sábado, 31 de agosto de 2024

Leitura de "Discussão sobre um milagre" e "Pecado contra o Espírito Santo"

Discussão sobre um Milagre/ Blasfêmia dos Fariseus (Mateus, Marcos, Lucas) 

"Dirigiram-se para uma casa. E afluiu outra vez a multidão, de tal maneira que nem sequer podiam comer pão (tomar alimento). Quando os seus ouviram isto, saíram para o prender (reter); porque diziam: Está fora de si. 

Estava ele (Jesus) expulsando um demônio, o qual era mudo. E aconteceu que, saindo o demônio, o mudo falou; A multidão maravilhou-se e dizia: Não é este o Filho de Davi? Mas alguns deles (fariseus) diziam: Ele expulsa os demônios por Belzebu, príncipe dos demônios. E outros, tentando-o (provocando), pediam-lhe um sinal do céu. 

Porém, conhecendo ele os seus pensamentos, Jesus disse-lhes: Todo o reino, dividido contra si mesmo, será assolado; e a casa, dividida contra si mesma, cairá. E, se também Satanás está dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? Pois dizeis que eu expulso os demônios por Belzebu. Se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam vossos filhos? Eles, pois, serão os vossos juízes. 

Mas, se eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente a vós é chegado o reino de Deus. Quando o valente guarda, armado, a sua casa, em segurança está tudo quanto tem; Mas, sobrevindo outro mais valente do que ele, e vencendo-o, tira-lhe toda a sua armadura em que confiava, e reparte os seus despojos. 

Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha."

Marcos indica que pessoas próximas de Jesus, sejam familiares como primos, ou amigos que o conheciam há algum tempo, não se conformavam com sua atitude. Falavam “está fora de si”, seja porque não acreditavam que uma pessoa conhecida e próxima pudesse fazer milagres ou porque não viam sentido no fato de Jesus sair em sua missão de ensinar sobre a importância do amor, do perdão e da solidariedade. Jesus enfrenta e supera esta má aceitação de pessoas próximas, não só nesta passagem, mas em outras, como quando esteve em Nazaré e na Festa de Tabernáculos

A discussão sobre os milagres operados por Jesus é típica entre os que duvidam dele. Mateus descreve que são os fariseus que estão a acusar Jesus de estar ligado aos demônios, os quais o espiritismo e a umbanda classificam de espíritos infelizes ou egoístas e o hinduísmo geralmente chama de asuras (em oposição aos devas). 

Resumidamente, não faz sentido um servo de um "príncipe dos demônios" sair expulsando demônios por aí: Isto é a refutação mais óbvia da acusação pronunciada pelos fariseus e assim Jesus explica que realiza seus feitos em nome de Deus. Mas além disto, Jesus indica que um reino (casa, ou qualquer outro agrupamento de seres) que vive contra seus ensinamentos de solidariedade e piedade, não subsiste, ou seja, não dura. Isto porque tal reino ou casa, é repleto de intolerância e separatividade. Assim é o egoísmo: suas alianças são falsas e elas geralmente duram pouco. Isto é mais certo e  mais evidente na dimensão espiritual, onde não há como esconder pensamentos, sentimentos e intenções, pois não há corpos, nem um local para se ocultar. O espiritismo explica isto afirmando que os espíritos menos puros não conseguem ocultar coisa alguma de espíritos mais puros (numa comparação simples: um "demônio" não consegue ocultar coisa alguma diante anjos e santos das religiões cristãs). Isto faz sentido porque quanto mais puro o espírito, mais próximo de Deus ele é, então mais próximo da onisciência e da onipresença ele é. Seguindo esta lógica, qualquer "reino" de espíritos malignos é um reino de mentes que se traem e é mais frágil do que qualquer espírito mais verdadeiramente benévolo. Desta forma Jesus afirma que aqueles que estão divididos, ou seja, aqueles que atacam os outros promovendo ódio, discórdia ou rivalidade, não só correm o risco de serem traídos durante a vida na Terra, mas que inevitavelmente fracassarão no "pós vida", na realidade espiritual. 

Também é importante lembrar que acusar alguém que está ajudando pessoas, ao longo da história foi um tipo de ação recorrentemente feita por religiosos (ou supostos religiosos) que não queriam perder prestígio e poder sobre as multidões. 

Estes que acusaram Jesus e os profetas, são como os que atacam as pessoas que pregam e praticam a solidariedade, neste início de século 21. Os religiosos fanáticos, os charlatães e os falsos profetas desprezam a equidade e a solidariedade, pois para esconderem seus crimes e pecados, pregam rivalidade e intolerância, inventando inimigos e fomentando frágeis conluios essencialmente baseados em sentimentos negativos (de medo ou ódio ao diferente por exemplo). 

Entre estes supostos religiosos estão alguns que vivem falando de demônios seja para acusar pessoas ateias e de outras religiões ou para fingir que exorcizam pessoas supostamente "endemoniadas" - tais líderes embora geralmente ajam dentro de uma religião, também podem agir fora da instituição religiosa, e não são diferentes dos inquisidores que estudaram priorizando tais temas ao longo da história: Em várias nações da Europa, tais como Escócia, Inglaterra, Espanha, Império Germânico (etc), durante a Idade Média até o final da Renascença, as elites que incitaram inquisições e perseguições para caçar e exterminar supostas bruxas, viviam imersas em teorias e leituras sobre espíritos malignos. O rei James VI da Escócia e Inglaterra, o puritano inglês Mathew Hopkins, auto intitulado enviado do parlamento para caçar bruxas e os papas Inocêncio VIII e Clemente VIII são exemplos de perseguidores responsáveis pela execução de supostas bruxas e bruxos - geralmente pessoas que destoavam das cultura e da espiritualidade/ religião dominantes ou, em casos mais raros, da política dominante. Embora cada um destes indivíduos estivessem por trás da morte de centenas de indivíduos, o total de vítimas perseguidas e executadas por este tipo de pensamento entre os séculos 15 e 18, são de dezenas de milhares de pessoas.

Não se pode esperar nada da espiritualidade sem as virtudes ensinadas por Cristo e pelos outros sábios e profetas que ensinaram sobre a lei divina de amor e sobre o bem. As virtudes são humildade, autoconhecimento, autocontrole, piedade, paciência, fé (força de vontade), solidariedade, busca pela verdade, esperança… Os que priorizam tais virtudes não vivem procurando espíritos malignos nem alvos para acusarem. Ao dizer que todo reino ou cidade dividida contra si mesma está fadada à devastação e à inexistência, Jesus está dizendo que os grupos de pessoas que acusam os outros (como cultos liderados por falsos profetas, grupos supremacistas e outros similares) estão condenados a este tipo de decadência: Devem se espalhar e desaparecer com o desenvolver do progresso, pois este não é só racional, é principalmente ético

A parábola do guarda valente (também chamado de guarda forte) se refere à força da fé e da esperança em Deus. Aquele que perde esta força ou sua coragem no bem, na esperança, acaba subjugado pelo mal, seja amedrontado ou fascinado por este. Assim, Jesus completa este ensinamento com a crítica que ele faz aos seus opositores (fariseus e/ou outros) na passagem seguinte: Os fariseus são covardes e mentalmente fracos e agem com inveja de Jesus. Aquele que é decidido a seguir os ensinamentos de Jesus, a lei divina, é forte e suporta provocações, insinuações, difamações e mentiras em geral.

Pecado contra o Espírito Santo (Mateus, Marcos, Lucas) 

"Portanto, eu vos digo: Todo o pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens. 

E, se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do homem, ser-lhe-á perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro. 

Ou fazei a árvore boa, e o seu fruto bom, ou fazei a árvore má, e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore. 

Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca. 

O homem bom tira boas coisas do bom tesouro do seu coração, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más. 

Mas eu vos digo que de toda a palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo. Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado."

Certamente acusar alguém que está fazendo o bem, como se este fosse maligno, é um erro (pecado) grave. Deste modo, pensar em acusar alguém falsamente devido a interesses individualistas já é um pecado e expressar isto visando convencer outras pessoas de tal mentira, é algo pior ainda. Por fim, acusar Cristo/ o Espírito Santo é absurdo. 

As palavras são expressões e de certo modo, são ações também: Elas podem ajudar ou podem ferir e por isso falar a verdade buscando o bem universal é tão importante quanto a solidariedade e a piedade ensinadas por Jesus. Por isso é importante viver o amor ensinado por Jesus: interiormente, de coração, na psiquê (mente e alma) e externamente, buscando o bem de todos. 


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