quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Possíveis relações da Mente com o Universo - Parte 3

 As raízes da Ciência - Filosofia, Ontologia e Epistemologia 

A ciência não existe nem poderia existir sem a filosofia. Na história da humanidade, toda a discussão sobre a existência e todo o desenvolvimento de métodos de estudo partiu da filosofia (ontologia e epistemologia). Resumidamente isto ocorreu porque o conhecimento sempre esteve em poder de uma classe mais introspectiva/ pensadora das sociedades humanas. Esta classe que muitas vezes era religiosa ou espiritualizada, com certa frequência assumia a liderança das sociedades, ou, mantinham elos com o governo (geralmente monárquico ou imperial) agindo como conselheiros por exemplo. Afinal, o conhecimento desta classe servia para organizar e orientar as sociedades de diversas maneiras. 

 Como frequentemente existiu esse elo com a religiosidade/ espiritualidade, os pensadores e filósofos surgiam da (ou se envolviam com a) religião de seu respectivo tempo e local. Isto tem uma ligação direta com o fato das reflexões sobre a existência e sobre a mente/ a alma, fato que deu origem a ontologia no decorrer da história. 

Na Europa do século 17, com a transição do período renascentista ao iluminista, emergem as primeiras questões sobre a interação da alma/ mente com o corpo. 

René Descartes - Meditações sobre a Primeira Filosofia (1641) 

A afirmação central do que é frequentemente chamado dualismo cartesiano, em homenagem a Descartes, é que a mente imaterial e o corpo material, embora sejam substâncias ontologicamente distintas, interagem causalmente. Essa é uma ideia que continua a aparecer com destaque em muitas filosofias não europeias. Eventos mentais causam eventos físicos e vice-versa. Mas isso leva a um (suposto) problema substancial do dualismo cartesiano: como uma mente imaterial pode causar algo em um corpo material e vice-versa? Isso costuma ser chamado de "problema do interacionismo". 

O próprio Descartes lutou para encontrar uma resposta viável para esse “problema”. Em sua carta a Isabel da Boêmia, Princesa do Palatinado, ele sugeriu que "espíritos" dos nervos interagiam com o corpo através da glândula pineal, uma pequena glândula no centro do cérebro, entre os dois hemisférios. 

Apesar desta dualidade ser considerada um problema pelos filósofos e demais estudiosos mais apegados ao materialismo, Kardec acreditou que muitos dos materialistas que criticavam o dualismo cartesiano, poderiam e deveriam andar em paz ao lado dos espíritas. 

Espiritismo - Uma Filosofia Dualista ou Pluralista 

Sobre a possível relação espírito-corpo, Kardec cogita algo relacionado com o eletromagnetismo e/ou com a eletricidade em mais de um de seus escritos: 

“Tomamos para termo de comparação o calor que se desenvolve pelo movimento de uma roda, por ser um efeito vulgar, que todo mundo conhece, e mais fácil de compreender­-se. Mais exato, no entanto, houvéramos sido, dizendo que, na combinação dos elementos para formarem os corpos orgânicos, desenvolve­-se eletricidade. Os corpos orgânicos seriam, então, verdadeiras pilhas elétricas, que funcionam enquanto os elementos dessas pilhas se acham em condições de produzir eletricidade: é a vida; que deixam de funcionar, quando tais condições desaparecem: é a morte. Segundo essa maneira de ver, o princípio vital não seria mais do que uma espécie particular de eletricidade, denominada eletricidade animal, que durante a vida se desprende pela ação dos órgãos e cuja produção cessa, quando da morte, por se extinguir tal ação.” 

Se aproximando mais de uma crítica ao materialismo, Kardec escreveu (seja anotando as falas das médiuns ou de próprio punho) que praticamente toda mudança na Terra ocorre de modo gradual, como pode ser notado na evolução das espécies. O ser humano (homo sapiens) possui uma enorme semelhança de funcionamento de seu corpo em relação aos demais mamíferos, principalmente aos demais primatas, como chimpanzés, orangotangos e gorilas. 

“Ainda que isso lhe fira o orgulho, tem o homem que se resignar a não ver no seu corpo material mais do que o último anel da animalidade na Terra. Aí está o inexorável argumento dos fatos, contra o qual seria inútil protestar. Todavia, quanto mais o corpo diminui de valor aos seus olhos, tanto mais cresce de importância o princípio espiritual. Se o primeiro o nivela ao bruto, o segundo o eleva a incomensurável altura. Vemos o limite extremo do animal: não vemos o limite a que chegará o espírito do homem. 

O materialismo pode por aí ver que o Espiritismo, longe de temer as descobertas da Ciência e o seu positivismo, lhe vai ao encontro e os provoca, por possuir a certeza de que o princípio espiritual, que tem existência própria, em nada pode com elas sofrer.” 

O Espiritismo marcha ao lado do materialismo, no campo da matéria; admite tudo o que o segundo admite; mas, avança para além do ponto onde este último para. O Espiritismo e o materialismo são como dois viajantes que caminham juntos, partindo de um mesmo ponto; chegados a certa distância, diz um: “Não posso ir mais longe.” O outro prossegue e descobre um novo mundo. Por que, então, há de o primeiro dizer que o segundo é louco, somente porque, entrevendo novos horizontes, se decide a transpor os limites onde ao outro convém deter-se? Também Cristóvão Colombo não foi tachado de louco, porque acreditava na existência de um mundo, para lá do oceano? Quantos a História não conta desses loucos sublimes, que hão feito que a Humanidade avançasse e aos quais se tecem coroas, depois de se lhes haver atirado lama? 

Impactos do Materialismo vs Dualismo/ Pluralismo 

Em seu livro “Gênese, Milagres e as Predições segundo o Espiritismo”, Kardec ainda explica a importância de entender a mente/ alma como algo que transcende a matéria em contínuo processo de evolução: 

“A pluralidade das existências, cujo princípio o Cristo estabeleceu no Evangelho, sem todavia defini-lo como a muitos outros, é uma das mais importantes leis reveladas pelo Espiritismo, pois que lhe demonstra a realidade e a necessidade para o progresso. Com esta lei, o homem explica todas as aparentes anomalias da vida humana; as diferenças de posição social; as mortes prematuras que, sem a reencarnação, tornariam inúteis à alma as existências breves; a desigualdade de aptidões intelectuais e morais, pela ancianidade do Espírito que mais ou menos aprendeu e progrediu, e traz, nascendo, o que adquiriu em suas existências anteriores. 

Com a doutrina da criação da alma no instante do nascimento, vem-se a cair no sistema das criações privilegiadas; os homens são estranhos uns aos outros, nada os liga, os laços de família são puramente carnais; não são de nenhum modo solidários com um passado em que não existiam; com a doutrina do nada após a morte, todas as relações cessam com a vida; os seres humanos não são solidários no futuro. Pela reencarnação, são solidários no passado e no futuro e, como as suas relações se perpetuam, tanto no mundo espiritual como no corporal, a fraternidade tem por base as próprias leis da natureza; o bem tem um objetivo e o mal consequências inevitáveis. 

Com a reencarnação, desaparecem os preconceitos de raças e de castas, pois o mesmo Espírito pode tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. 

Tirai ao homem o espírito livre e independente, sobrevivente à matéria, e fareis dele uma simples máquina organizada, sem finalidade, nem responsabilidade; sem outro freio além da lei civil e própria a ser explorada como um animal inteligente. Nada esperando depois da morte, nada obsta a que aumente os gozos do presente; se sofre, só tem a perspectiva do desespero e o nada como refúgio. Com a certeza do futuro, com a de encontrar de novo aqueles a quem amou e com o temor de tornar a ver aqueles a quem ofendeu, todas as suas ideias mudam.” 

Os Estados da Mente para além de Si Mesma 

Pode-se dizer resumidamente que todas as pessoas que passam pela nossa vida (participam de modo significativo), deixam marcas psíquicas: Sejam desejos, expectativas, sentimentos ou formas de pensamento… Isto marca a importância da relação e da fraternidade entre seres humanos. A fraternidade pode ser entendida como um estado mental/ estado de consciência - Semelhante do que se ouve dizer nesta 2ª década do século 21, a fraternidade deve ser praticada assim como empatia: Após desenvolver empatia, convivendo e/ou solidarizando com pessoas diferentes, é possível ver o próximo de maneira mais compreensível, respeitando-o, buscando o bem das comunidades, e certamente, da humanidade como um todo. 

Estados de consciência são altamente determinantes - podem ser jaulas (que aprisionam a mentalidade da pessoa e consequentemente, sua respectiva vida), mas também podem ser transcendentes, e de certa forma, libertadores, como mencionado pelo neuropsiquiatra e logoterapeuta Viktor Frankl: Sob condições de extrema dificuldade (miséria e tortura) nos campos de concentração da 2ª Guerra, os prisioneiros que acreditavam em algo bom ou se agarravam psicologicamente a uma esperança ou fé, tinham mais condições de sobreviver. Esta condição mental (ou estado de consciência) estava ligada a uma melhoria na capacidade de tolerância e de recuperação do corpo e tem relação com o que Viktor Frankl chama de transcendência. Em última instância, o sentido de vida da pessoa tem uma importância central em sua existência e está diretamente ligado a capacidade de direcionar bons sentimentos para além de si mesmo. 

Este estado mental parece típico de ascetas religiosos (ou espiritualizados) de diversas regiões diferentes do globo. Assim estes indivíduos suportam grandes dificuldades inspirando-se em suas fés/ crenças. 

Neurologia e Filosofia 

Os 3 tópicos (a seguir) são baseados no diálogo entre o neurocientista Miguel Nicoelis e a filósofa Lúcia Helena Galvão. 

A mente é análoga: Mídias com que interagimos alteram a morfologia do nosso sistema nervoso central, pois ele é plástico para sobreviver às mudanças do mundo externo; Quando as recompensas são dadas por comportamentos cada vez mais semelhantes às máquinas, o sistema nervoso apara (pruning) componentes analógicos que não se adequam ao mundo digital, comprimindo capacidade cognitiva, empática e emocional, atingindo a inteligência. 

A seleção natural é contínua e permanece ocorrendo até os dias de hoje. Portanto, muitas das pressões seletivas que ocorrem sobre nosso sistema nervoso central são de nossa própria criação (do ser humano como espécie). A redução do número de poetas, artistas e artesãos nas sociedades humanas indica esse movimento. A informação não aprofundada / não processada serve como bloqueio da criatividade e imaginação (independe de escolaridade). Esta informação não aprofundada pode ser considerada dados que não formam mensagens coerentes nem úteis. A vasta e rápida propagação destes dados em geral não tem a função de informar e sim de entreter, distrair e vender produtos aos usuários de diversas mídias. Esta propagação de informação incompleta/ não aprofundada, fomentou uma geração de meros usuários (de mídias digitais) e não de criadores. Tal bombardeio de propagandas e outras futilidades agem como ruído atrapalhando tanto a capacidade de pesquisa como a formação de conteúdo psíquico/ emocional, pois a originalidade e a captação das ideias serve à ciência também, não só à arte. 

A mente humana é maior do que o conjunto de neurônios, pois gerou experiências mentais há centenas de milhares de anos. A capacidade de preencher, complementar espaços e narrativas, tanto de captação de informações dos sentidos como de interpretação de mitos e histórias, indicam essa grandiosidade. 

Para a neurociência de Nicolelis, o senso e a imagem corporal do eu são criações fluidas e plásticas que podem mudar a cada instante. Ele estudou crianças vítimas de má-formação congênita, sem membros, e verificou que elas continuavam a sentir braços e pernas fantasmas desde a infância. Isso mostrou a ele que o cérebro (a mente) humano é capaz de gerar um modelo muito bem definido do corpo e do senso do “eu”, mesmo na ausência de sinais somáticos derivados de componentes corporais. Assimilamos até ferramentas artificiais como verdadeiras extensões contínuas de nossos corpos biológicos. Temos um cérebro capaz de simular, além de um mapa de nossos corpos, também uma representação do próprio mundo em nossas habilidades mais valiosas. Para um bom violinista, por exemplo, o cérebro precisa incorporar o violino como extensão dos seus braços. 

Para o famoso psiquiatra e psicólogo Carl Gustav Jung, do mesmo modo, o “eu” acumula imagens que se agrupam por significados oriundos tanto da percepção quanto da memória. É a formação de um complexo de ideias, sentimentos e imagens que não possuem realidade em si. O eu é, portanto, uma solução de compromissos entre imagens (sensoriais e mnemônicas) prevalentes num dado momento para tornar-se objeto do pensamento abstrato. Jung chamou a isso de“complexo do eu”. 

Pelo fato de o cérebro assimilar tudo que lhe é familiar, a dor do amor é mais do que real. Perder o objeto de nossa afeição é como amputar uma parte do senso do “eu”. 

 Ele continua a nos explicar o “eu”, o amor e a paixão como cascatas de hormônios que se aliam aos sentidos e fazem o cérebro lutar para incorporar esse fluxo de informações como parte de realidade e do senso do “eu”, compondo sobre o produto de experiências prévias. Os hormônios mediadores dos contatos corporais como abraços, fazer amor, massagens, o encontro social com alguém desejado e etc., criam a sensação de prazer nutrida pela simulação da realidade criada pelo cérebro, até que essa realidade seja também integrada como parte do modelo neural que define o senso do “eu”. 

 Compartilhamos nossas vidas como um verdadeiro amálgama de corpo e seres que estão na ativa e dinamicamente mantidos no espaço neuronal do cérebro de cada um de nós. Por isso a fantasia do fim do mundo, como um desejo de morte solidária e democrática, é compensatória para esse medo da finitude que é lembrado quando um ano se finda. Pois, quando alguém morre e outros ficam, os que ficam sofrem as dores cruciantes da saudade. Essa fantasia faz essa dor não acontecer, já que todos partiriam juntos. 

As pesquisas de Nicolelis se orientam para criar uma interface entre o cérebro e as máquinas. Abreviou com as iniciais ICM. Nos mostra que máquinas podem “ler pensamentos” e traduzi-los em comandos computacionais, fazendo com que um primata em um laboratório controle um robô do outro lado do mundo. Fala de um futuro próximo em que o homem poderá conduzir seu veículo, comunicar-se com outras pessoas por meio dos seus pensamentos, numa “brainet”, uma verdadeira rede social de cérebros humanos. Pessoas portadoras de paraplegia teriam condições de se movimentar novamente, graças a um exoesqueleto, sob o comando do pensamento, ajustado ao corpo como se fosse um traje. 

A humanidade vai muito além de um controle da consciência em que a vontade atua modificando estruturas mecânicas. Somos cada um o todo onde o outro é um pedaço de si e, por isso, amar a si mesmo é também amar o outro. 

A Mente na Filosofia 

A filosofia trabalha ideias universais, mais amplas que formam, diferente do saber mais técnico que apenas informa. Por exemplo, o pedreiro joga argamassa numa parede com determinadas distância, quantidade e força. Este processo na filosofia desconsideraria a profissão e os materiais, fazendo as seguintes modificações (para um diálogo por exemplo): momento certo, quantidade certa e intensidade certa. 

Saber se comunicar, conhecer sua própria identidade, cuidar do bem-estar mental são fatores importantes que servem como uma defesa contra a opinião alheia e contra tentativas de manipulação feitas por outras pessoas. 

Além de trabalhar ideias universais, a filosofia traz o exercício da reflexão, ou seja, exercitar e dominar a própria mente. Tal domínio não é parar a mente, mas ter um momento sem interferência externa. 

Aplicar teoria é obrigatório; testar ideias é importante para inovação e adaptação; reflexão é o encontro com sua alma e o desenvolvimento da capacidade de avaliar; 

A filosofia assim como a ciência e a religião não deveria ser usada em benefício de poucos e sim em prol da maioria. Não deve ser usada para fins perigosos ou destrutivos e sim para o progresso, para o bem. 

A Consciência e o Progresso da Humanidade 

A consciência naturalmente rejeita aquilo que ela já aprendeu totalmente e/ou já superou. Deixar-se levar por qualquer razão, aos problemas já superados, leva a processos de sofrimento e/ou de vício. Desistir de ideais nobres que priorizam o bem do próximo e/ou da maioria, por exemplo, implica gradualmente em dar mais espaço às ideias contrárias, como as de segregação, de elitização, os discursos de ódio etc. Se um número grande de pessoas desiste dos ideais de justiça, equidade, fraternidade/ solidariedade, as pessoas com ideias contrárias prevalecem, causando na sociedade, o impacto destrutivo da segregação, indiferença, elitização etc. 

Entregar-se ao consumo abusivo de qualquer substância devido a dificuldade em lidar com uma questão/ problema, é uma situação similar à anterior mas em um nível individual. Danifica-se o corpo e a mente causando até um possível processo letal de adoecimento. 

O processo de evolução da espécie humana não pode ser desvinculado de sentimentos como a empatia, a amizade, a solidariedade, a curiosidade em aprender, a devoção etc. Estes “sentimentos” não são elementos separáveis que podem ser comparados lado a lado com impulsos mais rudimentares nem com sentimentos destrutivos ou nocivos. A diferença se dá por níveis, afinal se todo ser humano se entregasse frequentemente aos impulsos de perpetuação da espécie, estaríamos todos apenas buscando sexo e comida há mais de 220.000 anos. 

Com tais exemplos é possível ver que, ao menos de certo modo, a identidade de cada forma é como um nível de vibração (podendo variar do menos ao mais intenso e/ou do menos ao mais amplo, e vice-versa). Resumidamente tal movimento (ou "vibração") vale para toda "matéria e energia": sólido, líquido, gás, plasma, radiação e também para a mente humana. 

O que é Transcendência? 

As informações que compõem todos os dados mentais e suas respectivas relações que formam interpretações, jeitos, crenças e identidades, se manifestam através do sistema nervoso central (cérebro, neurônios etc). Ela depende do potencial elétrico e das sinapses para manifestar-se através do SN (sistema nervoso), mas nenhuma pesquisa empírica prova sua localização. Não há provas obtidas por tal método de estudo, de que a mente esteja precisamente no cérebro, nos neurônios ou em qualquer outra parte ou fluído do corpo. O que se detecta são pontos do SN onde surgem efeitos e consequências de intenções, escolhas etc. 

Tais informações (psíquicas) não desaparecem repentinamente nem mesmo na morte. Os casos chamados de “Experiência de Quase Morte” dão esse indício, ainda que haja muita resistência na comunidade científica. Pacientes que perderam a consciência nestas experiências, efetivamente morrem por alguns segundos, pois passam por um breve período de inatividade cerebral total, mas não tiveram suas memórias, visões ou sensações apagadas da existência, para depois simplesmente ressurgirem - eles se lembram e muitos até contam o que viram “enquanto seus corpos estavam mortos”.. 

O sentimento é uma peça chave nas questões de transcendência psíquica, mas são mal estudados. Alguns estudos de psicologia cardíaca indicam uma relação do coração, tanto com os sentimentos, como com o cérebro e com campos eletromagnéticos. Porém, a maior parte da aplicação dos estudos desta área são voltadas ao tratamento de pacientes com problemas cardíacos. 

Mas estas questões abordadas desta maneira beiram o materialismo, e isto é pouco relevante se comparado com a importância dos bons sentimentos e de suas expressões. Humildade, receptividade, comunicação clara, paciência, devoção, força de vontade, solidariedade/ piedade, entendimento/ responsabilidade e empatia/ difusão de ideias são essenciais para que a humanidade não se destrua. 

Além do Materialismo 

 Sendo o processo de expansão dos bons sentimentos parte de um processo de evolução do aparelho psíquico (e todos seus elementos constituintes como sensações, interpretações, informações, memórias etc), esta evolução ocorre essencialmente pela transcendência, através do ir além de si mesmo, e apreciando humildemente o máximo de coisas ao seu redor e se preocupando com o Bem além de percepções individuais e/ou imediatistas. É claro que tal processo não consiste em abandonar a si mesmo, mas também ver e respeitar a si mesmo como uma pequena parte de uma realidade enorme, em prática, como parte de uma realidade infinita. 

Tal progresso ou processo de evolução trabalha de alguma forma os elementos psíquicos que transcendem o espaço-tempo conhecido pela humanidade. Então esse aparelho psíquico (ou espírito) que transcendeu, já não está mais preso às leis naturais conhecidas pelos habitantes da Terra: Ele é capaz de viajar de maneira praticamente inimaginável pela humanidade, ainda que deva ter algum limite dentro de um conjunto de leis possivelmente “maiores” ou que abranjam esta hipotética quarta dimensão além do espaço-tempo. 

Tais seres possivelmente energéticos com uma imensa vastidão de sentimentos puros e conhecimentos verdadeiros só podem ser descritos pelos seres humanos (da antiguidade à modernidade) como seres gloriosos, divinos e angelicais. 

Estes seres indicam a existência de uma ou mais dimensões além do que nós seres humanos entendemos como realidade até este início do século 21 do calendário gregoriano. 

Tal dimensão jamais seria algo subordinado ao nosso “espaço-tempo” ou à nossa realidade, colocando a Terra e todos seus habitantes em uma posição de antecessor a se desenvolver ou a evoluir. Embora pareça uma situação de pequenez ou de impotência da vida terrestre ante tamanha vastidão (o infinito vai além das 3 dimensões), na verdade as dimensões além simplesmente mostram que a Terra e toda sua realidade onde está inserida tem a sua importância sob uma outra ótica. Esta ótica não é nada surpreendentemente nova: É a lógica, onde o bem, sendo o objetivo central nas civilizações, cessa todos os conflitos e os entraves do progresso. O progresso não se dá só pela racionalidade e pelo acúmulo de conhecimentos objetivos que gera tecnologia, o progresso também se dá pela valorização de tudo relacionado aos sentimentos: A expressão das artes, da espiritualidade, o desenvolvimento da empatia, da solidariedade etc. 

Obviamente estes sentimentos não são destrutivos nem mesquinhos, são sentimentos relacionados ao processo real de transcendência, de ir além. Não se trata de sentimentos de posse, nem de emoções que forçam outras pessoas a estarem subjugadas de alguma forma. 

O sentimento sendo algo mais interno e geralmente mais duradouro do que suas expressões/ emoções, é um estado mental. Muitas vezes, não é simples nem fácil entrar neste estado, mas é preciso buscar, se mover e sentir. 

Fontes (além de minhas experiências "subjetivas"): 

https://www.youtube.com/watch?v=ZZcXTJmdYHE acessado em 30/09/2021; 

https://www.youtube.com/watch?v=DRTQ-azfSac acessado em 10/11/2021; 

KARDEC Allan, RIBEIRO Guillon, A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo; 

Descartes, R. (1641) Meditations on First Philosophy, in The Philosophical Writings of René Descartes, trans. by J. Cottingham, R. Stoothoff and D. Murdoch, Cambridge: Cambridge University Press, 1984, vol. 2, pp. 1-62.

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