domingo, 21 de julho de 2024

Leitura inter religiosa de "Mensagem de João Batista a Jesus"

Legendas: (Tomé: Ciano, Mateus: Azul, Lucas: Vermelho) 

"E João, ouvindo no cárcere falar dos feitos de Cristo, chamou dois dos seus discípulos e enviou-os a Jesus, dizendo: És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro? 

E, quando aqueles homens chegaram junto dele, disseram: João o Batista enviou-nos a perguntar-te: És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro? 

E, na mesma hora, curou muitos de enfermidades, e males, e espíritos maus, e deu vista a muitos cegos

Respondendo, então, Jesus, disse-lhes: Ide, e anunciai a João o que tendes visto e ouvido: que os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres anuncia-se o evangelho. E bem-aventurado é aquele que em mim se não escandalizar. E, tendo-se retirado os mensageiros de João, Jesus começou a dizer à multidão acerca de João: Que saístes a ver no deserto? uma cana abalada pelo vento? 

Mas que saístes a ver? um homem trajado de vestes delicadas? Eis que os que andam com preciosas vestiduras, e em delícias, estão nos paços reais (palácios). 

Mas que saístes a ver? um profeta? Sim, vos digo, e muito mais do que profeta. 

Este é aquele de quem está escrito: Eis que envio o meu anjo diante da tua face, O qual preparará diante de ti o teu caminho

E eu vos digo que, entre os nascidos de mulheres, desde Adão até João o Batista, não há ninguém tão superior a João Batista que seus olhos não devem ser abaixados (diante dele); mas o menor no reino de Deus é maior do que ele. Ainda assim eu digo que qualquer um de vocês que venha a ser uma criança conhecerá o Reino e se tornará superior a João. E, desde os dias de João o Batista até agora, se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele. Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João. E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça

E todo o povo que o ouviu e os publicanos, tendo sido batizados com o batismo de João, justificaram a Deus. Mas os fariseus e os doutores da lei rejeitaram o conselho de Deus contra si mesmos, não tendo sido batizados por ele

E disse o Senhor: A quem, pois, compararei os homens desta geração, e a quem são semelhantes? São semelhantes aos meninos que, assentados nas praças, clamam uns aos outros, e dizem: Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamo-vos lamentações, e não chorastes. Porque veio João o Batista, que não comia pão nem bebia vinho, e dizeis: Tem demônio; Veio o Filho do homem, que come e bebe, e dizeis: Eis aí um homem comilão e bebedor de vinho, amigo dos publicanos e pecadores. 

Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos."

Jesus afirma que fazem violência contra o Reino dos Céus. Isto pode se referir aos variados movimentos contrários ao bem e à verdadeira espiritualidade. O judaísmo, além de estar dividido em variadas seitas, estava em sua maioria tomado por sacerdotes corruptos, ou seja, que manipulavam o povo para se manter em posição social e econômica superior e negavam a vida eterna às pessoas. Estes interesses egoístas e tentativas de manipulação certamente se espalhavam por diversas outras religiões dentro e fora do Império Romano. 

A parábola dos meninos que tocaram flauta e cantaram lamentações parece mostrar que os meninos, assim como as crianças em outras passagens citadas pelos apóstolos, invocam a importância da humildade. A partir da atitude humilde, Deus mostrou 2 caminhos para se viver: uma para “dançar ao som das flautas” e outro para “se juntar aos cantos de lamentação”. 

O 1º é o mesmo da parábola da festa (bodas) de casamento - O caminho de Jesus, xingado de comilão, beberrão e amigo dos pecadores, trata-se de viver com alegria, socorrendo os mais necessitados e compartilhando tudo o que se tem em vida. Jesus não viveu para encher-se de comida e bebida luxuosamente enquanto outros passariam fome: Ele compartilhava tudo que conseguia e não proibia as pessoas de se alimentarem ou de beberem. Conviveu com "pecadores" não para propagar o pecado nem para impor-lhes regras restritivas. Conviveu simplesmente por amor piedoso, buscando converter os demais para uma vida de solidariedade, piedade e esperança.

O 2º caminho é o da vigilância, onde tira-se “a trave do próprio olho” para viver em humildade instruindo os demais a abandonarem a ganância e a luxúria, enfim mostrar que deve-se abandonar o egoísmo e praticar a solidariedade, como João Batista fazia e foi acusado de “endemoniado”. Isto mostra como os sacerdotes corruptos só estavam interessados em manter o poder e o prestígio em suas seitas: Recusavam a Deus e sua lei de amor, difamando e atacando Jesus de Nazaré, o Cristo, e os profetas como João Batista. 

Jesus também mostra-se verdadeiramente amigo de João Batista: É sincero com ele e depois explica aos discípulos o percurso da existência do profeta, mostrando seu valor e importância: De tempos em tempos Deus enviou escolhidos, sejam profetas ou indivíduos inspirados, para propagar seus ensinamentos. Porém, muitas vezes, estes escolhidos de Deus para propagar a bondade e a equidade, foram atacados, rechaçados, feridos e até mesmo mortos.

Jesus diz que João é o anjo enviado antes de si e que o menor no Reino dos Céus é maior que João. Lembrando que a lei divina ensinada por Jesus é de amar a Deus e de amar o próximo (todos) como a si mesmo, estas palavras sobre João jamais podem ser consideradas de desprezo. Jesus indica que há pouca ou nenhuma diferença entre João Batista e os anjos. Neste caso alguém poderia falar que profetas do velho testamento como Elias não eram exemplo de benevolência, mas há de se considerar vários fatores sobre isto: O velho testamento mostra uma sociedade muito bruta e violenta. Os povos monoteístas, sejam chamados de hebreus, judaicos ou “escolhidos por Deus” viviam em meio às sociedades que guerreavam constantemente e eram nitidamente cruéis em suas punições, seja para com infratores de leis ou com adversários de guerra. 

Em seguida Jesus indica que qualquer pessoa que se devote à lei de amor ensinada por ele, pode se tornar maior (superior) a João, portanto aos anjos! Em nenhum momento Jesus descreve anjos como seres inalcançáveis e apartados dos humanos - isto é uma provável invenção ou mera interpretação teológica de um ou mais indivíduos que colaboraram para a institucionalização da religião. 

Por fim, quando Jesus diz que João é o Elias que estava por vir, é possível que ele indique que João é a reencarnação de Elias. Isto estaria de acordo com que Jesus fala a Nicodemos que ele terá que nascer novamente (reencarnar) e que o espírito vem (sopra) de onde não sabemos… A visão da psique (alma) de Platão, que está de acordo com o pitagorismo, com o druidismo celta e com o hinduísmo, aceita esta ideia, bem como o espiritismo, a umbanda e o candomblé também aceitam. 

Essa interpretação reencarnacionista é justamente o que complementa a lacuna deixada pela história das religiões, particularmente das abraâmicas (judaísmo, cristianismo, islamismo etc), tão permeadas de violência. Como Deus onipotente, todo piedoso e justo explicado por Jesus, criaria tantos seres humanos que viveram uma mera vida de violência, sem perspectiva de melhora ética? 

Todos esses ensinamentos de Jesus são pautados por seu amor piedoso. Isto porque o amor ensinado por Jesus não é interesseiro, nem é exclusivamente materialista: É prático na vida terrena e útil na vida psíquica também para além da vida terrena, pois sempre tem um pano de fundo: a esperança! Excluir a esperança dos ensinamentos de Jesus é uma contradição e uma falácia.

 

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