segunda-feira, 24 de março de 2025

Leitura sobre Jesus e o Amor desapegado

O Pai celestial gera filhos imortais (Filipe) 
O homem celestial tem muito mais filhos do que o homem terreno. Se os filhos de Adão são muitos, embora morram, quanto mais os filhos do homem perfeito, aqueles que não morrem, mas são sempre gerados. 
O pai faz um filho, e o filho não tem o poder de fazer um filho. Pois aquele que foi gerado não tem o poder de gerar, mas o filho recebe irmãos para si, não filhos. Todos os que são gerados no mundo são gerados de maneira natural, e os outros são nutridos do lugar de onde nasceram. É de ser prometido ao lugar celestial que o homem recebe nutrição. [...] ele da boca. 
 E se a palavra saísse daquele lugar, seria nutrida pela boca e se tornaria perfeita. Pois é por um beijo que os perfeitos concebem e dão à luz. Por isso também nos beijamos. Recebemos concepção da graça que está um no outro. 

O homem celestial, certamente se referindo a Deus, tem muito mais filhos do que os seres humanos na Terra. Adão, personagem da gênese do "velho testamento", deixou toda uma posterioridade de filhos, netos etc... Porém Adão e todas gerações posteriores a ele, bem como todo homem terreno, não gera filhos verdadeiramente - os gera somente de modo natural e não celestial. É somente o "homem celestial" ou "homem perfeito" que gera filhos; Por esta razão, todos nós aqui na Terra somos irmãos! Este bonito ensinamento de fraternidade e equidade parece indicar um teor espiritualista, presente em outras religiões, espiritualidade e filosofia, como o druidismo celta, o sanatana dharma (hinduísmo), a umbanda, o espiritismo etc. Apesar de um pouco fragmentada, essa passagem atribuída a Filipe é facilmente compreensível até este ponto. 
A parte final parece indicar uma relação sagrada entre a palavra (certamente divina, como no evangelho de João e no hinduísmo, por exemplo) e o beijo. O texto diz que "os perfeitos", certamente o "homem perfeito", seja Deus ou os anjos, dão a luz através do beijo. Essa luz pode ser tanto um elemento divino presente em várias religiões e na espiritualidade em geral, como pode se referir ao início de uma vida no reino celestial e/ ou espiritual. Assim esta luz poderia ser a ética dos ensinamentos de Jesus, seus valores universais como a bondade e/ ou o espírito humano, afinal uma coisa não exclui a outra: Ética, bondade e espírito são coisas distintas, ao menos aqui na Terra para a maioria dos humanos, porém o espírito humano tem a noção do bem e a capacidade de ser verdadeiramente bondoso. 
Com uma linguagem um tanto mística, essa passagem então pode indicar que nós somos gerados como espíritos imortais por Deus/ por sua palavra. Nós morremos na Terra, mas nosso espírito sobrevive depois deste ciclo corporal (de vida e morte) e possivelmente viveu antes, pois o homem não gera espírito; Nossa alma/ espírito certamente foi gerada por esse "beijo" celeste.

 Parábola do Homem Rico e Lázaro (Lucas) 
Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. 
Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele; E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas. 
Aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado. E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio. 
Clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado. E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá. 
E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, Pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento. 
Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. 
E respondeu ele: Não, pai Abraão; mas, se algum dentre os mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite. 

 Deus ama a todos e sua lei é o bem de todos, ou seja, o amor à todos. Deus não ignora os necessitados: Se os ricos e os poderosos na Terra não socorrerem os vulneráveis e fragilizados em vida, Deus socorrerá estes últimos no pós vida. Ainda assim Deus espera que os ricos e os poderosos na Terra aprendam a ser humildes e solidários. Ele espera que esses aprendam sua lei de amor ao próximo, afinal Deus não fez o universo para si, sim para as almas, para o ser humano, enfim, para toda forma de vida "material". Ele espera que a raça humana aprenda a amar a tudo, e uma das principais etapas de se amar a tudo, é solidarizar-se com os mais vulneráveis, com os necessitados e com os fragilizados. Desapegar-se do luxo, abandonar os excessos de prazeres materiais e acolher os que possuem menos é o início da prática do bem. 
Como o homem rico viveu todos seus dias nas regalias (riqueza material e prazeres sensoriais, por exemplo) e no esplendor (possivelmente em um elevado status social), ele percebeu seu erro somente quando (seu corpo) morreu. Sua alma sentia terrível sofrimento e possivelmente culpa, pois passou sua vida muito distante dos ensinamentos de amor ao próximo... Este tipo de vida também é criticado nas obras de Platão, por exemplo nos últimos livros de A República, quando o autor cita o comportamento típico de certos indivíduos interesseiros (filokerdes) e/ ou amantes das honrarias/ briguentos (filonikons) que assumem posições de poder da sociedade.

 A parábola das 10 virgens (Mateus) 
Então o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do esposo. 
E cinco delas eram prudentes, e cinco loucas (cinco descuidadas, tolas). 
As loucas, tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite (óleo) consigo. 
Mas as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, com as suas lâmpadas. 
E, tardando o esposo, tosquenejaram todas, e adormeceram. 
Mas à meia-noite ouviu-se um clamor: Aí vem o esposo, saí-lhe ao encontro. 
Então todas aquelas virgens se levantaram, e prepararam as suas lâmpadas. 
E as loucas disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam. 
Mas as prudentes responderam, dizendo: Não seja caso que nos falte a nós e a vós, ide antes aos que o vendem, e comprai-o para vós. 
Tendo elas ido comprá-lo, chegou o esposo, e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas, então fechou-se a porta. 
E depois chegaram também as outras virgens, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos. 
E ele, respondendo, disse: Em verdade vos digo que vos não conheço. 
Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir. 

O reino dos céus pode se referir tanto ao pós vida para aqueles que viveram conforme a lei de amor divino, tanto ao ato de praticar os ensinamentos de Jesus, espalhando o bem equitativo/ universal na Terra; Porém nesta passagem, Jesus o compara com 10 virgens que saíram em busca do "esposo", ou seja, em busca de Deus. 
Assim, essas dez mulheres que buscavam o esposo, representam as pessoas que buscam Deus, sejam elas sacerdotes, fiéis, leigos religiosos ou espiritualistas. Esta parábola então não fala dos ateus, muito menos daqueles que abominam os ensinamentos de Jesus e a lei divina de amor. Ela fala de pessoas que têm (ou tiveram), ao menos, um mínimo interesse em Deus e em sua lei. Por isso, as mulheres descuidadas desta parábola também podem ser consideradas arrogantes ou orgulhosas - podem ser não só pessoas que se deixam levar pelas tentações, mas também podem ser os religiosos que se consideram escolhidos ou espiritualistas que se consideram superiores em relação às outras pessoas. Tanto o espiritualista/ religioso que adora e prioriza prazeres e bens materiais, como o orgulhoso, o vaidoso e o arrogante, esquecem de colocar o óleo em suas lâmpadas. O óleo é o cuidado, o respeito e as obras relativas à lei de amor, enquanto o fogo aqui parece como algo resultante disto - certamente se refere à fé/ à esperança em Deus e à purificação, ou seja, a sinceridade e progresso espiritual ao seguir a lei de amor. Estas pessoas que se dizem espiritualizadas ou religiosas, mas são egoístas ou insensíveis, certamente colherão os resultados de sua postura e de suas obras: Se não nesta vida, ao serem desmascaradas, certamente colherão os resultados na morte, na transição para a vida espiritual. Ali não participarão da alegria pura dos humildes e solidários. 

 A Mulher Adúltera (João) 
Jesus, porém, foi para o Monte das Oliveiras. (possivelmente repousar à noite) E pela manhã cedo tornou para o templo, e todo o povo vinha ter com ele, e, assentando-se, os ensinava. 
Então os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério; E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando. E na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes? 
Isto diziam eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia com o dedo na terra. 
Como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se, e disse-lhes: Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela. E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra. 
Quando ouviram isto, redargüidos da consciência (expostos, desmentidos), saíram um a um, a começar pelos mais velhos até aos últimos; ficou só Jesus e a mulher que estava no meio. 
Endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? 
E ela disse: Ninguém, Senhor. 
Então disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais. 

 Estudiosos do cristianismo consideram esta uma passagem típica de Lucas por tratar de uma mulher (um tema que era tabu para os outros apóstolos e para a maioria das pessoas do Império Romano durante o século 1). Independente de quem seja o autor, o texto traz temas importantes: Os acusadores da mulher alegam que ela foi pega no ato do adultério, ou seja, pecando por traição e/ ou fornicação. Isto é bastante duvidoso, pois possivelmente também teriam pego o homem com quem a mulher estaria traindo seu suposto marido. De qualquer maneira, o texto evidencia o machismo daquela época (antiguidade), principalmente entre os judeus e sua sociedade altamente patriarcal. Sedentos para punir a jovem, os escribas são frustrados por Jesus, que mostra que eles são tão ou mais pecadores do que a moça. Após os escribas retirarem-se em sua vergonha, Jesus não condena a jovem e pede para que ela não peque mais. O pecado ou erro aqui pode ser o adultério, que se trata de qualquer ação sexista, priorizando os atributos sexuais e os atos prazerosos menosprezando amizade, lealdade e amor. Poderia ser até mesmo uma possível submissão a um homem insensível e/ ou materialista, porém o mais importante é não julgar, afinal Jesus não a condenou! Ele centra seus ensinamentos no amor ao próximo, a si mesmo e a Deus - um amor equitativo a tudo. Utópico? Talvez, mas não é impossível, pois em outra passagem de João Evangelista, Jesus diz que para Deus nada é impossível, insinuando que é o ser humano que faz mal uso de  seu livre arbítrio. Afinal, Jesus também disse às pessoas: vós sois deuses, indicando que é possível viver seus ensinamentos de amor a todos de maneira equitativa. 

 Maria Madalena precisa de Jesus (Filipe) 
 Quanto à Sabedoria que é chamada "a estéril", ela é a mãe dos anjos. E a companheira de [...] Maria Madalena. 
 [... Jesus?] a amava mais do que a todos os discípulos e costumava beijá-la frequentemente na boca. O resto dos discípulos [... estranharam isso?]. 
 Eles lhe disseram: "Por que você a ama mais do que todos nós?" O Salvador respondeu e disse-lhes: "Por que eu não os amo como ela? Quando um cego e um que vê estão juntos na escuridão, eles não são diferentes um do outro. Quando a luz vem, então aquele que vê, verá a luz, e o cego ficará nas trevas”. 

 Certamente houveram muitos motivos para não se incluir o evangelho de Filipe na bíblia cristã. Se Jesus amou mais Maria Madalena do que os demais apóstolos, isto não é algo que se comprova com meros documentos. O importante é não deixar de entender que os ensinamentos de Jesus, seguem a lei de Deus, que é de amor - um amor puro, intenso e vasto para com todos seus filhos que são parte de sua criação. Na vida terrestre o que mais deve se aproximar deste amor divino é o amor materno/ paterno. Seja qual for a relação de Jesus com Madalena, seu sentimento deveria ser puro, embora erros existam na percepção de cada indivíduo que lê e tenta compreender os textos dos apóstolos. Jesus não tinha desejos particulares nem mesquinhos, pois como filho de Deus que viria a se unir com o Pai, ele certamente trabalhava para salvar a alma de Madalena como trabalhou para salvar a de Simão Pedro e de muitas outras pessoas. Com sua fala, talvez Jesus quis dizer que deveria permanecer próximo a Madalena para que essa, em sua separação, pudesse ver (a aparição de) Jesus transcendendo a vida corpórea/ material (Madalena é a primeira a ver Jesus após sua morte).
Por fim, a passagem ganhou relativa fama entre espiritualistas independentes, talvez devido a movimentos espiritualistas como o New age, da segunda metade do século 20. Entre estes grupos, espalhou-se a história que Jesus não foi crucificado e teve filhos com Madalena, mas particularmente optei por não discutir tal teoria em meus textos, pois no evangelho de Filipe não consta tais histórias. 
 

 

segunda-feira, 17 de março de 2025

Diálogo sobre a fé, a ética e a espiritualidade de Jesus

A figueira amaldiçoada, fé em Deus e o poder da oração (Mateus, Marcos) 
 Voltando para a cidade, de manhã, Jesus teve fome; 
E, avistando uma figueira perto do caminho, dirigiu-se a ela, e não achou nela senão folhas. Então disse-lhe: Jamais alguém coma fruto de ti. Nunca mais nasça fruto de ti! E a figueira secou imediatamente (No dia seguinte, pela manhã). 
E os discípulos, vendo isto, maravilharam-se, dizendo: Como secou imediatamente a figueira? 
Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Em verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis o que foi feito à figueira, mas até se a este monte disserdes: Ergue-te, e precipita-te no mar, assim será feito; 
E, tudo o que pedirdes em oração, crendo (com fé), o recebereis. Mas, quando vos puserdes a orar, perdoai, se tiverdes algum ressentimento contra alguém, para que também vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe os vossos pecados. Pois se não perdoardes, vosso Pai não os perdoará. 

 Jesus ensina a importância de se crer em Deus e o poder desta fé. Porém também indica como isto está vinculado ao seguimento dos ensinamentos de seus ensinamentos: Não adianta crer e pedir se não se perdoa o próximo: É preciso superar todos os ressentimentos, pois o rancor é contrário à lei divina. 
É possível que tal passagem também tenha alguma relação com a parábola da figueira que Jesus conta em outro momento: A figueira também foi utilizada como símbolo da inação (no caso de não dar frutos) e da ação humana conforme a lei de amor universal (no caso de gerar frutos). 

 Zaqueu recebe Jesus (Lucas) 
 Tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando. Eis que havia ali um homem chamado Zaqueu, um chefe dos publicanos, e era rico. 
Ele procurava ver quem era Jesus, e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura. E, correndo adiante, subiu a uma figueira brava para o ver; porque havia de passar por ali. 
Quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa. E, apressando-se, desceu, e recebeu-o alegremente. 
Vendo todos isto, murmuravam, dizendo que entrara para ser hóspede de um homem pecador. E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado. 
E disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão. Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido. 

 Após encontrar Jesus em meio a multidão, Zaqueu comprometeu-se a abandonar seus costumes, arrependendo-se de seus erros (ou possíveis crimes) para praticar os ensinamentos de Cristo. Jesus então diz que Zaqueu também é “filho de Abraão”, indicando que pouco importa a nacionalidade da pessoa que se dedica à lei divina de amor e também indicando que todo aquele que se arrepende de seus erros ou crimes, deve ser acolhido. Sendo Deus, o criador onipresente, sua esperança solidária vai muito além de qualquer país, cobrindo o planeta Terra todo e mais. A solidariedade, a esperança e enfim, o amor de Deus (que é o mesmo amor ensinado por Jesus), transcende ciclos de criação e destruição do universo, por isso Ele quer que todos abracem esta lei que é universalmente benéfica. 
 Muitos podem perguntar “porque Deus não fez o ser humano puro e bom”? Mas este mistério deve fazer parte do livre arbítrio que Ele deu aos seres humanos e a partir daí existem a diversidade e a individualidade não só na civilização como também entre todas formas de vida. 
 Ao caírem no egoísmo, no orgulho ou no vício, muitos se perdem no caminho, mas isto faz parte de um aprendizado que certamente vai além de uma mera existência na Terra, afinal nossa alma, ou espírito, é imortal. Esta imortalidade de nossa alma está explícita não só em toda religião cristã, como também em outras religiões e filosofias como no espiritismo, na umbanda, no candomblé, em algumas vertentes do hinduísmo, na religião órfica da Grécia antiga, na antiga religião celta etc. 
 Jesus ensina que construir uma convivência piedosa, solidária e equitativa na Terra é o caminho para se alcançar uma felicidade que vai além desta vida: vai até uma de suas moradas, ou até o que ele chama de Reino dos Céus. Assim o Reino dos Céus é uma finalidade espiritual e também um sentido de vida e uma prática (de amor, equidade etc) que deve-se propagar aqui na Terra.

 Parábola dos Lavradores Homicidas (Mateus/ Marcos/ Lucas) 
Então Jesus passou a contar ao povo esta parábola: "Certo homem plantou uma vinha, arrendou-a a alguns lavradores e ausentou-se por longo tempo. 
Na época da colheita, ele enviou um servo aos lavradores, para que lhe entregassem parte do fruto da vinha. Mas os lavradores o espancaram e o mandaram embora de mãos vazias. 
Ele mandou outro servo, mas a esse também espancaram e o trataram de maneira humilhante, mandando-o embora de mãos vazias. 
Enviou ainda um terceiro, e eles o feriram e o expulsaram da vinha. 
"Então o proprietário da vinha disse: 'Que farei? Mandarei meu filho amado; quem sabe o respeitarão'. 
"Mas quando os lavradores o viram, combinaram uns com os outros dizendo: 'Este é o herdeiro. Vamos matá-lo, e a herança será nossa'. 
Assim, lançaram-no fora da vinha e o mataram. 
"O que lhes fará então o dono da vinha? 
Virá, matará aqueles lavradores e dará a vinha a outros". (resposta dos fariseus em Mateus e Marcos) 
Quando o povo ouviu isso, disse: "Que isso nunca aconteça!" 
Jesus olhou fixamente para eles e perguntou: "Então, qual é o significado do que está escrito? (Nunca lestes as escrituras:) 
'A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular.' “Isto é obra do Senhor e é admirável aos nossos olhos”. 
Todo o que cair (tropeçar) sobre esta pedra será despedaçado, e aquele sobre quem ela cair será (esmagado) reduzido a pó". 
Os mestres da lei e os chefes dos sacerdotes (fariseus) procuravam uma forma de prendê-lo imediatamente, pois perceberam que era contra eles que ele havia contado essa parábola. Todavia tinham medo do povo. 

 Deus deu uma missão ao povo, seja aos hebreus/ judeus, ou a toda civilização humana: A missão de fazer o bem, ou plantar e cultivar o bem. O bem não é propriedade de uns poucos, não é para poucos - é para todos, pois é um valor universal - é ético. 
Os vinhateiros da parábola contada por Jesus diante os fariseus, se mostraram egoístas, ambiciosos e por fim, violentos. Era exatamente como aqueles religiosos judeus (fariseus etc) tinham se tornado.
 No texto de Mateus, o homem que planta a vinha e arrenda suas terras aos lavradores, é chamado de pai de família. Tanto em Mateus, como em Marcos e em Lucas, este personagem se refere a Deus. Seus servos são os profetas e o seu filho, é Jesus. 
A seguir, Jesus cita Isaías (5 1-7), sobre a ingratidão do povo eleito: os construtores que rejeitam a pedra são os religiosos corruptos como os do judaísmo da época em que Jesus andou pela Terra. Estes mesmos construtores que rejeitam a pedra, são os vinhateiros que rejeitam os enviados do senhor, são os religiosos que rejeitam os profetas que trazem os ensinamentos sobre o bem - a palavra de Deus. 
Por fim, nada é do povo eleito, nem do ser humano. Nenhuma terra ou construção deveria pertencer a determinados grupos ou a determinadas pessoas. Tudo pertence a Deus onipresente e onipotente, como mencionado no trecho “Vosso é o Reino, o Poder e a Glória, agora e para sempre”. Amar a Deus é amar o próximo e a si mesmo, é amar a todos e a tudo; é querer o bem de todos, sem possessividade. 
Platão, em obras como Górgias e Apologia de Sócrates, mostra como o filósofo Sócrates não temia os poderosos na Terra. Na 1ª obra mencionada aqui, Sócrates mostra ao retórico (orador) Górgias, como é importante buscar e priorizar a justiça e o bem. O filósofo mostra para Górgias e seus apoiadores, como eles estavam enganados ao se apagarem a ideia de que podiam tudo na Terra: Usavam da persuasão para criar crendices nas pessoas, buscando viver uma vida incontida cheia de status e riquezas materiais. Sócrates menciona que a alma injusta e enganosa, na verdade é infeliz e que neste caso, essa infelicidade se propaga além da vida na Terra. Além disto, sutilmente, Sócrates indica que esta infelicidade fica no íntimo da alma (psiquê) do enganador, ou seja, a infelicidade existe no inconsciente da pessoa mentirosa. Na 2ª obra mencionada, Sócrates aparece respondendo ao seus acusadores, em um julgamento injusto, mostrando destemor diante a morte, pois lutava constantemente pelo que era justo e bom, criticando aqueles que lutam por dinheiro ou por status. 

 

segunda-feira, 10 de março de 2025

Diálogo sobre "Cura de Bartimeu/ O cego de nascença"

A seguir trago as passagens sobre a cura do(s) cego(s) realizada por Jesus; Na bíblia, tal passagem, parece ser tratada por Mateus, Marcos e Lucas como se fossem praticamente a mesma história; enquanto a passagem do cego de nascença mencionada no evangelho de João é tratada como uma outra história. Aqui as 4 estão unidas como uma possível interpretação de uma única passagem da vida de Jesus:
LegendasMateus: Azul, Marcos: verde, Lucas: Vermelho, João: Amarelo; Mais de 1 autor: Preto

Cura de Bartimeu em Jericó/ O cego de nascença (Mateus, Marcos, Lucas, João) 
Chegaram a Jericó. Ao sair dali, Jesus seguido pelos apóstolos e uma grande multidão, viu um homem cego de nascença. (Ali) estavam dois cegos assentados junto do caminho, mendigando. (Um deles) era o filho de Timeu
 Ouvindo passar a multidão, perguntou que era aquilo e disseram-lhe que Jesus Nazareno passava. Bartimeu (filho de Timeu), sabendo que era Jesus, clamou, dizendo: Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim! 
E os que iam passando repreendiam-no para que se calasse; mas ele clamava ainda mais: Filho de Davi, tem misericórdia de mim! 
E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? 
Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus. 
Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo. 
Então Jesus, parando, mandou que lho trouxessem; e, chegando ele, perguntou-lhe, Dizendo: Que queres que te faça? E ele disse: Senhor, que eu veja. 
Tendo dito isto, cuspiu na terra, e com a saliva fez lodo, e untou com o lodo os olhos do cego. E Jesus lhe disse: Vai, lava-te no tanque de Siloé (que significa o Enviado). Vê; a tua fé te salvou. Foi, pois, e lavou-se, e voltou vendo. E todo o povo, vendo isto, dava louvores a Deus. 
Então os vizinhos, e aqueles que dantes tinham visto que era cego, diziam: Não é este aquele que estava assentado e mendigava? 
Uns diziam: É este. E outros: Parece-se com ele. Ele dizia: Sou eu. 
 Diziam-lhe, pois: Como se te abriram os olhos? 
Ele respondeu, e disse: O homem, chamado Jesus, fez lodo, e untou-me os olhos, e disse-me: Vai ao tanque de Siloé, e lava-te. Então fui, e lavei-me, e vi. 
Disseram-lhe, pois: Onde está ele? Respondeu: Não sei. 
Levaram, pois, aos fariseus o que dantes era cego. 
E era sábado quando Jesus fez o lodo e lhe abriu os olhos. 
Tornaram, pois, também os fariseus a perguntar-lhe como vira, e ele lhes disse: Pôs-me lodo sobre os olhos, lavei-me, e vejo. 
Então alguns dos fariseus diziam: Este homem não é de Deus, pois não guarda o sábado. Diziam outros: Como pode um homem pecador fazer tais sinais? E havia dissensão entre eles. 
Tornaram, pois, a dizer ao cego: Tu, que dizes daquele que te abriu os olhos? E ele respondeu: Que é profeta. 
Os judeus, porém, não creram que ele tivesse sido cego, e que agora visse, até chamarem os pais do que agora via. E perguntaram-lhes, dizendo: É este o vosso filho, que vós dizeis ter nascido cego? Como, pois, vê agora? 
Seus pais lhes responderam, e disseram: Sabemos que este é o nosso filho, e que nasceu cego; Mas como agora vê, não sabemos; ou quem lhe tenha aberto os olhos, não sabemos. Tem idade, perguntai-lho a ele mesmo; e ele falará por si mesmo. 
Seus pais disseram isto, porque temiam os judeus. Porquanto já os judeus tinham resolvido que, se alguém confessasse ser ele o Cristo, fosse expulso da sinagoga. 
Por isso é que seus pais disseram: Tem idade, perguntai-lho a ele mesmo. 
Chamaram, pois, pela segunda vez o homem que tinha sido cego, e disseram-lhe: Dá glória a Deus; nós sabemos que esse homem é pecador. 
Respondeu ele pois, e disse: Se é pecador, não sei; uma coisa sei, é que, havendo eu sido cego, agora vejo. 
E tornaram a dizer-lhe: Que te fez ele? Como te abriu os olhos? 
Respondeu-lhes: Já vo-lo disse, e não ouvistes; para que o quereis tornar a ouvir? Quereis vós porventura fazer-vos também seus discípulos? 
Então o injuriaram, e disseram: Discípulo dele sejas tu; nós, porém, somos discípulos de Moisés. Nós bem sabemos que Deus falou a Moisés, mas este não sabemos de onde é. 
O homem respondeu, e disse-lhes: Nisto, pois, está a maravilha, que vós não saibais de onde ele é, e contudo me abrisse os olhos. 
Ora, nós sabemos que Deus não ouve a pecadores; mas, se alguém é temente a Deus, e faz a sua vontade, a esse ouve. 
Desde o princípio do mundo nunca se ouviu que alguém abrisse os olhos a um cego de nascença. Se este não fosse de Deus, nada poderia fazer. 
Responderam eles, e disseram-lhe: Tu és nascido todo em pecados, e nos ensinas a nós? E expulsaram-no. 
Jesus ouviu que o tinham expulsado e, encontrando-o, disse-lhe: Crês tu no Filho de Deus? 
Ele respondeu, e disse: Quem é ele, Senhor, para que nele creia? 
E Jesus lhe disse: Tu já o tens visto, e é aquele que fala contigo. 
Ele disse: Creio, Senhor. E o adorou, e seguia-o, glorificando a Deus 
E disse-lhe Jesus: Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não vêem vejam, e os que vêem sejam cegos. 
E aqueles dos fariseus, que estavam com ele, ouvindo isto, disseram-lhe: Também nós somos cegos? 
Disse-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas como agora dizeis: Vemos; por isso o vosso pecado permanece. 

 Por alguma razão que considerou importante, somente Marcos citou o nome do cego, que significa Filho de Timeu. Certamente um nome raro, já que é a mistura de um nome judaico com grego. 
 Seria o cego de nascença citado por João, um dos 2 citados por Mateus? Seria o mesmo citado por Lucas e Marcos (Bartimeu)? Seriam "todos eles" um só personagem? Não se sabe, afinal Jesus curou muitas pessoas e esta torna-se mais uma questão de menor importância dos evangelhos. O que pode indicar que o cego de nascença e Bartimeu sejam a mesma pessoa, é o fato de que "ambos cegos" são descritos como mendigo(s) e também o seguinte trecho do evangelho de João: “Ele (o ex-cego) disse: Creio, Senhor. E o adorou.” É possível que este ato de adorar se refira ao ato de seguir Jesus, como o cego de nascença fez. 
 Esta passagem traz mais uma demonstração que a verdadeira gratidão envolve uma mudança de postura: Bartimeu passou a seguir Jesus em sua missão, e louvar a Deus. 
Já os religiosos (judeus fariseus etc) são claramente arrogantes como mostra João, o Evangelista, nesta passagem: Eles não se conformavam com o cego ter sido curado e afirmavam que Deus conversava com Moisés, mas não com pecadores. O primeiro problema desta afirmação é a clara tentativa de se auto afirmarem como os escolhidos de Deus, ou os únicos verdadeiros religiosos (fato que ainda vemos em certas igrejas neste início de século 21); O segundo problema é: Se Jesus é o escolhido de Deus (ou o próprio Deus encarnado), ele conversa com os pecadores! Esses pecadores arrependidos em diversas passagens não são curados nem ouvidos por Jesus porque eles passaram a seguir uma suposta religião do mesmo - Não há prova clara que Jesus tivesse uma religião, pois ele não construiu igreja e pregava mais nas ruas do que em sinagogas. Os pecadores são ouvidos e curados porque Jesus vivia o amor divino para com toda a criação de Deus, ou seja, o amor por toda a vida. Os ensinamentos de Jesus então certamente são uma prática espiritual, um sentido de vida ético pautado pelo amor universal.
O fato é que Jesus ao priorizar o amor piedoso e equitativo por todos, enfrentava claramente os costumes ritualísticos e materialistas das seitas judaicas corruptas; Curava os doentes, os tocava chegando a utilizar saliva e barro, além de ajudar os necessitados nos dias de sábado. Isto é praticar a lei divina de amor enfrentando os mentirosos e desmascarando-os, pois esta é a melhor forma de combater o egoísmo, a opressão e a mentira: Praticando o bem, trabalhando a empatia e espalhando equidade. 
 Também é importante notar que o cego citado no evangelho de João não enxergava desde seu nascimento e que os discípulos perguntaram a Jesus: “… quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?”. O argumento que o pecado dos pais poderia punir o filho com uma vida miserável e/ou difícil é derrubado pelo profeta Ezequiel muitos anos antes de Cristo, então é possível que os discípulos de Jesus entendiam a possibilidade do cego ter pecado antes de nascer, ou seja, em outra encarnação. Isto parece o indício de uma espiritualidade ou religião reencarnacionista (como o druidismo celta, o platonismo, a espiritualidade yoruba, o hinduísmo entre outras). O espiritismo, que é uma filosofia que busca unir o cristianismo com a ciência, explica outros trechos da bíblia onde é possível entender a relação da reencarnação com os ensinamentos de Jesus. 

 

segunda-feira, 3 de março de 2025

Jesus ensina toda a humanidade, sem priorizar nação alguma

As 3 passagens seguintes podem parecer tratar temas distintos entre si, mas em algum nível todas indicam que os ensinamentos de Jesus, pautados pelo piedoso amor universal, eram para todos seres humanos de todas as culturas e nacionalidades diferentes entre si (fossem judeus, romanos ou qualquer outro povo). Sendo assim, Jesus não veio salvar um povo escolhido ou "predestinado" e em suas caminhadas pregando o amor universal entre todas as pessoas, ele sabia que incomodaria os mais gananciosos e os mais intolerantes. Ele sabia que seria perseguido e punido por tal tipo de gente sedenta por poder e/ ou por riquezas materiais.

 Parábola do fariseu e do publicano (Lucas) 
E disse (Jesus) também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros: 
Dois homens subiram ao templo, para orar; um, fariseu, e o outro, publicano.
O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano.
Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo.
O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!
Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado.

 As aparências pouco importam: Ainda hoje, passado mais de 2000 anos desde que Jesus pregou seus ensinamentos na Terra, é possível ver muitos líderes religiosos falsos: Fingem-se fiéis fervorosos do cristianismo, quando na verdade estão interessados só em seus ganhos materiais. O fariseu da parábola citada por Jesus, aparece como o religioso preconceituoso que julga os diferentes (chamando todos de cultura e religião diferentes da sua própria, de ladrões, pecadores etc) e se acha melhor do que os outros, exibindo-se de seus esforços.
O publicano não representa apenas o indivíduo discreto, mas também o estrangeiro, que em sua maioria tinha fé diferente da judaica / cristã e que em comparação ao sacerdote hipócrita (seja pastor, padre, bispo etc), é uma pessoa mais sincera, mais humilde e mais fiel a Deus. 
Na época de Jesus, o Império Romano tinha como religião principal seu politeísmo (pagão), sendo o monoteísmo praticamente uma religião particular dos judeus e talvez de outras minorias. Afinal o cristianismo só foi definitivamente aceito no Império Romano no ano de 313 depois de Cristo e as primeiras igrejas cristãs começaram a ser construídas nesta época. Nota-se então que Jesus que viveu 3 séculos antes da propagação do monoteísmo; Em sua época, entre os anos 1 e 33 d.C. e antes disto, os povos falantes das línguas aramaica e hebraica, chamavam o Criador de Javé, ou mais precisamente Yahveh, pois o nome Deus é do idioma latim, ou seja, a língua dos romanos que eram politeístas em sua maioria...
Jesus indica que o publicano, mesmo sendo de uma cultura muito diferente, era mais humilde e mais fiel do que aquele que pertencia à religião "original", ensinada por Moisés, Abraão e os demais profetas (monoteísta, que crê em apenas um Deus). O ensinamento de Jesus é assim porque a verdadeira fé em Deus e em sua lei de amor, não pertence a uma determinada religião, nem a um determinado povo! Não deve-se preferir então, um determinado culto, templo ou nação: Para Deus, todos os seres humanos são seus filhos, os quais ele piedosamente espera no reino dos céus. Como a lei divina é de amor, obviamente o orgulhoso se afasta de Deus, que é piedoso, enquanto o humilde se aproxima.
Fica evidente que os ensinamentos de Jesus tinham uma ética universal como base. A ética do amor piedoso a todas as coisas; 
Ética universal não era uma exclusividade de Jesus, pois já existia na Helade (Grécia) poucos séculos antes da expansão do Império Romano; A filosofia ocidental fundada por Platão e seu mestre Sócrates não citava o amor da forma que Jesus citava, mas era pautada pela ética alicerçada em valores universais como a justiça, a coragem, a moderação e o bem (bondade)/ belo (kalos). Além disto, tal ética era tema central da filosofia que construía conhecimento em diálogo com o naturalismo de filósofos anteriores e com a espiritualidade das cidades/ estado gregas; Fosse essa espiritualidade o politeísmo da cosmogonia (mitologia) homérica-hesiódica, a religião órfica, o "misticismo" pitagórico ou as profecias/ oráculos das pitonisas. Em seus textos éticos que dialogavam com a espiritualidade, Platão mostrou que possivelmente seu mestre Sócrates mencionava o Deus, como entidade única e suprema (criadora de todas as coisas). Embora alguns estudiosos (como André Malta) afirmem que esse deus de Sócrates seja Apolo, é possível que o filósofo grego tenha entendido Deus a partir de Nous, a mente cósmica, conforme Anaxágoras, um de seus mestres, ensinava: Nous seria a mente criadora por trás de toda a harmonia do universo e essa mente seria chamada de inteligência divina por Platão, possivelmente sendo sinônimo do Demiurgo (o Arquiteto criador de todas as coisas). Na obra Fédon, Sócrates aparece discursando como ele entende que essa mente por trás da harmonia do universo, é boa e busca a melhor forma das coisas serem. Assim o Deus citado por Sócrates (e Platão) certamente era justo e bondoso, pois em seus diálogos, Sócrates mostrou-se mais piedoso e mais comprometido com a verdade e com o bem do que religiosos de seu tempo como Eutífron, que empregava um significado falso para a palavra piedade. Apesar da humildade e da sinceridade de Sócrates, ele acabou julgado e condenado à morte pelos seus opositores, uma classe de pessoas constituída por ricos e religiosos de sua cultura e época (a Grécia do ano 399 a.C.).

 Opinião dos judeus sobre Jesus (João) 
Então alguns dos de Jerusalém diziam: Não é este o que procuram matar? 
E ei-lo aí está falando abertamente, e nada lhe dizem. Porventura sabem verdadeiramente os príncipes que de fato este é o Cristo? 
Todavia bem sabemos de onde este é; mas, quando vier o Cristo, ninguém saberá de onde ele é. Clamava, pois, Jesus no templo, ensinando, e dizendo: Vós conheceis-me, e sabeis de onde sou; e eu não vim de mim mesmo, mas aquele que me enviou é verdadeiro, o qual vós não conheceis. Mas eu conheço-o, porque dele sou e ele me enviou. 
Procuravam, pois, prendê-lo, mas ninguém lançou mão dele, porque ainda não era chegada a sua hora. 
E muitos da multidão creram nele, e diziam: Quando o Cristo vier, fará ainda mais sinais do que os que este tem feito? 
Os fariseus ouviram que a multidão murmurava dele estas coisas; e os fariseus e os principais dos sacerdotes mandaram servidores para o prenderem. 
Disse-lhes, pois, Jesus: Ainda um pouco de tempo estou convosco, e depois vou para aquele que me enviou. Vós me buscareis, e não me achareis; e onde eu estou, vós não podeis vir. 
Disseram, pois, os judeus uns para os outros: Para onde irá este, que o não acharemos? Irá porventura para os dispersos entre os gregos, e ensinará os gregos? Que palavra é esta que disse: Buscar-me-eis, e não me achareis; e: Aonde eu estou vós não podeis ir? 
E no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba. 
Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre. 
E isto disse ele do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado. 
Então muitos da multidão, ouvindo esta palavra, diziam: Verdadeiramente este é o Profeta. 
Outros diziam: Este é o Cristo; mas diziam outros: Vem, pois, o Cristo da Galiléia? 
Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi, e de Belém, da aldeia de onde era Davi? 
Assim entre o povo havia dissensão por causa dele. E alguns deles queriam prendê-lo, mas ninguém lançou mão dele. 
E os servidores foram ter com os principais dos sacerdotes e fariseus; e eles lhes perguntaram: Por que não o trouxestes? 
Responderam os servidores: Nunca homem algum falou assim como este homem. 
Responderam-lhes, pois, os fariseus: Também vós fostes enganados? 
Creu nele porventura algum dos principais ou dos fariseus? 
Mas esta multidão, que não sabe a lei, é maldita. 
Nicodemos, que era um deles (o que de noite fora ter com Jesus), disse-lhes: 
Porventura condena a nossa lei um homem sem primeiro o ouvir e ter conhecimento do que faz? Responderam eles, e disseram-lhe: És tu também da Galiléia? Examina, e verás que da Galiléia nenhum profeta surgiu. 
E cada um foi para sua casa. 

 As seitas judaicas como os saduceus e os fariseus se apegavam a diversas questões supérfluas, principalmente aos argumentos materialistas. Um dos motivos para recusarem Jesus e seus ensinamentos é porque entenderam que ele nasceu na Galiléia. O local preciso do nascimento de Jesus então, se mostra mais um tema insignificante, cujas discussões em torno só servem para gerar separatividade, discórdia e conflito. Tais seitas priorizavam locais, rituais e posses, diminuindo a importância da equidade, do amor, da humildade e de outros ensinamentos de Cristo. 
 Estas questões materiais sobre Jesus são algumas das causas das dissensões como mencionada nesta passagem escrita por João e também nas cartas de Paulo. 

 Terceiro anúncio da paixão (Mateus, Marcos, Lucas) 
 E, tomando consigo os doze, disse-lhes: Eis que subimos a Jerusalém, e se cumprirá no Filho do homem tudo o que pelos profetas foi escrito; 
Pois há de ser entregue aos gentios, e escarnecido, injuriado e cuspido; E, havendo-o açoitado, o matarão; e ao terceiro dia ressuscitará. 
Eles nada disto entendiam, e esta palavra lhes era encoberta, não percebiam o que se lhes dizia.

 Os ensinamentos de Jesus são centrados no amor que se manifesta de modo sereno, amigável e piedoso - tudo isto irritava os infelizes, principalmente os gananciosos que nunca estavam satisfeitos com suas posses e bens. Jesus obviamente sabia disto, pois seus ensinamentos priorizavam a humildade e a equidade, que são coisas impensáveis e insuportáveis para os ricos e os poderosos.

 

Leitura sobre Últimos encontros com Jesus

Ressurreição e aparição a Maria Madalena ( Mateus , Marcos , Lucas , João ) Eis que no primeiro dia da semana, houve um violento tremor de t...