quinta-feira, 31 de março de 2022

Reflexões sobre Rotina, Expressões e Ritmo

 

A rotina pode ser um itinerário habitual ou o hábito de fazer uma atividade sempre da mesma maneira, mecanicamente. Em suma, a rotina não tem novidades. 

O ritmo se refere a um movimento regular e periódico, a um fluxo, de qualquer processo. É uma sucessão de "tempos" (ou de fenômenos/ manifestações como sons) que alternam em intensidades (fortes, fracos etc) e em intervalos regulares. 

Imagine o nada da maneira mais tosca ou simplória possível: Tudo escuro, silencioso, nada a se perceber. Daí imagine - como surgiu tudo? Como surgiu o universo? Podemos começar pelo nosso lugar (também simplório) de ser humano mesmo: 

A Terra, todo o céu, a superfície com seus morros, vales, praias e o mar. Toda a vida, desde a vegetação passando pelos inúmeros animais até a nossa espécie humana. Então imaginemos as estrelas, a Lua e o Sol - o dia e a noite. Isso era tudo que o humano podia admirar a partir da Terra, por muitas eras - desde a idade da pedra até a revolução científica iniciada em meados do século 17. A partir daí foi possível descobrir mais coisas sobre o universo - Com a curiosidade (e humildade em admitir que não se conhece ainda) e com o estudo, vieram mais novidades; O Sol é apenas uma das estrelas da vastidão do espaço, onde cada estrela tem seu sistema com órbitas, variados planetas, satélites, asteroides, cometas etc. Os seres vivos, assim como toda matéria, é formada por partículas minúsculas que se relacionam entre si.

Muitas perguntas surgiram e ressurgiram: O ser humano começou a traçar hipóteses sobre a origem do universo, da vida, da inteligência etc. 

Talvez uma das coisas mais interessantes desta história é que o ritmo sempre esteve em tudo. 

E a rotina? Bom, a rotina esteve presente também, mas certamente se houvesse apenas ela, não haveria descobertas, sequer haveria o surgimento de coisas em qualquer processo da gênese cósmica. A rotina talvez faça parte de algo, mas jamais se refere ao amplo, às novidades ou à vastidão. 

O ritmo está nos movimentos estelares e nas órbitas planetárias. Está nos ventos da Terra, nas ondas do mar e na evolução das espécies. Nas sociedades humanas ele aparece na música, na dança e no progresso da civilização. Já a rotina aparece após a busca pela sobrevivência, ao se conquistar métodos e ferramentas em um ambiente e posteriormente aparece no trabalho, após a propagação da agricultura e da pecuária. A rotina pode aparecer em diversas atividades complementares ou supérfluas também, nas maneiras de se fazer as atividades: Qual caminho percorrer entre o trabalho e o lar, como arar a terra, como guardar, carregar e preparar alimentos, como fazer, limpar e guardar vestimentas etc. A rotina é isso - é algo inferior ao ritmo, pois serve somente às determinadas atividades e momentos. O ritmo é literalmente mais abrangente do que uma rotina. 

As descobertas sejam racionais ou emocionais, fazem parte do ritmo - Do que conduz a vida de grupos de pessoas que se relacionam, sejam eles pequenos ou grandes. O ritmo não é mecânico, não é composto por meros atos físicos como maneiras de fazer, gestos ou movimentos repetidos. Estes últimos estão mais para a rotina. 

Certamente a rotina teve sua importância e sua inocuidade ao longo da história da humanidade, porém nas primeiras décadas do século 20, isto foi mudando. A rotina deixou de ser algo inofensivo e foi sendo transformada em algo nocivo para a maioria das pessoas. Mas se a rotina é um hábito ou ação habitual, como isso aconteceu? Repentinamente a maioria dos seres humanos foi se tornando autodestrutiva? Uma pandemia de masoquismo ou de ódio a si mesmo? Nada disso: é óbvio que isto foi um imposição. Mas uma imposição de quem? Não é difícil descobrir. 

Isto ocorreu logo após a economia liberal, ou o sistema (de regras e normas) capitalista, se tornar industrial. Para entender isso, devemos recorrer a história: 

Na economia liberal, assim como no mercantilismo (e não muito diferente do escambo) determinados indivíduos trabalhavam para outros, numa busca de meios para sobreviver. Até aí, há uma troca aparentemente simples, mas o liberalismo tão defendido no século 18, na verdade defendia o direito de indivíduos enriquecidos manterem suas fortunas e adquirirem mais, sem pagar taxas ou pagando o mínimo de taxas para qualquer tipo de instituto de regulação ou governo. Além disto, apesar de existir a cruel e opressora escravidão tão difundida pelos europeus durante os séculos 15, 16, 17, 18 e 19, este período anterior às descobertas do uso da eletricidade e dos combustíveis fósseis/ vegetais, ainda não permitia tamanha exploração do ser humana que viria a ser colocada em prática no século 20 (e início do séc. 21). A industrialização após a invenção de máquinas movidas a eletricidade, a diesel etc, permitiu o aumento da produtividade, mas não só isso: Permitiu os "novos" enriquecidos a juntar mais dinheiro e comprar não só mais bens, mas comprar novos direitos também: O direito de fazer propagandas enganosas, de fazer lobby e de interferir nas leis, modificando-as em benefício de si próprios. Mas isto é um resumo, mesmo porque a existência humana não se limita a estas questões econômicas e políticas: Só contei esta história para mostrar que tais relações têm seu impacto, ao determinar rotinas aos seres humanos. 

Os períodos anteriores aos séculos mencionados aqui (do século 15 ao 20) também tiveram suas opressões e criações de rotinas: A era medieval na Europa, por exemplo, foi um período onde a espiritualidade foi institucionalizada e transformada em ferramenta de opressão. Afinal o que uma instituição que guardava fortunas, construia templos monumentais e mantinha exércitos tem em comum com os ensinamentos de seu profeta, Jesus Cristo? Nada. Assim, a espiritualidade certamente tornou-se mecânica (mera rotina) para a maioria das pessoas a partir da era medieval, quando o alto clero da igreja católica concluiu seu processo de se consolidar no poder da Europa (processo que durou aproximadamente entre os anos 330 d.C a 1000 d.C) 

Enfim, a rotina pode ser saudável quando respeita o ciclo de liberdade-responsabilidade de cada ser humano. Mas impor rotinas à maioria das pessoas, quebrando este ciclo equilibrado, é esmagar uns sobre a responsabilidade querendo dar liberdade somente a uma minoria que determina as regras da sociedade, as regras de convivência. É fomentar desilusão e cansaço em massa, ameaçando a humanidade com epidemias de transtornos psíquicos, como ansiedade e depressão. 

Se olharmos na natureza, assim como em meios místicos e religiosos (não como instituições de poder), encontramos o símbolo do desabrochar: Tais tipos de símbolos geralmente são representados na forma de estrelas, flores e árvores, como os que estão na ordem Rosacruz, no hinduísmo e nas "árvores da vida" do tengrismo, do judaísmo místico, da antiga religião viking etc. Este desabrochar significa a liberdade da vida encontrada em todo lugar - na natureza. É um movimento presente desde a expansão cósmica (Big Bang) até os dias de hoje. Desde estrelas até plantas nascem com tal movimento expansivo. A espiritualidade, o amor e as artes são expressões do ser humano representadas por este desabrochar. Obstruir tal movimento, impondo rotinas de trabalho absurdas à maioria das pessoas para favorecer uma liberdade disforme e escarnecedora de uma minoria, é uma abominação - uma afronta à natureza e ao divino. 

Liberdade e responsabilidade caminham naturalmente interconectadas, como em um ciclo mencionado anteriormente, e não segregadas: Isto pode ser entendido como ritmo e faz parte da lei de ação e reação nos processos da natureza. 

Onde eu quis chegar com essa "viagem"? Foi só uma crítica (social) às rotinas? 

Não somente isso - Ao falar de ritmo, falo de expressão também, então vale tentar dizer mais:

Não existe palavra capaz de designar o que existe além de 3 dimensões. Boa parte da simbologia do florescer na espiritualidade mencionada há pouco, se refere a isto.

Em minhas experiências espirituais boas eu me lembro da humildade em mim. Mas manter-me humilde como no momento de meus poucos êxtases é algo que me parece muito difícil enquanto estou vivendo a rotina na Terra, talvez porque as coisas boas tenham ritmo, como a música e a dança, não sendo meras rotinas. Quando falhei em transmitir a grandiosidade de Deus e de sua obra por exemplo, me cansei e neste cansaço perdi minha humildade. No êxtase fui elevado por Deus a uma experiência além da vivenciada em minha rotina típica na Terra. No cansaço após tentar expressar a importância do bem (humildade, amor, esperança...), decaí na rotina de comportamentos típicos do ser humano e estes comportamentos típicos do ser humano são frequentemente afrontosos à Deus, pois priorizam as rotinas na Terra, deixando o bem e a verdade em segundo plano. Não culpo os outros porque tenho o livre arbítrio, dado por Deus a todos nós. Mas o êxtase a que me refiro é uma experiência sublime, certamente individual e nada material como nós em nossa existência humana entendemos. Requer esquecermos todas nossas desculpas esfarrapadas de nos defendermos com argumentos humanos para nos mantermos em rotinas que deixam o bem em segundo plano. O bem que é o que se deve amar verdadeiramente. O bem expresso pela mãe que é um ser e um espaço/ lugar ao mesmo tempo, pois carrega o bebê por meses em seu ventre. O bem expresso pelos pais que enfrentam todas as dificuldades da rotina na Terra, priorizando puramente os filhos, por amor.

Não se trata de ter alguém para amar ou de ter uma companhia. Ter é possessão, é contenção. Se trata de se entregar ao bem, sem desejar recompensa alguma para si mesmo. Enfim, talvez eu tenha fracassado por tentar expressar com palavras o que se expressa com lágrimas, mas de qualquer modo eu espero que o ser humano sempre possa sorrir e chorar por alguém além de si mesmo. E que as rotinas jamais sufoquem tais coisas.

terça-feira, 1 de março de 2022

Sonhos: Da Psicologia ao Espiritismo

 

Lembranças e Instintos 

Todos temos lembranças de outras pessoas, baseadas em nossa interações, sejam elas superficiais ou profundas. Junto das lembranças existem sentimentos e pensamentos, baseados em interpretações, sensações, imaginações etc. 

Atualmente, neste início de século 21, podemos entender que o ser humano não é meramente dominado por seus instintos. Os instintos existem, é claro, afinal somos formas de vida da Terra também, seria ilógico não ter um instinto de sobrevivência. Porém uma das provas mais óbvias de que o ser humano não é dominado por tais instintos é o desenvolvimento da arte ao longo da história da humanidade. A arte é mais antiga do que a escrita, sendo desenvolvida no mínimo 4000 anos antes da escrita suméria e dos hieróglifos egípcios. Esculturas de formas animais e humanas existem ao menos desde 7000 anos aC. Pinturas rupestres, sejam de animais, cenas de caça ou de padrões geométricos e textura foram feitas milênios antes de tais esculturas. Fora a arte, temos a espiritualidade certamente iniciada por xamãs na idade da pedra e continuada por líderes religiosos na era do bronze. Estes são apenas alguns dos indícios óbvios de que o ser humano não é predominantemente dominado pelos instintos de sobrevivência: Ele se ocupa de outras atividades que muitas vezes são o centro de sua vida. 

Relações Humanas no Início da Vida 

Então temos um grande potencial de uma vida afetiva vasta e plena. No período da infância, a criança pode aprender a se relacionar com os pais, com irmãos e com possíveis colegas. A criança aprende a se expressar com seu círculo mais íntimo (essencialmente familiar), depois aprende a brincar de variadas formas, seja com outras crianças, com brinquedos etc. Estas experiências ficam registradas de modo mais ou menos preciso na mente da criança, daí formam-se as "primeiras lembranças". Suas relações, sejam com pais de criação, ou com outras crianças, formam (ou moldam, tanto faz, o fato é que influenciam de maneira determinante) sua maneira de se expressar, seja racionalmente ou emocionalmente, conforme o afeto recebido (posteriormente devolvido, formando um ambiente de troca de afetos). Sendo assim, nota-se que a necessidade de relação é proeminente na vida humana, tanto que o afeto recebido pela criança é um dos elementos mais impactantes em sua construção como ser, ou seja, em sua vida: Uma criança que recebe pouco afeto, crescerá com mais dificuldades em entender os sentimentos e suas respectivas expressões (as emoções) de outras pessoas , do que uma criança que recebeu mais afeto. Lembrando que afeto é popularmente considerado carinho e interações similares ao carinho, mas na psicanálise, o afeto é um elemento psíquico quantitativo, ou seja que pode ter intensidades, como os sentimentos. 

Falar de sentimentos na infância é um tema importante, mas é um tema complexo que deverá ser abordado em outro texto. Inclusive, eu já falei um pouco sobre eles nestes textos: 

https://nea-ekklesia.blogspot.com/2021/06/o-que-preenche-o-vazio.html 

https://nea-ekklesia.blogspot.com/2021/08/reflexoes-sobre-importancia-da-inocencia.html 

Inconsciente e Sonhos 

O sonho é um tema estudado de maneira bastante esparsa há mais de 100 anos . Tal cisão nesta área da psicologia se dá por desentendimentos sobre qual base teórica/ filosófica e qual método deve-se utilizar para estudar o comportamento, o pensamento e os sentimentos humanos. Neste texto focarei nas abordagens psicológicas que consideram a existência do inconsciente do aparelho psíquico (como as teorias de Freud e de Jung), mas também trarei reflexões de outros estudiosos, de áreas menos psicológicas como neurologia, filosofia e até de teologia/ espiritualidade. 

Importante notar que o modelo de mente (aparelho psíquico) proposto pelas abordagens da frente psicanalítica de estudos (Freud e Jung) tem um ponto chave em comum: O aparelho psíquico é dividido em "dois níveis" denominados inconsciente e consciente. Estes 2 elementos da mente serão explicados mais adiante. 

Freud faz vastas análises sobre sonhos em suas obras, porém ele utiliza como centro de sua base teórica as questões e funções mais biológicas: o Id, as pulsões de vida e morte, a libido. Para o fundador da psicanálise, praticamente todo comportamento humano tem uma função relacionada a sobrevivência, daí ele desenvolveu os conceitos das fases da sexualidade, os desvios das funções biológicas etc. Embora ele tenha feito grandes esforços, escolho não me aprofundar mais nas obras de Freud, por que entendo que Jung ampliou estas bases teóricas, ao "fundar" a Psicologia Analítica. 

Jung percebeu que o inconsciente era mais do que um depósito de conteúdos indesejados/ "vergonhosos'(interpretações, memórias), instintos de sobrevivência e desejos reprimidos. Aqui segue um resumo sobre o inconsciente e outros elementos da mente que considero descrever neste texto: 

Inconsciente (pessoal): Este aspecto ou porção do aparelho psíquico contém instintos variados como impulsos de vida e de morte, memórias reprimidas, tendências à estagnação ou ao conservadorismo e o elo com informações além da vida intra-uterina. As informações de além da vida intra-uterina podem ser desde heranças genéticas ou até elementos psíquicos que independem do espaço-tempo. Memórias e sentimentos reprimidos ou esquecidos no inconsciente não deixam de existir, eles apenas permanecem inacessíveis por variados períodos;

Maior do que o inconsciente da psicanálise, Jung classificou o inconsciente como uma matriz que serve também de base da consciência de natureza criativa. 

A intuição age por uma cadeia de elos, dos quais só percebemos seu resultado; Jung conclui que acontece pelo inconsciente; 

Consciência: A mente no presente. Percebendo, interagindo com o entorno, em geral é mais racional do que o inconsciente; 

Sonhos: Os de natureza pessoal são manifestações do inconsciente (pessoal), Já os sonhos de natureza coletiva, ou seja, aqueles que apresentam sincronidade ou padrões similares / idênticos ao de pessoas distantes ou de outras épocas, devem ser manifestações do inconsciente coletivo; 

Freud supôs que existiria uma função especial da psique, a que ele chamou "censura", a qual Jung duvidou. A censura, segundo Freud, é que deformava as imagens do sonho tornando-as irreconhecíveis a fim de enganar a consciência que está sonhando sobre o objetivo real do sonho. Ocultando do sonhador o pensamento crítico, a "censura" protegeria o seu sonho do choque provocado por reminiscências desagradáveis. Jung diz que o conteúdo onírico tende a ser apagado quando a pessoa passa do sono à consciência. 

Por experiência própria, classifico ambos autores corretos em algum nível: Como Freud disse, as imagens, personagens e cenários se mostraram fachadas em diversos sonhos meus: Personagens com a aparência de uma determinada pessoa, na verdade eram nitidamente outros - Isto foi notório pelas maneiras, conteúdo da fala, opiniões que pertenciam a outra pessoa conhecida, isso sem contar os casos de um sentido de certeza único, similar a uma intuição, porém ainda mais evidente. Por outro lado, como Jung afirmou, alguns de meus sonhos foram censurados por um intenso e pulsante sentimento (como medo ou nojo) no momento do despertar e por segundos seguintes, até que fossem escondidos (imersos) no inconsciente novamente. 

Valor Psíquico: É uma medida de quantidade de energia consagrada a um elemento psíquico, portanto relaciona-se ao que a psique de um indivíduo valoriza. Este valor da energia psíquica não pode ser medido de maneira absoluta nem individual, mas pode ser comparado com outros valores, pois geralmente há uma hierarquia de valores e alterações de valores conforme a psique passa por experiências ao decorrer do tempo. Por exemplo, uma pessoa pode preferir a beleza em relação à verdade ou as amizades em relação à fortuna. Também é possível observar o quanto tempo uma pessoa dedica a variadas atividades e metas. Obviamente pode haver (e geralmente há) interferências sociais que funcionam como obstáculos para as metas das pessoas, sejam cobranças de familiares, ou pressões socioeconômicas. Estes exemplos de valores são os que aparecem no consciente da pessoas, pois podem ser observados, porém existem valores que ficam no inconsciente. A psique humana está constantemente avaliando situações e assim, atribui variadas quantias de energia psíquica a diversas atividades, mas a consciência pode desviar-se de alguns valores. Estes valores inconscientes relacionam-se com os complexos da pessoa. Quanto mais associações um complexo tiver, maior seu poder e consequentemente, maior seu valor. 

Complexo: Os complexos são uma reunião de conteúdos que formam aglomerados no inconsciente. Eles frequentemente determinam pensamentos e comportamentos, pois são interpretações e preferências, que às vezes podem estar relacionados às neuroses e às vezes podem ser trabalhados para servirem de inspiração. Os complexos geralmente têm origem mais profunda do que a infância, podendo estar relacionados à vida intra-uterina, a fatores genéticos ou ao inconsciente coletivo etc; 

Inconsciente coletivo: Conexão entre os inconscientes pessoais das mentes humanas, como por exemplo, através de herança genética. Além de fazer a ligação da mente humana com o processo de evolução orgânica, entende-se que o inconsciente neste nível, pode se relacionar com forças além do espaço-tempo; Os conteúdos do inconsciente coletivo jamais foram do período de vida do indivíduo. Assim, o ser humano herda elementos (como predisposições ou potencialidades) de um passado que inclui todos antepassados humanos e até mesmo antecessores pré-humanos e animais. Não é fácil explicar tal conceito na ciência dominada quase que unicamente pelo método empírico, mas os elementos do inconsciente coletivo podem estar relacionados a vários temas e teorias que já foram conjecturadas nas ciências, mas que são pouco aceitas. Exemplos são algumas teorias de "dimensões" além do espaço-tempo conhecido, diferentes caminhos genéticos que deixam a teoria da evolução das espécies mais complexa do que a proposta feita no século 19 por Darwin etc... 

Minhas Experiências com Sonhos 

Desde meados de 2019, entendi que meus sonhos têm mais relação com alguma descrição espírita, mesmo após iniciar os estudos em psicologia: Vários dos meus sonhos mostraram nítidas evidências (dentro da possibilidade do que se pode chamar de evidência em "processos internos" da mente) de interações com outros indivíduos e até mesmo com a percepção de outras presenças, que se mostram como sentimentos alheios aos meus, frequentemente sem forma compreensível pelos 5 sentidos humanos. 

As presenças (a maioria manifesta só como sentimentos alheios) se mostraram totalmente diferentes das alucinações como eu as experimentei. Alucinação é um tema controverso que sempre toca a ontologia (estudo do ser, do existir, ou seja: assunto da filosofia) e defini-la apenas cientificamente é um reducionismo. Eu não trouxe fontes de autores que se proclamam cientistas com autoridade sobre o assunto, mas talvez concordando com uma visão psicanalítica e/ou psiquiátrica  em classificar alucinações como percepções que ocorrem durante uma condição patológica (pode ser desde uma febre até uma disfunção neurológica), eu entendo estes sentimentos e pensamentos percebidos por mim a partir do ano de 2019, como elementos externos em relação ao meu aparelho psíquico, devido aos seguintes fatores: 

Eles diferiam dos meus pensamentos e sentimentos do presente. Eram outros pensamentos e/ou sentimentos percebidos mentalmente por mim. Raras vezes eles pareceram invadir minha mente de modo brusco/ violento. Nestes casos sem efeitos físicos adicionais, algo que acompanhava minha percepção nítida e visceral, era uma certeza. Um entendimento - que não podia ser confundido com outro fenômeno. Sobre algo (sentimento, pensamento...) que não podia ser velado nem dissimulado. 

Às vezes eu os percebi se aproximando de mim, nestes casos geralmente surgiam acompanhados de algo físico que me afetava: Leves choques, solavancos, empurrões, estocadas com choques, ondas de choque que surgiam externamente, passando pela minha pele e atravessando meu corpo, formigamentos em partes existentes e inexistentes do meu corpo (estes últimos foram: sentir formigamento em um tipo de cordão atrás da nuca, formigamento em uma bíblia a uma distância aproximada de 150 cm, formigamento numa região esférica acima do topo da minha cabeça) 

Estes primeiros fenômenos mostram que havia uma inteligência por trás deles. E buscavam uma relação (hostil na maioria das vezes) comigo. Eles são semelhantes a alguns outros fenômenos muito melhores (e nada hostis) que aconteceram comigo, dos quais já dei uma prévia neste texto: https://nea-ekklesia.blogspot.com/2021/08/amor-nao-e-alucinacao.html 

Os segundos fenômenos são os mais interessantes para o estudo dos sonhos: Eles nunca ocorreram antes de 2019, foram mais sutis do que os fenômenos citados anteriormente e quase se passaram por sonhos "comuns", se não fosse por alguns detalhes nítidos: 

Sintonia psíquica com o local - Cada lugar que eu visitava enquanto desperto, mudava o padrão de sonho (e de experiências mediúnicas) que eu tinha a noite: 

Os poucos motéis que visitei após 2019, causavam-me uma intrusão em minha mente, de imagens pré sono de mulheres e homens claramente excitados sexualmente, além de eventualmente me causarem choques em determinadas do meu corpo; Eu jamais passei por experiência igual ou similar a esta antes;

Um apartamento gerou um monte de imagens de história em quadrinhos e desenhos irrompendo e suprimindo (ou sobrepondo) meus pensamentos. Ocorreu em 2021 e eu já não lia HQ há uns 10 anos;

Passar noites numa pousada de praia causou-me uma invasão de imagens de foliões, zombeteiros e fanfarrões que sobrepunham violentamente meus pensamentos; 

Discussões oníricas - visualmente e sonoramente parecem um sonho "normal", onde discuto com pessoas. O problema é que o conteúdo às vezes é daquele nível de tolice que parece sem sentido, e às vezes parece com ideias expressas em diálogos e narrativas feitas por pessoas com quem eu realmente interagi durante a vigília. Além disto, as discussões são muito realísticas porque me causam um aborrecimento e/ou cansaço mental como se eu realmente passasse algumas horas da noite discutindo, frequentemente em desacordo com alguém. Para completar, estas discussões não ocorreram realmente durante o dia (na minha vigília/ "consciência") então é difícil ser um mero reflexo do cotidiano. Mesmo que eu considere que não exista um teor espiritual nestes "sonhos" de discussão, haveria no mínimo um fator inconsciente (de certo modo, coletivo): Onde eu e as pessoas com quem eu converso durante o dia, levassem as interpretações dos sentimentos e opiniões alheias para os sonhos. 

Produtos e Impactos das Relações Humanas 

Possivelmente as pessoas se relacionam quase o tempo todo desde que a humanidade surgiu na Terra. Porém este relacionamento passou por diversas mudanças. Isto podemos ver em qualquer texto de história: especula-se comportamentos humanos da idade da pedra, depois da era do bronze, da antiguidade, da era medieval, da renascença, da modernidade e por fim, da pós modernidade. A "pós modernidade" é mais conhecida em nossa história por ser um dos períodos mais recentes e foi marcada pela pós verdade - a valorização das narrativas ante os fatos. Eu abordei este assunto neste texto: https://nea-ekklesia.blogspot.com/2020/04/a-corrosao-social-persiste-atraves-das.html 

Acontece que todo ser humano tem sua capacidade de aprendizado e suas manifestações de afeto/ necessidades afetivas. Todos estes elementos não deixam de existir em momento algum. Eles só deixam de ser o alvo de nossa consciência por períodos mais ou menos longos. Como já mencionei em algum texto, deixar de existir não é científico, nem filosófico, nem religioso. Não é explicável, ainda mais quando falamos de coisas que saem de nossa atenção, mas podem voltar em algum tempo. Então todos estes elementos (memórias, pensamentos, sentimentos, interpretações etc) existem, independentemente do que a psiquiatria ou determinadas abordagens psicológicas afirmem sobre esta questão. A psicologia não é uma ciência única e coesa - como eu já mencionei, ela é fragmentada devido a velhas divergências de base teórica/ filosófica e de métodos investigativos. Mas isto não é a questão do momento. Neste texto eu trago a importância das relações e seu impacto na vida de cada pessoa. Eu trago a questão de como os elementos psíquicos moldados por estas relações não deixam de existir - pelo contrário eles contribuem com a construção de crenças e de personalidade das pessoas, sejam estas condizentes com a realidade externa ou não. Sejam elas nocivas ou saudáveis. Eu trago a questão que a mente é algo e que NÃO é simplesmente material. A mente não pode ser tocada, cheirada, muito menos extraída como um pedacinho de cérebro. Ela pode ter sim, uma relação com sinapses e potenciais elétricos, mas não se resume a isto, afinal sinapses estão mais para consequências de decisões psíquicas. A mente, ou aparelho psíquico, não é um Frankstein formado por pedacinhos, embora determinadas abordagens psicológicas possam classificá-las assim para terem parâmetros de estudo. A mente é algo mais ou menos coeso, mas nunca é algo totalmente aleatório, sem nexo algum, ou totalmente divisível em partes diferentes entre si. A mente e alguns de seus "elementos" afetam diversas partes do corpo, como podemos perceber nos efeitos psicossomáticos. A mente e seus sentimentos têm um forte elo com nosso coração, como indicam alguns estudos da psicologia cardíaca. Sendo algo consideravelmente coeso e que se comunica com praticamente o corpo todo, a mente é mais do que uma mera relação química do sistema nervoso com o ambiente externo. Ela é mais do que um aparelho psíquico se considerarmos que psíquico refere-se apenas elementos vinculados ao cérebro/ sistema nervoso. A mente é algo "imaterial" e/ou algo que conecta-se com uma dimensão "além". Classificar as experiências que mencionei como alucinações ou esquizofrenia é algo reducionista e/ ou preconceituoso. Com que propósito aceitaríamos tal classificação se esta não esclarece o assunto, não oferece soluções dentro de seu método materialista de investigação e nem permite deixar em aberto questões como a possibilidade da mente ter relação com dimensões além do espaço-tempo? 

Por fim, estas experiências em meus sonhos são difíceis e muitas delas surgem acompanhadas de nítidas sensações magnéticas e/ ou elétricas. Golpes sutis adentrando minha cabeça ou outras partes do meu corpo, choques, percepção de um campo sutil em meu entorno, percepção de algo movendo este campo talvez eletromagnético. Seria muita criatividade de meu cérebro produzir alucinações tão inovadoras, sendo algumas de partes do corpo que sequer existem. Seria um esforço suicida e/ ou masoquista extraordinário, a minha mente produzir sentimentos alheios e/ ou externos que me atacam. É um esforço (ou má vontade) surreal algum suposto cientista, seja da psicologia, da medicina ou de qualquer outra área, alegar que eu imagino todas estas coisas. 

Com estas minhas experiências nada planejadas, o que eu suspeito é que o inconsciente como descrito na frente psicanalítica esconde questões trazidas pelo espiritismo no século 19. O "inconsciente" é em algum nível, ao menos durante o sono, a nossa consciência além. Além de nossa vida terrestre, mas carregada com interpretações, aprendizados ou equívocos experimentados enquanto despertos na terra. 

As sensações de choque e de um campo em meu entorno deve ser o que o espiritismo chama de períspirito. Este por sua vez é um tipo de campo eletromagnético (ou fluídico conforme terminologia do século 19) muito sutil que possivelmente transcende o espaço-tempo, pois existe da relação da mente (a alma, o espírito abstrato) com o meio em que se encontra. Para mim, a seguinte explicação do espiritismo, se adequa bem às minhas experiências: 

"Como vimos, o perispírito representa importante papel em todos os fenômenos da vida. Ele é a fonte de múltiplas afecções, cuja causa é em vão buscada pelo escalpelo na alteração dos órgãos, e contra as quais é impotente a terapêutica. Por sua expansão explicam-se, ainda, as reações de indivíduo a indivíduo, as atrações e repulsões instintivas, a ação magnética, etc. No Espírito livre, isto é, desencarnado, o perispírito substitui o corpo material. Ele é o agente sensitivo, o órgão através do qual o Espírito age. Pela natureza fluídica e expansiva do perispírito, o Espírito atinge o indivíduo sobre o qual quer agir, rodeia-o, envolve-o, penetra-o e o magnetiza."

A consciência de si mesmo e de seu arredor é de fundamental importância para todas as extensões da mente. Nestas discussões oníricas que descrevi, senti a falta de empatia, a falta de comprometimento, a falta da busca por aprendizado e a falta da priorização da solidariedade e da humildade (às vezes de minha parte, às vezes do outro com quem eu interagi). Enfim, se tudo o que experimento em vida é levado para interações que ocorrem mesmo quando estou dormindo, o sentido de vida, as relações e os sentimentos também têm grande relevância para nossa vida mental... Se eu fosse adaptar minhas experiências a uma narrativa junguiana, eu diria que as experiências de nossas relações são levadas ao inconsciente coletivo, podendo formar complexos e seus respectivos valores individuais (talvez, em outras linhas de pensamento, isto seja chamado de interpretações, sistema de crenças, sentido de vida etc). Particularmente, entendo que além de serem levadas para o"(s) inconsciente(s)", nossas experiências e relações certamente são levadas para uma vida além da que percebemos com nossos cinco sentidos aqui na Terra. 

Obviamente não tenho "provas científicas" de minhas experiências, mas, considerando que estou mais ou menos certo, o que seria importante levar para uma existência onde a matéria não existe nos estados sólidos, líquido nem gasoso? Certamente não é dinheiro nem status: Eu deduzo que seja melhor levar aspectos do bem: Humildade, receptividade, responsabilidade, paciência, amizade, determinação, solidariedade, entendimento e sabedoria. 

 

Apesar de consideradas "pouco científicas" pelos cientistas de base filosófica monista materialista, seguem as Fontes: 

C. S. Hall & V. J. Nordby - Introdução Psicologia Junguiana; 

Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1862 Dezembro; 

Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1863 Janeiro

Leitura ecumênica de "as boas obras", "a oração" e "o amigo insistente"

Aqui continuo com os ensinamentos de Jesus, conforme os textos atribuídos a Mateus e a Lucas:  Fazer as boas obras discretamente (Mateus, Lu...