domingo, 4 de fevereiro de 2024

Leitura Ecumênica da Pregação/ Testemunho de João Batista

A seguir estão reunidos os textos dos 4 apóstolos sobre as ações de João Batista antes de encontrar Jesus.

Legendas: Marcos = verde, Mateus = azul, Lucas = vermelho, João = amarelo. 

Pregação / Testemunho de João Batista (Mateus, Marcos, Lucas, João) 

"Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus; 

Como está escrito nos profetas: Eis que eu envio o meu anjo ante a tua face, o qual preparará o teu caminho diante de ti

Voz do que clama no deserto: “Preparai o caminho do Senhor, Endireitai as suas veredas. (Malaquias 3, 1; Isaías 40, 3) Todo o vale se encherá, E se abaixará todo o monte e outeiro; E o que é tortuoso se endireitará, E os caminhos escabrosos se aplanarão; E toda a carne verá a salvação de Deus.” 

E no ano quinze do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos presidente (praefectus) da Judéia, e Herodes tetrarca da Galiléia, e seu irmão Filipe tetrarca da Ituréia e da província de Traconites, e Lisânias tetrarca de Abilene, Sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes, veio no deserto a palavra de Deus a João, filho de Zacarias. Apareceu João batizando no deserto, e pregando o batismo de arrependimento, para remissão dos pecados. 

Eis que toda a província da Judéia e os de Jerusalém iam ter com ele; e todos eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados. 

João, o Batista, andava vestido de pêlos de camelo, e com um cinto de couro em redor de seus lombos, e comia gafanhotos e mel silvestre. E pregava no deserto da Judéia, dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus. 

Vendo a multidão (de fariseus e saduceus) que saía para ser batizada por ele, dizia, pois, João: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento, e não comeceis a dizer em vós mesmos: Temos Abraão por pai; porque eu vos digo que até das pedras pode Deus suscitar filhos a Abraão. E também já está posto o machado à raiz das árvores; pois toda a árvore que não dá bom fruto, corta-se e lança-se no fogo. 

E a multidão o interrogava, dizendo: Que faremos, pois? 

Respondendo ele, disse-lhes: Quem tiver duas túnicas, reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos, faça da mesma maneira. 

E chegaram também uns publicanos, para serem batizados, e disseram-lhe: Mestre, que devemos fazer? E ele lhes disse: Não peçais mais do que o que vos está ordenado. 

Também uns soldados o interrogaram, dizendo: E nós que faremos? E ele lhes disse: A ninguém trateis mal nem defraudeis, e contentai-vos com o vosso soldo. 

E, estando o povo em expectativa, e pensando todos de João, em seus corações, se porventura seria o Cristo, E este é o testemunho de João, quando os judeus mandaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para que lhe perguntassem: Quem és tu? 

E confessou, e não negou; confessou: Eu não sou o Cristo. 

E perguntaram-lhe: Então quê? És tu Elias? E disse: Não sou. És tu profeta? E respondeu: Não. Disseram-lhe pois: Quem és? para que demos resposta àqueles que nos enviaram; que dizes de ti mesmo? 

João Batista respondeu: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías. 

E os que tinham sido enviados eram dos fariseus perguntaram-lhe: Por que batizas, pois, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta? 

João respondeu-lhes, dizendo: Eu batizo com água; mas no meio de vós está um a quem vós não conheceis. Ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. Ele tem a pá na sua mão e limpará a sua eira, e ajuntará o trigo no seu celeiro, mas queimará a palha com fogo inextinguível

Este é aquele que vem após mim, que é antes de mim, que é mais forte do que eu, do qual eu não sou digno de, abaixando-me, desatar a correia das suas sandálias (ou calçados). 

Estas coisas aconteceram em Betabara, do outro lado do Jordão, onde João estava batizando. E assim, admoestando-os, muitas outras coisas também anunciava ao povo."

 Marcos é o apóstolo com o evangelho mais sucinto, mas que ressalta as emoções e o lado humano de Jesus. Neste seu primeiro texto, ele afirma que João Batista é o anjo enviado por Deus, antes de Jesus Cristo. O espiritismo, seguindo um argumento não muito diferente, entende João Batista como uma reencarnação do profeta Elias - Ou seja, um espírito muito bom e próximo de Jesus. 

Independente de qualquer explicação religiosa ou filosófica, João Batista vivia humildemente no deserto, pregando o arrependimento dos pecadores. Nitidamente, estes pecadores, em sua maioria, eram pessoas que não estavam nas piores posições da sociedade, pois como Lucas mostrou em seu texto, eles eram líderes religiosos, soldados, centuriões e cobradores de impostos. 

João cita o exemplo de pecados de cada uma destas classes e recomenda que eles se arrependam e passem a praticar a caridade - que parem de pensar em benefícios próprios e comecem a olhar para os mais necessitados, ajudando-os. 

Com a frase "não comeceis a dizer em vós mesmos: Temos Abraão por pai" também é mostrado que esconder-se atrás de desculpas de ser de determinada linhagem sanguínea/ família, de determinada nação ou de determinada religião não faz pessoa alguma cristã nem faz uma pessoa verdadeiramente religiosa. É preciso viver os ensinamentos de Cristo, pois a lei de Deus é de amor na mente e nas ações.

Assim, os ensinamentos de João Batista se baseavam nas lições sobre justiça e solidariedade de profetas anteriores como Isaías. Justiça que não se trata de punitivismo e sim de equidade: João Batista, bem como Isaías, e talvez de maneira mais pacífica e mais pura do que este profeta, falava de ter piedade dos pobres e miseráveis, de se arrepender das atitudes egoístas e de libertar os escravizados pelos poderosos. Todos estes ensinamentos fazem parte da lei divina, a qual Jesus em seguida vem desenvolver, ressaltando a importância do amor. Amor não é tipo algum de desejo, pois nunca é mesquinho nem interesseiro. Amor é ser receptivo, portanto também é ser humilde. Amor é ser sereno e conviver para gostar e tratar de acordo com isto: É criar amizade sem interesses particulares e sem sucumbir aos desejos materiais que menosprezam as relações amigáveis. A partir daí, o amor é buscar conhecer e honrar o próximo, devotando-se ao bem: É ser solidário com as pessoas, principalmente com os mais necessitados, mantendo a esperança para si e para os outros.

Sobre o Machado à raiz da árvore (Filipe): "A maioria das coisas no mundo, enquanto suas partes internas estão escondidas, permanecem de pé e vivem. Se forem reveladas, elas morrem, como é ilustrado pelo homem visível: enquanto os intestinos do homem estiverem ocultos, o homem está vivo; quando seus intestinos forem expostos e saírem dele, o homem morrerá. Assim também com a árvore: enquanto sua raiz está escondida, ela brota e cresce. Se sua raiz for exposta, a árvore seca. Assim é com cada nascimento que há no mundo, não apenas com o revelado, mas com o oculto. Enquanto a raiz da maldade estiver escondida, ela será forte. Mas quando é reconhecida, é dissolvida. Quando é revelada, perece. É por isso que a Palavra diz: "O machado já está posto à raiz das árvores" (Mateus 3,10). Não apenas cortará - o que é cortado brota novamente - mas o machado penetra profundamente, até trazer a raiz. Jesus arrancou a raiz de todo o lugar, enquanto outros o fizeram apenas parcialmente. Quanto a nós mesmos, que cada um de nós cave a raiz do mal que está dentro de si, e que cada um a arranque do coração pela raiz. Será arrancado se o reconhecermos. Mas se a ignoramos, ela se enraíza em nós e produz seu fruto em nosso coração. Ela nos domina. Nós somos seus escravos. Leva-nos cativos, para nos obrigar a fazer o que não queremos; e o que queremos, não fazemos. É poderosa porque não o reconhecemos. Enquanto existe, está ativa."

Quantos preconceitos e desejos egoístas nós escondemos dos outros e de nós mesmos? Progredir abandonando tais mentalidades é um processo que exige atenção, esforço, vontade e prática. Assim como deve-se combater os próprios pensamentos maliciosos e sentimentos destrutivos, é possível combater o mal externo, expondo-o, ao invés de tentar atacá-lo com ações violentas: Na obra de Platão Eutidemo (sobre a Disputa), Sócrates usa a figura da besta lendária, a hidra de Lerna, comparando-a com a de seus adversários sofistas, que quando tinha uma cabeça derrotada, duas novas nasciam no lugar, com novos “argumentos” falaciosos/ mentirosos. Metaforicamente a hidra pode representar o mal que ataca de várias formas diferentes e que deve ser exposto ou extinto pela sua raiz (no caso da hidra, derrotada pelo seu corpo). O que Sócrates muitas vezes fazia em seus diálogos era expor as mentiras de cidadãos das altas classes sociais gregas que buscavam tirar proveito dos mais pobres, dos menos instruídos etc.

 

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