Saíram os fariseus (e os saduceus) e começaram a disputar com ele (Jesus), pedindo-lhe, para o tentarem, um sinal do céu.
E, suspirando profundamente em seu espírito, disse: Por que pede esta geração um sinal? Esta é uma geração perversa.
Hipócritas, sabeis distinguir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? Em verdade vos digo que a esta geração não se dará sinal algum, senão o de Jonas. Porquanto, assim como Jonas foi sinal para os ninivitas, assim o Filho do homem o será também para esta geração.
A rainha do sul se levantará no juízo com os homens desta geração, e os condenará; pois até dos confins da terra veio ouvir a sabedoria de Salomão; e eis aqui está quem é maior do que Salomão.
Os homens de Nínive se levantarão no juízo com esta geração, e a condenarão; pois se converteram com a pregação de Jonas; e eis aqui está quem é maior do que Jonas.
Ora, deixando-os, tornou a entrar no barco, e foi para o outro lado. E eles (os discípulos) se esqueceram de levar pão e, no barco, não tinham consigo senão um pão.
Jesus ordenou-lhes, dizendo: Olhai, guardai-vos do fermento dos fariseus e do fermento de Herodes (dos saduceus).
E pensavam entre si, dizendo: É porque não temos pão.
Jesus, conhecendo isto, disse-lhes: Para que argumentam, que não tendes pão? não considerastes, nem compreendestes ainda? tendes ainda o vosso coração endurecido?
Tendo olhos, não vedes? e tendo ouvidos, não ouvis? e não vos lembrais, Quando parti os cinco pães entre os cinco mil, quantas alcofas cheias de pedaços levantastes?
Disseram-lhe: Doze.
E, quando parti os sete entre os quatro mil, quantos cestos cheios de pedaços levantastes? E disseram-lhe: Sete.
E ele lhes disse: Como não compreendestes que não vos falei a respeito do pão, mas que vos guardásseis do fermento dos fariseus e saduceus?
Então compreenderam que não dissera que se guardassem do fermento do pão, mas da doutrina dos fariseus.
Os saduceus sendo uma seita judaica composta por aristocratas e religiosos ricos, favoráveis ao helenismo e aos romanos, deveriam abominar as ações de Jesus, que pregava a solidariedade, favorecendo os pobres e os mais necessitados. A diferença mais significativa entre os saduceus e os fariseus, é que os primeiros aceitavam apenas a torá escrita do judaísmo e os segundos aceitavam uma tradição oral, mas eram formalistas - priorizavam regras e rituais.
Jesus critica as priorizações destas duas seitas: Ambas abandonaram os mandamentos se prendendo nas regras meramente terrenas e nada espirituais nem benevolentes. Os religiosos/ as seitas estavam tão certas de si, que não acreditavam em nada do que Jesus ensinava e nem mesmo no que ele fazia: pediam milagres como prova que ele fosse um profeta ou o "filho de Deus", mas não queriam mudar.
O Bom Pastor (João)
Na verdade, na verdade vos digo que aquele que não entra pela porta no curral (aprisco) das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador.
Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor das ovelhas.
A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora. E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. Mas de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos.
Jesus disse-lhes esta parábola; mas eles não entenderam o que era que lhes dizia.
Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo que eu sou a porta das ovelhas.
Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram.
Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens.
O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.
Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas. Mas o mercenário e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e dispersa as ovelhas.
Ora, o mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas.
Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido.
Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas.
Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor.
Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém me tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai.
Tornou, pois, a haver divisão entre os judeus por causa destas palavras.
E muitos deles diziam: Tem demônio, e está fora de si; por que o ouvis?
Diziam outros: Estas palavras não são de endemoninhado. Pode, porventura, um demônio abrir os olhos aos cegos?
Jesus explica que ele veio salvar a humanidade, mostrando o caminho do amor, a lei de Deus. Ele usa a figura de linguagem de que é um pastor de ovelhas, pois é o guia daqueles mansos de coração, ou seja, quem segue os ensinamentos de Cristo é pacífico e humilde. Ele continua explicando que os pastores falsos só se importam com o dinheiro e espalham o mal entre as pessoas, enquanto o verdadeiro pastor (verdadeiro sacerdote, pontífice ou profeta) dá a sua vida pelos fiéis (a Deus) ou pelos mais necessitados, se for necessário. Obviamente não se trata de suicídio, nem de servir um exército ou qualquer milícia alegando lutar por Deus, afinal Deus quer que todos vivam com abundância. Deus não pede sacrifícios sangrentos, nem conflitos ou guerras. Viver em abundância, é viver sem miséria, sem desigualdade, sem rixas e sem conflitos. Não se trata de luxo nem de excessos, se trata de viver em paz e respeitando uns aos outros - viver de coração o que Jesus ensinou: o amor a Deus, ao próximo e a si mesmo, ou seja, o amor a toda vida criada por Deus. Embora Jesus soubesse que suas palavras trariam discórdia e conflito entre os conservadores, os ricos e os poderosos, ele deseja a paz para a humanidade.
A kriya yoga entende a metáfora que Jesus diz “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens. O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.” como uma alusão ao “olho” espiritual, estrela de prana e “porta” da salvação - O acesso à consciência Crística (que abraça a divindade, não querendo mais nada em troca, abandonando todos desejos mesquinhos) contra o “ladrão” (maya, a ilusão dos gostos terrenos, rixas, disputas etc).
Em Mateus, as duas próximas passagens aparecem após "A figueira amaldiçoada", o que faz muito sentido, já que a figueira que não dá fruto é símbolo daqueles que não fazem boas obras - que não vivem os ensinamentos de amor a todos. A figueira pode muito bem representar os grupos religiosos corruptos, como mostrado a seguir:
Autoridade de Jesus (Marcos, Mateus, Lucas)/ Festa de Dedicação (João)
Em Jerusalém havia a festa da dedicação, e era inverno.
E Jesus andava passeando no templo, no alpendre de Salomão.
Rodearam-no, os anciãos do povo, os escribas e os príncipes dos sacerdotes e perguntaram-lhe:
Com que direito fazes isso? Quem te deu esta autoridade?
Respondeu-lhes Jesus: Eu vos proporei também uma questão. Se responderdes, eu vos direi com que direito o faço. Donde procedia o batismo de João: do céu ou dos homens?
Ora, eles raciocinavam entre si: Se respondermos dos céus, ele nos dirá: Porque não crestes nele? E se dissermos: dos homens, é de tremer-se a multidão, porque todo mundo considera João como profeta.
Responderam a Jesus: Não sabemos.
Pois tampouco vos digo com que direito faço estas coisas, retorquiu Jesus.
Os judeus, pois, disseram-lhe: Até quando terás a nossa alma suspensa? Se tu és o Cristo, dize-no-lo abertamente.
Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo tenho dito, e não o credes. As obras que eu faço, em nome de meu Pai, essas testificam de mim.
Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito.
As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem;
E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão.
Meu Pai, que me deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai.
Eu e o Pai somos um.
Os egoístas e os céticos em demasia não conseguem crer em Jesus, nem em qualquer cristão que operasse os ditos milagres (fenômenos mediúnicos de acordo com o espiritismo, com a umbanda etc). Eles, inutilmente, buscavam diversas maneiras provar que Jesus era uma farsa, mas na verdade a farsa era eles mesmos. Transvestidos de classes espiritualizadas, os saduceus, os fariseus e os escribas nada de verdadeiramente espiritual faziam: Em resumo eram formalistas, gananciosos, egoístas etc.
Jesus diz que seus seguidores foram lhe dados por Deus e que dá a vida eterna a eles. Assim, ninguém pode tirar os verdadeiros seguidores de Deus (que aceitam os ensinamentos de Jesus e buscam se aproximar dele realizando obras solidárias e/ou benéficas ao maior número de pessoas possível), pois Jesus e Deus são um.
Esta última frase pode ser interpretada como se Jesus fosse Deus, embora em alguns outros trechos dos 4 evangelhos, Jesus claramente diz que não é bom, e que seu Pai sim é bom. Esta aparente contradição faz com que as pessoas escolham uma interpretação unilateral da identidade de Jesus: Ou ele é Deus ou ele não é Deus, sendo só o filho ou um espírito elevado. Pode parecer mais uma questão predominantemente tola já que se afasta dos ensinamentos de Jesus, porém é importante evitar discursos exclusivistas de que só Jesus é Deus, acusando todas outras religiões de serem falsas. Tal tipo de discurso contradiz os ensinamentos de Cristo que são baseados em humildade, piedade, tolerância, universalidade etc.
Parábola dos 2 filhos (Mateus)
(Jesus diz:) Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse-lhe: "Meu filho, vai trabalhar hoje na minha vinha". Respondeu ele: "Não quero." Mas em seguida, tocado de arrependimento, foi.
Dirigindo-se depois ao outro, disse-lhe a mesma coisa. O filho respondeu: "Sim, pai!" Mas não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai?
O primeiro, responderam-lhe.
E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo, os publicanos e as meretrizes vos precedem no reino de Deus! João veio a vós no caminho da justiça e não crestes nele. Os publicanos, porém, e as prostitutas creram nele. E vós, vendo isto, nem fostes tocados de arrependimento para crerdes nele.
Jesus critica abertamente os religiosos que se achavam escolhidos de Deus e ignoravam ou negavam as obras de João Batista. O "trabalhar" utilizado na parábola de Jesus, certamente se refere a fazer as obras que ele mesmo e João Batista faziam. Mas a arrogância dos religiosos aos quais Jesus contou a parábola, sejam os fariseus, os escribas ou outros, faziam com que eles desprezassem toda solidariedade, toda justiça e toda fé verdadeira.
Como será a ressurreição (Marcos, Mateus, Lucas)
Naquele mesmo dia, os saduceus, que negavam a ressureição, interrogaram Jesus: Mestre, Moisés disse: "Se um homem morrer sem filhos, seu irmão case-se com a sua viúva e dê-lhe assim uma posteridade". (Deut 25, 5) Ora, havia entre nós sete irmãos: O primeiro casou-se e morreu. Como não tinha filhos, deixou sua mulher ao seu irmão. O mesmo sucedeu ao segundo, depois ao terceiro, até o sétimo. Por sua vez, depois deles todos, morreu também a mulher. Na ressureição, de qual dos sete será a mulher?
Respondeu-lhes Jesus: Errais, não compreendendo as escrituras nem o poder de Deus. Na ressureição os homens não terão mulheres, nem as mulheres maridos; mas serão como os anjos de Deus no céu.
Quanto a ressureição dos mortos, não lestes o que Deus disse: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó? Ora, ele não é o Deus dos mortos, mas Deus dos vivos.
E ouvindo esta doutrina, as turbas se enchiam de grande admiração.
Vale lembrar que os saduceus eram a seita religiosa de tendência materialista e cética.
Os católicos explicam que Deus considera Abraão e os demais profetas vivos, por isso não há obstáculo em crer na sua ressureição futura.
É possível que Jesus se refira a dois pontos aqui: A mulher, o marido e seus sete irmãos, ao morrerem, desencarnam, ou seja, tornam-se espíritos e não precisam se casar, nem são capazes de se reproduzirem. Oras, se Jesus diz que Deus é espírito, e há uma hierarquia de seres entre os humanos e Deus, sendo esta hierarquia composta pelos anjos (cujo, os níveis são melhores definidos na árvore da vida da cabala no judaísmo místico), deve haver alguma semelhança entre os anjos e o conceito de espírito(s). Isto é bem explicado no espiritismo de Kardec, escrito na França do século 19: Os espíritos são seres incorpóreos e podem reencarnar em formas superiores conforme vivem e aprendem/ desenvolvem as virtudes ensinadas por Jesus (isto também parece estar de acordo com o hermetismo). Quanto mais "elevada", ou seja, mais semelhante a Jesus e sua bondade, o espírito reencarna em formas mais sutis ("eterizadas") até que os mais elevados seres sejam o mais parecidos (e próximos) a Deus. Como bem notado por Kardec não havia um termo para reencarnação entre os judeus da época de Jesus e a metempsicose era palavra exclusiva de algumas seitas das religiões gregas, como os órficos, por exemplo. O espiritismo não foi proposto exatamente como um religião por Kardec e o mesmo titubeou ao responder tal questão em seu tempo: tentou explicar que era religião do ponto de vista da importância de coisas como a fé em Deus e da oração, mas não como um corpo fechado que nega tudo das outras religiões. Em outras palavras, não havia o termo espiritualidade no século 19 - esta palavra só passa a ser difundida após o contato do ocidente com o Sanatana Dharma (religiões hindus) em meados do século 20. O espiritismo francês, apesar das limitações ideológicas da época, certamente foi uma proposta de diálogo inter religioso. Com alguma semelhança aos movimentos new age oriundos do contato ocidente-oriente ("hinduísmo") mencionado acima; Porém também com a diferença que Kardec propôs uma filosofia que também dialogava como uma construção de conhecimento, ou seja, propôs um diálogo com a ciência de seu tempo, ainda que com pouco ou nenhum sucesso.
O Messias; "Filho de Davi" (Marcos, Mateus, Lucas)
Como os fariseus se agrupassem, continuava Jesus a ensinar no templo e propôs esta questão:
"Como dizem os escribas que Cristo é o filho de Davi? Pois o mesmo Davi diz, inspirado pelo Espírito Santo: Disse o Senhor ao meu Senhor: senta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos sob os teus pés (Salmo 109,1).
Ora, se o próprio Davi o chama Senhor, como então é ele seu filho?"
A grande multidão ouvia-o com satisfação e depois daquele dia, ninguém mais ousou interrogá-lo.
Esta passagem pode muito bem quebrar a ideia biologista de que Jesus pertence a mesma linhagem de Davi ou de quaisquer profeta judeu da antiguidade. Linhagem de sangue nada tem a ver com os ensinamentos de Jesus que são centrados no amor a Deus (onipresente Espírito criador de todas as coisas) e no amor ao próximo como a si mesmo, ou seja o amor a todos, como explicado em outras passagens. Seja Jesus desta linhagem ou de outra, pouco importa: Jesus não defendia uma nacionalidade em particular, muito menos uma suposta "raça".
Esta fala também está de acordo com a discussão de Jesus com os judeus, quando o mesmo explica que já existia antes de Moisés. E também quando diz que estava próximo de Deus antes mesmo do surgimento do mundo (da Terra). Isto explica porque Jesus diz a Nicodemos que ninguém sabe de onde vem o espírito nem para onde vai o espírito; O corpo é mortal, mas o espírito é imortal.
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