força infinita de Chokmah se tornasse limitada, e com isso, equilibrando-se reciprocamente com ele. É a lógica que dá definição à inspiração e energia ao movimento. Analogamente, é o lado esquerdo do cérebro, onde funciona a razão, organizando o pensamento em algo concreto. 

Daath - Conhecimento Os primeiros três dos dez sephiroth são os atributos do intelecto. É o conhecimento e o abismo… do pensamento. Representa uma falsa sephirat porque não é uma emanação independente como as outras dez. Ela depende de Chokmah e Binah também é considerada como a imagem de Tiphareth. A revelação ou ocultação da Luz Divina que brilha através do Da'at não acontece apenas no próprio Da'at. A percepção do brilho da Luz Divina pode ocorrer claramente também em Malkuth, todas as vezes que os humanos se entregam (Altruísmo). No entanto, os humanos que permanecem egoístas não podem vê-lo, e para eles seus benefícios parecem "ocultos".

Chesed - Misericórdia, é a primeira sefirá do atributo da ação (emoção, o ato da mente expressar-se).  Chesed é a misericórdia e representa o desejo de compartilhar incondicionalmente. O Bahir declara: "Qual é a quarta (expressão): A quarta é a justiça de Deus, Sua misericórdia e bondade para com o mundo inteiro..." Chesed manifesta o absoluto de Deus, benevolência e generosidade ilimitadas sem preconceitos, a extrema compaixão. 

Geburah ou Gevurah - Julgamento (hebraico: גבורה, lit. 'força'), é a quinta sephirat na árvore cabalística da vida, e é o segundo dos atributos emotivos das sephirot. Emoção aqui não difere de ação, pois é colocar em prática o que estava no intelecto e na dedução. Representa o desejo de contenção e de questionador de impulsos, portanto é a força e possivelmente o julgamento em um sentido mais voltado ao discernimento, capaz de gerar responsabilidade. Canaliza sua energia por meio de objetivos, com o intuito de superar obstáculos e transformar a própria natureza. 

Tiphareth - Beleza Tiphareth é a beleza. Transforma em beleza Chokmah, Binah e Kether. A sabedoria e o entendimento, com a luz do conhecimento. Representa a divisão da árvore no microcosmo, o mundo inferior, o Eu Inferior. E as quatro sephiroth acima de Tiphareth são o macrocosmo, o mundo superior, o Eu Superior, sendo Kether a centelha divina. No Bahir está escrito: "Sexto é o adornado, glorioso e encantador trono da glória, a casa do mundo vindouro. Seu lugar está gravado em sabedoria, como diz 'Deus disse: Haja luz, e houve luz.' Tiferet é a força que integra a sefirá de Chesed e Gevurah. Essas duas forças são, respectivamente, expansiva (dar) e restritiva (receber). Nenhum deles, sem o outro, não poderia manifestar o fluxo da energia Divina; eles devem ser equilibrados em proporção perfeita, equilibrando compaixão com disciplina.

Netzach - Vitória ou eternidade, está relacionada à superação e/ ou a conquista através da tolerância ou da paciência. Netzach é a energia dos sentimentos, possivelmente relacionada à música e a dança. Existe a vontade de reciprocidade, a busca pelo próximo e a superação dos próprios limites, propagando o pensamento eterno. 

Hod - o Esplendor, representa o pensamento concreto. Hod é um canal de aprimoramento interno, de identificação com o próximo, sendo uma forma de aceitação do pensamento, de reconhecimento. A visão do Judaísmo chassídico de Hod é que ele está conectado com a oração judaica, esta, por sua vez, é vista como uma forma de "submissão". Hod é onde a forma é dada pela linguagem em seu sentido mais amplo, sendo a chave para o "mistério da forma".

Yesod - É o fundamento e representa o Plano Astral. Funciona como um reservatório onde todas as inteligências emanam seus atributos que são misturados, equilibrados e preparados para a revelação material. É compilação das oito emanações (as luzes das sefirot superiores) que consequentemente são canalizadas para o Malkuth abaixo. Assim, de acordo com a Cabala Judaica, Yesod é o fundamento sobre o qual Deus construiu o mundo, servindo como um transmissor entre as sefirot “acima” e a realidade “abaixo”. Desta forma, Yesod também está associado aos órgãos sexuais. A Yesod coleta as forças vitais das sefirot acima e transmite essas energias criativas e vitais para a Malkuth abaixo que as recebe. Por sua vez, é através de Malkuth que a terra pode interagir com a divindade.

Malkhut - É o reino e representa o mundo físico, onde é revelado o material compilado das nove emanações. É o canal da manifestação, desejando a recepção das sefirotes. É a distância de Kether que provoca esse desejo, criando a sensação de falta. Ao contrário das outras nove sefirot, é um atributo de Deus que não emana de Deus diretamente, mas ela ainda está na Árvore da Vida e, portanto, tem suas próprias qualidades espirituais únicas. Em vez disso, emana da criação de Deus - quando essa criação reflete e evidencia a glória de Deus de dentro de si mesma. A palavra pode ser traduzida ou identificada como comunicação positiva, realeza / dinastia real ou humildade. Costuma-se dizer que Kether (a sephira "mais elevada") está em Malkuth e Malkuth em Kether. Como a esfera receptora de todas as outras sephiroth, Malkuth dá forma tangível às outras emanações. A energia Divina desce e encontra sua expressão neste plano, e nosso propósito como seres humanos é trazer essa energia de volta ao circuito e subir de volta na Árvore. Malkuth também está associada ao Mundo de Assiah, o plano material e o "mais denso" dos 4 "Mundos" da Cabala.

  

 

O Zodíaco - Astrologia Ocidental? 

O zodíaco representa uma grandiosidade do universo material, por ser um “círculo” composto por grupos de sistemas estelares (constelações), e portanto, na astrologia, ao interferir nas mentes dos seres vivos determinando traços de personalidade, o zodíaco representa também uma grandeza espiritual. Como regra geral da astrologia, as mentes humanas, tratadas como a ponte entre seus respectivos corpos materiais e suas almas (ou espíritos), estão sujeitas aos estímulos, ou interferências destas constelações. A teoria da interferência de corpos celestes sobre a mente ou sobre o sistema nervoso é predominantemente vista como mística, ao menos até hoje. Alguns estudiosos, como Franz Mesmer, já tentaram demonstrar uma possível interferência (especulando sobre campos magnéticos e talvez gravitacionais), mas não obtiveram sucesso entre a comunidade científica durante o século 18. 

 Então retornemos às abordagens místicas / religiosas: Alguns autores, como M Schulman, descrevem os 12 signos do zodíaco como criações de Deus. Neste caso entende-se o Deus onipresente e onipotente, não só criador e organizador do universo, como também criador das almas. Esta entidade superior aparece em diversas religiões e filosofias ao longo da história da humanidade: no hinduísmo como Brahman, no judaísmo como Yhwh, no cristianismo como Deus, na filosofia pré-socrática como Nous (a mente cósmica) etc. Mesmo em religiões politeístas, este Deus superior aparece em certas doutrinas ou “vertentes”, como no orfismo da Grécia antiga etc. A superioridade aqui refere-se a uma mente eterna com vasto conhecimento de inúmeros milênios e empatia/ solidariedade praticamente infinitas. Por fim, tanto a filosofia socrática (que possui uma dose de espiritualidade ou religiosidade, pois não quebrou completamente com a antiga religião grega), como o judaísmo místico, especulam que Deus criou o universo por partes: Sejam emanações mais abstratas como as sefirot, ou mais perceptíveis como os sistemas estelares e seus respectivos astros. É uma criação do todo, ou de uma enorme força em expansão, para partes / corpos menores. 

 
Signos - Os Aspectos Mentais do Universo 

Se as constelações têm traços mentais, elas foram identificadas por tais características. Porém os nomes pelos quais as conhecemos não parecem demonstrar tão bem personalidade, ou arquétipos psíquicos (aspectos mentais ancestrais, não estou falando necessariamente da teoria de Jung aqui)… Obviamente isso se dá pelo momento histórico, capacidade de entendimento das pessoas de determinados lugares e épocas… A classificação com maior precisão não é a mais popular onde a maioria dos signos são representados por animais: É a classificação por “elemento” e “estado”. Os 12 signos são na verdade 4 “elementos” e cada um destes elementos podem ser encontrados em 3 “estados”. Os 3 estados / fases dos 4 elementos (Composição dos signos em sequência): Cada signo é uma abreviação, ou um tipo de símbolo, que resume determinado conjunto de características. Originalmente eles têm 4 campos (chamados de elementos) e 3 estados (que também possuem um vago elo com intensidades)… Os 12 signos têm uma semelhança com o karma hindu e com o conceito espírita de que os seres vivos (principalmente o ser humano ou “vida inteligente”) recebem funções (papéis) e/ ou certos destinos no decorrer da(s) vida(s). 

Campos: 

Fogo = Refere-se ao campo das Emoções. Emoções são expressões dos sentimentos, ou seja, o que a pessoa sente e exprime de modo que possa ser notado por outros. 

Ar = Refere-se ao campo dos Pensamentos. Raciocínio, memória e tipos de conteúdo que geralmente ocupam a mente de cada pessoa; 

Água = Refere-se ao campo dos Sentimentos. Tudo que a pessoa é capaz de sentir e intuir. Crença, fé e inspiração (ou a falta destes) também fazem parte deste grupo. 

Terra = Refere-se ao campo das Atitudes. A atitude aqui significa o comportamento possivelmente relacionado ao pensamento e aplicado ao “mundo corpóreo/ material''. Também inclui jeito, postura etc. 

Estados: 

Cardeal seria o elemento conceitual ou se formando: O campo nascente, inicial. Talvez possa significar rústico e primordial também. 

Fixo seria o elemento abundante e/ ou intenso: O campo contínuo, cheio e possivelmente (ao menos em alguns casos) profundo também. 

Mutável seria o elemento se transformando ou migrando: O campo transitante, que passa da pessoa ao seu exterior, às outras pessoas. Talvez seja o que causa mudanças também. 

As combinações / resultados dos 4 elementos em suas 3 “fases” geram os 12 signos. A seguir estão os 4 elementos e seus significados (positivo, “neutro” e negativo): 

Signos referentes à ação baseada em sentimento (emoção)/ as expressões sentimentais 

Fogo Cardeal (Áries): Sincero, criativo, Direto, espontâneo, Impulsivo, violento 

Fogo Fixo (Leão): Amigo, honrado, Líder, guia, Orgulhoso, rival 

Fogo Mutável (Sagitário): Solidário, feliz, Livre, Intolerante 

Signos referentes às idéias, ao pensamento e ao raciocínio 

Ar Cardeal (Libra): Justo, empático, Social, pacato, Superficial, hesitante 

Ar Fixo (Aquário): Progressista, evolutivo, Revolucionário, Destrutivo, tumultuador 

Ar Mutável (Gêmeos): Diplomático, instrutor, Comunicativo, Ingrato, esquecido 

Signos referentes à percepção, ao sentimento e ao acreditar 

Água Cardeal (Câncer): Acolhedor, Sensível, Ressentido 

Água Fixa (Escorpião): Amoroso, profundo, Sensitivo, Rancoroso, vingativo 

Água Mutável (Peixes): Inspirador, encorajador, Vitimista, desesperado 

Signos referentes aos corpos, à vida e às expressões materiais 

Terra Cardeal (Capricórnio): Responsável, Gestor, Ganancioso, opressor 

Terra Fixa (Touro): Fiel, agradável, Perseverante, trabalhador, Possessivo, consumista 

Terra Mutável (Virgem): Humilde, reparador, Perfeccionista, Pessimista.

Como mencionei neste texto: https://nea-ekklesia.blogspot.com/2021/01/moda-uma-verdade-fabricada-ha-milenios.html, a astrologia também virou moda. O problema não é exatamente a superficialidade com que falam do assunto. O problema é charlatanismo e outras enganações realizadas por certos astrólogos. De tudo que mostrei aqui, o que importa é quem rege a personalidade,  ou seja, a pessoa. Os signos regidos pelos "astros" são simplesmente caminhos de cada pessoa para se viver O Bem (humildade, sinceridade, solidariedade etc...) Afinal, conforme o orfismo e o judaísmo, os astros como criação de Deus, mostram que esse tema "místico" não deve ser separado da espiritualidade/ religiosidade, ou do progresso do Bem. Enfim, quando se trata da criação (ou do surgimento) do cosmos, de Deus, arcanjos, e outras poderosas / grandiosas entidades mais mentais por trás dos movimentos dos corpos celestes, tudo parece bastante subjetivo. Isso se dá pelo fato de abordarmos conceitos vastos (desde sentimentos, pensamentos e expressões até a matéria) e geralmente distantes (ao menos no sentido físico, já que trata-se também de constelações e astros). Mas apesar de toda subjetividade é possível notar as semelhanças entre a mitologia / religião grega, o misticismo judaico / hermético e a astrologia ocidental.



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