sábado, 20 de janeiro de 2024

Leitura Ecumênica da "Adoração dos Magos"

 A passagem seguinte trata da visita dos magos ao menino Jesus... Embora conhecidos como "reis magos", o texto original não menciona tal título aristocrático.

Adoração dos “magos” (Mateus 2: 1-13) 

"E, tendo nascido Jesus em Belém de Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do oriente a Jerusalém, dizendo: Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? porque vimos a sua estrela no oriente, e viemos a adorá-lo. 

E o rei Herodes, ouvindo isto, perturbou-se, e toda Jerusalém com ele. Congregados todos os príncipes dos sacerdotes, e os escribas do povo, perguntou-lhes onde havia de nascer o Cristo. E eles lhe disseram: Em Belém de Judéia; porque assim está escrito pelo profeta: E tu, Belém, terra de Judá, De modo nenhum és a menor entre as capitais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar o meu povo Israel. 

Então Herodes, chamando secretamente os magos, inquiriu exatamente deles acerca do tempo em que a estrela lhes aparecera. E, enviando-os a Belém, disse: Ide, e perguntai diligentemente pelo menino e, quando o achardes, participai-mo, para que também eu vá e o adore. 

Tendo eles ouvido o rei, partiram; e eis que a estrela, que tinham visto no oriente, ia adiante deles, até que, chegando, se deteve sobre o lugar onde estava o menino. E, vendo eles a estrela, contentaram-se muito com grande alegria. 

Entrando na casa, acharam o menino com Maria sua mãe e, prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros, ofertaram-lhe dádivas: ouro, incenso e mirra. E, sendo por divina revelação avisados num sonho para que não voltassem para junto de Herodes, partiram para a sua terra por outro caminho." 

Os magos: Arte (romana) bizantina do século 6

 Embora os textos do apóstolo Mateus geralmente fazem uma ligação com as profecias realizadas por patriarcas do judaísmo, nesta passagem dos “três”* magos, ele também indica um elo do nascimento de Jesus com uma religião/ cultura estrangeira. 

(*estipula-se que sejam em três por causa que são ofertados 3 presentes.) 

Os magos citados pelo apóstolo Mateus não são feiticeiros de contos de fantasia típicos da Europa Medieval. O termo mago deve se referir à magi - Um sacerdote comum na cultura das civilizações medas (madai) e persas. Esta classe sacerdotal seguia a religião masdeísta de Zoroastro e comumente serviam como conselheiros dos reis persas. Portanto quando os persas governaram séculos antes do nascimento de Jesus de Nazaré, certamente existiram magis em posição social elevada. Possivelmente por causa desta proximidade histórica com os antigos governos da confederação meda e do Império Persa Aquemênida, eles passaram a ser chamados de “reis” magos por autores posteriores à Mateus.

As civilizações (medas e persas) onde o masdeísmo/ zoroastrismo propagou-se, tiveram seu apogeu entre os anos 678 a.C. e 331 a.C., ou seja, na época de Jesus, elas já tinham sido dominadas por outros povos. Porém a cultura persa e sua religião não desapareceu por completo, tanto que foi aceita durante o domínio Parta (247 a.C. - 224 d.C.) e durante o Império Persa posterior, restaurado no ano de 221 depois de Cristo até o ano de 651 d.C. Portanto, o zoroastrismo ainda sobreviveria por mais de 6 séculos depois de Cristo. 

Sendo assim os magis certamente podem ter vindo de uma variada gama de regiões as quais já tinham sofrido influência anterior da cultura persa e de sua religião masdeísta: Egito, Babilônia (Iraque), Ásia Menor (Turquia), Pérsia (Irã), Partia entre outras. 

Estes magis, sendo sacerdotes honestos e verdadeiros, podem ter entendido o sinal de Aura Mazda, o Deus superior e bom do zoroastrismo, para encontrar Jesus Cristo. Isto por que é possível entender Aura Mazda como um sinônimo de Deus, mesmo tendo um tipo de rival maligno chamado Angra Manyu. Afinal Deus não rejeita culturas diferentes daquelas onde Jesus nasceu: A sua palavra (sua lei de amor) é para as pessoas de todas as nações - de todo o mundo. 

Mesmo com uma história de passado glorioso (afinal os antepassados dos magis serviram imperadores), os (três?) indivíduos desta classe que visitam Jesus, mantém uma postura humilde o tempo todo, comemorando o encontro do local de nascimento de Jesus e presentando uma família simples e pobre, sem status nem título algum! Isto mostra como deve ser a verdadeira espiritualidade e fé independente de qual seja a religião e a cultura. 

A Kriya Yoga entende que o sinal visto pelos magis, estava relacionado às suas desenvolvidas espiritualidades. Tal espiritualidade desenvolvida é explicada pelos conceitos hindus como um tipo de harmonia do elo entre alma e corpo. De alguma forma este elo seriam os chakras. Esta espiritualidade desenvolvida fez com que os magis recebessem sinais do nascimento de Jesus que estava para ocorrer, possivelmente através do Ajna, o chakra conhecido o "olho espiritual". Tal recepção, ou percepção, de sinais é parecido com o conceito de mediunidade apresentado pelo espiritismo.

Interessante notar que pessoas mais céticas podem acusar esta e outras passagens sobre a infância e juventude de Jesus, escritas por Mateus e por Lucas, de serem meros embelezamentos inventados pelos autores ou de serem fatos pouco embasados e muito distorcidos. É compreensível pensar que algum autor cristão após a morte de Jesus pudesse fazer isso para embelezar, engrandecer ou enfatizar a origem divina de Jesus, porém é preciso refletir bem antes de fazer tais acusações: Comparemos duas das histórias de Mateus: A fuga da família de Jesus devido a matança de crianças primogênitas por Herodes é acusada de fantasiosa porque é muito similar à história de Moisés. Os acusadores poderiam dizer que Mateus forçou um vínculo de Jesus com o judaísmo. Mas e a visita dos magos? Porque Mateus escolheria magos? Tais magos são sacerdotes de outra cultura com pouca influência significativa na Judéia: então para quê tal mentira seria inventada? Como tal história poderia ser um embelezamento, se a maioria dos cristãos sequer faz ideia que os magos eram magis masdeístas? Talvez esta cultura dos sacerdotes zoroastristas tenha uma leve influência no judaísmo místico (a cabala, que já devia existir em tradição oral, desde meados do século 3 a.C.) que, em prática, é uma vertente restrita da religião voltada a pequenos grupos de pessoas na sociedade. Portanto, mesmo que haja tal influência, os personagens não sendo populares, embelezariam a história da vida de Jesus só para uma minoria de místicos judeus. Ao observar tais fatos, parece no mínimo precipitado considerar esta passagem citada por Mateus, um conto embelezador ou uma mentira.

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