segunda-feira, 24 de junho de 2024

Leitura ecumênica de "as boas obras", "a oração" e "o amigo insistente"

Aqui continuo com os ensinamentos de Jesus, conforme os textos atribuídos a Mateus e a Lucas: 

Fazer as boas obras discretamente (Mateus, Lucas) 

"Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis recompensa junto de vosso Pai, que está nos céus. 

Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa. 

Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita; Para que a tua esmola seja dada em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, ele mesmo te recompensará publicamente."

Jesus não só ensina que doar esperando recompensa é mera troca instantânea: Quando ele diz que os hipócritas já receberam sua recompensa, é que eles não vão obter recompensa no além, no reino dos céus, na vida espiritual. Pois quiseram chamar atenção para se fingir de caridosos diante os homens na Terra, e conseguiram apenas isto. 

Ser solidário de maneira discreta também permite a pessoa que recebe ajuda a manter a dignidade sem divulgar sua vulnerabilidade. 

Além disto o termo “não deixar a mão esquerda ver o que a direita está fazendo (doação)” tem um significado alegórico: A mão direita é o símbolo da piedade e da solidariedade - é a mão que doa. A esquerda, por sua vez, é a que julga, é a mão que aplica a lei, e esta lei é que condena os pecadores ao seu devido destino. Então deve-se ajudar o próximo sem julgar, pois nem Deus realmente julga e Jesus ensina isto de diferentes maneiras: Quando diz a Nicodemos que é o pecador que não vai a luz na hora da condenação e quando diz para não apontarem "o cisco no olho de outrem", mas antes "tirarem a trave (ramo, graveto) do próprio olho". Isto é ser manso de coração: um pré-requisito para se propagar o bem. 

A Oração (Mateus, Lucas) 

"E, quando orares, não sejas como os hipócritas; pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. 

Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente. E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos. 

Não vos assemelheis, pois, a eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes. 

Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; O pão nosso de cada dia nos dá hoje; E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores; E não nos conduzas à tentação; mas livra-nos do mal; porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém. 

Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas. 

E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. 

Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto, Para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente."

Além de indicar a irrelevância de se repetir as orações de maneira vã ou fútil, Jesus propõe uma revolução na oração: Ao invés de se referir a Deus como Senhor, ou “ó Senhor”, como faziam os judeus há séculos, ele mostra a possibilidade da pessoa rezar individualmente chamando Deus de Pai. Isto mostra uma relação de intimidade do orador com Deus, e também um respeito e uma esperança de receptividade. Pai aqui não significa masculinidade alguma: é proximidade, e poderia ser substituído pela palavra Mãe, pois Deus é supremo, e de certo modo, é espírito como diz João, o evangelista. 

“Estás nos céus” poderia se referir a um mundo superior, como o paraíso etc, mas certamente se refere a onipresença de Deus: Em concórdia com isto, a Kriya Yoga diz que Ele está em todo espaço, portanto, está em tudo que se percebe e o que não se percebe. 

Santificar seu nome, possivelmente é pedir para que Deus sempre seja lembrado - toda vez em que se falar qualquer um dos nomes de Deus, que seja falado de coração, buscando uma aproximação com O Todo piedoso. 

Pedir para que Deus venha ao vosso reino pode ser pedir para que ele venha para todos na Terra, mas isto já faz parte da onipresença Dele. Então, outra possibilidade, é a do orador estar pedindo para se conectar com o Criador: oferecendo-se como parte do reino de Deus. É trazer o reino de Deus, e a sua lei de amor ensinada por Cristo, para Terra. 

Além disto, na oração “Pai nosso” ensinada por Jesus, pede-se que seja feita a vontade de Deus - o que indica um ato de confiança no Criador de tudo, afinal ele criou tudo por amor e ama a todos. Sua lei é de amor ao próximo, e para amar, é preciso perdoar. Assim não devemos esperar somente que outros nos perdoem, mas também devemos perdoar os outros. 

Pedir o pão não é só pedir alimento, é pedir o ensinamento de Cristo e seu amor. O alimento espiritual é para nossa alma: disciplina para conectar-se com Deus, para ter autocontrole, piedade e paciência. Por fim, na oração pede-se à Deus, forças para resistir as provocações e para que fiquemos livres do mal, que é tudo o que se opõe a lei divina de amor. 

Sobre o jejum, é possível que este sirva como esforço para resistir a tentação dos excessos, ou seja, dos pecados. Com o jejum mostramos que não damos tanto valor aos alimentos, nem na questão de estocá-los aos montes, nem no que se diz respeito a se entregar à fartura exagerada ou aos prazeres do sabor. Isto é evitar o vício em prazeres sensoriais (especificamente do paladar), mas também pode ser uma forma de mostrar a confiança em Deus e de poupar a vida animal ao evitar comer carne. Ao escolher realizar o jejum, jamais deve-se mostrar sofrimento, afinal trata-se de uma escolha de se fazer o bem. Se fazer de vítima em tal situação é uma contradição e um desprezo por Deus. 

Parábola do "Amigo Insistente" (Lucas)

"Jesus disse-lhes também: Qual de vós terá um amigo, e, se for procurá-lo à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, Pois que um amigo meu chegou a minha casa, vindo de caminho, e não tenho que apresentar-lhe; Se ele, respondendo de dentro, disser: Não me importunes; já está a porta fechada, e os meus filhos estão comigo na cama; não posso levantar-me para tos dar; Digo-vos que, ainda que não se levante a dar-lhos, por ser seu amigo, levantar-se-á, todavia, por causa da sua importunação, e lhe dará tudo o que houver mister. 

E eu vos digo a vós: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á; Porque qualquer que pede recebe; e quem busca acha; e a quem bate abrir-se-lhe-á. 

E qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, também, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente? Ou, também, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?"

Jesus ensina também o valor da persistência, pois o bem não pode ser propagado com desistências e vontade fraca. É preciso perseverança em um caminho regido por piedade e solidariedade. 

Esta persistência não difere da perseverança e é um dos requisitos para a meditação nas práticas do hinduísmo como a Kriya Yoga. Portanto bater na porta também significa não desistir de meditar, de aquietar a mente, eliminando desejos e preconceitos. A meditação sincera e humilde perante Deus é um caminho para o desenvolvimento da espiritualidade como explica o hinduísmo. Isto porque a meditação é um exercício para perceber os próprios pensamentos e sentimentos. A partir daí busca-se superar aqueles que contradizem os ensinamentos dos mestres enviados por Deus; além de, através do aquietamento da mente, se exercitar o auto controle e a perseverança que são diferentes da mera repressão de pensamentos e sentimentos. Por fim, a meditação também pode ser considerada a busca pela consciência de Deus e a prática de humildade e gratidão a Deus - o Criador, Mantenedor e Renovador.

 

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