domingo, 4 de agosto de 2024

Leitura Interreligiosa de "O servo do centurião" e "O filho da viúva de Naim"

O servo do centurião (Mateus, Lucas) 

"Entrando Jesus em Cafarnaum, o servo de um certo centurião, a quem muito estimava, estava doente, e moribundo. E, quando ouviu falar de Jesus, enviou-lhe uns anciãos dos judeus, rogando-lhe que viesse curar o seu servo. 

Chegando eles junto de Jesus, rogaram-lhe muito, dizendo: É digno de que lhe concedas isto, Porque ama a nossa nação, e ele mesmo nos edificou a sinagoga. 

E foi Jesus com eles; mas, quando já estava perto da casa, chegou junto dele um (o) centurião, rogando-lhe, e dizendo: Senhor, o meu criado jaz em casa, paralítico, e violentamente atormentado. E Jesus lhe disse: Eu irei, e lhe darei saúde. 

O centurião, respondendo, disse: Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado, mas dize somente uma palavra, e o meu criado há de sarar. Pois também eu sou homem sob autoridade, e tenho soldados às minhas ordens; e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu criado: Faze isto, e ele o faz. 

E maravilhou-se Jesus, ouvindo isto, e disse aos que o seguiam: Em verdade vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tanta fé. 

Mas eu vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e assentar-se-ão à mesa com Abraão, e Isaque, e Jacó, no reino dos céus; E os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes. Então disse Jesus ao centurião: Vai, e como creste te seja feito. E naquela mesma hora o seu criado sarou."

O centurião parece ser um tipo raro de pessoa: mesmo em posição de poder e pertencente a uma instituição voltada ao conflito e a guerra (o exército romano), ele mostrou-se humilde e receptivo com Jesus: Não se considerou digno, mas acreditou na piedade de Cristo. De modo também possivelmente raro, o centurião sentia-se responsável ou tinha grande afeto por seu servo, que foi curado por Jesus. 

Jesus, ao ver um centurião romano possivelmente judeu, afirma que muitos estrangeiros de diversas regiões do mundo se juntarão ao seu reino: A fé não depende de uma determinada cultura nem de uma nacionalidade. 

Lucas ressalta que o centurião seguia a religião judaica, ou seja, não seguia a religião politeísta romana: Era monoteísta e suas atitudes indicavam que acreditava em Deus. 

O filho da viúva de Naim (Lucas) 

"Aconteceu que, no dia seguinte, Jesus foi à cidade chamada Naim, e com ele iam muitos dos seus discípulos, e uma grande multidão; 

E, quando chegou perto da porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único de sua mãe, que era viúva; e com ela ia uma grande multidão da cidade. 

Vendo-a, o Senhor moveu-se de íntima compaixão por ela, e disse-lhe: Não chores. 

Chegando-se, tocou o esquife (e os que o levavam pararam), e disse: Jovem, a ti te digo: Levanta-te. E o que fora defunto assentou-se, e começou a falar. E entregou-o à sua mãe. 

De todos se apoderou o temor, e glorificavam a Deus, dizendo: Um grande profeta se levantou entre nós, e Deus visitou o seu povo. 

E correu dele esta fama por toda a Judéia e por toda a terra circunvizinha. 

E os discípulos de João anunciaram-lhe todas estas coisas."

Mais uma passagem que mostra a compaixão de Jesus pelos mais vulneráveis: Jesus viu a viúva sofrendo com a perda de seu filho ainda jovem e decidiu ressuscitá-lo. 

Os jovens são símbolos do futuro: têm a vida toda pela frente e a nível coletivo, são eles que decidem os rumos da sociedade por determinados períodos da história das civilizações humanas. 

Além disto Jesus reconhece a dor de uma mãe ao perder o filho e este é mais um dos motivos que ele decide ajudá-la. 

Uma questão de menor importância é a do ressuscitar os mortos, pois ela faz parte dos assuntos que se afastam dos ensinamentos de Jesus e da importância da ética e dos bons sentimentos - A questão facilmente se torna um tecnicismo, que fomenta mais divisões entre as pessoas do que união.

No espiritismo, Kardec diz que os judeus não conheciam/ não possuíam a palavra reencarnação em seu vocabulário e por isso utilizavam a palavra ressurreição para AMBOS casos: o de reencarnação e o de ressurreição. Ele não nega que os judeus, ou os cristãos dos séculos 1 ao 3 descrevessem casos de ressurreição como o do filho da viúva de Naim citado nesta passagem e como o caso de Lázaro. O que Kardec põe em dúvida com seu olhar crítico é que possa ter ocorrido tais casos de ressurreição, pois o autor fundador e codificador do espiritismo dialogava com a visão científica de sua época (século 19). Esta é uma interpretação do autor e de outros que concordam com ele, apenas isto. O próprio Kardec sobre a discussão em torno de dogmas diz que a finalidade do espiritismo é o melhoramento moral do ser humano e não perpetuar um antagonismo. Sua prioridade é unir o ser humano sob o ideário da caridade, como irmãos, independentemente de suas crenças. Se existem dogmas controversos "é preciso deixar ao tempo e ao progresso das luzes o cuidado de sua depuração".

Práticas ecumênicas do Sanatana Dharma, como a Kriya Yoga (surgida no mesmo século em que o espiritismo surgiu), obviamente aceita a ideia equivalente à reencarnação, mas não nega a possibilidade de Jesus ter ressuscitado as pessoas citadas nas passagens da bíblia. Não há uma preocupação em buscar respaldo de métodos de investigação científica: os mestres e autores da Kriya não eram contra a ciência, na verdade até buscaram um diálogo com a ciência da época de Einstein, porém sabiam que haviam muitos materialistas e empiristas na academia. E o empirismo a rigor exige reprodutibilidade de fenômenos perceptíveis, algo praticamente impossível de se obter nos fenômenos descritos como feitos por Jesus.

 

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