sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

A Necessária União entre a Espiritualidade Progressista

Ao longo dos anos estudando sobre religiões e "mitologias" notei que várias religiões falavam das mesmas coisas: da importância do bem, de um criador, de um todo divino... Mas também vi  religiosos evitarem ler coisas de autores que não professam suas crenças escolhidas: Há crentes que não lêem nada religioso fora a Bíblia, espíritas que lêem apenas Kardec etc. Isto é compreensível e até aceitável contanto que não gere mais divisões e insensibilidade em nossa sociedade.

Recentemente assisti uma missa onde o padre fez uma leitura bastante "pés no chão" sobre uma passagem bíblica. Em até certo ponto foi possível entender que Jesus curou enfermos não para provar que era Deus ou filho de Deus. Isto é válido, para não dizer, óbvio: Jesus o fez para propagar o bem. Todos os ensinamentos de Jesus giram em torno do bem: Amar o próximo como a si próprio.

Porém a leitura pareceu mostrar uma abertura para indicar que Jesus não fez milagres e que não tinha poderes sobrenaturais. Talvez seja uma explicação da teologia da libertação a qual ainda não estudei a fundo. Este é um ponto bem polêmico, mas há mais teorias que lidam com a religião e com a espiritualidade que convergem para este caminho: O espiritismo por exemplo alega que tudo (ou muito mais coisas do que conhecemos até o século 21) virá às claras, ou seja, tudo será compreendido. Os milagres vão gradualmente sendo explicados como manifestações da "mediunidade". Mediunidade esta que depende principalmente da interação de seres "incorpóreos", chamados de espíritos. Outro fator que o espiritismo indica ser necessário para as realizações mediúnicas é o fluído universal que está por trás da criação de todo universo. Este fluído parte de uma pureza máxima (Deus) e passa por diversas transformações constituindo desde forças praticamente indetectáveis para os seres humanos (como o perispírito) até energias e elementos normalmente perceptíveis pela vida terrestre.

Ninguém pode ser forçado a acreditar em uma coisa nem em outra: O católico certamente escolherá crer que Jesus fez milagres porque era filho de Deus ou o próprio Deus. O espírita dirá que Jesus foi um dos mais elevados espíritos que passou pela Terra e por isso mostrou grande domínio mediúnico em sua vida na Terra. E quem diz que Jesus não fez milagre nem foi um medium? O materialista, que geralmente é ateu. Obviamente porque ateus não crêem em Deus, e muitos deles, também não crêem em uma dimensão espiritual. Para o materialista apenas o universo "3D" existe. A mente é mero produto do cérebro: Está em reações químicas do sistema nervoso, nas sinapses ou na relação destes efeitos com o ambiente onde o ser vivo está inserido. Geralmente, para os ateus, milagres são invencionices criadas pelas igrejas para manipular o povo. Por enquanto não me aprofundarei nesse frágil argumento, mas sei que a "igreja européia" após o ano de 380 dC, inventou muitas coisas para manipular as massas.

Em linhas gerais, a igreja católica, assim como as igrejas protestantes, durante todo período colonial/ neo-colonial (do final do século 15 até meados do século 20) continuaram sendo usadas como ferramenta de poder ignorando os ensinamentos de seu principal profeta: Jesus Cristo. Os cristãos que acreditavam e praticavam os ensinamentos de Jesus Cristo eram minoria dentro da religião e por causa disso muitos absurdos foram admitidos, desde genocídio dos povos indígenas até a escravização dos povos da África subsaariana.

Portanto existia a necessidade de acabar com o poderio dentro das igrejas (ou das religiões), colocando-as em seus devidos lugares - o lugar do amor e da espiritualidade.

O espiritismo surgiu no século 18 entre uma classe de pedagogos europeus. Nesta época as práticas "místicas" haviam ganhado prestígio entre classes médias e altas da sociedade, o que deu abertura para proliferação de charlatanismo baseado em superstições e fascinação. A parte menos mesquinha e mais séria destes movimentos místicos eram essencialmente religiosos (espiritualistas, mas este termo era pouco ou nada usado na época), porém com a propagação do charlatanismo todos eles passaram a ser mau vistos pelas pessoas mais sérias, havendo uma  necessidade de reação.

O espiritismo pode não ter surgido essencialmente como reação, mas surgiu nesta época. Este movimento predominantemente filosófico (cristão/platônico, e, de certa forma também ontológico e até epistemológico), buscou explicar diversos fenômenos tidos como sobrenaturais: Contato com espíritos, visões "do além", êxtases espirituais, incorporações etc. Em seus esforços este grupo liderado por Kardec, coletou informações durante o século 19 e tentou uma conciliação com as elites intelectuais (entre elas, os cientistas) e com alguns grupos religiosos. Mas o resultado não foi muito promissor e o espiritismo em sua forma pura foi majoritariamente rechaçado como se fosse parte do movimento de charlatanismo da época. Ele só ganhou força no Brasil, durante o século seguinte, mas a elite econômica insistiu em distorcer muito da teoria e da prática espírita, o que fomentou divisões no espiritismo: Daí surgiu a Umbanda e os movimentos espíritas progressistas, afinal Kardec fala muito no progresso moral como base para o progresso da humanidade.

Como é possível notar, foi praticamente impossível convencer indivíduos cheio de poder (seja econômico, político ou religioso) a abandonarem seus excessos e suas ganâncias. Assim, a teologia da libertação surgiu de necessidades reais durante a transição dos anos 60 aos 70 do século 20.  

Movimentos como a teologia da libertação trabalharam junto aos pobres, aos humildes e aos desfavorecidos nas sociedades. Esta foi uma verdadeira aproximação dos ensinamentos de Cristo. O autor da obra considerada como marco do movimento, menciona que a raiz da exploração humana é a ruptura da amizade com Deus e com os Homens. Afinal o amor ensinado por Jesus Cristo, é o amor ao Deus onipresente criador de tudo e o amor a toda sua criação - daí amar ao próximo como a si mesmo.

Porém um dos perigos da aproximação com o materialismo, é desconsiderar a dimensão espiritual e a pluralidade. Alegar que os "milagres" de Cristo são uma invenção é argumento de anti-religiosos e anti-espiritualistas. Mesmo dizer que foi uma invenção para o bem, é um reducionismo - reduz as capacidades de Jesus Cristo e pressupõe uma certeza que nada parecido com milagres ou com a mediunidade existe.

Os milagres podem ser um tema polêmico, mas alegar que eles foram simplesmente inventados é sair do cerne dos ensinamentos da lei de amor. Se você não crê em milagres, pode buscar explicações filosóficas que indicam uma possibilidade como as do espiritismo ou as de filosofias e religiões orientais e africanas, ou pode deixar a questão em aberto.

Pregar verdades absolutas sobre o que ainda está a ser estudado ou sobre o desconhecido, é cair no erro. Nestes temas relacionados à espiritualidade e aos milagres, é útil e importante priorizar os ensinamentos de Cristo, que indicam que a lei divina, e portanto, universal, é a lei de amor. A lei é universal, regendo do maior (Deus) para os menores (toda sua criação e criaturas) e assim também é a lei da natureza (o Sol, a Terra e os seres vivos), como explicada por Sócrates (no livro A República, de Platão), tido como uma das bases do espiritismo. Os ensinamentos de Sócrates também indicam que o amor tem a capacidade de transcender além da vida material, como foi registrado por Platão no livro "O Banquete".

Alegar que todos os feitos de Cristo são invenções é "pregar verdades" sobre o que não se tem certeza ainda. É cair no mesmo erro das fúteis e nocivas discussões se Jesus era santo antes ou depois do batismo por João Batista. É cair no erro da discussão se a verdadeira espiritualidade deveria permitir ou não a reprodução de imagens de santos e profetas. É cair no erro de discutir se Maria, mãe de Jesus, era virgem ou não, se era santa ou não. É cair no erro das cisões, do clubismo, do separatismo, da opressão, das acusações mútuas e dos conflitos.

É querer propagar a opinião própria como verdade absoluta, como dogmas.

São como as perseguições religiosas do final do império romano, os conflitos entre budistas e taoistas, as cruzadas medievais, as guerras entre católicos e protestantes da era colonial, o darwinismo social, o fascismo, o nazismo, a guerra fria, o terrorismo no oriente médio etc.

O fanatismo não existe só nas religiões, muito menos só na espiritualidade. Ele existe em todo lugar onde se prega verdades absolutas ignorando minorias.

Os egoístas e os gananciosos negaram o espiritismo porque acharam absurdo ou terrificante a ideia de outras dimensões onde correriam o sério risco de pagar por seus erros (pecados). O espiritismo não prega a pobreza, mas diz que as grandes fortunas materiais só se justificam se aplicadas ao progresso da humanidade.

Este mesmo tipo de pessoa (egoísta e/ou gananciosa) renega a teologia da libertação não por sua aproximação do materialismo, mesmo porque o materialismo é sua defesa. Os multimilionários construíram seus argumentos falaciosos de que suas fortunas são frutos de um suposto trabalho árduo, sendo a matéria, tudo que eles têm. Esses gananciosos odeiam a teologia da libertação porque sentem nojo ou ódio de pessoas humildes e querem enganar e explorar os pobres. Renegam por causa de seu apego a quantidades gigantescas de riquezas materiais e por seus desejos de adquirirem cada vez mais.

O espiritismo e a teologia da libertação parecem movimentos bem diferentes entre si, mas ambas correntes de pensamento cristão fomentam um progresso que incomoda somente aqueles que querem perpetuar seu poder pelo maior período de tempo possível.

 

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