Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai repreende-o entre ti e ele somente: Se te ouvir, terás ganho teu irmão. Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de que toda a questão se resolva pela decisão de duas ou três testemunhas. Se recusa ouvi-los, dize-o à ekklesia (assembleia, traduzido como igreja). E se recusar também a ouvir a ekklesia, seja ele para ti um pagão e um gentio. Amém (de verdade) digo a vós, tudo que ligardes sobre a terra será ligado no céu e tudo que desligardes sobre a terra, será também desligado nos céus.
Digo-vos ainda isto: Se dois de vós se unirem sobre a terra para pedir, seja o que for, será concedido por meu Pai que está nos céus. Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou entre eles.
Neste trecho Jesus ensina como deve ser as relações de quem segue seus ensinamentos de amor. Só deve se afastar de uma pessoa, quando esta estiver fazendo mal e insistir no mal - o mesmo deve valer para as reuniões cristãs, sejam em igrejas ou assembleias: Se há um indivíduo pecando contra o cristão, este deve reunir-se com os demais cristãos e indicar o caminho dos ensinamentos de Jesus ao pecador. Se ele continuar negando, deve ser tratado como alguém que despreza os ensinamentos de Jesus.
Por fim, Jesus indica que onde as pessoas se reunirem e pedirem algo conforme seus ensinamentos, eles obterão algum êxito. Jesus indica que pode estar em qualquer lugar onde seja chamado de coração.
Os judeus querem apedrejar Jesus (João)
Os judeus pegaram então outra vez em pedras para o apedrejar.
Respondeu-lhes Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas procedentes de meu Pai; por qual destas obras me apedrejais?
Os judeus responderam, dizendo-lhe: Não te apedrejamos por alguma obra boa, mas pela blasfêmia; porque, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo.
Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: Sois deuses?
Pois, se a lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida, e a Escritura não pode ser anulada, como acusais aquele a quem o Pai santificou, e enviou ao mundo, vós dizeis:
Blasfemas, porque disse: Sou Filho de Deus?
Se não faço as obras de meu Pai, não me acrediteis. Mas, se as faço, e não credes em mim, crede nas obras; para que conheçais e acrediteis que o Pai está em mim e eu nele.
Procuravam, pois, prendê-lo outra vez, mas ele escapou-se de suas mãos, E retirou-se outra vez para além do Jordão, para o lugar onde João tinha primeiramente batizado; e ali ficou.
Assim, muitos iam ter com ele, e diziam: Na verdade João não fez sinal algum, mas tudo quanto João disse deste era verdade. E muitos ali creram nele.
Aqueles que aceitaram a palavra de Deus, ou seja, sua lei divina de amor, são chamados de deuses. Isto não é uma comparação dos fiéis e profetas com os ídolos das antigas culturas pagãs / politeístas. Na verdade, trata-se de uma aproximação das pessoas que realmente vivem os ensinamentos de Jesus e a lei divina do amor, com Deus. Certamente isto mostra a possibilidade de nos aproximar do que os textos judaico - cristãos chamam de anjos, os quais a filosofia espírita chama de espírito superior ou puro. Santa Teresa d’Ávila diz que nossa alma foi criada à semelhança de Deus, por isso não devemos nos cansar de tentar entendê-la: Além da alma ser nossa própria essência, ou nós mesmos, ela é imortal, existindo além de nosso corpo (no platonismo, a psiquê parece designar alma e mente, na Kriya Yoga, a alma seria a porção mais real e imortal da mente).
A Kryia Yoga lembra que as escrituras proclamam que Deus criou o ser humano à sua própria imagem e esta imagem é onipotente. O controle sobre o universo que parece sobrenatural, na verdade é natural e inerente a todos seres humanos que alcançam a “lembrança correta” de sua origem divina. Estes humanos livraram-se do princípio do ego (ahamkara) e de seus surtos de desejos pessoais, entrando em harmonia com rta, a justiça natural. “Ser Deus” não é ser meramente virtuoso, é tornar-se a Virtude. No Livro dos Médiuns do espiritismo, fica claro que quanto mais puro o espírito for (moralmente elevado, benigno…), mais “poderoso” e próximo de Deus ele é. Assim é explicado como os espíritos muito elevados ou puros atendem preces e súplicas dos encarnados em vários locais diferentes ao mesmo tempo, também podendo se manifestar simultaneamente para seres distantes entre si. Platão, em A República, lembra que a possível evolução moral não é linear. Pois o bem (kalos) não é aprendido como um conhecimento técnico e sim despertado no indivíduo. O platonismo não impõe valores individuais sobre outras pessoas, ele incita a busca do valor universal - Ao mostrar Sócrates dialogando e induzindo seus interlocutores com seu método da maiêutica, Platão indica que cada ser deve fazer seus esforços para desenvolver a ideia (eidos) do bem e passar a viver em função dela.
Ressurreição de Lázaro (João)
Estava, porém, enfermo um certo Lázaro, de betânia, aldeia de Maria e de sua irmã Marta.
E Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com ungüento, e lhe tinha enxugado os pés com os seus cabelos, cujo irmão Lázaro estava enfermo.
Mandaram-lhe, pois, suas irmãs dizer: Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas.
E Jesus, ouvindo isto, disse: Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela.
Ora, Jesus amava a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro.
Ouvindo, pois, que estava enfermo, ficou ainda dois dias no lugar onde estava. Depois disto, disse aos seus discípulos: Vamos outra vez para a Judéia.
Disseram-lhe os discípulos: Rabi, ainda agora os judeus procuravam apedrejar-te, e tornas para lá?
Jesus respondeu: Não há doze horas no dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo; Mas, se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz.
Assim falou; e depois disse-lhes: Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono.
Disseram, pois, os seus discípulos: Senhor, se dorme, estará salvo.
Mas Jesus dizia isto da sua morte; eles, porém, pensavam que falava do repouso do sono.
Então Jesus disse-lhes claramente: Lázaro está morto; E folgo, por amor de vós, de que eu lá não estivesse, para que acrediteis; mas vamos ter com ele.
Disse, pois, Tomé, chamado Dídimo, aos condiscípulos: Vamos nós também, para morrermos com ele.
Chegando, pois, Jesus, achou que já havia quatro dias que estava na sepultura. (Ora Betânia distava de Jerusalém quase quinze estádios. ) E muitos dos judeus tinham ido consolar a Marta e a Maria, acerca de seu irmão.
Ouvindo, pois, Marta que Jesus vinha, saiu-lhe ao encontro; Maria, porém, ficou assentada em casa.
Disse, pois, Marta a Jesus: Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Mas também agora sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus te concederá.
Disse-lhe Jesus: Teu irmão há de ressuscitar.
Disse-lhe Marta: Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia.
Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá;
E todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. Crês tu isto?
Disse-lhe ela: Sim, Senhor, creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo.
E, dito isto, partiu, e chamou em segredo a Maria, sua irmã, dizendo: O Mestre está cá, e chama-te.
Ela, ouvindo isto, levantou-se logo, e foi ter com ele. (Pois, Jesus ainda não tinha chegado à aldeia, mas estava no lugar onde Marta o encontrara.)
Vendo, pois, os judeus, que estavam com ela em casa e a consolavam, que Maria apressadamente se levantara e saíra, seguiram-na, dizendo: Vai ao sepulcro para chorar ali.
Tendo, pois, Maria chegado aonde Jesus estava, e vendo-o, lançou-se aos seus pés, dizendo-lhe: Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido.
Jesus pois, quando a viu chorar, e também chorando os judeus que com ela vinham, moveu-se muito em espírito, e perturbou-se. E disse: Onde o pusestes?
Disseram-lhe: Senhor, vem, e vê.
Jesus chorou.
Disseram, alguns judeus: Vede como o amava. E outros deles disseram: Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer também com que este não morresse?
Jesus, pois, movendo-se outra vez muito em si mesmo, veio ao sepulcro; e era uma caverna, e tinha uma pedra posta sobre ela.
Disse Jesus: Tirai a pedra.
Marta, irmã do defunto, disse-lhe: Senhor, já cheira mal, porque é já de quatro dias.
Disse-lhe Jesus: Não te hei dito que, se creres, verás a glória de Deus?
Tiraram, pois, a pedra de onde o defunto jazia. E Jesus, levantando os olhos para cima, disse: Pai, graças te dou, por me haveres ouvido. Eu bem sei que sempre me ouves, mas eu disse isto por causa da multidão que está em redor, para que creiam que tu me enviaste.
E, tendo dito isto, clamou com grande voz: Lázaro, sai para fora.
Então o defunto saiu, tendo as mãos e os pés ligados com faixas, e o seu rosto envolto num lenço.
Disse-lhes Jesus: Desligai-o, e deixai-o ir.
Certamente esta é uma passagem polêmica no que se diz respeito ao que Jesus fez, pois são poucos quem acreditam que alguém possa ser trazido de volta à vida. Porém mais importante do que o que é percebido com os olhos ou com o toque, são os sentimentos que são elementos essenciais do ser humano - E embora os sentimentos ruins necessitem ser vividos e superados, os bons são mais importantes: Jesus ensina esta importância e não se trata de uma positividade tóxica como vemos neste início de século 21 entre charlatães que prometem riqueza, "felicidade" e saúde fáceis. Jesus diz para seus apóstolos carregarem suas próprias cruzes, ou seja, diz que viver os ensinamentos de amor é uma luta, seja ao lidar com os preconceitos dos outros ou ao lidar consigo mesmo no auto aperfeiçoamento. Porém ele também diz que seu fardo é leve, pois é compensador pelo fato de ser uma vida de amor e esperança.
O se importar pelo próximo e a esperança neste amor são os maiores exemplos de fé pois combinam a solidariedade e humildade fazendo com que o pensamento e o sentimento se projetem para além de si mesmo. O choro, as lágrimas pelo próximo, são representadas na zéfira (sefirot) máxima da árvore da vida e possivelmente estão ligados à "metáfora" do misticismo judaico que conta que no "início"/ na criação do cosmo, Deus olhou para baixo e chorou; Estas lágrimas pelo próximo também estão na passagem bíblica da ressurreição de Lázaro: "e Jesus chorou" (diante do túmulo de Lázaro).
Além disto, quando Jesus fala para remover a pedra, há um significado literal em sua frase: Remover a pedra que cobria o “túmulo” e remover o que encobre a esperança e o amor ao próximo. Esperança não é passividade: é o atributo humano que nos dá sentido e é o atributo divino que transcende ciclos de destruição e criação de universos.
Esta esperança é como a fé, mas independe de religiões específicas e a postura dos religiosos que Jesus denunciava e enfrentava era contrária a isso. Era uma postura de orgulho que desprezava todos os ensinamentos e obras de Jesus.
Por fim, Jesus não ressuscitou Lázaro por apego, pois não realizou tal ato para viver junto dele, afinal foi dito: ... Deixai-o ir.
Obstinação dos judeus (João), Conspiração contra Jesus (Mateus, Marcos, Lucas)
E aconteceu que, quando Jesus concluiu todos estes discursos, disse aos seus discípulos:
Bem sabeis que daqui a dois dias é a páscoa; e o Filho do homem será entregue para ser crucificado.
Estava, pois, perto a festa dos pães ázimos (sem fermento), chamada a páscoa. E os principais dos sacerdotes, e os escribas, andavam procurando como o matariam; porque temiam o povo.
Embora tivesse feito tantos milagres na presença deles, não acreditavam nele. Assim se cumpria o oráculo do profeta Isaias: Senhor, quem creu em nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor? (53, 1) Aliás não podiam crer, porque outra vez disse Isaias: Ele cegou-lhes os olhos, endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos, nem entendam com o coração e se convertam e eu os sare (6, 10). Assim se exprimiu Isaias, quando teve a visão de sua glória e dele falou.
Não obstante, também muitos dos chefes creram nele, mas por causa dos fariseus não o manifestavam, para não serem expulsos da sinagoga. Assim preferiram a glória dos homens àquela que vem de Deus.
Reuniram-se no pátio do Sumo Sacerdote, chamado Caifás e deliberaram sobre os meios de prender a Jesus por astúcia e de o matar. E diziam: "Sobretudo, não seja durante a festa. Poderá haver um tumulto entre o povo".
Ainda que o evangelho seja um texto entendido como religioso, de um ponto de vista mais material/ histórico esta cena faz sentido, uma vez que Jesus e seus apóstolos enfrentavam, mesmo que pacificamente, as seitas manipuladoras e os poderosos gananciosos na província romana da Judéia: Os sumo sacerdotes, sejam fariseus, escribas, ou mesmo príncipes, certamente odiavam a Jesus e seus seguidores pelo fato deles fomentar o amor piedoso e a verdade, favorecendo principalmente os doentes, os mais pobres e os necessitados.
Somente Lucas coloca a traição de Judas imediatamente junta desta passagem: Marcos e Mateus colocam após o jantar em Betânia, o qual certamente Lucas coloca bem antes. João por sua vez, indica que Judas Iscariotes só trai Jesus após a última ceia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário