"Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar?
E achando-a, convoca as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque já achei a dracma perdida.
Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende."
Perdão, tolerância e esperança são temas centrais nos ensinamento de Jesus e portanto no cristianismo em sua origem: Esta é mais uma passagem que mostra que Deus e o reino dos céus, com todos seus anjos, não punem e sim, pacientemente aguardam que todos se arrependam de seus pecados. Eles não forçam pessoa alguma, nem impõem, oprimem ou intimidam, pois Deus deu o livre arbítrio a todos seres humanos.
Arrepender-se dos pecados é enxergar as próprias impurezas de pensamento, sentimento e atitudes e então deixá-las para trás. Não é um rigor cego e ignorante, pois requer refletir sobre si mesmo e mudar para seguir a lei divina de amor, ou seja, para ser humilde, solidário e esperançoso.
Parábola do filho pródigo (Lucas)
E Jesus disse: Um certo homem tinha dois filhos;
E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda.
Poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente.
Havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades. Então chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus campos, a apascentar porcos. Desejava encher o seu estômago com as bolotas (vagens) que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada. E, tornando em si, disse: Quantos jornaleiros (empregados) de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome!
Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti;
Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus jornaleiros.
E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.
E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho.
Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa; e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão, e alparcas nos pés; E trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos, e alegremo-nos;
Porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a alegrar-se.
O seu filho mais velho estava no campo; e quando veio, e chegou perto de casa, ouviu a música e as danças. E, chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo.
Ele lhe respondeu: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo.
Mas ele se indignou, e não queria entrar.
E saindo o pai, instava com ele. Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos; Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado.
E ele lhe disse: Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas;
Mas era justo alegrarmo-nos e folgarmos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; e tinha-se perdido, e achou-se.
Esta parábola mostra como o filho mais novo se arrependeu de seus erros e como seu pai nunca deixou de amá-lo. O pai, como qualquer pessoa que se devotou ao bem de alguém além de si mesmo e teve amizade com outra pessoa, esteve pronto para perdoar seu filho. Com admiração e alegria de reencontrar o filho mais novo, deu-lhe uma festa, também continuando a amar o seu filho mais velho, confiando neste que sempre esteve ao seu lado. Deus não rejeita seus filhos, não se afasta dos seres humanos - são estes que quando erram, ou seja, quando pecam, que se afastam do Criador.
Interessante também é notar que esta parábola indica que Deus sempre perdoa (este ato de sempre perdoar também é mostrado no diálogo entre Jesus e Nicodemos, citado por João). e que nas sociedades humanas, este amor que sempre perdoa é mais comum nas mulheres - particularmente nas mães em relação a seus filhos e filhas. Possivelmente a dificuldade de entender e aplicar tais ensinamentos se deve à predominância do patriarcado nas civilizações humanas e a sua propagação de machismo. Após a morte de Jesus, as guerras por motivos religiosos predominaram na Europa por cerca de 1600 anos! O machismo então demorou mais 350 anos (aproximadamente) para começar a ser questionado e derrubado. Apesar desta demora milenar, a importância do perdão e do acolhimento começa a ficar socialmente mais perceptível… Deus nos espera, assim como a mãe espera que seus filhos desaparecidos voltem para sua casa.
Parábola do administrador infiel (Lucas)
E dizia também aos seus discípulos: Havia um certo homem rico, o qual tinha um mordomo (administrador); e este foi acusado perante ele de dissipar os seus bens.
E ele, chamando-o, disse-lhe: Que é isto que ouço de ti? Dá contas da tua mordomia (administração), porque já não poderás ser mais meu mordomo.
E o mordomo disse consigo: Que farei, pois que o meu senhor me tira a mordomia? Cavar (lavrar), não posso. De mendigar, tenho vergonha... Eu sei o que hei de fazer, para que, quando for desapossado da mordomia, me recebam em suas casas.
Chamando a si cada um dos devedores do seu senhor, disse ao primeiro: Quanto deves ao meu senhor?
E ele respondeu: Cem medidas de azeite. O mordomo disse-lhe: Toma a tua obrigação, e assentando-te já, escreve cinqüenta.
Disse depois a outro: E tu, quanto deves? Ele respondeu: Cem alqueires de trigo. E disse-lhe: Toma a tua obrigação, e escreve oitenta.
E louvou aquele senhor o injusto mordomo por haver procedido prudentemente, porque os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz.
E eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos.
Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito.
Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras?
E, se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso?
Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.
E os fariseus, que eram avarentos, ouviam todas estas coisas, e zombavam dele.
E disse-lhes: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações, porque o que entre os homens é elevado, perante Deus é abominação.
A lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o reino de Deus, e todo o homem emprega força para entrar nele.
E é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til da lei.
Qualquer que deixa sua mulher, e casa com outra, adultera; e aquele que casa com a repudiada pelo marido, adultera também.
Quem é fiel nas coisas pequenas também o é nas coisas grandes e assim também é com o infiel, que trai nos assuntos supérfluos e nos assuntos importantes.
Esta parábola não está entre as mais simples, pois requer entender o contexto de sua época: O administrador típico do século 1 cobrava uma taxa a mais sobre os clientes - Algo que o personagem da parábola abdicou: Ele preferiu manter as amizades do que ganhar dinheiro/ lucro.
Não devemos nos apegar a coisas materiais, nem priorizá-las diante a possibilidade de fazer amizades sinceras, pois o mundo material é passageiro. Fazer o bem, é deixar de ser mesquinho, é ser solidário, é buscar equidade - Tudo isto é mais humano e, portanto, mais importante do que juntar dinheiro e buscar lucro. O lucro, ou seja, a obtenção de vantagens em relação ao próximo, gera e perpetua competitividade e rixas, enquanto a solidariedade gera amizades e perpetua a paz.
Lição de Humildade (Lucas)
E qual de vós terá um servo a lavrar ou a apascentar gado, a quem, voltando ele do campo, diga: Chega-te, e assenta-te à mesa?
E não lhe diga antes: Prepara-me a ceia, e cinge-te, e serve-me até que tenha comido e bebido, e depois comerás e beberás tu?
Porventura dá graças ao tal servo, porque fez o que lhe foi mandado? Creio que não.
Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer.
Nessa passagem, Jesus não está incentivando a oprimir o servo nem os empregados ou qualquer pessoa em situação parecida com esta. Ele dá um exemplo da sociedade de sua época, onde a servidão era aceita na lei e pela maioria do povo. Assim, ele compara os fiéis aos servos, indicando que a humildade deve ser o caminho natural: Aqueles que servem a lei divina de amor, devem servir ao próximo e a Deus, praticando o bem. O servo que tem orgulho, vaidade, inveja ou rancor, por exemplo, não tem humildade, pois esta postura é um dos pré-requisitos do cristão.
O leproso agradecido (Lucas)
Indo Jesus a Jerusalém, passou pelo meio de Samaria e da Galiléia;
Entrando numa certa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez homens leprosos, os quais pararam de longe; E levantaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós.
Jesus, vendo-os, respondeu-lhes: Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes.
E aconteceu que, indo eles, ficaram limpos.
Um deles, vendo que estava são, voltou glorificando a Deus em alta voz;
Caiu aos pés de Jesus, com o rosto em terra, dando-lhe graças; e este era samaritano.
E, respondendo Jesus, disse: Não foram dez os limpos? E onde estão os nove?
Não houve quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?
E disse-lhe: Levanta-te, e vai; a tua fé te salvou.
A passagem mostra o quanto é necessário sermos gratos pelas coisas boas que nos acontecem e que nos dão. A gratidão neste caso é um indicativo de mudança de postura em vida: O homem que voltou e agradeceu a Jesus, glorificando a Deus, mostrou-se humilde e interessado na bondade de Jesus. Os demais leprosos, ao não agradecerem nem louvarem a Deus, mostraram-se indiferentes ao bem recebido e certamente não foram nem humildes nem verdadeiramente gratos. Também é notável que o agradecido não era judeu, nem da mesma "nacionalidade" ou "etnia" de Jesus: era um estrangeiro. Isto mostra que os ensinamentos de Jesus nada tem a ver com nacionalidade, seja israelita, judia, hebraica ou qualquer outra.
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