domingo, 2 de janeiro de 2022

Possíveis relações da Mente com o Universo - Parte 1

 

Esta é a primeira de longas reflexões que eu fiz sobre mente humana após meses de experiências (chamadas de mediúnicas em certos meios espiritualistas). Em resumo, eu passei pouco mais de uma década de minha vida (aproximadamente dos 20 aos 35 anos de idade) como um cético, ateu em prática. Mas após experiências mediúnicas que me causaram significativo sofrimento, e que, muitos me classificariam como esquizofrênico ou louco, eu senti a necessidade de me dedicar a espiritualidade. Ainda assim, achei bastante ilógico desconsiderar as tentativas de explicações sobre a mente e seus fenômenos mais "polêmicos", então escrevi uma série de reflexões...

Reflexão sobre Expansão e Extensibilidade da Mente 

Existem duas possibilidades de desenvolver as capacidades mentais de um ser vivo (particularmente o ser humano): Racionalmente, resolvendo problemas, pesquisando soluções e desenvolvendo novas ideias / projetos e sentimentalmente, colocando-se no lugar de diversos outros seres vivos, e imaginando suas motivações, percepções e reações, principalmente no lugar de outros seres de intelecto complexo (como o homo sapiens na Terra por exemplo). Note que se trata de um desenvolvimento do pensar (entender fatos, eventos etc) e do sentir (não apenas os sentidos do indivíduo, mas também os sentimentos próprios e alheios). Apesar de diferentes, o desenvolvimento racional-mnemônico e o sensitivo-intuitivo não são excludentes entre si. 

Um possível exemplo é quando estuda-se ideias, conceitos, dogmas, filosofias, teogonias e religiões. O estudo através da leitura e interpretação de textos geralmente é racional ao menos inicialmente. A partir do momento em que o estudioso dedica-se à prática de um ou mais temas estudados ou a partir de um momento de profunda reflexão sobre tais assuntos, as duas formas de desenvolvimento (racional-mnemônico e o sensitivo-intuitivo) aproximam-se entre si. 

A aquisição de conhecimento aliada à prática de entender “o próximo” pode ser tratada como uma forma de expansão e/ou extensão da mente. O termo extensão parece mais utilizado no segundo caso, também como sinônimo de solidariedade e ágape. 

A prática da solidariedade / ágape é uma maneira de exercitar o entender dos seres humanos além das necessidades e desejos individuais, além de ser uma maneira ou oportunidade de criar um elo saudável, onde não há foco em cobrar a pessoa que recebe a ajuda. 

Existem maneiras diferentes de expandir a mente no campo sensitivo-intuitivo, mas esta é uma das mais intensas: É onde há a possibilidade de conhecer a fundo não só os problemas da pessoa que está a receber a ajuda, mas também suas experiências, motivações etc. 

Obviamente se tratando de uma relação interpessoal, o processo geralmente não é simples: Quanto mais ou maiores os problemas da pessoa que recebe a ajuda, mais desafiadora será a prática da extensibilidade. 

Importante notar que pessoas em necessidade, seja sócio / econômica, afetiva etc, geralmente vivem em grupos como famílias ou comunidades e são também uma realidade social em muitos países, portanto também são um “problema” de grande abrangência nestes territórios. Tal problema pode exigir um desenvolvimento mais intelectual / racional, principalmente por pessoas da área de assistência social que precisam encontrar soluções para auxiliar estes grupos de pessoas… Enfim, ajudar uma comunidade ou uma pessoa são práticas de extensibilidade da mente humana. Em geral entende-se que é mais difícil um indivíduo ajudar uma comunidade inteira, a menos em caso deste indivíduo ter recursos que facilitem uma intervenção para auxiliar o grupo, como um alto posto político e/ou econômico. 

 Limites da Extensibilidade 

Em geral, o indivíduo pode se ocupar gerando a possibilidade de inclusão de uma ou mais pessoas necessitadas na sociedade ou até buscar um bem estar social das comunidades. 

Para isto é necessário certo grau de empatia, afinal uma pessoa sem esta qualidade não vê motivos para ajudar o próximo, seja uma pessoa ou uma comunidade toda. 

Este exercício de ajudar o próximo, numa escala menor ou maior, é contínuo e cedo ou tarde requer que mais pessoas o pratiquem. Por exemplo uma população sem visão da amplitude de toda sua nação (sociedade) tende a ser ignorante, exploradora, intolerante e até mesmo separatista, pois a mentalidade e comportamento contrários à extensibilidade é o pensar apenas em si mesmo (egoísmo, individualismo) e a cobrança (de uma recompensa, taxa etc) antes de prestar qualquer tipo de auxílio ao próximo. 

Similaridades e Relações entre Expansão e Projeção da Mente 

 Teorias espirituais e religiosas levam a extensibilidade além dos agrupamentos humanos, sejam eles vilas, cidades ou até nações. Em muitas delas a mente humana se estende além do corpo, seja antes, depois ou até mesmo durante a vida na Terra. 

Parece algo muito diferente dos pensamentos e sentimentos voltados às outras pessoas e a sociedade, mas na verdade esta diferença é mínima, pois alguns filósofos ao longo da história, já fizeram esta relação. O filósofo dinamarquês do período iluminista, Soren Kierkegaard, por exemplo, identifica 3 estágios da existência humana que variam de acordo com as visões de mundo e as experiências particulares de cada pessoa: 

 O 1º estágio é o estético, no qual o prazer momentâneo do belo e do desejo imediatista satisfeito é o que garante a “felicidade” ao ser humano. É descrito como o paraíso das experiências sensoriais e do ponto de vista mais religioso, também é o estágio onde predominam o pecado e o desespero (não necessariamente no sentido de medo, mas possivelmente a falta de esperança). 

O 2º estágio é o ético, que, ao suceder o estágio estético, garante uma evolução na condição humana. Neste estágio o ser vai abandonando seus prazeres e gostos pessoais por haver encontrado nas leis da moral e da conduta universais um patamar melhor para sua existência. A pessoa que entra no estágio ético, compreende que as leis, ainda que de forma um tanto abstrata, são mecanismos que limitam o comportamento humano e que podem ser um guia na racionalidade. A moral e a ética levam o indivíduo a aceitar uma certa limitação e desse modo o peso da culpa faz-lhe distinguir o próprio ser de forma individual. Aqui o ser pode aprender o valor da vida. 

Por fim, no 3º estágio, o religioso, é o mais difícil de ser assimilado. No estágio anterior, o ético, podem surgir pensamentos ou sentimentos de dúvida, de culpa ou de inconformidade que farão a pessoa regredir ao estágio estético, ou avançar ao religioso (aqui podemos usar a palavra estágio espiritual, mesmo porque, Kierkegaard era bem crítico à igreja protestante de seu tempo). O estágio ético é como uma mola propulsora que não permite à pessoa ficar apenas naqueles padrões de compreensão. Ela necessita mais. E essa transição para o religioso é difícil e dolorosa, assim muitas das vezes, a pessoa adere ao que lhe parece mais confortável e fácil, retornando ao primeiro estágio, o estético. Porque, para se garantir o alcance definitivo do estágio religioso, a pessoa necessita se comprometer com a própria fé e nunca duvidar ou retornar ao ponto de partida, o primeiro estágio. A crença em um Deus vivo e forte, não somente em uma imagem ou pensamento, mas um Deus supremo e no qual o Amor é representado de forma íntegra, o único caminho, a Verdade suprema. Uma compreensão que muitas vezes fere o próprio ego, mas que ao ser atingida no estágio religioso, serve de guia a uma existência engrandecedora e verdadeira. 

Portanto, a mente que busca o conhecimento e o bem, ainda que seja de modo abstrato, pode se estender além do corpo, sendo assim, indissociável do conceito de extensibilidade como conjunto empatia e ágape / solidariedade. 

O estado mental de pureza e de compreensão do todo é representado nas religiões em esquemas gráficos ou em imagens de profetas, santos, enfim, de personagens da religião: 

A “coroa” vista no topo da árvore da vida do judaísmo e no mais elevado chakra do hinduísmo, o disco acima da cabeça nas imagens egípcias de deuses e faraós e as auras em torno da cabeça nas imagens de Jesus e dos santos no cristianismo é uma representação desta expansão mental / desta extensibilidade. A mediunidade do espiritismo e da umbanda, assim como o tonali da religião asteca, é a abertura e a expansão da mente nesta maneira. 

Mas criar uma representação visível da bondade e de um conjunto de dons tidos como sobrenaturais faz sentido? Ora, tanto a bondade, como as histórias de pessoas capazes de realizar milagres e outros feitos aparentemente inexplicáveis existem desde antes da história escrita (iniciada aproximadamente em 3500 aC), então obviamente uma forma de registrar tais coisas é representá-las de alguma forma nas artes como nas pinturas e nas esculturas. 

Se estes registros existem desde antes da história da escrita seriam todos eles mentiras? Superstições? Provavelmente não. 

Talvez enquanto o ser humano não realiza o desenvolvimento racional-mnemônico e principalmente o sensitivo-intuitivo, ele não pode perceber nada além da curvatura espaço-tempo. As mentes desenvolvidas desta maneira e as mentes que de alguma forma se mantém coesas após o desencarne, naturalmente “se deslocariam” para uma dimensão além do espaço / tempo conhecido (plano astral, 4ª dimensão etc), ou talvez, seja uma matéria (elemento ou radiação) inicialmente imperceptível para a maioria dos seres humanos. 

Talvez o fato da glândula pineal ser um fotorreceptor interno na cabeça do ser humano tenha alguma relação com as matérias / elementos / radiações imperceptíveis e com as mentes desencarnadas / espíritos. 

Verdadeiras Religiões - A mente se expandindo e conectando-se à algo maior: 

No judaísmo místico cada uma das ordens de espíritos (anjos) está situada em uma zona do cosmo representada por uma zéfira (gema ou fruto), separadas em 4 níveis: 

Atziluth: plano da emanação; onde Deus age diretamente (praticamente só, o mistério / paradoxo da mudança do imutável ao mutável); 

Beriah: plano das criações; onde espíritos superiores (expandidos?), os anjos, começam a perceber suas existências distintas de Deus; separado de Atziluth pelo abismo (ou reflexo, pseudo sefirat) do Daath. lar dos arcanjos (permanentes); 

Yetzirah: plano das formações dos elementos e da vida material; onde os anjos (temporários) agem. Onde define-se o bem e o mal. O bem ganha força para superar o mau após dedicarmos a fazer o bem para os outros. Pode ser percebido ao falar (orar) para Deus, ou a estudar o Torá; 

Asiah: plano das ações (Malkhut), representando a existência material. Os ofanin (Ishim?), liderados por Sandalphon, ouvem e apoiam esforços contra o mau. Espiritualidade e piedade são transmitidas a este mundo, onde os poderes obscuros e impuros espreitam. 

O espelho ou abismo do Daat está no espaço entre o nível Beriah e o Atziluth. Somente num momento de verdadeira solidariedade / piedade e certeza(?) / Harmonia / gratidão? (Alegria e gratidão por ser solidário ou piedoso) é possível ver o (reflexo do?) Kéter. 

Isto parece explicar alguns outros processos mediúnicos, pois na religião asteca por exemplo, a abertura do tonali (a alma do topo da cabeça) deixaria o indivíduo (certamente um típico religioso ou sacerdote) vulnerável aos tanto aos espíritos maus como aos bons. 

No espiritismo, a necessidade de progredir (progresso este inseparável da humildade e da solidariedade) são ressaltadas para que o médium receba orientações e consolações de bons espíritos. 

A busca por algo além da vida e do universo material pode gerar um efeito desconfortável de “vazio” psicológico, chamado aqui de escorregão mental. Talvez forçando uma região do cérebro (tálamo, glândula pineal?) numa tentativa de perceber ou projetar dados / informações da mente além da curvatura espaço / tempo, o escorregão então geraria um breve “vazio”. Com insistência, (mas sem desenvolver empatia, praticar solidariedade, ágape?) breves contatos com dados mentais (vibrações ou espíritos) mais próximos à Terra, ocorreriam. Estes podem ser interpretados como mentes que se projetaram além do corpo, mas permanecem perdidas ou apegadas à Terra. 

“Dentro do judaísmo místico” estariam estas mentes em Asiah ou até mesmo em Yetzirah? Talvez uma experiência profunda como o êxtase ampliaria muito o alcance da mente? 

As Dimensões da Mente e suas Projeções 

De fato estas dimensões não possuem estruturas fáceis de se entender como as 3 dimensões do universo material conhecido até então. Devem ser alcançadas com um tipo de expansão mental, pois as dimensões chamadas de 4ª ou de plano astral estão ligadas a um tipo de movimento em várias (ou todas) direções “para fora” (expansão / explosão) enquanto a retração mental estaria ligado ao universo material ou a um espaço “sub” vinculado à todas direções para “dentro” (contração / implosão)? 

Explicar experiências psíquicas que alcançam além de nosso corpo é difícil por várias razões… Talvez a partir de determinado ponto de percepção ou conhecimento das dimensões (além da curvatura espaço tempo), geram-se aberturas que podem atrair as mentes projetadas / desencarnadas. Quais tipos de mentes serão atraídas varia conforme os sentimentos do “ser material”… 

Funcionaria como uma lei natural de reação à projeção de pensamentos, sentimentos, memórias, conhecimentos etc. Ou talvez como um tipo de magnetismo que atrai o que se assemelha (ou o que está relacionado), o que explicaria a teoria do magnetismo animal proposta por Franz Mesmer no século 18. 

Como mencionado anteriormente o movimento de extensão e/ou expansão seria relacionado à ágape, abrir-se a outras mentes e se dispor a perdoar. Enquanto o de retração seria o individualismo, o egoísmo e o preconceito / intolerância… 

Para entender melhor as possíveis “dimensões” da mente, é útil recorrer a alguns autores: 

O filósofo grego do século IV aC, Sócrates, afirmou que é importante sempre buscar o bem (kalos, que abrange o bem e o belo, similar ao inglês "fine"), e que só assim se encontra ou se aproxima da verdade. Todo estudo e todo conhecimento deve ser voltado ao bem senão tende à falsidade ou à inutilidade. Os mais belos e mais verdadeiros prazeres estão associados à inteligência e à sabedoria, aspectos da mente, que por sua vez, só encontra a verdadeira beleza no bem. 

Sócrates, chamando a mente de alma (psique), afirma que ela é imortal. Três de seus argumentos são: Tudo existe através de relações. (sim, tem semelhança com a teoria geral dos sistemas, desenvolvida 24 séculos depois) Portanto a existência do frio e do calor são interdependentes, assim como a existência dos corpos grandes e dos pequenos, do egoísmo e do altruísmo etc. Estas relações parecem se apoiar em uma dualidade ou em oposições. Assim a vida existe por causa da morte e vice-versa. A mente (alma) do vivo deve “morrer” e a mente do morto deve reviver (nega a inexistência, assim como outros filósofos também negaram). Os opostos não existem simultaneamente, pois isto seria o estado de caos (teoricamente anterior a existência do universo), provavelmente citado por Anaxágoras e presente no mito de Khaos, a entidade que deu origem aos “primeiros deuses” da mitologia grega. 

As reminiscências podem trazer lembranças ou associações de uma vida anterior ao nascimento da pessoa, ou seja, de outra vida, outra encarnação. 

O que pode fazer dano à mente (alma) é o vício, mas mesmo o vício que pode degenerar tanto a mente, não é capaz de destruí-la por completo, portanto a alma é imortal. 

Os pensamentos e sentimentos existindo fazem da mente alguma coisa. O psicanalista suíço, Carl Gustav Jung, afirma isto e também diz que o fato de não conseguirmos medir a mente não deve nos impedir de estudá-la. Jung reconhece a repetição de comportamentos e de certas crenças através das gerações de seres humanos como um elemento ligado ao inconsciente da mente. O inconsciente não seria formado apenas por impulsos primitivos de sobrevivência e de memórias e sentimentos reprimidos, ele também tem a ligação com a possibilidade de uma “memória” além da vida intrauterina, e portanto, com uma função transcendente. No inconsciente também existem um desejo de comodidade que tende a ser estagnante e uma força criativa, que pode ter ou receber inspirações pelo fato de estar conectada com o que existe ou existiu além da vida intrauterina de cada pessoa. 

Porém Jung entende por transcendência uma espécie de harmonia entre o inconsciente e o consciente. O consciente que está ligado não só ao ego (o Eu, ou “self”), às normas sociais, mas também ao viver o presente, às percepções e interpretações “em tempo real” etc. 

De acordo com Sócrates/ Platão tudo o que é visível (entende-se tudo que é capturado por um dos 5 sentidos) é mutável, podendo ser composto e decomposto. A alma/ mente seria (ao menos quando afastada dos sentidos do corpo material) imutável, por isso seria imortal. 

Considerando que a expansão da mente pode se dar pelo desenvolvimento racional (muito estudo) e pelo desenvolvimento sentimental (uso da empatia, buscar entender o próximo etc), esta expansão de um modo mais literal ativaria um outro sentido. Talvez relacionado ao que antigas culturas afirmavam sobre o “olho da mente”, localizado na glândula pineal, no tálamo ou em algum outro ponto “dentro da cabeça” etc… 

Este sentido passaria a detectar sentimentos e manifestações sutis de origem eletromagnética ou de origem em algum comprimento de onda que não era percebido até então. 

Imutável x Mutável? 

O conceito de uma entidade eterna onipresente (imutável) é totalmente distinto do plano material onde todos seres e objetos estão submetidos ao espaço e tempo (mutável). 

O supremo Deus do judaísmo, do orfismo (grego), possivelmente também do hinduísmo e do politeísmo fenício (cananeu) teria(m) criado o universo, gerando (ou “movendo”) o tempo (e o espaço “físico”?) 

Se dimensões “mentais / espirituais” como a “quarta” ou o "plano astral" forem mais próximas de Deus, seriam elas atemporais? Seriam apenas conectadas (ou as próprias conexões) entre mentes encarnadas e projetadas, ignorando os efeitos do tempo? 

Do ponto de vista da mente humana, a transição do imutável ao mutável, seria uma mudança / transformação constituída de contradições, assim como parece contraditória a passagem da existência à não-existência ou vice-versa. Estas contradições já foram discutidas por filósofos da Grécia antiga, talvez de maneira pouco ou nada frutífera, já que tratam de assuntos extremamente complexos e distantes das questões da vida na Terra. Atualmente, cientistas que tentam desvendar sobre o surgimento do universo são os que mais se aproximam de temas deste nível, mas através de métodos científicos, sejam baseados no empirismo, na teoria geral dos sistemas ou outro meio "mensurável"… 

Expandindo a Mente além da Solidariedade e da Piedade 

Analisando a árvore da vida judaica de baixo para cima encontramos 3 zéfiras acima de Chesed (a Piedade). Possivelmente o tema central da doutrina de Jesus Cristo, Chesed/ piedade, também representa a ágape e o ato de auxiliar o próximo sem esperar recompensa. Acima deste conceito de ágape estão as zéfiras de Binah (o Entendimento), Chokmah (a Sabedoria) e Kether (a “Coroa”). O Entendimento e a Sabedoria estão relacionadas a outras antigas religiões com elementos astrológicos (Grega e Romana): O Entendimento está relacionado à Saturno (comparado com Kronos da religião grega) e a Sabedoria com Urano (comparado com Caelus da religião romana). Na astrologia estes planetas representam a mente superior, talvez a mente além do corpo humano que se aproximam da Mente Cósmica / de Deus. Por fim o Kether está relacionado à Netuno na astrologia (talvez isto explique porque no mito grego da Atlântida havia uma posição especial para Poseidon, a divindade comparada com Netuno) e o ponto mais alto da árvore da vida, a zéfira “mais escondida” no universo. Em alguns textos judaicos o Kether representa a humildade de Deus que cria o universo. Ao “olhar para baixo, suas lágrimas” representam a tristeza sincera pela situação de dor / vazio do próximo e a duradoura esperança. Aqui possíveis interpretações são que Deus dá uma chance (eternamente) a cada ciclo de renascimento do universo… Um estado mental além da solidariedade, a tentativa de ajudar aqueles que se perderam e a esperança que transcende os renascimentos cósmicos. 

Como este processo de expansão mental é um processo de evolução, ou de desenvolvimento, ele pode ser árduo e para a maioria das pessoas deve ser bastante lento, isto quando ocorre. A dificuldade está em desenvolver variados aspectos da mente, como a racionalidade e o sentimento. 

 Logicamente, muitas das lideranças do sistema socioeconômico dominante, irão preferir que a maioria das pessoas não desenvolva tais aspectos mentais. Na verdade, o lado racional é permitido, desde que se atenha às tarefas específicas e limitadas, como uma profissão. Já o lado sentimental é permitido desde que possa ser manipulado, seja por propagandas consumistas, religiosas conservadoras, discursos de medo, paranoia etc. 

Além disto, é possível que aconteça algum tipo de isolamento psicossocial quando o indivíduo desenvolve qualquer um destes aspectos mentais em demasia (em comparação à maioria da população). Este desenvolvimento mental em demasia pode parecer pura especulação, pois o conhecimento neste campo envolve complexos estudos do cérebro e possivelmente experiências e dados inconclusivos, mas mesmo assim, assumindo que existe a tal neuro-plasticidade, ela pode ter um limite. Ultrapassado este limite pode ocorrer a síndrome do burnout, que tida como um desgaste profissional, na verdade pode estar vinculada ao excesso de atividades racionais ou de racionalização da mente. Por um outro lado, síndromes como a despersonalização podem estar relacionadas a um desequilíbrio nos aspectos sentimentais. 

Apesar das possíveis dificuldades do processo de expansão mental, é possível perceber que os processos positivos ou expansivos estão em “sair de si mesmo”: Buscar conhecimentos novos, relações novas, sentimentos profundos com uma outra pessoa, ou mesmo novos sentimentos com grupos maiores de pessoas. Os processos positivos mais internos são a reflexão sobre os próprios sentimentos, sobre as experiências individuais ou mesmo sobre as experiências coletivas. Já os negativos estão em fechar-se em si mesmo, seja isolando-se ou impondo seus sentimentos e pensamentos sobre outros. Oprimir, ameaçar, agredir o próximo são manifestações externas dos processos negativos. 

Logo é possível entender por evolução, os processos positivos, por uma questão óbvia: Embora estes processos pareçam subtrair dos indivíduos como no caso de “doar-se”, ao demonstrarem sentimentos POSITIVOS, eles ADICIONAM ao todo, ou seja, nas relações com todas as coisas, rumo a algo literalmente maior, expansivo. Além disto, se um indivíduo doa seu conhecimento ou sua atenção e emoções a(s) outra(s) pessoa(s), forma-se uma relação, e, independentemente de sua duração em tal processo pode existir uma troca de informações, conhecimentos, afetos etc. 

Logicamente os processos NEGATIVOS, de um modo geral, SUBTRAEM do todo, das relações e são típicos da rivalidade, da ignorância (inclui negacionismo) da ganância etc. 

Portanto, "expandir conectando” deve ser a verdadeira evolução de todas as coisas. Conectando pessoas, seres vivos com o ambiente, estruturando as forças psíquicas, sociais, biológicas, eletromagnéticas do universo, continuando o processo de expansão cósmica sem colapsar… 

Bhakti-Yoga, as Filosofias e as Ciências 

O Bhakti-Yoga é um dos ramos da Yoga (união da mente e do corpo em um contínuo único), conhecido como caminho do amor, que leva à auto-realização, ou à comunhão divina, através da devoção. Como o próprio nome indica, este caminho não consiste em um simples fervor (fanatismo) nem em um mero desejo de explorar ou de conquistar: O Bhakti-Yoga requer uma postura não-interesseira, como a humildade, para adquirir a compreensão do absoluto. 

Embora possa ser visto como uma vertente religiosa devido a suas origens em um processo de restauração e reforma do hinduísmo medieval (século VIII), o Bhakti-Yoga também é um caminho de desenvolvimento psíquico (mental) e portanto, também um método de aquisição de conhecimento. 

Este método mostra que a mente material é a diretora dos sentidos materiais e que apesar de podermos controlá-la, raramente o fazemos. Isto ocorre porque a mente material é um reservatório, de certa forma, constituído de uma sequência de pensamentos e sentimentos condicionados pela própria lógica e com estímulo dos (cinco) sentidos. 

O ser humano tende a considerar que a mente material é o “eu”, mas o Bhakti-Yoga nomeia de Jivatma a verdadeira consciência (ou o verdadeiro “eu”) que conecta a mente material com o absoluto (Krishna). Em seu estado natural ou ideal, o jivatma deveria controlar a mente material e não o contrário. Isto se assemelha com os conceitos de mente superior e de mente inferior apresentados por Sócrates na civilização helênica do século IV antes de Cristo. 

A comparação da mente material com o “eu” pode ser notada em teorias psicológicas como a psicanálise de Freud e até mesmo na psicologia analítica de Jung. Apesar do último se aproximar mais das teorias orientais, ao considerar que o inconsciente conecta a algo maior, ao que ele chama de inconsciente coletivo… 

Isto aconteceu porque nenhum dos dois pesquisadores quis se afastar em definitivo das correntes científicas dominantes de sua época: o empirismo (monista e/ou materialista) e o racionalismo. Mesmo assim, ambos são poucos aceitos por “cientistas” empiristas e monistas materialistas. Neste caso, o termo empirista refere-se a uma filosofia, mesmo porque em sua origem (durante o período iluminista), tanto o empirismo como o racionalismo eram de fato teorias filosóficas. Além disto, cientistas que aceitam apenas estas teorias científicas, negam tantas outras, reduzindo a “ciência” a uma ou duas correntes teóricas de séculos atrás, o que pode e deve ser considerado um reducionismo. 

O primeiro estudioso a tentar avançar além do racionalismo e do empirismo (na história ocidental), foi o matemático e filósofo, Edmund Husserl, ao desenvolver o método investigativo da fenomenologia. A partir de seu método, que aparentemente foi aceito por alguns cientistas, surgiu a terceira frente da psicologia (as abordagens fenomenológicas), ao lado das frentes psicanalíticas e comportamentais. A fenomenologia surgiu da necessidade de enxergar o todo e da necessidade de “sentir o que o próximo sente” no processo de estudo ou de comunicação entre o “analista” e o “objeto” analisado (este processo chamado de “projeção de consciência” é de certa forma transcendental, pois requer o abandono de preconceitos e a busca por entender o próximo). 

No Bhakti-Yoga o conhecimento do absoluto deve descer diretamente do absoluto, que talvez possa ser considerado “o todo”. Porém é útil destacar que isto vai de encontro ao conceito de Deus do hermetismo e do misticismo judaico: O conhecimento do absoluto sai do imutável (Deus eterno e onipresente) e chega ao mutável. O mutável possivelmente é o “universo onde o tempo passa”, ou seja o universo em 3 dimensões / o espaço-tempo continuum. 

Na religião órfica e nas filosofias da Grécia Clássica, este processo também é mencionado: O orfismo mostra que Ananke (a necessidade), gerou Chronos (o tempo) e tanto os filósofos naturalistas (pré-socráticos) como os filósofos socráticos citavam um Deus supremo como criador do universo. Portanto Nous, a mente cósmica, citada por Anaxágoras seria esse Deus supremo e imutável que organizou o universo, enquanto Sócrates assumia um Deus supremo desmentindo uma parte significante dos mitos politeístas da antiga cultura helênica. 

Todas estas “filosofias” buscavam o conhecimento e o desenvolvimento da mente. E como mencionado anteriormente, o desenvolvimento da mente não se dá apenas pela racionalidade, mas também pelo sentir, pelo desenvolvimento da empatia e dos sentimentos. Assim fica claro que chamar estas teorias de criacionistas é um reducionismo por parte daqueles que consideram-se superiores aos demais ou que pensam que o universo se resume às três dimensões e à matéria. Afinal estas teorias não são religiões institucionalizadas, não priorizam uma hierarquia da humanidade, nem priorizam meros dogmas. Por mais polêmico que pareça, estas “teorias” ou “filosofias” são métodos de aquisição de conhecimento, portanto são saberes, não tão diferentes nem tão distantes das ciências.

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