sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Amor não é alucinação

 

Experiências Transcendentais ou Cripto-psíquicas... de Amor 

Amor existe e não é sinônimo de alucinação, embora algumas pessoas que não o conhece, aleguem que ele não existe. Obviamente amor se trata de um sentimento. Há quem diga que seja subjetivo, outros desprezam abertamente e algumas pessoas até tentam distorcer seu significado alegando que se trata meramente do ato sexual (esta última mentira é muito comum no meio musical). Há quem diga que é amar é só apreciar, ou gostar. Outros incluem a confiança como parte do sentimento. E também há quem acredite só no que pode ser expresso, relegando ao amor às condições de paixão, devoção/ amizade ou de solidariedade. Por fim, em uma visão mais espiritual ou religiosa, o amor pode ser ágape - um amor incondicional, piedoso e expansivo. Eu diria que excluindo os que desprezam o amor e aqueles que chamam o sexo de amor, todas as demais classificações estão mais ou menos certas. Afinal sentimento não é ciências exatas e é pouco produtivo tentar explicá-lo empiricamente. 

Pois bem, sem me afastar dos assuntos devoção, amizade e solidariedade, contarei o que me aconteceu no segundo semestre de 2016 (muitos chamam de experiência transcendental, mas elas estão por trás da mente, ou além desta, por isso acho possível chamá-las de "cripto-psíquicas"): 

Eu havia abandonado minha religião no início da minha vida adulta, entre 2000 e 2004. Nos anos seguintes eu fazia orações em algumas noites antes dormir. Mas em uma noite de 2016, fui dormir mais cedo do que eu estava acostumado… Talvez entre 21h30 e 22h00, não tenho certeza. Estava feliz por ter ajudado uma amiga com problemas psicossociais e uma parente com muitos problemas físicos, pois eu sentia uma certeza de que ajudar o próximo era uma das coisas mais importantes em vida. Sentia que a solidariedade poderia resolver a maioria dos problemas do mundo, apesar de “estar em baixa” , além de sentir uma coragem/ não se importar com minha vida econômica diante as injustiças na Terra. Fiz uma oração, grato por ajudar as pessoas, e me deitei ainda sem sono. Aí começou uma estranha experiência: Apaguei repentinamente, como se eu fosse anestesiado. Depois de uma sensação de bem estar, me lembrei brevemente (como em um lampejo) do que passei ao lado de minha amiga. Isto me trouxe uma sensação de superação e tranquilidade. Em um segundo "lampejo" surgiu a imagem de minha parente seguida por uma sensação de alegria. Como em um sonho, comecei a flutuar e então, fui sendo atraído ou puxado em direção a uma luminosidade. É difícil definir se eu “era só a minha mente” ou se eu percebia as coisas com meu corpo todo, apesar de não ter mais discernimento de minha forma. Voei rapidamente me aproximando desta luminosidade e aparentemente de modo involuntário. A sensação aqui é mais difícil de descrever, talvez impossível, pois pode ser considerada muito subjetiva: Transcendência (de ir além do corpo etc). 

Na luz estavam (ou eram) 2 ou 3 seres também luminosos e com formas vagamente humanas. A “cabeça” destes seres eram mais luminosas do que seus corpos ou auras e conforme me aproximei, a sensação, mais uma vez difícil de descrever, era de que os seres de luzes eram não só seres, pois eram lugares também. Seres e lugares repletos de memórias ou consciências que me causaram um grande espanto (diante o incompreensível). Estas "consciências" eram luzes menores que se moviam e quando aproximavam-se umas das outras, eu tive a nítida impressão de que se "comunicavam" ou transmitiam mensagens e/ou sentimentos entre si. Não havia nada a esconder e tudo estava em paz ali, embora eu não tenha decifrado as mensagens e sentimentos. Então numa espécie de tranco, fui empurrado para trás e acordei com uma forte dor no peito. 

Este "sonho" foi mais breve do que esta descrição, pois parece ter acontecido num intervalo de 5 a 10 segundos, no máximo... Ficou uma sensação (ou interpretação) de uma breve mensagem em minha mente, como se eu perdesse o controle de meu pensamento ou como se alguém falasse através de meu pensamento: "Viva a vida" 

Importante mencionar que tal experiência não pode ser produção do meu cérebro: A descrição é limitada pela minha condição atual como ser humano, nitidamente diferente de minha condição naquela experiência. Portanto entendo que não foi só um sonho, pois nunca tive nada parecido em todo meu repertório mnemônico nem em minhas capacidades sensoriais. Sejam espíritos, anjos, seres incorpóreos ou mentes projetadas além do espaço-tempo, pareciam todos em paz. Quando digo que minha condição normal como humano é diferente da minha condição naquela experiência, quero dizer o mesmo que Carl Sagan fala sobre "estar fora de sua experiência" neste famoso vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=WMZNLy0hGEI&t=2s

Analisando de um ponto de vista mais religioso / espiritual, este contato pareceu ter relação com que eu pensava e vivia naquele período: Não almejava um “paraíso” nem temia um “inferno” - apenas acreditava na importância superior da solidariedade e ia vivendo desta forma sempre que possível

Apesar desta experiência, eu pouco mudei meu comportamento durante o ano seguinte. Talvez tenha até "desistido" de ser solidário por alguns períodos. 

Súplica em Humildade 

No 1º semestre de 2019 mais um fenômeno destes que a atual ciência humana não explica aconteceu comigo, mas farei um resumo para evitar delongas em excesso: Desta vez, parece ter desencadeado uma série de experiências ruins, em sua maioria noturnas. Tais experiências na maioria das vezes pareciam presenças incorpóreas de sentimentos ruins que me incomodavam ou atacavam gerando alguns efeitos muito incômodos. Estas presenças de origem externa, às vezes se moviam em minha direção manifestando-se por choques ou empurrões, outras vezes surgiam como sentimentos alheios irrompendo meu aparelho psíquico (como invasão ou arrombamento). Chamei de presenças porque eram como mentes sem um corpo, algo notoriamente externo em relação a mim, e impossível de serem produções do meu aparelho psíquico ou do meu cérebro.

Cerca de um ano depois, passando por tais experiências ruins, em uma noite, entro no estado inicial do sono algumas vezes, mas sinto coisas externas que não pareciam exatamente uma(s) presença(s) e sim as inserções de pensamentos alheios interrompendo meus pensamentos, e inícios de sonho. Não era um mero processo psíquico confuso, era uma série de notórias interferências de origem externa (sem direção definida, afinal não há direções físicas na mente). 

Minha mãe fez uma ou mais orações por mim e foi dormir. Às vezes orações (em geral feitas com sinceridade e humildade) resolviam, mas não esta noite. Então fiquei pedindo a Deus por esperança, enquanto era bombardeado por aqueles elementos psíquicos externos invadindo minha mente. Num momento que começo a dormir novamente, sinto uma forte e enorme presença luminosa. Sinto sua mente vasta e repleta de saber (como se cada partícula da luz que me banhava fosse inúmeros conhecimentos milenares de vidas inteiras) e repleta de bons sentimentos. O sentimento principal, ou essencial, me pareceu amor, como o que senti de minha mãe em alguma fase ou momentos de minha vida, porém mais surpreendentemente intenso e/ ou vasto. Fico em êxtase de modo similar a experiência que tive em 10/2016: Ao mesmo tempo que sinto uma segurança superba, sinto a fraqueza do meu cérebro e/ou mente, como se mal se sustentasse diante a grandiosa presença. Sou erguido como se fosse sair de meu corpo, mas hesito brevemente (preocupado se ia deixar minha mãe) e então sou deixado sobre um tipo de um "grande livro" com folhas em forma de leque constituídas por lâminas cheias de curvas como arabescos ou ornamentos. Este estranho objeto parecia algum tipo de armadilha apesar de banhado pela luz. Após um breve e grande susto, passo entre as supostas lâminas que não me cortam e vejo, como num lampejo entre as inúmeras informações e a glória angelical ou divina, Platão (Sócrates também?), sua obra "A República" e outros sábios e/ou poetas (talvez profetas, santos)… Senti que eles lutaram e lutam pelo bem (verdade, solidariedade etc) através das realidades ou através do espaço/ tempo. Ao acordar com o fim da experiência, sou preenchido de coragem e ânimo. Sinto profunda felicidade e gratidão pois entre os sentimentos percebi um amor (descrito acima) que transcende tudo que senti em vida. O cansaço oriundo de dias dormindo muito mal e outras sequelas como dores de cabeça e de estômago, desapareceram todas. 

Enredamento psico-eletromagnético 

Algumas das experiências desconfortáveis nos meses seguintes se pareciam com ondas eletromagnéticas que me acordavam causando formigamentos, vagos choques e sentimentos ruins forçados ou supressão de meus sentimentos. Sentir estas ondas além do meu corpo trazendo sentimentos ruins completamente diferentes dos meus, como se estivessem tentando sobrepor os meus, me fez pensar: Se certas atividades do sistema nervoso e/ou aspectos do aparelho psíquico são de natureza tão sutil que atravessam o espaço-tempo conhecido, o que uma civilização super avançada faria a respeito disto? 

Depende da mentalidade destes e dos seus respectivos anseios, visões, objetivos etc. Tudo o que cerca a possibilidade de uma civilização mais avançada que a humanidade acaba caindo no que chamamos de ficção. Isto porque o ser humano basicamente é capaz de entender coisas a partir de si como ponto de referência. Talvez com algum esforço e raras experiências, isso pudesse mudar, mas em geral o ser humano ainda se acha o “centro do universo”. E do espaço-tempo, de um possível multiverso e de tudo mais. 

Mas voltando ao tema inicial, essa questão me passou em mente por uma série de motivos. Além das "minhas" experiências tidas como transcendentais e/ou sobrenaturais, esse tipo de reflexão pode ser vista em alguns textos religiosos como sobre o que almejava o mal na época da "construção da torre de Babel" e a história de "Bahubali e seu irmão". Os dois contos falam de uma ambição desmedida e uma ganância sem limites, que desafiam o sagrado e o mundo espiritual. Não importa o quão fictício ou real eles sejam... Estes contos servem para mostrar como o mal pode se esconder atrás do materialismo, seja na forma de conhecimento aplicado à Terra (tecnologia), na forma de domínio político, ou na forma de vício por bens materiais (riquezas, luxo etc). Além da ganância podemos ver como outros motivos, o orgulho (falta de humildade), o ódio ao desconhecido e, a inveja da felicidade, da pureza... 

Mas o que aconteceria se indivíduos fascinados ou viciados em diversos bens materiais alcançassem enorme progresso tecnológico? Isto seria resultado de uma estagnação do desenvolvimento sentimental e possivelmente uma atrofia da empatia e da intuição tão conectadas ao ato de sentir e aos sentimentos. Mas esta atrofia não negaria a natureza das relações. Por exemplo, o indivíduo que não sente, poderia encontrar alguém necessitando de ajuda e faria uma escolha: ajudar ou não ajudar. Não ajudar, como mostra a própria expressão, é um ato de negar. Portanto negar não é neutro, neste caso é prejudicar. Aquele que escolhe prejudicar não é neutro e assim poderia prejudicar de variadas maneiras o indivíduo necessitado. Um enorme progresso tecnológico possivelmente implica em um enorme poder, como descrito no conto hindu de Bahubali e seu irmão Baratha. E poder sem responsabilidade não é uma escolha boa, nem equilibrada, portanto nem mesmo natural. Ela também não pode ser considerada uma escolha divina, sobrando apenas categorizá-la como uma escolha má (literalmente). Para abandonar tal escolha é preciso se abrir ao diálogo, disponibilizar-se ao outro, acolher o necessitado, assumir responsabilidades... São atitudes que giram em torno do eixo receptividade/ amor (que também é uma forma de conhecer, de conhecimento) e esperança. Mesmo que as expressões deste eixo de sentimentos não ajude alguém de modo direto, elas devem, ao menos, gerar inspiração. 

Esforço Vão? 

Tentei descrever estas experiências, mas parece haver um preconceito generalizado com estes tipos de relatos... De fato, existiram e ainda devem existir muitos charlatães e iludidos nestes meios considerados como religioso / místico / sobrenatural / espiritual. Mas a verdade é que isto acontece porque tais assuntos são (ou deveriam ser) centrados nos sentimentos. Neste caso, o assunto não é prioritariamente racional, então a impossibilidade da neutralidade é muito mais evidente no meio religioso e místico do que nos meios acadêmicos, escolares e científicos. Pode parecer desnecessário, mas tentarei falar resumidamente aqui sobre do que se trata as religiões, e portanto, do que se trata toda a espiritualidade e o meio esotérico/ místico: Todos esses meios tratam do espiritual, ou seja, da alma e do além vida (material). E como nós seres humanos somos também de carne e osso, ou seja, materiais, explicar tais assuntos e seus respectivos fenômenos com palavras facilmente torna-se insuficiente. A palavra é naturalmente uma expressão racional, pois segue padrões e não apresenta expressão dos sentimentos (emoções) por si só. O que transforma o sentimento em emoção, são principalmente tons de voz e expressões faciais, como os olhares, sorrisos, movimentos com as sobrancelhas, com a boca etc. 

Daí a importância da oratória neste meio: A utilização das emoções no discurso é o mais próximo de expressar o que realmente importa na religião e no misticismo: os sentimentos como receptividade, amor e esperança. A menos que o orador use a oratória para acusar estranhos, gerar medo, raiva e sectarismo/ clubismo, aí ele é um picareta, crápula, execrável, dejeto humano... 

Brincadeiras a parte, se o orador religioso, espiritual ou místico, usa seus discursos para enganar os outros ou usa com fins egoístas, ele definitivamente não está falando coisas boas. Ele não está propagando nem amor, nem esperança, muito menos a verdade. Está fazendo o contrário de tudo isto. Afinal a base de todas religiões e de toda espiritualidade, assim como a base da ciência, é a humildade. Embora a ciência utilize termos mais técnicos, a ausência de pressupostos necessária para se começar a pesquisar/ estudar algo, é a humildade ou algo muito próximo disto... Com um nome mais descritivo. 

Bom, então porque me parece que meu esforço em descrever minhas experiências ainda foi em vão? 

Porque há clubismos em todos os meios que eu mencionei antes. Sim, estes meios estão cobertos de opiniões baseadas em gostos particulares ou de grupos segmentados que atacam uns aos outros: É muito comum ver o estudioso de exatas ridicularizar o de humanas, o médico desprezar o enfermeiro, o engenheiro civil desprezar o pedreiro, psicólogos behavioristas e psicanalistas se desprezarem mutuamente, os crentes e católicos se atacarem e por aí vai... Porém estas cisões entre os diversos campos do saber eu descrevi em outros textos meus: https://nea-ekklesia.blogspot.com/2021/07/as-relacoes-das-areas-do-saber.html

A Ciência já pesquisou sobre o bem ou sobre Deus? 

Antes do longo período conflituoso que se estendeu da expansão greco-macedônica até a disputa entre a Europa britânica e a Europa continental durante o Iluminismo, a "filosofia", ou seja, o amor à sabedoria, buscava entender a origem de todas as coisas, portanto, buscava entender todas as coisas. 

Então pode-se dizer que na Grécia Clássica (ao menos durante uns 2 séculos antes da expansão greco-macedônica) nenhum destes estudos eram separados. Após os "filósofos pré-socráticos" ou naturalistas desenvolverem suas ideias, questionando vários aspectos dos poemas da mitologia popular helênica, possivelmente após o contato com os persas e ex-babilônicos, cerca de um século depois, Sócrates desenvolveu seus estudos com estes filósofos e estendeu os estudos para questões menos naturalistas, como a importância da justiça e do Bem. Os persas de sua época (século 4 aC) tiveram contato com as civilizações hindu ao oriente, de onde possivelmente também obtiveram conhecimento, indicando um longo percurso de trocas de informações... Esta união de questionamentos e estudos foi um processo gradual que ocorreu em determinados períodos da história humana. Talvez a mais bem documentada, seja a época dos filósofos socráticos. 

É possível notar que o amor à sabedoria é recíproco: Busca-se saber/ conhecer por amor, e este saber/ conhecimento talvez não fosse difundido por toda sociedade, mas deveria ser aplicado à toda sociedade, como se fosse por amor. Por isso Sócrates fez críticas precisas às formas de corrupção dos governos, como aparecem na obra Politéia (A República), de Platão. Nesta obra, Sócrates critica não só os sofistas, que agiam como mercenários interesseiros transvestidos de filósofos, como também critica o governo "para os amigos" e o governo "pela força". Critica a desregulação e o culto ao dinheiro típico das oligarquias (semelhantes aos sistemas atuais de direita: liberalismo etc) e também critica o tirano autocrata e opressor. 

Sócrates mencionou valores sociais perdidos, questionou costumes fúteis que eram tidos como morais e corretos, tentou reduzir a desigualdade entre os sexos, sugeriu estruturas sociais-governamentais, reprimiu os atos interesseiros, mostrou a importância de determinados estudos, comprovou o valor da honestidade, diferenciou o interesse por recompensas do trabalho bem feito e abordou questões sobre a alma, sobre o além e quem foram os heróis e os deuses da mitologia. Nenhuma das críticas eram meramente destrutivas, muito pelo contrário, Sócrates indicava o caminho da sabedoria com amor. Tudo isso porque a verdadeira ciência era indissociável do Bem maior. 

Mas e os Sentimentos? O que têm a ver? 

Desenvolver sentimentos requer desenvolver empatia. E não só isso, requer incentivar que as pessoas se coloquem no lugar do próximo. São requerimentos básicos para o aprimoramento do convívio em sociedade. 

Alguém poderia falar: Um plano de distribuição de recursos bem executado acabaria com a desigualdade e a fome no mundo... Sim, mas quanto duraria essa equidade sem empatia e sem sentimento? Provavelmente um breve período de tempo, pois sem empatia e bons sentimentos, ressurgiriam rapidamente a ganância e o consumismo. 

 Quando criticamos o consumismo, estamos criticando com razão, as mídias que propagam tal ideia e as empresas que bancam e incentivam esse comportamento. Trata-se de uma indução psíquica, fomentar desejos e necessidades artificiais, não é algo meramente material: O espectador dessas propagandas/ ideias consumistas, pode realmente passar a crer que precisa comprar cada vez mais coisas. Estes desejos são fomentados para satisfazer temporariamente a ganância de quem "vende" (na verdade, de quem manda vender) os produtos, bens e afins. 

Do ponto de vista religioso isto deveria ser nítido, e portanto severamente condenável: Consumismo é o desprezo absoluto não só pela caridade, mas pela alma e pela dimensão espiritual. Isto é citado em várias religiões ao redor do globo: judaísmo, cristianismo, hinduísmo, budismo etc. Note que além do consumismo, temos a propagação das ideias de competitividade e produtividade, ambas invocando a suposta meritocracia. Tudo contra a caridade, o perdão, a humildade e o espiritual. 

Os sentimentos foram abordados pelos filósofos desde a antiguidade, mesmo que nem sempre fossem o centro das discussões. Neste texto não abordarei o conteúdo de Sócrates, transcrito por Platão, mas em suma, a própria palavra filosofia, significa amizade com o saber e às vezes é "traduzida" como amor ao saber.

Enfim, com este longo relato particular, seguido por um breve resumo das obras de Sócrates/ Platão, é possível notar que não é tão difícil discernir o que é o Bem e qual a sua importância. 

Referente as minhas experiências, muitos insistirão, sem provas empíricas nem fenomenológicas (ou de qualquer método investigativo), que se trataram de alucinações. Mas alucinações, se é que podem ser provadas por algum método científico, são produções da mente que ocorrem em geral por causa de algum mal funcionamento, seja do aparelho psíquico, aceito por bases de estudo mais teóricas, ou pelo cérebro, nos conformes limitados pelo empirismo. Sendo assim, alucinações ocorrem em estados patológicos (seja por traumatismos no sistema nervoso ou por estados febris), ou em estados de sofrimento psíquico intenso, capaz de causar transtornos psicológicos. O que ocorre em estados de lucidez e de saúde, não são alucinações. 

O "livro de lâminas" onde caí na minha experiência (que céticos chamariam de "sonho") citada anteriormente ao "voltar à Terra" ou "ao voltar a este espaço-tempo", me pareceu um símbolo: Possivelmente representava o contorcionismo milenar dos egoístas e dos orgulhosos (sensacionalismo, fake news, fanatismo religioso, incitação ao consumismo, "ciência" a favor da minoria etc) para esconder a verdade e para manter coisas indefensáveis como miséria, guerras, ignorância etc...

As relações entre Lendas, Misticismo e Religião

 

Este texto na verdade é a junção de um monte de retalhos sobre temas de teor místico-religioso do Levante (costa mediterrânea do oriente médio), da Grécia e do Egito (bem pouquinho deste último) antigos, colocados numa ordem mais ou menos coesa. Como fiz um levantamento exagerado de informações "místico-religiosas" e afins para escrever sobre um cenário de RPG, estou compartilhando algumas semelhanças que existem entre estes conteúdos...

Mitologias/ Religiões da Grécia Antiga 

Quando ouve-se falar de mitologia helênica (mitologia grega), geralmente imagina-se criaturas fantásticas e deuses intrometendo-se na vida dos mortais. Os personagens, sejam deuses ou heróis, parecem cercados de tragédias, ambições e conflitos e a versão das histórias aparenta ser uma só. Mas na verdade existem mais versões das histórias lendárias e dos deuses. Mesmo porque a Grécia antiga não era um reino único e coeso: Eram cidades-estado independentes entre si, que só se aliavam em ligas ocasionalmente, sendo unidas como um único estado somente por volta do ano de 337 aC. 

A mitologia grega como ouvimos falar com mais frequência, ou com mais facilidade, é baseada nos poemas de Homero e de Hesíodo e conta histórias (ou lendas) que fazem parte de uma possível antiga religião politeísta da Grécia Antiga. Esta versão se trata apenas da versão mais popular da cosmogonia / religião da Grécia, onde os deuses são descritos de modo similar aos humanos: Agindo principalmente por impulsos, ganância e vaidade, portanto se envolvendo em diversos conflitos entre si. 

 

Outra versão da mitologia grega é o orfismo, uma vertente mística e tradicionalmente considerada criação do rapsodo (um poeta, mais lendário do que histórico) Orfeu, portanto possivelmente mais antiga que os poemas homéricos. O orfismo mostrou elementos considerados típicos das culturas orientais como a transmigração (reencarnação) das almas, além de apresentar diferenças na genealogia dos deuses quando comparada com os poemas de Hesíodo e Homero. 

Além das duas “correntes” citadas anteriormente, surgiram as versões mais novas difundidas pelos naturalistas/ filósofos pré-socráticos e por Sócrates. Estes filósofos procuravam explicações sobre a origem das coisas e rejeitaram em grande parte a explicação cosmogônica popular da Grécia antiga. Sócrates e Platão difundiram a ideia da imortalidade da alma (possibilitando a hipótese de reencarnação) e focaram na importância do Bem. A história da Atlântida contada por Platão e por outros filósofos também possuem algumas diferenças em relação à versão popular da antiga religião / mitologia grega. 

Enfim, estas versões descritas pelos filósofos pré-socráticos e socráticos trazem algumas semelhanças com as versões “materialistas” de Evêmero e de Filo de Biblos, onde os deuses, na verdade, foram antigos governantes poderosos da humanidade.

 

Poseidon (Netuno) O deus dos oceanos é tido como o personagem primordial na história da Atlântida, ou seja, a primeira divindade mencionada. Na versão popular (de Homero e de Hesíodo) Poseidon não é um deus primordial, pois é um dos filhos de Kronus e irmão de Zeus, mas há uma vaga semelhança com as histórias da Atlântida: Conta-se que quando Urano trouxe o círculo do zodíaco (outra possibilidade seria Aeon como um personagem distinto) para governar a Terra , ele teria destronado um deus (ou casal de deuses) dos mares: Ophion e Eurynome. Estas histórias, porém, podem mostrar um conflito / disputa de versões… Em Roma, Poseidon foi considerado Netuno. Na astrologia, Netuno é considerado regente da constelação de Peixes. 

Urano (Caelus) O deus dos céus faz parte da primeira geração de deuses na versão popular da mitologia grega. Ele e seus irmãos (incluindo sua esposa Gaia, a Terra) eram filhos de Khaos (o primórdio desconhecido). Urano teve 6 filhos e 6 filhas com Gaia: Os doze titanes theoi, ou seja, os titãs (talvez tenham alguma relação com os 12 signos do zodíaco). Embora na versão popular da mitologia Urano se mostra um personagem impiedoso, na versão (materialista, semi histórica) de Filo e de Evêmero, ele se redime posteriormente, ajudando Zeus a destronar o ambicioso Kronos. Também é interessante notar que mesmo na vertente popular da mitologia, entidades (deuses?) relacionados ao oceano governavam o mundo (ou universo?) antes de Urano, como citado anteriormente. Filo de Biblos conta que alguns sacerdotes fenícios da antiguidade misturaram a história dos reis (das civilizações em torno do Mar Mediterrâneo, como o Egito, a Grécia, a Fenícia etc) com eventos da natureza, como os climáticos, astronômicos etc. Esta versão misturada da história teria se tornado popular nas cidades-estado helênicas através dos poetas Homero e Hesíodo. A adição destes elementos climáticos/ astronômicos parece nítida na história/ lenda de Urano, de Gaia e de seus filhos titãs. Em Roma, Urano foi considerado Caelus. Na astrologia, Urano é considerado regente da constelação de Aquário. 

Kronos (Saturno) Um dos filhos de Urano, Kronos é considerado o titan theoi (deus forçado, ou deus que forçou muito, deus que deformou) da agricultura e da ambição. Ele teria punido seu pai por causa da forma que o mesmo tratava Gaia (mãe de Kronos) e então tomado a liderança dos deuses. Esta punição pode parecer um mero ato de violência, mas deve representar a idéia de separação do céu e da terra num processo de gênese do mundo ou do universo. Na versão da história da Atlântida, ele teria governado metade do mundo conhecido, enquanto Atlas governava a outra metade. Ainda nesta versão, o pai de Kronos, Urano, era um grande astrônomo/ astrólogo e não o céu propriamente dito. Na versão de Filo, baseada em escritas fenícias, Kronos foi rei do Império Egípcio (e possivelmente de uma ou mais cidades cananéias) em uma antiguidade distante. Em Roma, Kronos foi considerado Saturno. Na astrologia, Saturno é considerado regente da constelação de Capricórnio. 

Hades (Plutão) ? O filho de Kronos (e irmão de Zeus) é o deus dos mortos e do submundo. Não é necessariamente maligno, mas alguns autores criaram esta imagem sombria dele, como é mencionado na obra A República de Platão. Em Roma, Hades foi considerado Plutão. Na astrologia, Plutão é regente da constelação de Escorpião. 

Zeus (Júpiter) Na versão popular da mitologia, Zeus e seus irmãos, com a ajuda de algumas outras entidades, teriam vencido os titãs liderados por Kronos na guerra chamada de titanomaquia. Apesar de receber ajuda de sua esposa Métis para derrotar Kronos, Zeus, o deus dos céus e dos raios, ao suceder o titã na liderança do panteão, ficou receoso de perder sua posição recém-conquistada e a neutralizou. Assim, posteriormente Zeus casa-se com Hera. Na história da Atlântida é mencionado que o termo Zeus vem de Zis, que teria relação com bondade, piedade e com a palavra Zen. O que faz sentido na visão de Sócrates e Platão, que negavam que os verdadeiros deuses agiam por impulsos ou por mera vaidade, pois lideravam pelo bom exemplo. Filo menciona que Zeus é na verdade um título usado por Arotrios (que tem algum equivalente cananeu/ fenício) que talvez seja Jápetus e por Adodus (oriundo do fenício, Adad ou Hadad, divindade dos raios e trovões). Assim como na versão da história da Atlântida e do everismo, Filo menciona que Zeus derrotou o tirano Kronos... Em Roma, Zeus foi considerado Júpiter. Na astrologia, Júpiter é regente da constelação de Sagitário. 

Ares (Marte) Em algumas versões, Ares, o deus das guerras, é filho de Zeus e Hera. Hera foi cultuada em Argos e algumas outras cidades gregas ao menos desde o século 8 a.C. No mito, a rainha dos deuses dá o status de guardião a Argos Panoptes (o que tudo vê, um epíteto de Hélios também), que seria o filho do 1º rei mítico da cidade. Isto indica que sua importância na religiosidade é certamente mais antiga que o séc. 8 a.C. Ares por sua vez, foi descrito por alguns autores da Grécia antiga, como o deus principal da vasta confederação Cita (atuais Ucrânia, Rússia e Cazaquistão), sob o nome de Arash. Parte dos helenos colocaram sua origem na Trácia (Romênia) e consideravam-no um deus mais selvagem do que Athena, preferindo prestar culto à esta deusa. Em Roma, Ares foi considerado Marte. Na astrologia, Marte é regente da constelação de Áries. 

Hélios (Sol) Hélios não parece desempenhar um papel proeminente nos poemas de Homero e de Hesíodo. Porém aparece em um drama mais central na história da Atlântida e o Sol é mencionado como o maior representante do bem diante a Terra por Sócrates, no texto de sua obra “A República''. Após Roma conquistar os territórios dos antigos gregos, o culto ao deus Sol foi ganhando força (possivelmente começando pelas províncias orientais do império) chegando a se tornar o principal na religião romana… Em Roma, Hélios foi considerado Sol Invictus. Na astrologia, o Sol é regente da constelação de Leão. 

Afrodite (Vênus) Afrodite é filha de Urano na versão popular dos mitos gregos. Alguns autores a comparam com a deusa fenícia Astarte, esta que, por sua vez, apresenta semelhanças com a entidade mesopotâmica Ishtar… A deusa da beleza, às vezes considerada deusa do amor, também pode ser considerada a deusa da conquista. Em Roma, Afrodite foi considerada Vênus. Na astrologia, Vênus é regente da constelação de Libra (ou de Touro conforme algumas vertentes). 

Hermes (Mercúrio) Hermes é o deus da comunicação e das mensagens. Famoso nas representações gregas por carregar o caduceu (um bastão em torno do qual se entrelaçam duas serpentes e cuja parte superior é adornada com um par de asas), ele aparece como um sábio carregando o globo terrestre nas representações herméticas. Diferente da mitologia grega popular, na genealogia fenícia apresentada por Filo, Hermes foi conselheiro de Kronos e ambos teriam vivido na época de Athena, antes de Zeus Adodus subir ao poder. Em Roma, Hermes foi considerado Mercúrio. Na astrologia, Mercúrio é regente da constelação de Gêmeos. 

Selene (Luna) Selene é a deusa da Lua e irmã de Hélios, o Sol. Ela surge na tragédia de Hélios em uma das histórias da Atlântida, mas na vertente popular da mitologia grega, parece estar associada à noite e à “paixão-louca” pelo personagem Endymion. Endymion foi um pastor ou príncipe da Anatólia que foi colocado em sono eterno nunca mais envelhecendo, tornando-se assim, disponível para Selene. Os mistérios da noite e a paixão descontrolada de Selene por Endymion, podem indicar uma relação com o conceito de "lunático". Em Roma, Selene foi considerada Luna (que significa Lua). Na astrologia, a Lua é regente da constelação de Câncer. 

Gaia (Terra) A mãe dos titãs e de outras entidades foi esposa de Urano e avó de Zeus. É a deusa da Terra, possivelmente venerada pelas oráculos nas primeiras civilizações helênicas (antes do suposto ataque dos povos do mar do século XII aC e da Era das Trevas Grega). Em Roma, Gaia foi considerada a Terra. Na astrologia, a Terra é regente da constelação de Touro conforme algumas vertentes. 

O Judaísmo Místico, o Hermetismo e suas variantes 

A árvore da vida (resumidamente) é um diagrama usado em tradições místicas como no judaísmo e no hermetismo. Ela é composta de 10 partes ou frutos, chamados de sefirotes. Estas sefirot (no singular sefirá) representam arquétipos, ou sejam, estados do todo (a partir de uma visão macrocósmica) e estados da consciência humana (numa visão microcósmica). Para descrever a criação do universo, a árvore da vida deve ser lida de cima para baixo: 

Kether - a coroa, é o potencial puro das manifestações que acontecem nas outras dimensões. Representa a própria essência, atemporal e livre. É a gênese de todas as emanações canalizadas pelas outras sefirot. Conta-se que Deus, num gesto de humildade, olhou “para baixo” (possivelmente para o vazio?) e chorou, assim criando o universo. As lágrimas pelo outro, ou pelo próximo, é o gesto de suprema bondade que transcende os ciclos de criação e destruição… Originalmente relacionada a um ponto desconhecido ou secreto do universo, com o desenvolvimento da astrologia Kether passou a ser relacionada à Netuno. 

Chokmah - Sabedoria, se situa no topo da coluna direita, o pilar da misericórdia, conhecido como Abba, o grande Pai. Chokmah é a sabedoria e a energia pura ainda não materializada tendo caráter infinitamente expansivo. É o salto quântico da intuição, que deriva as manifestações artísticas. Analogamente, é o lado direito do cérebro, onde flui a criatividade e o mundo das ideias. De acordo com o Bahir: "A segunda (expressão) é sabedoria, como está escrito: 'YHWH me adquiriu no início de seu caminho, antes de suas obras antigas' (Pv 8:22). E não há 'princípio', mas sabedoria. Originalmente relacionada ao círculo do zodíaco (possivelmente as constelações), Chokmah passou a ser relacionada à Urano, após o desenvolvimento da astrologia. 

Binah - Entendimento, situa- se no topo da coluna esquerda, o pilar da severidade, é conhecida também como Amma, a grande Mãe. Binah é o entendimento, a primeira manifestação da forma sobre a força (Chokmah). Ela fez com que a força infinita de Chokmah se tornasse limitada, e com isso, equilibrando-se reciprocamente com ele. É a lógica que dá definição à inspiração e energia ao movimento. Analogamente, é o lado esquerdo do cérebro, onde funciona a razão, organizando o pensamento em algo concreto. 

Daath - Conhecimento Os primeiros três dos dez sephiroth são os atributos do intelecto. É o conhecimento e o abismo… do pensamento. Representa uma falsa sephirat porque não é uma emanação independente como as outras dez. Ela depende de Chokmah e Binah também é considerada como a imagem de Tiphareth. A revelação ou ocultação da Luz Divina que brilha através do Da'at não acontece apenas no próprio Da'at. A percepção do brilho da Luz Divina pode ocorrer claramente também em Malkuth, todas as vezes que os humanos se entregam (Altruísmo). No entanto, os humanos que permanecem egoístas não podem vê-lo, e para eles seus benefícios parecem "ocultos".

Chesed - Misericórdia, é a primeira sefirá do atributo da ação (emoção, o ato da mente expressar-se).  Chesed é a misericórdia e representa o desejo de compartilhar incondicionalmente. O Bahir declara: "Qual é a quarta (expressão): A quarta é a justiça de Deus, Sua misericórdia e bondade para com o mundo inteiro..." Chesed manifesta o absoluto de Deus, benevolência e generosidade ilimitadas sem preconceitos, a extrema compaixão. 

Geburah ou Gevurah - Julgamento (hebraico: גבורה, lit. 'força'), é a quinta sephirat na árvore cabalística da vida, e é o segundo dos atributos emotivos das sephirot. Emoção aqui não difere de ação, pois é colocar em prática o que estava no intelecto e na dedução. Representa o desejo de contenção e de questionador de impulsos, portanto é a força e possivelmente o julgamento em um sentido mais voltado ao discernimento, capaz de gerar responsabilidade. Canaliza sua energia por meio de objetivos, com o intuito de superar obstáculos e transformar a própria natureza. 

Tiphareth - Beleza Tiphareth é a beleza. Transforma em beleza Chokmah, Binah e Kether. A sabedoria e o entendimento, com a luz do conhecimento. Representa a divisão da árvore no microcosmo, o mundo inferior, o Eu Inferior. E as quatro sephiroth acima de Tiphareth são o macrocosmo, o mundo superior, o Eu Superior, sendo Kether a centelha divina. No Bahir está escrito: "Sexto é o adornado, glorioso e encantador trono da glória, a casa do mundo vindouro. Seu lugar está gravado em sabedoria, como diz 'Deus disse: Haja luz, e houve luz.' Tiferet é a força que integra a sefirá de Chesed e Gevurah. Essas duas forças são, respectivamente, expansiva (dar) e restritiva (receber). Nenhum deles, sem o outro, não poderia manifestar o fluxo da energia Divina; eles devem ser equilibrados em proporção perfeita, equilibrando compaixão com disciplina.

Netzach - Vitória ou eternidade, está relacionada à superação e/ ou a conquista através da tolerância ou da paciência. Netzach é a energia dos sentimentos, possivelmente relacionada à música e a dança. Existe a vontade de reciprocidade, a busca pelo próximo e a superação dos próprios limites, propagando o pensamento eterno. 

Hod - o Esplendor, representa o pensamento concreto. Hod é um canal de aprimoramento interno, de identificação com o próximo, sendo uma forma de aceitação do pensamento, de reconhecimento. A visão do Judaísmo chassídico de Hod é que ele está conectado com a oração judaica, esta, por sua vez, é vista como uma forma de "submissão". Hod é onde a forma é dada pela linguagem em seu sentido mais amplo, sendo a chave para o "mistério da forma".

Yesod - É o fundamento e representa o Plano Astral. Funciona como um reservatório onde todas as inteligências emanam seus atributos que são misturados, equilibrados e preparados para a revelação material. É compilação das oito emanações (as luzes das sefirot superiores) que consequentemente são canalizadas para o Malkuth abaixo. Assim, de acordo com a Cabala Judaica, Yesod é o fundamento sobre o qual Deus construiu o mundo, servindo como um transmissor entre as sefirot “acima” e a realidade “abaixo”. Desta forma, Yesod também está associado aos órgãos sexuais. A Yesod coleta as forças vitais das sefirot acima e transmite essas energias criativas e vitais para a Malkuth abaixo que as recebe. Por sua vez, é através de Malkuth que a terra pode interagir com a divindade.

Malkhut - É o reino e representa o mundo físico, onde é revelado o material compilado das nove emanações. É o canal da manifestação, desejando a recepção das sefirotes. É a distância de Kether que provoca esse desejo, criando a sensação de falta. Ao contrário das outras nove sefirot, é um atributo de Deus que não emana de Deus diretamente, mas ela ainda está na Árvore da Vida e, portanto, tem suas próprias qualidades espirituais únicas. Em vez disso, emana da criação de Deus - quando essa criação reflete e evidencia a glória de Deus de dentro de si mesma. A palavra pode ser traduzida ou identificada como comunicação positiva, realeza / dinastia real ou humildade. Costuma-se dizer que Kether (a sephira "mais elevada") está em Malkuth e Malkuth em Kether. Como a esfera receptora de todas as outras sephiroth, Malkuth dá forma tangível às outras emanações. A energia Divina desce e encontra sua expressão neste plano, e nosso propósito como seres humanos é trazer essa energia de volta ao circuito e subir de volta na Árvore. Malkuth também está associada ao Mundo de Assiah, o plano material e o "mais denso" dos 4 "Mundos" da Cabala.

  

 

O Zodíaco - Astrologia Ocidental? 

O zodíaco representa uma grandiosidade do universo material, por ser um “círculo” composto por grupos de sistemas estelares (constelações), e portanto, na astrologia, ao interferir nas mentes dos seres vivos determinando traços de personalidade, o zodíaco representa também uma grandeza espiritual. Como regra geral da astrologia, as mentes humanas, tratadas como a ponte entre seus respectivos corpos materiais e suas almas (ou espíritos), estão sujeitas aos estímulos, ou interferências destas constelações. A teoria da interferência de corpos celestes sobre a mente ou sobre o sistema nervoso é predominantemente vista como mística, ao menos até hoje. Alguns estudiosos, como Franz Mesmer, já tentaram demonstrar uma possível interferência (especulando sobre campos magnéticos e talvez gravitacionais), mas não obtiveram sucesso entre a comunidade científica durante o século 18. 

 Então retornemos às abordagens místicas / religiosas: Alguns autores, como M Schulman, descrevem os 12 signos do zodíaco como criações de Deus. Neste caso entende-se o Deus onipresente e onipotente, não só criador e organizador do universo, como também criador das almas. Esta entidade superior aparece em diversas religiões e filosofias ao longo da história da humanidade: no hinduísmo como Brahman, no judaísmo como Yhwh, no cristianismo como Deus, na filosofia pré-socrática como Nous (a mente cósmica) etc. Mesmo em religiões politeístas, este Deus superior aparece em certas doutrinas ou “vertentes”, como no orfismo da Grécia antiga etc. A superioridade aqui refere-se a uma mente eterna com vasto conhecimento de inúmeros milênios e empatia/ solidariedade praticamente infinitas. Por fim, tanto a filosofia socrática (que possui uma dose de espiritualidade ou religiosidade, pois não quebrou completamente com a antiga religião grega), como o judaísmo místico, especulam que Deus criou o universo por partes: Sejam emanações mais abstratas como as sefirot, ou mais perceptíveis como os sistemas estelares e seus respectivos astros. É uma criação do todo, ou de uma enorme força em expansão, para partes / corpos menores. 

 
Signos - Os Aspectos Mentais do Universo 

Se as constelações têm traços mentais, elas foram identificadas por tais características. Porém os nomes pelos quais as conhecemos não parecem demonstrar tão bem personalidade, ou arquétipos psíquicos (aspectos mentais ancestrais, não estou falando necessariamente da teoria de Jung aqui)… Obviamente isso se dá pelo momento histórico, capacidade de entendimento das pessoas de determinados lugares e épocas… A classificação com maior precisão não é a mais popular onde a maioria dos signos são representados por animais: É a classificação por “elemento” e “estado”. Os 12 signos são na verdade 4 “elementos” e cada um destes elementos podem ser encontrados em 3 “estados”. Os 3 estados / fases dos 4 elementos (Composição dos signos em sequência): Cada signo é uma abreviação, ou um tipo de símbolo, que resume determinado conjunto de características. Originalmente eles têm 4 campos (chamados de elementos) e 3 estados (que também possuem um vago elo com intensidades)… Os 12 signos têm uma semelhança com o karma hindu e com o conceito espírita de que os seres vivos (principalmente o ser humano ou “vida inteligente”) recebem funções (papéis) e/ ou certos destinos no decorrer da(s) vida(s). 

Campos: 

Fogo = Refere-se ao campo das Emoções. Emoções são expressões dos sentimentos, ou seja, o que a pessoa sente e exprime de modo que possa ser notado por outros. 

Ar = Refere-se ao campo dos Pensamentos. Raciocínio, memória e tipos de conteúdo que geralmente ocupam a mente de cada pessoa; 

Água = Refere-se ao campo dos Sentimentos. Tudo que a pessoa é capaz de sentir e intuir. Crença, fé e inspiração (ou a falta destes) também fazem parte deste grupo. 

Terra = Refere-se ao campo das Atitudes. A atitude aqui significa o comportamento possivelmente relacionado ao pensamento e aplicado ao “mundo corpóreo/ material''. Também inclui jeito, postura etc. 

Estados: 

Cardeal seria o elemento conceitual ou se formando: O campo nascente, inicial. Talvez possa significar rústico e primordial também. 

Fixo seria o elemento abundante e/ ou intenso: O campo contínuo, cheio e possivelmente (ao menos em alguns casos) profundo também. 

Mutável seria o elemento se transformando ou migrando: O campo transitante, que passa da pessoa ao seu exterior, às outras pessoas. Talvez seja o que causa mudanças também. 

As combinações / resultados dos 4 elementos em suas 3 “fases” geram os 12 signos. A seguir estão os 4 elementos e seus significados (positivo, “neutro” e negativo): 

Signos referentes à ação baseada em sentimento (emoção)/ as expressões sentimentais 

Fogo Cardeal (Áries): Sincero, criativo, Direto, espontâneo, Impulsivo, violento 

Fogo Fixo (Leão): Amigo, honrado, Líder, guia, Orgulhoso, rival 

Fogo Mutável (Sagitário): Solidário, feliz, Livre, Intolerante 

Signos referentes às idéias, ao pensamento e ao raciocínio 

Ar Cardeal (Libra): Justo, empático, Social, pacato, Superficial, hesitante 

Ar Fixo (Aquário): Progressista, evolutivo, Revolucionário, Destrutivo, tumultuador 

Ar Mutável (Gêmeos): Diplomático, instrutor, Comunicativo, Ingrato, esquecido 

Signos referentes à percepção, ao sentimento e ao acreditar 

Água Cardeal (Câncer): Acolhedor, Sensível, Ressentido 

Água Fixa (Escorpião): Amoroso, profundo, Sensitivo, Rancoroso, vingativo 

Água Mutável (Peixes): Inspirador, encorajador, Vitimista, desesperado 

Signos referentes aos corpos, à vida e às expressões materiais 

Terra Cardeal (Capricórnio): Responsável, Gestor, Ganancioso, opressor 

Terra Fixa (Touro): Fiel, agradável, Perseverante, trabalhador, Possessivo, consumista 

Terra Mutável (Virgem): Humilde, reparador, Perfeccionista, Pessimista.

Como mencionei neste texto: https://nea-ekklesia.blogspot.com/2021/01/moda-uma-verdade-fabricada-ha-milenios.html, a astrologia também virou moda. O problema não é exatamente a superficialidade com que falam do assunto. O problema é charlatanismo e outras enganações realizadas por certos astrólogos. De tudo que mostrei aqui, o que importa é quem rege a personalidade,  ou seja, a pessoa. Os signos regidos pelos "astros" são simplesmente caminhos de cada pessoa para se viver O Bem (humildade, sinceridade, solidariedade etc...) Afinal, conforme o orfismo e o judaísmo, os astros como criação de Deus, mostram que esse tema "místico" não deve ser separado da espiritualidade/ religiosidade, ou do progresso do Bem. Enfim, quando se trata da criação (ou do surgimento) do cosmos, de Deus, arcanjos, e outras poderosas / grandiosas entidades mais mentais por trás dos movimentos dos corpos celestes, tudo parece bastante subjetivo. Isso se dá pelo fato de abordarmos conceitos vastos (desde sentimentos, pensamentos e expressões até a matéria) e geralmente distantes (ao menos no sentido físico, já que trata-se também de constelações e astros). Mas apesar de toda subjetividade é possível notar as semelhanças entre a mitologia / religião grega, o misticismo judaico / hermético e a astrologia ocidental.



Fundação

 Hoje, dia 31 de dezembro de 2021, é dia da fundação do Novo Templo da União. É emblemático que a fundação seja no último dia do segundo ano de pandemia no Brasil. É um dia em que é possível fazer uma análise do que aprendemos com a pandemia, o que podia ter sido feito e não foi, por quê não foi feito, o que falta, e principalmente, o que podemos fazer. A pandemia tem um potencial de escancarar nossas maiores falhas como humanos e mostrar que podemos ser melhores.

O espírito do Novo Templo da União é esse, sermos melhores, se possível em união. Aqui não é o lugar de dogmas, mas de construir ideias e ações através do diálogo e da reflexão.

Vou contar uma breve história sobre o que incentivou a criação deste espaço: em algum lugar no tempo entre 2002 e 2006, eu tive uma espécie de epifania, muito forte, de que eu devia criar um blog para uma nova igreja. Creio que eu tenha criado já no dia seguinte, com um nome muito parecido com uma igreja já existente. Igreja esta que, embora deva ter muita gente com fé verdadeira nela, tem como líder alguém que não partilha desta fé, já que foi filmado dando aulas de como extorquir os ingênuos que o seguiam.

Eu criei o primeiro texto, algo com teor ecumênico, e me sentindo como se tivesse realizado minha missão na Terra, esqueci dele completamente (soberba? Bem, é algo fácil de se abater sobre os jovens). Chegou ao ponto de eu esquecer login, senha, e o próprio nome do blog, e nunca mais encontrá-lo.

Anos se passaram e talvez minha espiritualidade foi diminuindo conforme a observação dos humanos me decepcionava mais e mais.

Tempos atrás, criei um blog para guardar minhas ideias e reflexões mais materialistas (no contexto teórico, não no banal da palavra) e convidei alguns amigos e meus irmãos para utilizá-lo como um arquivo e espaço de debate. Este blog, o Néa-Ekklésia, acabou impulsionando meu irmão do meio a postar diversos textos que ultrapassavam a ciência e a filosofia, chegando a tocar na espiritualidade.

Confesso que não sou um entusiasta a misturar muito as coisas, e não gosto de tratar a espiritualidade como algo dado como certo. Minha abordagem para o que não podemos mensurar ainda é a de pensar, 'talvez seja isso', mas nunca a de pensar 'com certeza é por causa deste fator espiritual'.

Dito isso, por que 'fundar uma igreja'? Não é o inverso da fé? Talvez. Mas eu não acredito na fé como a crença em dogmas. Acredito que a fé possa servir como combustível para ações, mas nunca como limitador da ação voltada para o bem. E o que é o bem? Creio que os textos do Elcio possam explicar melhor.

Hoje tive uma conversa com ele e com o Paulo, e talvez ela tenha sido o catalizador para a criação deste blog. A grande pergunta que ela gerou foi o 'por que não?'

Digamos que toda a espiritualidade seja inócua e no fim sejamos realmente apenas matéria, que acabará decomposta. Se isso for verdade, o que temos a perder? Se nossa espiritualidade for voltada para praticar e fomentar o bem, com ideias e ações, o depois para nós como indivíduos, não importa, mas o que fizermos e o que deixarmos de legado, pode ajudar uma quantidade espantosa de pessoas, afinal, o tempo escapa nossas percepções. Já pensou nisso? Algo que você fez hoje, pode se propagar até sabe-se lá quando.

É com esta proposta que convido à participação neste blog. A ideia também não é isolar as discussões sobre o que é palpável, ao contrário, o palpável é uma das ferramentas para o espírito. Embora eu, particularmente acredite que as discussões materialistas possam ser praticadas de maneira isolada, e que isso é importante, para agir de outra maneira na sociedade, eu acho que as discussões espirituais não podem se descolar do material. Na minha concepção, por exemplo, creio que não seja o ideal partir das discussões materiais para o espiritual, mas que é absolutamente necessário, debater a espiritualidade sem perder a matéria de vista. Isso não quer dizer que eu ache que os textos que abordam espiritualidade do Néa-ekklésia poderiam ser retirados de lá e colocados aqui, e sim que eu acho importante que eles sejam copiados de lá e colados aqui.

Por fim, gostaria de deixar mais clara a ideia por trás do Novo Templo da União. A ideia não é que nosso espaço de debate, talvez até, por que não? Nossa nova religião, descarte as outras, pelo contrário, sou contra banir qualquer religião, creio que possamos agregar tudo o que vemos de bom nas diversas experiências por quais passamos na nossa história como humanidade, e construir ideias cada vez melhores para guiar nossas ações.

Uma palavra final sobre o que eu acho que deve ser um ponto norteador: o materialismo que citei, quer dizer que para contruir uma nova religião devemos abandonar o conformismo. Ninguém é pobre ou sofre porque merece, e se por algum motivo cósmico, mereça, então que nós procuremos ajudar até o ponto que o cosmo deixa explícito que isso não possa ser feito naquele momento. Isso implica em continuar questionando nossas ações como indivíduos e como sociedade, e assim, questionar as estruturas de poder existentes. Vocês se lembram quando no Novo Testamento, Jesus convidava seus futuros apóstolos a abandonar tudo e seguí-lo? Este é o ponto norteador, não é possível apoiar qualquer ideia que faça apologia à manutenção do status quo e protega o direito à existência de milionários na humanidade. Se direcionarmos as ideias para uma construção de sociedade justa e de evolução espiritual, talvez um dia cheguemos ao ponto de que nossa evolução na própria existência material atinja um novo patamar.

Leitura ecumênica de "as boas obras", "a oração" e "o amigo insistente"

Aqui continuo com os ensinamentos de Jesus, conforme os textos atribuídos a Mateus e a Lucas:  Fazer as boas obras discretamente (Mateus, Lu...