terça-feira, 26 de março de 2024

Leitura Ecumênica da Pesca Milagrosa/ Encontro com Os primeiros apóstolos

Nesta postagem continuo as passagens sobre Jesus e os encontros com os primeiros apóstolos. Ao invés de fazer a típica leitura religiosa dos textos de cada apóstolo separadamente, uni alguns destes textos numa tentativa de aproximá-los da possível ordem cronológica das passagens. Claro, isto é só uma organização especulativa dos textos, pois é impossível (e de pouca importância) fazer a narrativa "cronológica" dos fatos de uma época tão distante e submetida a "inúmeras" reinterpretações ao longo da história. Mais importante que isto é elucidar a ética ensinada por Jesus, ética esta que indica a importância do sentimento humano, especificamente a importância do amor piedoso, equitativo e justo.

 Legendas

João: Amarelo; Lucas: Vermelho; Marcos: Verde; Mateus: Azul.

E aconteceu que, apertando-o a multidão, para ouvir a palavra de Deus, estava ele (Jesus) junto ao lago de Genesaré (que é o mar da Galiléia); 

Era André, irmão de Simão Pedro, um dos dois que ouviram aquilo de João Batista, e haviam seguido Jesus. André achou primeiro a seu irmão Simão, e disse-lhe: Achamos o Messias (que, traduzido, é o Cristo). E levou-o a Jesus. E (Jesus) viu estar dois barcos junto à praia do lago; e os pescadores (Simão, e André, seu irmão), havendo descido deles, estavam lavando as redes. 

Entrando num dos barcos, que era o de Simão, Jesus pediu-lhe que o afastasse um pouco da terra; e, assentando-se, ensinava do barco a multidão. 

Quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao mar alto, e lançai as vossas redes para pescar. Respondendo Simão, disse-lhe: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos; mas, sobre a tua palavra, lançarei a rede. 

E, fazendo assim, colheram uma grande quantidade de peixes, e rompia-se-lhes a rede. Então fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para que os fossem ajudar. Foram, e encheram ambos os barcos, de maneira tal que quase iam a pique. 

Olhando Jesus para ele, disse: Tu és Simão, filho de Jonas; tu serás chamado Kepha (Cefas, significa Pedra, em aramaico). E vendo isto Simão Pedro, prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, ausenta-te de mim, que sou um homem pecador. Pois que o espanto se apoderara dele, e de todos os que com ele estavam, por causa da pesca de peixe que haviam feito. 

E disse Jesus a Simão (e André): Não temas; vinde após mim, de agora em diante eu farei que sejais pescadores de homens. 

E, levando os barcos para terra, logo deixaram tudo, e o seguiram. 

Passando dali um pouco mais adiante, de igual modo, Jesus viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que eram companheiros de Simão. que estavam no barco consertando as redes, E logo os chamou. Eles, deixando o seu pai Zebedeu no barco com os jornaleiros, seguiram Jesus. E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo. 

A sua fama correu por toda a Síria, e traziam-lhe todos os que padeciam, acometidos de várias enfermidades e tormentos, os endemoninhados, os lunáticos, e os paralíticos, e ele os curava. E seguia-o uma grande multidão da Galiléia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judéia, e de além do Jordão. 

Apesar dos textos de Mateus e de Marcos indicarem que Pedro e André eram pescadores, somente Lucas menciona o milagre da pesca realizado por Jesus. O apóstolo João cita que o primeiro milagre que Jesus realizou diante dos discípulos foi transformar água em vinho nas bodas de Caná, ou seja, as bodas devem ter ocorrido antes de Jesus encontrar Simão Pedro e realizar o milagre da pesca.

Importante notar que Simão, ouviu Jesus pregar seus ensinamentos e também foi informado por seu irmão André, que Jesus era o messias (o enviado de Deus) na Terra. Mesmo em dúvida se realmente encontraria peixes, ele aceita a recomendação de Jesus para lançar a rede ao mar. Isto mostra a importância de ser receptivo em relação ao próximo e de se dispor a acreditar e confiar.

Além disto, a abundância de peixes que Jesus atrai para as redes dos pescadores, mostra que ele, em acordo com a lei divina do amor, se importa com a vida. Jesus Cristo cuida dos pobres e dos humildes, trazendo alegria e não deseja a miséria para pessoa alguma. 

Jesus certamente usou de sua fé para realizar o “milagre”, ou seus “poderes de mestre espiritual” ou “dons mediúnicos”, conforme cada religião ou filosofia nomeia. A realização de tal ato serve para mostrar o poder da fé que Jesus usará e explicará mais vezes ao longo de suas caminhadas com os apóstolos. Espantado, Pedro se considera indigno de Jesus e seu poder, certamente porque entendeu que era um profeta, mestre espiritual ou ser divino (filho de Deus). Ainda assim, Pedro aceita segui-lo prontamente quando Jesus o convida para seguir-lhe, certamente mostrando-se humilde. 

Interessante notar que no texto de João, Jesus chama Simão Bar'Yonas de Kephas (Pedro, que significa pedra) desde da primeira vez que o encontrou. Pedro se mostra vacilante em várias passagens ao lado de Jesus, o que pode indicar que esta nomeação foi um tipo de profecia: Após titubear/ vacilar várias vezes ao lado de Jesus, Pedro finalmente se tornaria firme na fé após a crucificação e ressurreição de seu amado mestre e amigo. Ao Jesus falar “eu farei que sejais pescadores de homens”, certamente se referia a missão que daria aos seus apóstolos: Pregar o evangelho às pessoas e de ajudar os mais necessitados. O evangelho em si, significa trazer as boas novas, que nada mais é do que propagar a lei divina de amor. 

No dia seguinte quis Jesus ir à Galiléia, e achou a Filipe, e disse-lhe: Segue-me. 

E Filipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro. 

Filipe achou Natanael (Bartolomeu), e disse-lhe: Havemos achado aquele de quem Moisés escreveu na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José. 

Disse-lhe Natanael: Pode vir alguma coisa boa de Nazaré? Disse-lhe Filipe: Vem, e vê. 

Jesus viu Natanael vir ter com ele, e disse dele: Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo (não há falsidade). 

 Disse-lhe Natanael: De onde me conheces tu? Jesus respondeu, e disse-lhe: Antes que Filipe te chamasse, te vi eu, estando tu debaixo da figueira. 

Natanael respondeu, e disse-lhe: Rabi, tu és o Filho de Deus; tu és o Rei de Israel. 

Jesus respondeu, e disse-lhe: Porque te disse: Vi-te debaixo da figueira, crês? Coisas maiores do que estas verás. 

E disse-lhe: Na verdade, na verdade vos digo que daqui em diante vereis o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem. 

Jesus, logo que vê Natanael, Filho de Talmay (Bar'Talmay, ou Bartolomeu), o chama de verdadeiro israelita - aquele que não mente/ não comete crime, certamente indicando que o verdadeiro israelita, ou seja, o verdadeiro judeu, deveria seguir as leis de Deus, trazidas por Moisés em um período entre os anos de 1592 a.C. e 1471 a.C. ou entre 1391 aC e 1271 aC. Em seguida, Bartolomeu acreditou em Jesus porque este narrou-lhe a cena onde ele se encontrava momentos antes, mesmo um estando distante (fora de vista) do outro. Então Jesus conclui dizendo que Natanael verá coisas mais importantes, e certamente mais impressionantes, como o céu aberto com anjos subindo e descendo sobre ele - Possivelmente esta descrição refere-se a uma visão / um fenômeno relacionado à “Escada de Jacó”, em inglês, Jacob Ladder e em hebraico, Sulam Ya'akov.

 

terça-feira, 19 de março de 2024

Leitura Ecumênica da "Cura do filho de um oficial"

Cura do filho de um oficial (João) 

"E dois dias depois partiu dali, e foi para a Galiléia. Porque Jesus mesmo testificou que um profeta não tem honra na sua própria pátria. 

Chegando, pois, à Galiléia, os galileus o receberam, vistas todas as coisas que fizera em Jerusalém, no dia da festa; porque também eles tinham ido à festa. 

Segunda vez foi Jesus a Caná da Galiléia, onde da água fizera vinho. E havia ali um nobre (um oficial do rei), cujo filho estava enfermo em Cafarnaum. 

Ouvindo este que Jesus vinha da Judéia para a Galiléia, foi ter com ele, e rogou-lhe que descesse, e curasse o seu filho, porque já estava à morte. 

Então Jesus lhe disse: Se não virdes sinais e milagres, não crereis. 

Disse-lhe o nobre: Senhor, desce, antes que meu filho morra. 

Disse-lhe Jesus: Vai, o teu filho vive. E o homem acreditou na palavra que Jesus lhe disse, e partiu. E descendo ele logo, saíram-lhe ao encontro os seus servos, e lhe anunciaram, dizendo: O teu filho vive. Então perguntou-lhes, a que hora se achara melhor. E disseram-lhe: Ontem às sete horas a febre o deixou. Entendeu, pois, o pai que era aquela hora a mesma em que Jesus lhe disse: O teu filho vive; e creu ele, e toda a sua casa. 

Jesus fez este segundo milagre, quando ia da Judéia para a Galiléia."

Quando Jesus diz que o oficial não crê se não vê, ele está falando que este indivíduo está muito imerso ou apegado no que Platão classifica de mundo sensível (sensorial) e no que a Kriya Yoga (e o hinduísmo em geral) chama de maya, a ilusão. Neste caso maya refere-se ao mundo “material” que percebemos com nossos 5 sentidos - chamar o “mundo que nos cerca” de ilusão já não deveria parecer tão estranho desde que as descobertas da física mostraram que o átomo é composto de só 1 bilionésimo de partícula, não sólida, nem líquida ou gasosa, mas elétrica. E o restante (as outras 999.999.999 “partes” de cada átomo dos corpos) é espaço vazio e/ou campo eletromagnético. 

Além disto deve haver muitas coisas que não podemos perceber com nossos sentidos e até "regiões" ou dimensões que não podemos alcançar corporalmente, pois a matemática indica a existência de uma 4ª dimensão e a teoria da relatividade indica que (a curvatura) o espaço/ tempo não são absolutos e sim relativos (somente a velocidade da luz seria absoluta). Assim, certamente há coisas além do espaço/ tempo que desconhecemos. Embora tais descobertas da física possam parecer que não tenham relação alguma com religião ou com a espiritualidade, a verdade é que elas tiveram implicações filosóficas. E a filosofia por sua vez é um saber intermediário entre o científico e o religioso: ela questiona a existência/ a realidade, a mente humana ou alma, além de estudar a ética.   

Esta passagem mostra como a notícia sobre o milagre realizado por Jesus foi se espalhando e dando esperança para algumas pessoas. O nobre, ou oficial, certamente passou a acreditar em Jesus porque viu o que ele fez nas Bodas de Caná, embora Jesus o incitou para que acreditasse sem enxergar o milagre - por isso curou seu filho à distância, sem que o oficial pudesse ver o feito. 

O espiritismo entende que os espíritos superiores (moralmente, ou seja, de acordo com os ensinamentos de Cristo, amorosamente) conseguem estar em mais de um lugar ao mesmo tempo, isto porque o espírito quanto mais puro, mais expansivo seria. Em um dos textos da doutrina, é utilizada a analogia ao Sol: Um espírito muito puro consegue, por exemplo, se comunicar com pessoas em diferentes locais entre si, como se irradiasse raios de luz à distância e em direções diferentes. Embora seja só uma comparação com as limitações da época de Kardec (séc. 19), ela pode servir para mostrar as "capacidades mediúnicas" ou de "milagres" de Jesus.

 

terça-feira, 12 de março de 2024

Leitura ecumênica sobre "A samaritana"

A samaritana (João) 

"E quando o Senhor entendeu que os fariseus tinham ouvido que Jesus fazia e batizava mais discípulos do que João (Ainda que Jesus mesmo não batizava, mas os seus discípulos), deixou a Judéia, indo outra vez para a Galiléia. E era-lhe necessário passar por Samaria. 

Foi, pois, a uma cidade de Samaria, chamada Sicar, junto da herdade que Jacó tinha dado a seu filho José. E estava ali a fonte de Jacó. 

Jesus, pois, cansado do caminho, assentou-se assim junto da fonte. Era isto quase à hora sexta, quando veio uma mulher de Samaria tirar água. 

Porque os seus discípulos tinham ido à cidade comprar comida, disse-lhe Jesus: Dá-me de beber. 

Disse-lhe, pois, a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? (porque os judeus não se comunicam com os samaritanos). 

Jesus respondeu, e disse-lhe: Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva. 

Disse-lhe a mulher: Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva? És tu maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, bebendo ele próprio dele, e os seus filhos, e o seu gado? 

Jesus respondeu, e disse-lhe: Qualquer que beber desta água tornará a ter sede; Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna. 

Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, e não venha aqui tirá-la. 

Disse-lhe Jesus: Vai, chama o teu marido, e vem cá. 

A mulher respondeu, e disse: Não tenho marido. 

Disse-lhe Jesus: Disseste bem: Não tenho marido; Porque tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade. 

Disse-lhe a mulher: Senhor, vejo que és profeta. Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar. 

Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. 

Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade. 

A mulher disse-lhe: Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo. 

Jesus disse-lhe: Eu o sou, eu que falo contigo. 

E nisto vieram os seus discípulos, e maravilharam-se de que estivesse falando com uma mulher; todavia nenhum lhe disse: Que perguntas? ou: Por que falas com ela? 

Deixou, pois, a mulher o seu cântaro, e foi à cidade, e disse àqueles homens: Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Porventura não é este o Cristo? Saíram, pois, da cidade, e foram ter com ele. 

E entretanto os seus discípulos lhe rogaram, dizendo: Rabi, come. 

Ele, porém, lhes disse: Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis. 

Então os discípulos diziam uns aos outros: Trouxe-lhe, porventura, alguém algo de comer? 

Jesus disse-lhes: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra. Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que eu vos digo: Levantai os vossos olhos, e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa. E o que ceifa recebe galardão (salário), e ajunta fruto para a vida eterna; para que, assim o que semeia como o que ceifa, ambos se regozijem. Porque nisto é verdadeiro o ditado, que um é o que semeia, e outro o que ceifa. 

Eu vos enviei a ceifar onde vós não trabalhastes; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho. E muitos dos samaritanos daquela cidade creram nele, pela palavra da mulher, que testificou: Disse-me tudo quanto tenho feito. 

Indo, pois, ter com ele os samaritanos, rogaram-lhe que ficasse com eles; e ficou ali dois dias. E muitos mais creram nele, por causa da sua palavra. 

E diziam à mulher: Já não é pelo teu dito que nós cremos; porque nós mesmos o temos ouvido, e sabemos que este é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo."

Jesus não só quebrou o costume por falar com alguém da Samaria, como conversava naturalmente com a mulher - algo incomum nas sociedades mediterrâneas do século 1 que eram muito patriarcais e consequentemente machistas, por isso seus apóstolos maravilharam-se e perguntaram porque Jesus falava com a mulher. 

Jesus disse que a fé e o seguimento de seus ensinamentos são mais importantes do que a água. Isto pode parecer completamente estranho ou polêmico para a sociedade materialista deste início de século 21. Obviamente, Jesus não quis que ninguém deixasse de beber água, ou que morresse de sede, mas quis ressaltar a importância de se viver conforme a lei divina que é de amor a Deus e a todos os seres humanos, para viver a plena vida eterna.

Aos seus apóstolos, Jesus disse: "Levantai os vossos olhos, e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa. E o que ceifa recebe recompensa, e ajunta fruto para a vida eterna; para que, assim o que semeia como o que ceifa, ambos se alegrem. Porque nisto é verdadeiro o ditado, que um é o que semeia, e outro o que ceifa." Assim, certamente, Jesus indicou que seus apóstolos encontrassem pessoas dispostas a ouvir e viver seus ensinamentos centrados no amor piedoso. Muitas pessoas não aceitam imediatamente tal mudança de prioridades em suas vidas, por isso, há pessoas que ensinam sobre o amor e o bem uma primeira vez, e há pessoas que vem despertar esse amor / essa bondade naqueles que já têm uma noção mais ou menos desenvolvida destas virtudes.

Além disto, a adoração a Deus não precisa ser feita em um lugar específico, ela deve ser feita na mente/ alma de cada um - em pensamentos, intenções e ações, como mostrado nas falas de Jesus: …“Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai.(...) Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.”. … “Deus é espírito”. Assim, templos não são obrigatórios para se orar ou propagar os ensinamentos de Cristo: Templos/ igrejas são somente alternativas.

A fé em um Criador bondoso do universo é vista resumidamente de duas formas hoje em dia: A maioria da população religiosa atualmente são pessoas com educação precária ou pessoas que passaram por grandes dificuldades. Ao invés de crer em Deus, praticando o bem, estas pessoas geralmente acreditam em líderes religiosos sem questionar, talvez se conformando em participar de um determinado grupo religioso. Já a maior parte dos ateus e dos indivíduos com mais estudo, parecem achar ridículas ou desprezíveis as religiões, os milagres e temas correlacionados a estes. Claro, isto é um resumo generalista e sem fontes precisas, mas é o atual panorama aparente da civilização humana. 

Resta então entender a importância dos temas trazidos pelos ensinamentos de Jesus Cristo. O perdão, a humildade, a solidariedade, a vigilância (mais sobre si mesmo, seus próprios pensamentos, intenções, sentimentos etc) podem ser considerados todos elementos que constituem o amor. E este é o tema central, pois a lei divina é de amor. Se tais sentimentos e atitudes predominassem na Terra (perdão, solidariedade…), resolveriam praticamente todos os problemas e conflitos da civilização humana. Não só isso: Jesus (em mais de uma passagem) indica que a vida não acaba quando o corpo morre - A alma é imortal, ao menos para quem segue a lei divina de amor. As demais almas colhem os resultados de seus atos mesquinhos na vida terrestre. 

Na visão dos filósofos Sócrates e Platão, aqueles que viveram conforme as ideias de justiça, piedade, temperança (enfim, do Bem), unem-se aos deuses benignos, enquanto os que viveram almejando bens materiais e/ ou status na Terra, ficarão apegados ao mundo sensível (sensorial) sem conseguir se satisfazer. Estes últimos aguardam uma chance para renascer no mundo sensível através da mentempsicose, a transmigração das almas, similar ao conceito de reencarnação. Apesar de muito mais antigo que a filosofia ocidental fundada por Platão, o hinduísmo segue uma linha bastante parecida com o platonismo, explicando que aqueles que não vivem as virtudes, continuam "vagando" no samsara, o ciclo de "reencarnações", até que consigam se unir a Brahman.

Certamente Sócrates e/ ou Platão tiveram contato com os seguidores de Pitágoras e com egípcios que já propagavam ideias similares. Embora o druidismo dos celtas também tivesse conceitos similares de pós vida, pouco se sabe se houve trocas culturais entre os druidas e os pitagóricos. O druidismo foi gradualmente suprimido e não há consenso de quanto tempo ele sobreviveu até que o cristianismo fosse totalmente aceito pelos reinos sucessores dos celtas (Escócia, Gales e Irlanda).

Os ensinamentos platônicos chegaram a ser misturados com o cristianismo primitivo, durante o império romano, mas tais doutrinas sincréticas foram condenadas e proibidas pela igreja católica em ascensão entre os séculos 4 e 6. O protestantismo surgente no século 16, manteve uma interpretação similar à igreja católica no que se refere ao "pós vida" (que não há reencarnação). Nesta mesma época, alguns filósofos adotaram  espiritualidade(s) sincrética(s): Uma possível mistura de platonismo, cristianismo e talvez de judaísmo místico. Porém estes faziam parte de minorias da Europa - certamente elites intelectuais que tinham uma postura predominantemente discreta, pois aqueles que declaravam tais ideias abertamente, corriam o risco de morrerem nas mãos da inquisição, como é o caso de Giordano Bruno, e talvez, de Giovanni Pico della Mirandola. Somente no século 19, ressurge uma filosofia cristã que se reaproxima das ideias platônicas: o espiritismo.

 

 

terça-feira, 5 de março de 2024

Leitura ecumênica sobre "o novo testemhumho de João Batista"

Novo testemunho de João Batista (Lucas, João

Legendas: Lucas em vermelho; João em amarelo;

Depois disto foi Jesus com os seus discípulos para a terra da Judéia; e estava ali com eles, e batizava. Ora, João batizava também em Enom, junto a Salim, porque havia ali muitas águas; e vinham ali, e eram batizados. Porque ainda João não tinha sido lançado na prisão. 

Houve então uma questão entre os discípulos de João e os judeus acerca da purificação.  E foram ter com João, dizendo-lhe: Rabi, aquele que estava contigo além do Jordão, do qual tu deste testemunho, ei-lo batizando, e todos vão ter com ele. 

João respondeu, e disse: O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu. Vós mesmos me sois testemunhas de que disse: Eu não sou o Cristo, mas sou enviado adiante dele. Aquele que tem a esposa é o esposo; mas o amigo do esposo, que lhe assiste e o ouve, alegra-se muito com a voz do esposo. Assim, pois, já está minha felicidade está cumprida. 

É necessário que ele cresça e que eu diminua. 

Aquele que vem de cima é sobre todos; aquele que vem da terra é da terra e fala da terra. Aquele que vem do céu é sobre todos. E aquilo que ele viu e ouviu isso testifica; e ninguém aceita o seu testemunho. Aquele que aceitou o seu testemunho, esse confirmou que Deus é verdadeiro. Porque aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus; pois não lhe dá Deus o Espírito por medida. O Pai ama o Filho, e todas as coisas entregou nas suas mãos. 

Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece

Sendo, porém, o tetrarca Herodes repreendido por João Batista por causa de Herodias, mulher de seu irmão Filipe, e por todas as maldades que Herodes tinha feito, Acrescentou a todas as outras ainda esta: a de encerrar João num cárcere

João Batista buscava deixar o povo preparado da melhor maneira possível, para que recebessem os ensinamentos de Cristo, sobre a lei divina de amor. Por esta razão, obviamente, João vivia em humildade e não tinha a ambição de se tornar mais influente. Ele reconhecia a importância dos ensinamentos de Cristo e estava feliz com isso. 

Ao falar que “o homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu”, possivelmente João Batista quis dizer que a graça, ou a mediunidade, não surge simplesmente de um desenvolvimento próprio/ individual: ela é concedida por Deus e por seus anjos ou bons espíritos. Deus ama toda a sua criação, portanto ama todas as formas de vida, mas deu-lhes o livre arbítrio e com essa liberdade de espírito/ de mentalidade é que podemos nos tornar dignos dos presentes de Deus, sejam eles dons, inspirações ou meios para se propagar o bem e o amor. 

É também pelo livre arbítrio que muitos fascinados pelos bens terrestres não ouvem os ensinamentos sobre a lei de amor - São corruptos que menosprezam a piedade, a humildade e o amor, preferindo valorizar mais as riquezas, o status, o luxo ou o excesso de prazeres. 

Por fim, embora o trecho sobre Herodes apareça no texto de Lucas, referente a primeira pregação de João Batista, é mais plausível que faça parte da segunda pregação deste personagem, conforme indicado pelo apóstolo João (o Evangelista).

 

Leitura ecumênica de "as boas obras", "a oração" e "o amigo insistente"

Aqui continuo com os ensinamentos de Jesus, conforme os textos atribuídos a Mateus e a Lucas:  Fazer as boas obras discretamente (Mateus, Lu...