domingo, 28 de julho de 2024

Leitura ecumênica de "Censura às Cidades Impertinentes" e "Sinais dos Tempos"

Censura às Cidades Impertinentes (Mateus, Lucas) 

"Então começou ele a lançar em rosto às cidades onde se operou a maior parte dos seus prodígios o não se haverem arrependido, dizendo: 

Ai de ti, Corazim, ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom se fizessem as maravilhas que em vós foram feitas, já há muito, assentadas em saco e cinza, se teriam arrependido. 

Portanto, para Tiro e Sidom haverá menos rigor, no juízo, do que para vós. E tu, Cafarnaum, que te levantaste até ao céu, até ao inferno serás abatida. 

Em verdade vos digo que, no dia do juízo, haverá menos rigor para o país de Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade."

Este trecho pode complementar a passagem em que Jesus diz para seus apóstolos “sacudirem a poeira dos pés ao sair de um lugar onde não são bem recebidos”. Jesus lamenta pelas cidades onde ocorreram grandes fenômenos/ milagres de Deus e de seus profetas (inclusive o próprio Jesus realizou milagres ali) e que em sua época (durante o século 1), foram tomadas por opositores dos ensinamentos de Cristo. Quando uma pessoa, ou grupo de pessoas persiste em desprezar a lei divina de amor, deve-se abandoná-lo(s), afinal não há nada mais a ser feito. Aqueles que insistem em desprezar ou se opor ao bem e a verdade, condenam suas próprias almas. 

É sempre válido lembrar que interpretações de “penas eternas” contradizem o que Jesus ensina em seu diálogo com Nicodemos. É claro que há justiça na lei divina ensinada por Jesus, mas não há um detalhamento significante do que ocorre no pós vida terrestre. Jesus não se ocupava em aprofundar tais explicações, pois veio ensinar a importância do amor. Certamente dogmas que destoam do amor piedoso e esperançoso de Cristo, foram inventados por sacerdotes e teólogos após o século 1. 

Sinais dos Tempos (Tomé, Mateus, Lucas) 

"Vim trazer fogo à terra, e como gostaria que já estivesse aceso! 

 Mas tenho que passar por um batismo, e como estou angustiado até que ele se realize! 

Não cuideis (penseis) que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada; Porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; E assim os inimigos do homem serão os seus familiares. 

Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim. E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. 

Quem achar a sua vida irá perdê-la; e quem perder a sua vida, por amor de mim, irá achá-la. 

Quem vos recebe, a mim me recebe; e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou. 

Quem recebe um profeta em qualidade de profeta, receberá galardão de profeta; e quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá galardão de justo. 

E qualquer que tiver dado só que seja um copo de água fria a um destes pequenos, em nome de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá a sua recompensa."

Jesus disse: "Eu lancei fogo sobre o mundo, e eis que estou guardando-o até que ele arda.

Jesus sabia que seus ensinamentos sobre a lei divina do amor incomodariam não só os sacerdotes corruptos, mas também aos gananciosos e aos conservadores. A corte de Herodes encheu-se de medo e sede de sangue, enquanto as seitas judaicas corruptas, como os fariseus, se opuseram a Jesus. Por isso Cristo diz que não veio trazer a paz, mas a espada: Ele não apoiou o uso de armas, mas sabia que muitos odiariam a ele e a seus seguidores! Obviamente Jesus não falou em guerrear: causar inimizade entre aqueles que vivem na mesma "casa" deve se referir às mudanças trazidas por Jesus para a maioria dos judeus. A identidade étnica e política dos judeus, juntamente com a religião judaica, sempre foram próximas entre si, tanto que foram praticamente a única nação monoteísta da antiguidade. Jesus veio trazer sua mensagem de amor / caridade, mas não tolerou o conservadorismo orgulhoso e egoísta da maioria judaica de seu tempo. Cultos elitistas e/ ou fechados são contrários à doutrina de solidariedade trazida por Jesus. A proposta de mudança trazida por Jesus foi revolucionária, assim, obviamente encontraria oposição e consequentemente conflito, ao qual ele chamou de espada. 

No evangelho de Tomé, quando Jesus diz "Os fariseus e os escribas tomaram as chaves do conhecimento e esconderam-nas. Não entraram nem deixaram entrar aqueles que queriam entrar. Vós, porém, sede astutos como serpentes e inocentes como pombas.” também é possível notar uma crítica à elitização da religião (no caso, o judaísmo). A passagem deste evangelho é similar ao trecho de Mateus 23: 13-27.

Quando Jesus diz que veio por filho contra pai, filha contra mãe e nora contra sogra/ Separar o pai do filho, isto está próximo da necessidade de se priorizar o bem. Aquele que quer pôr em prática os ensinamentos de Cristo, muitas vezes deve deixar a família de lado ao escolher uma vida de serviço (caridade e solidariedade) e de humildade (evitando a maledicência, o preconceito etc). Esta renúncia de conforto material e da rotina familiar também aparece nas escrituras hindus, mesmo porque, muitas vezes a família pode ser hedonista e/ ou conservadora, o que contradiz a humildade, a solidariedade e a piedade ensinadas por Jesus. 

O progresso da humanidade, seja ele social ou espiritual, ou ambos, só se dá pelo desenvolvimento de uma empatia solidária, ou seja, que serve ao próximo. Isto implica abandonar o conforto e o luxo para ajudar os mais necessitados que eram (e ainda são) tão numerosos nas civilizações. Quem não carrega sua cruz, ou seja, seu fardo - quem não se move para fazer o bem, não é digno de Cristo. É preciso estar receptivo à palavra de Cristo e a sua prática, que é receber o próximo. Se a pessoa só se preocupa com sua própria vida, seus bens, sua casa etc, ela não terá nada após a morte. 

Na visão de Platão (e Sócrates), as psiquês (almas) que viveram apegadas aos prazeres sensoriais, ao acúmulo de dinheiro/ riquezas materiais ou as honrarias/ ao status, permanecerão apegadas à Terra quando seus corpos morrerem. Isto porque os filósofos explicavam que enquanto o corpo poderia adoecer, envelhecer, morrer e apodrecer, a psiquê sendo indivisível (não pode ser decomposta) e ativa mesmo durante a inconsciência do corpo (sono), era imperecível.

 

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