segunda-feira, 20 de maio de 2024

Leitura Interreligiosa de "Jesus se Justifica" (João)

Esta passagem é praticamente toda do evangelho de João (o evangelista). A frase onde Jesus cita que Deus lhe deu a vida e o poder de exercer juízo pode ser similar a alguma outra que apareça nos evangelhos dos demais apóstolos.

"Mas Jesus respondeu, e disse-lhes: Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma, se o não vir fazer o Pai; porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente. Porque o Pai ama o Filho, e mostra-lhe tudo o que faz; e ele lhe mostrará maiores obras do que estas, para que vos maravilheis.

Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer. E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo; Para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou.

Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida.

Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão.

Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo; E deu-lhe o poder de exercer o juízo, porque é o Filho do homem.

Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação.

Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma. Como ouço, assim julgo; e o meu juízo é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou.

Se eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro.

Há outro que testifica de mim, e sei que o testemunho que ele dá de mim é verdadeiro.

Vós mandastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da verdade.

Eu, porém, não recebo testemunho de homem; mas digo isto, para que vos salveis.

Ele era a candeia (lâmpada) que ardia e alumiava, e vós quisestes alegrar-vos por um pouco de tempo com a sua luz. Mas eu tenho maior testemunho do que o de João; porque as obras que o Pai me deu para realizar, as mesmas obras que eu faço, testificam de mim, que o Pai me enviou. E o Pai, que me enviou, ele mesmo testificou de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz, nem vistes o seu parecer. E a sua palavra não permanece em vós, porque naquele que ele enviou, vós não credes.

Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam; E não quereis vir a mim para terdes vida.

Não recebo glória dos homens, mas bem sei que não tendes em vós o amor de Deus.

Eu vim em nome de meu Pai, e não me aceitais; se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis. Como podeis vós crer, recebendo honra uns dos outros, e não buscando a honra que vem só de Deus? Não cuideis que eu vos hei de acusar para com o Pai. Há um que vos acusa, Moisés, em quem vós esperais.

Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele.

Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?"

O apóstolo João mostra um diálogo após a "cura do paralítico", onde Jesus explica de maneira mais detalhada como Deus deu poder a ele. Jesus não busca satisfazer suas próprias vontades, ele veio fazer a vontade de seu Pai e isto é uma prova de humildade, amor e esperança em Deus e para toda a criação. Isto está de acordo com o texto hindu do Bhagavad Gita: “Nada do que faço sou eu quem faz! Assim pensará quem se atém à verdade das verdades” (...)

Além disto Jesus reforça que Deus não julga e diz que não acusará pessoa alguma diante Deus, pois ele veio salvar a humanidade, ensinando-a a lei de amor. As críticas que Jesus faz aos religiosos corruptos em outras passagens, são críticas voltadas a estes na Terra, não no pós vida. São críticas aos líderes que enganavam as pessoas buscando proveito próprio: difundiam rituais vazios, comercializavam a religiosidade, buscavam enriquecer materialmente e oprimir o povo - Isto completa o que ele explicou à Nicodemos de que o julgamento (a condenação) é a vinda da luz, afinal “todo aquele que faz o mal odeia a luz”, O praticante do mal não vai para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas, mas o bondoso e verdadeiro vai para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus. 

Jesus também indica que não adianta "crer em profetas anteriores à ele" e não ouvir sua palavra (citando João Batista como exemplo). Esta seletividade em escolher um "profeta" como exemplo ou como mestre e deixar os ensinamentos de Jesus em segundo plano, seria contradizer a Deus. Jesus também diz que não veio para ser glorificado entre os homens e que veio trazer os ensinamentos de Deus - já mencionados por Moisés cerca de 13 ou 14 séculos antes. Com a diferença que Jesus, em seu tempo, já fala claramente do amor de Deus e ensina sobre a importância deste amor.

O trecho “Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros (os que morreram, ou seja, os que deixaram a vida corpórea, restando-lhe somente a essência - o espírito) ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação.” parece se referir à reencarnação, pois não havia tal palavra entre os judeus durante o século 1. Então a palavra "ressurreição" era usada tanto para as ressurreições "milagrosas" onde a pessoa era trazida de volta à vida (Lázaro, o filho da viúva de Naim etc), quanto para os espíritos que iriam renascer, seja no Reino dos Céus/ junto a Deus ou para "pagar por seus pecados". Assim é possível entender que Jesus quis dizer: Os que fizeram o bem reencarnarão em um mundo superior/ rumarão à morada de Cristo e os que fizeram mal reencarnarão em um mundo inferior para se aperfeiçoarem pagando por suas dívidas diante a lei de amor/ redimindo-se de seus pecados, ou seja, buscando progresso moral. Isto aproxima o cristianismo do espiritismo, do hinduísmo e da filosofia fundada por Platão, ocasionalmente chamada de platonismo. Reencarnar para "pagar dívidas" devido aos seus erros não é punição, pois Deus não pune nem condena: é aprender a amar, perdoar, enfim aprender os ensinamentos de Jesus e dos demais profetas sobre a lei de amor.

Enfim, ao criticar os sacerdotes líderes cheios de poder na Terra e ao expor que os mortos ressuscitarão (possivelmente reencarnarão), Jesus traz uma mensagem de equidade e de esperança!

 

 

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