segunda-feira, 24 de março de 2025

Leitura sobre Jesus e o Amor desapegado

O Pai celestial gera filhos imortais (Filipe) 
O homem celestial tem muito mais filhos do que o homem terreno. Se os filhos de Adão são muitos, embora morram, quanto mais os filhos do homem perfeito, aqueles que não morrem, mas são sempre gerados. 
O pai faz um filho, e o filho não tem o poder de fazer um filho. Pois aquele que foi gerado não tem o poder de gerar, mas o filho recebe irmãos para si, não filhos. Todos os que são gerados no mundo são gerados de maneira natural, e os outros são nutridos do lugar de onde nasceram. É de ser prometido ao lugar celestial que o homem recebe nutrição. [...] ele da boca. 
 E se a palavra saísse daquele lugar, seria nutrida pela boca e se tornaria perfeita. Pois é por um beijo que os perfeitos concebem e dão à luz. Por isso também nos beijamos. Recebemos concepção da graça que está um no outro. 

O homem celestial, certamente se referindo a Deus, tem muito mais filhos do que os seres humanos na Terra. Adão, personagem da gênese do "velho testamento", deixou toda uma posterioridade de filhos, netos etc... Porém Adão e todas gerações posteriores a ele, bem como todo homem terreno, não gera filhos verdadeiramente - os gera somente de modo natural e não celestial. É somente o "homem celestial" ou "homem perfeito" que gera filhos; Por esta razão, todos nós aqui na Terra somos irmãos! Este bonito ensinamento de fraternidade e equidade parece indicar um teor espiritualista, presente em outras religiões, espiritualidade e filosofia, como o druidismo celta, o sanatana dharma (hinduísmo), a umbanda, o espiritismo etc. Apesar de um pouco fragmentada, essa passagem atribuída a Filipe é facilmente compreensível até este ponto. 
A parte final parece indicar uma relação sagrada entre a palavra (certamente divina, como no evangelho de João e no hinduísmo, por exemplo) e o beijo. O texto diz que "os perfeitos", certamente o "homem perfeito", seja Deus ou os anjos, dão a luz através do beijo. Essa luz pode ser tanto um elemento divino presente em várias religiões e na espiritualidade em geral, como pode se referir ao início de uma vida no reino celestial e/ ou espiritual. Assim esta luz poderia ser a ética dos ensinamentos de Jesus, seus valores universais como a bondade e/ ou o espírito humano, afinal uma coisa não exclui a outra: Ética, bondade e espírito são coisas distintas, ao menos aqui na Terra para a maioria dos humanos, porém o espírito humano tem a noção do bem e a capacidade de ser verdadeiramente bondoso. 
Com uma linguagem um tanto mística, essa passagem então pode indicar que nós somos gerados como espíritos imortais por Deus/ por sua palavra. Nós morremos na Terra, mas nosso espírito sobrevive depois deste ciclo corporal (de vida e morte) e possivelmente viveu antes, pois o homem não gera espírito; Nossa alma/ espírito certamente foi gerada por esse "beijo" celeste.

 Parábola do Homem Rico e Lázaro (Lucas) 
Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. 
Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele; E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas. 
Aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado. E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio. 
Clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado. E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá. 
E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, Pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento. 
Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. 
E respondeu ele: Não, pai Abraão; mas, se algum dentre os mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite. 

 Deus ama a todos e sua lei é o bem de todos, ou seja, o amor à todos. Deus não ignora os necessitados: Se os ricos e os poderosos na Terra não socorrerem os vulneráveis e fragilizados em vida, Deus socorrerá estes últimos no pós vida. Ainda assim Deus espera que os ricos e os poderosos na Terra aprendam a ser humildes e solidários. Ele espera que esses aprendam sua lei de amor ao próximo, afinal Deus não fez o universo para si, sim para as almas, para o ser humano, enfim, para toda forma de vida "material". Ele espera que a raça humana aprenda a amar a tudo, e uma das principais etapas de se amar a tudo, é solidarizar-se com os mais vulneráveis, com os necessitados e com os fragilizados. Desapegar-se do luxo, abandonar os excessos de prazeres materiais e acolher os que possuem menos é o início da prática do bem. 
Como o homem rico viveu todos seus dias nas regalias (riqueza material e prazeres sensoriais, por exemplo) e no esplendor (possivelmente em um elevado status social), ele percebeu seu erro somente quando (seu corpo) morreu. Sua alma sentia terrível sofrimento e possivelmente culpa, pois passou sua vida muito distante dos ensinamentos de amor ao próximo... Este tipo de vida também é criticado nas obras de Platão, por exemplo nos últimos livros de A República, quando o autor cita o comportamento típico de certos indivíduos interesseiros (filokerdes) e/ ou amantes das honrarias/ briguentos (filonikons) que assumem posições de poder da sociedade.

 A parábola das 10 virgens (Mateus) 
Então o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do esposo. 
E cinco delas eram prudentes, e cinco loucas (cinco descuidadas, tolas). 
As loucas, tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite (óleo) consigo. 
Mas as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, com as suas lâmpadas. 
E, tardando o esposo, tosquenejaram todas, e adormeceram. 
Mas à meia-noite ouviu-se um clamor: Aí vem o esposo, saí-lhe ao encontro. 
Então todas aquelas virgens se levantaram, e prepararam as suas lâmpadas. 
E as loucas disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam. 
Mas as prudentes responderam, dizendo: Não seja caso que nos falte a nós e a vós, ide antes aos que o vendem, e comprai-o para vós. 
Tendo elas ido comprá-lo, chegou o esposo, e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas, então fechou-se a porta. 
E depois chegaram também as outras virgens, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos. 
E ele, respondendo, disse: Em verdade vos digo que vos não conheço. 
Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir. 

O reino dos céus pode se referir tanto ao pós vida para aqueles que viveram conforme a lei de amor divino, tanto ao ato de praticar os ensinamentos de Jesus, espalhando o bem equitativo/ universal na Terra; Porém nesta passagem, Jesus o compara com 10 virgens que saíram em busca do "esposo", ou seja, em busca de Deus. 
Assim, essas dez mulheres que buscavam o esposo, representam as pessoas que buscam Deus, sejam elas sacerdotes, fiéis, leigos religiosos ou espiritualistas. Esta parábola então não fala dos ateus, muito menos daqueles que abominam os ensinamentos de Jesus e a lei divina de amor. Ela fala de pessoas que têm (ou tiveram), ao menos, um mínimo interesse em Deus e em sua lei. Por isso, as mulheres descuidadas desta parábola também podem ser consideradas arrogantes ou orgulhosas - podem ser não só pessoas que se deixam levar pelas tentações, mas também podem ser os religiosos que se consideram escolhidos ou espiritualistas que se consideram superiores em relação às outras pessoas. Tanto o espiritualista/ religioso que adora e prioriza prazeres e bens materiais, como o orgulhoso, o vaidoso e o arrogante, esquecem de colocar o óleo em suas lâmpadas. O óleo é o cuidado, o respeito e as obras relativas à lei de amor, enquanto o fogo aqui parece como algo resultante disto - certamente se refere à fé/ à esperança em Deus e à purificação, ou seja, a sinceridade e progresso espiritual ao seguir a lei de amor. Estas pessoas que se dizem espiritualizadas ou religiosas, mas são egoístas ou insensíveis, certamente colherão os resultados de sua postura e de suas obras: Se não nesta vida, ao serem desmascaradas, certamente colherão os resultados na morte, na transição para a vida espiritual. Ali não participarão da alegria pura dos humildes e solidários. 

 A Mulher Adúltera (João) 
Jesus, porém, foi para o Monte das Oliveiras. (possivelmente repousar à noite) E pela manhã cedo tornou para o templo, e todo o povo vinha ter com ele, e, assentando-se, os ensinava. 
Então os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério; E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando. E na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes? 
Isto diziam eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia com o dedo na terra. 
Como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se, e disse-lhes: Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela. E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra. 
Quando ouviram isto, redargüidos da consciência (expostos, desmentidos), saíram um a um, a começar pelos mais velhos até aos últimos; ficou só Jesus e a mulher que estava no meio. 
Endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? 
E ela disse: Ninguém, Senhor. 
Então disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais. 

 Estudiosos do cristianismo consideram esta uma passagem típica de Lucas por tratar de uma mulher (um tema que era tabu para os outros apóstolos e para a maioria das pessoas do Império Romano durante o século 1). Independente de quem seja o autor, o texto traz temas importantes: Os acusadores da mulher alegam que ela foi pega no ato do adultério, ou seja, pecando por traição e/ ou fornicação. Isto é bastante duvidoso, pois possivelmente também teriam pego o homem com quem a mulher estaria traindo seu suposto marido. De qualquer maneira, o texto evidencia o machismo daquela época (antiguidade), principalmente entre os judeus e sua sociedade altamente patriarcal. Sedentos para punir a jovem, os escribas são frustrados por Jesus, que mostra que eles são tão ou mais pecadores do que a moça. Após os escribas retirarem-se em sua vergonha, Jesus não condena a jovem e pede para que ela não peque mais. O pecado ou erro aqui pode ser o adultério, que se trata de qualquer ação sexista, priorizando os atributos sexuais e os atos prazerosos menosprezando amizade, lealdade e amor. Poderia ser até mesmo uma possível submissão a um homem insensível e/ ou materialista, porém o mais importante é não julgar, afinal Jesus não a condenou! Ele centra seus ensinamentos no amor ao próximo, a si mesmo e a Deus - um amor equitativo a tudo. Utópico? Talvez, mas não é impossível, pois em outra passagem de João Evangelista, Jesus diz que para Deus nada é impossível, insinuando que é o ser humano que faz mal uso de  seu livre arbítrio. Afinal, Jesus também disse às pessoas: vós sois deuses, indicando que é possível viver seus ensinamentos de amor a todos de maneira equitativa. 

 Maria Madalena precisa de Jesus (Filipe) 
 Quanto à Sabedoria que é chamada "a estéril", ela é a mãe dos anjos. E a companheira de [...] Maria Madalena. 
 [... Jesus?] a amava mais do que a todos os discípulos e costumava beijá-la frequentemente na boca. O resto dos discípulos [... estranharam isso?]. 
 Eles lhe disseram: "Por que você a ama mais do que todos nós?" O Salvador respondeu e disse-lhes: "Por que eu não os amo como ela? Quando um cego e um que vê estão juntos na escuridão, eles não são diferentes um do outro. Quando a luz vem, então aquele que vê, verá a luz, e o cego ficará nas trevas”. 

 Certamente houveram muitos motivos para não se incluir o evangelho de Filipe na bíblia cristã. Se Jesus amou mais Maria Madalena do que os demais apóstolos, isto não é algo que se comprova com meros documentos. O importante é não deixar de entender que os ensinamentos de Jesus, seguem a lei de Deus, que é de amor - um amor puro, intenso e vasto para com todos seus filhos que são parte de sua criação. Na vida terrestre o que mais deve se aproximar deste amor divino é o amor materno/ paterno. Seja qual for a relação de Jesus com Madalena, seu sentimento deveria ser puro, embora erros existam na percepção de cada indivíduo que lê e tenta compreender os textos dos apóstolos. Jesus não tinha desejos particulares nem mesquinhos, pois como filho de Deus que viria a se unir com o Pai, ele certamente trabalhava para salvar a alma de Madalena como trabalhou para salvar a de Simão Pedro e de muitas outras pessoas. Com sua fala, talvez Jesus quis dizer que deveria permanecer próximo a Madalena para que essa, em sua separação, pudesse ver (a aparição de) Jesus transcendendo a vida corpórea/ material (Madalena é a primeira a ver Jesus após sua morte).
Por fim, a passagem ganhou relativa fama entre espiritualistas independentes, talvez devido a movimentos espiritualistas como o New age, da segunda metade do século 20. Entre estes grupos, espalhou-se a história que Jesus não foi crucificado e teve filhos com Madalena, mas particularmente optei por não discutir tal teoria em meus textos, pois no evangelho de Filipe não consta tais histórias. 
 

 

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