domingo, 28 de julho de 2024

Leitura ecumênica de "Censura às Cidades Impertinentes" e "Sinais dos Tempos"

Censura às Cidades Impertinentes (Mateus, Lucas) 

"Então começou ele a lançar em rosto às cidades onde se operou a maior parte dos seus prodígios o não se haverem arrependido, dizendo: 

Ai de ti, Corazim, ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom se fizessem as maravilhas que em vós foram feitas, já há muito, assentadas em saco e cinza, se teriam arrependido. 

Portanto, para Tiro e Sidom haverá menos rigor, no juízo, do que para vós. E tu, Cafarnaum, que te levantaste até ao céu, até ao inferno serás abatida. 

Em verdade vos digo que, no dia do juízo, haverá menos rigor para o país de Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade."

Este trecho pode complementar a passagem em que Jesus diz para seus apóstolos “sacudirem a poeira dos pés ao sair de um lugar onde não são bem recebidos”. Jesus lamenta pelas cidades onde ocorreram grandes fenômenos/ milagres de Deus e de seus profetas (inclusive o próprio Jesus realizou milagres ali) e que em sua época (durante o século 1), foram tomadas por opositores dos ensinamentos de Cristo. Quando uma pessoa, ou grupo de pessoas persiste em desprezar a lei divina de amor, deve-se abandoná-lo(s), afinal não há nada mais a ser feito. Aqueles que insistem em desprezar ou se opor ao bem e a verdade, condenam suas próprias almas. 

É sempre válido lembrar que interpretações de “penas eternas” contradizem o que Jesus ensina em seu diálogo com Nicodemos. É claro que há justiça na lei divina ensinada por Jesus, mas não há um detalhamento significante do que ocorre no pós vida terrestre. Jesus não se ocupava em aprofundar tais explicações, pois veio ensinar a importância do amor. Certamente dogmas que destoam do amor piedoso e esperançoso de Cristo, foram inventados por sacerdotes e teólogos após o século 1. 

Sinais dos Tempos (Tomé, Mateus, Lucas) 

"Vim trazer fogo à terra, e como gostaria que já estivesse aceso! 

 Mas tenho que passar por um batismo, e como estou angustiado até que ele se realize! 

Não cuideis (penseis) que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada; Porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; E assim os inimigos do homem serão os seus familiares. 

Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim. E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. 

Quem achar a sua vida irá perdê-la; e quem perder a sua vida, por amor de mim, irá achá-la. 

Quem vos recebe, a mim me recebe; e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou. 

Quem recebe um profeta em qualidade de profeta, receberá galardão de profeta; e quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá galardão de justo. 

E qualquer que tiver dado só que seja um copo de água fria a um destes pequenos, em nome de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá a sua recompensa."

Jesus disse: "Eu lancei fogo sobre o mundo, e eis que estou guardando-o até que ele arda.

Jesus sabia que seus ensinamentos sobre a lei divina do amor incomodariam não só os sacerdotes corruptos, mas também aos gananciosos e aos conservadores. A corte de Herodes encheu-se de medo e sede de sangue, enquanto as seitas judaicas corruptas, como os fariseus, se opuseram a Jesus. Por isso Cristo diz que não veio trazer a paz, mas a espada: Ele não apoiou o uso de armas, mas sabia que muitos odiariam a ele e a seus seguidores! Obviamente Jesus não falou em guerrear: causar inimizade entre aqueles que vivem na mesma "casa" deve se referir às mudanças trazidas por Jesus para a maioria dos judeus. A identidade étnica e política dos judeus, juntamente com a religião judaica, sempre foram próximas entre si, tanto que foram praticamente a única nação monoteísta da antiguidade. Jesus veio trazer sua mensagem de amor / caridade, mas não tolerou o conservadorismo orgulhoso e egoísta da maioria judaica de seu tempo. Cultos elitistas e/ ou fechados são contrários à doutrina de solidariedade trazida por Jesus. A proposta de mudança trazida por Jesus foi revolucionária, assim, obviamente encontraria oposição e consequentemente conflito, ao qual ele chamou de espada. 

No evangelho de Tomé, quando Jesus diz "Os fariseus e os escribas tomaram as chaves do conhecimento e esconderam-nas. Não entraram nem deixaram entrar aqueles que queriam entrar. Vós, porém, sede astutos como serpentes e inocentes como pombas.” também é possível notar uma crítica à elitização da religião (no caso, o judaísmo). A passagem deste evangelho é similar ao trecho de Mateus 23: 13-27.

Quando Jesus diz que veio por filho contra pai, filha contra mãe e nora contra sogra/ Separar o pai do filho, isto está próximo da necessidade de se priorizar o bem. Aquele que quer pôr em prática os ensinamentos de Cristo, muitas vezes deve deixar a família de lado ao escolher uma vida de serviço (caridade e solidariedade) e de humildade (evitando a maledicência, o preconceito etc). Esta renúncia de conforto material e da rotina familiar também aparece nas escrituras hindus, mesmo porque, muitas vezes a família pode ser hedonista e/ ou conservadora, o que contradiz a humildade, a solidariedade e a piedade ensinadas por Jesus. 

O progresso da humanidade, seja ele social ou espiritual, ou ambos, só se dá pelo desenvolvimento de uma empatia solidária, ou seja, que serve ao próximo. Isto implica abandonar o conforto e o luxo para ajudar os mais necessitados que eram (e ainda são) tão numerosos nas civilizações. Quem não carrega sua cruz, ou seja, seu fardo - quem não se move para fazer o bem, não é digno de Cristo. É preciso estar receptivo à palavra de Cristo e a sua prática, que é receber o próximo. Se a pessoa só se preocupa com sua própria vida, seus bens, sua casa etc, ela não terá nada após a morte. 

Na visão de Platão (e Sócrates), as psiquês (almas) que viveram apegadas aos prazeres sensoriais, ao acúmulo de dinheiro/ riquezas materiais ou as honrarias/ ao status, permanecerão apegadas à Terra quando seus corpos morrerem. Isto porque os filósofos explicavam que enquanto o corpo poderia adoecer, envelhecer, morrer e apodrecer, a psiquê sendo indivisível (não pode ser decomposta) e ativa mesmo durante a inconsciência do corpo (sono), era imperecível.

 

domingo, 21 de julho de 2024

Leitura inter religiosa de "Mensagem de João Batista a Jesus"

Legendas: (Tomé: Ciano, Mateus: Azul, Lucas: Vermelho) 

"E João, ouvindo no cárcere falar dos feitos de Cristo, chamou dois dos seus discípulos e enviou-os a Jesus, dizendo: És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro? 

E, quando aqueles homens chegaram junto dele, disseram: João o Batista enviou-nos a perguntar-te: És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro? 

E, na mesma hora, curou muitos de enfermidades, e males, e espíritos maus, e deu vista a muitos cegos

Respondendo, então, Jesus, disse-lhes: Ide, e anunciai a João o que tendes visto e ouvido: que os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres anuncia-se o evangelho. E bem-aventurado é aquele que em mim se não escandalizar. E, tendo-se retirado os mensageiros de João, Jesus começou a dizer à multidão acerca de João: Que saístes a ver no deserto? uma cana abalada pelo vento? 

Mas que saístes a ver? um homem trajado de vestes delicadas? Eis que os que andam com preciosas vestiduras, e em delícias, estão nos paços reais (palácios). 

Mas que saístes a ver? um profeta? Sim, vos digo, e muito mais do que profeta. 

Este é aquele de quem está escrito: Eis que envio o meu anjo diante da tua face, O qual preparará diante de ti o teu caminho

E eu vos digo que, entre os nascidos de mulheres, desde Adão até João o Batista, não há ninguém tão superior a João Batista que seus olhos não devem ser abaixados (diante dele); mas o menor no reino de Deus é maior do que ele. Ainda assim eu digo que qualquer um de vocês que venha a ser uma criança conhecerá o Reino e se tornará superior a João. E, desde os dias de João o Batista até agora, se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele. Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João. E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça

E todo o povo que o ouviu e os publicanos, tendo sido batizados com o batismo de João, justificaram a Deus. Mas os fariseus e os doutores da lei rejeitaram o conselho de Deus contra si mesmos, não tendo sido batizados por ele

E disse o Senhor: A quem, pois, compararei os homens desta geração, e a quem são semelhantes? São semelhantes aos meninos que, assentados nas praças, clamam uns aos outros, e dizem: Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamo-vos lamentações, e não chorastes. Porque veio João o Batista, que não comia pão nem bebia vinho, e dizeis: Tem demônio; Veio o Filho do homem, que come e bebe, e dizeis: Eis aí um homem comilão e bebedor de vinho, amigo dos publicanos e pecadores. 

Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos."

Jesus afirma que fazem violência contra o Reino dos Céus. Isto pode se referir aos variados movimentos contrários ao bem e à verdadeira espiritualidade. O judaísmo, além de estar dividido em variadas seitas, estava em sua maioria tomado por sacerdotes corruptos, ou seja, que manipulavam o povo para se manter em posição social e econômica superior e negavam a vida eterna às pessoas. Estes interesses egoístas e tentativas de manipulação certamente se espalhavam por diversas outras religiões dentro e fora do Império Romano. 

A parábola dos meninos que tocaram flauta e cantaram lamentações parece mostrar que os meninos, assim como as crianças em outras passagens citadas pelos apóstolos, invocam a importância da humildade. A partir da atitude humilde, Deus mostrou 2 caminhos para se viver: uma para “dançar ao som das flautas” e outro para “se juntar aos cantos de lamentação”. 

O 1º é o mesmo da parábola da festa (bodas) de casamento - O caminho de Jesus, xingado de comilão, beberrão e amigo dos pecadores, trata-se de viver com alegria, socorrendo os mais necessitados e compartilhando tudo o que se tem em vida. Jesus não viveu para encher-se de comida e bebida luxuosamente enquanto outros passariam fome: Ele compartilhava tudo que conseguia e não proibia as pessoas de se alimentarem ou de beberem. Conviveu com "pecadores" não para propagar o pecado nem para impor-lhes regras restritivas. Conviveu simplesmente por amor piedoso, buscando converter os demais para uma vida de solidariedade, piedade e esperança.

O 2º caminho é o da vigilância, onde tira-se “a trave do próprio olho” para viver em humildade instruindo os demais a abandonarem a ganância e a luxúria, enfim mostrar que deve-se abandonar o egoísmo e praticar a solidariedade, como João Batista fazia e foi acusado de “endemoniado”. Isto mostra como os sacerdotes corruptos só estavam interessados em manter o poder e o prestígio em suas seitas: Recusavam a Deus e sua lei de amor, difamando e atacando Jesus de Nazaré, o Cristo, e os profetas como João Batista. 

Jesus também mostra-se verdadeiramente amigo de João Batista: É sincero com ele e depois explica aos discípulos o percurso da existência do profeta, mostrando seu valor e importância: De tempos em tempos Deus enviou escolhidos, sejam profetas ou indivíduos inspirados, para propagar seus ensinamentos. Porém, muitas vezes, estes escolhidos de Deus para propagar a bondade e a equidade, foram atacados, rechaçados, feridos e até mesmo mortos.

Jesus diz que João é o anjo enviado antes de si e que o menor no Reino dos Céus é maior que João. Lembrando que a lei divina ensinada por Jesus é de amar a Deus e de amar o próximo (todos) como a si mesmo, estas palavras sobre João jamais podem ser consideradas de desprezo. Jesus indica que há pouca ou nenhuma diferença entre João Batista e os anjos. Neste caso alguém poderia falar que profetas do velho testamento como Elias não eram exemplo de benevolência, mas há de se considerar vários fatores sobre isto: O velho testamento mostra uma sociedade muito bruta e violenta. Os povos monoteístas, sejam chamados de hebreus, judaicos ou “escolhidos por Deus” viviam em meio às sociedades que guerreavam constantemente e eram nitidamente cruéis em suas punições, seja para com infratores de leis ou com adversários de guerra. 

Em seguida Jesus indica que qualquer pessoa que se devote à lei de amor ensinada por ele, pode se tornar maior (superior) a João, portanto aos anjos! Em nenhum momento Jesus descreve anjos como seres inalcançáveis e apartados dos humanos - isto é uma provável invenção ou mera interpretação teológica de um ou mais indivíduos que colaboraram para a institucionalização da religião. 

Por fim, quando Jesus diz que João é o Elias que estava por vir, é possível que ele indique que João é a reencarnação de Elias. Isto estaria de acordo com que Jesus fala a Nicodemos que ele terá que nascer novamente (reencarnar) e que o espírito vem (sopra) de onde não sabemos… A visão da psique (alma) de Platão, que está de acordo com o pitagorismo, com o druidismo celta e com o hinduísmo, aceita esta ideia, bem como o espiritismo, a umbanda e o candomblé também aceitam. 

Essa interpretação reencarnacionista é justamente o que complementa a lacuna deixada pela história das religiões, particularmente das abraâmicas (judaísmo, cristianismo, islamismo etc), tão permeadas de violência. Como Deus onipotente, todo piedoso e justo explicado por Jesus, criaria tantos seres humanos que viveram uma mera vida de violência, sem perspectiva de melhora ética? 

Todos esses ensinamentos de Jesus são pautados por seu amor piedoso. Isto porque o amor ensinado por Jesus não é interesseiro, nem é exclusivamente materialista: É prático na vida terrena e útil na vida psíquica também para além da vida terrena, pois sempre tem um pano de fundo: a esperança! Excluir a esperança dos ensinamentos de Jesus é uma contradição e uma falácia.

 

segunda-feira, 15 de julho de 2024

Leitura sobre "Missão dos Apóstolos / Recebem Instruções"

Recebem Instruções / Missão dos Apóstolos (Tomé, Mateus, Marcos, Lucas) 

"Jesus enviou estes doze, e lhes ordenou, dizendo: Não ireis pelo caminho dos gentios, nem entrareis em cidade de samaritanos; Mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel; E, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus. 

Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai. 

Não possuais ouro, nem prata, nem cobre, em vossos cintos, Nem alforjes para o caminho, nem duas túnicas, nem alparcas, nem bordões; porque digno é o operário do seu alimento. Se jejuardes, dareis origem ao pecado para si mesmo; e se vocês orarem, serão condenados; e se vocês derem esmolas, vocês farão mal aos seus espíritos. Quando vocês entrarem em qualquer terra, cidade ou aldeia e andarem pelos distritos, procureis saber quem nela seja digno, e hospedai-vos aí, até que vos retireis. 

E, quando entrardes nalguma casa, saudai-a; Se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz; mas, se não for digna, torne para vós a vossa paz. E ficai na mesma casa, se te receberem, comei o que eles te derem, e curem os enfermos entre eles, pois digno é o obreiro de seu salário. Não andeis de casa em casa. Se ninguém vos receber, nem escutar as vossas palavras, saindo daquela casa ou cidade, sacudi o pó dos vossos pés."

Jesus envia os apóstolos primariamente aos que já tinham uma noção da religião abraâmica, dos ensinamentos de Moisés, enfim do judaísmo, evitando pagãos e materialistas contrários aos seus ensinamentos. Certamente fez assim porque era o início das pregações de seus apóstolos, deixando o mais difícil para depois. Afinal, não se pode ensinar algo a quem não quer aprender. 

Em seguida, Jesus ordena que seus discípulos curem, limpem, ressuscitem pessoas e expulsem demônios, sem cobrar coisa alguma, afinal caridade é ajudar sem desejar recompensa. 

 Céticos ou materialistas podem afirmar que as curas eram meros tratamentos e primeiros socorros e que as expulsões de demônios era simplesmente aliviar sofrimentos ou doenças mentais. Mas os mesmos não podem explicar de modo cético as ressurreições e certamente as consideram um mero conto para embelezar os ensinamentos de Jesus ou uma mentira inventada pela igreja após o cristianismo primitivo. O espiritismo e religiões que lidam com a mediunidade explica que são dons mediúnicos, mas mesmo entre espíritas, muitos recusam a possibilidade de ressurreição. Certamente porque Kardec explica que a reencarnação é abordada na bíblia sob o nome de ressurreição (como em Jó), mas mesmo que Jesus ou outro personagem da bíblia tenham tentado falar sobre a reencarnação, isto não exclui a possibilidade de alguém como Jesus Cristo ressuscitar os mortos, como fez com Lázaro e com o filho da viúva de Naim. 

Enfim, estes temas que abordam o “sobrenatural”, sejam milagres ou mediunidade, são de menor importância e pouco deveriam influenciar na prática do cristianismo: Amar ao próximo como a si mesmo e amar a Deus, pois Ele está em toda sua criação. 

Ao dizer para seus apóstolos não levarem dinheiro, nem bolsas, nem outros itens, Jesus não nega a previdência, o trabalho ou o progresso, pois Deus deu inteligência ao ser humano para descobrir e criar utensílios, vestes, moradas etc. Jesus está incentivando estes a confiarem em Deus e naqueles que acreditam em Deus e em sua divina lei de amor. Pode parecer difícil, ou até mesmo polêmico, mas trata-se de depender o mínimo dos bens materiais individuais para confiar mais na fé, em Deus e no próximo, sem ser ingênuo ou ignorante. Então, quando os apóstolos não puderam receber auxílio de pessoas fiéis aos ensinamentos, eles conservaram-se crendo em Deus, através da fé - um estado de espírito de grande humildade, de amor e de confiança para além de si mesmos. Afinal, não se pode servir o dinheiro e a Deus ao mesmo tempo, nem deve-se preocupar com as coisas vãs. 

Platão em “Apologia de Sócrates”, menciona que seu tutor (Sócrates) permaneceria até o fim da vida, exercendo a filosofia e perguntando se aqueles que militam em favor do dinheiro (a fim de possuir sempre mais) e da fama não sentem vergonha. Pois a pessoa que busca a sabedoria e/ou a verdadeira melhoria, não teme a morte nem se apega aos bens materiais na Terra: Se preocupa com a justiça e as leis voltadas ao bem da humanidade e com o numinoso, ou seja, com o espiritual, a existência além. O bem, ou a bondade, é belo e justo, pois cessa todos problemas na Terra, ainda que seja através de um longo processo histórico. 

Jesus continua suas instruções: "Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas. 

Acautelai-vos, porém, dos homens; porque eles vos entregarão aos sinédrios, e vos açoitarão nas suas sinagogas; 

E sereis até conduzidos à presença dos governadores, e dos reis, por causa de mim, para lhes servir de testemunho a eles, e aos gentios. Mas, quando vos entregarem, não vos dê cuidado como, ou o que haveis de falar, porque naquela mesma hora vos será ministrado o que haveis de dizer. Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós. E o irmão entregará à morte o irmão, e o pai o filho; e os filhos se levantarão contra os pais, e os matarão. E odiados de todos sereis por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até ao fim, esse será salvo. 

Quando pois vos perseguirem nesta cidade, fugi para outra; porque em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem que venha o Filho do homem. 

Jesus disse (continuando): “Tornem-se transeuntes”. 

Não é o discípulo mais do que o mestre, nem o servo mais do que o seu senhor. Basta ao discípulo ser como seu mestre, e ao servo como seu senhor. Se chamaram Belzebu ao pai de família, quanto mais aos seus domésticos?"

Para ser “inofensivo como a pomba”, ou seja, piedoso e humilde, não é necessário ser ingênuo nem ignorante, por isso deve-se ser “prudente como a serpente”."

Jesus ainda diz para seus discípulos confiarem no espírito de Deus quando estiverem entregues aos seus opositores, afinal eles receberam a graça, ou para o espiritismo, receberam a mediunidade. Por fim, Jesus sabia que muitos odiavam seu nome e o que ele representava: Jesus Cristo representa o amor a todos os seres. Representa a humildade, o amor interior e o manifesto na amizade com a humanidade e a esperança no bem, em Deus e na vida eterna. 

Os seguidores de Jesus tiveram que enfrentar muitos opositores: Estes opositores à lei de amor, são de diversos tipos: Os mentirosos, os vaidosos, os violentos, os intolerantes, os gananciosos etc. Tais tipos de pessoas frequentemente são fascinadas por riquezas materiais ou por glória na Terra (status, poder etc) e mal toleram indivíduos similares a si mesmos, então porque iriam tolerar pessoas que ensinam sobre a importância da solidariedade, da humildade e do amor? Estas pessoas tomadas por esses sentimentos nocivos ao próximo frequentemente assumiram posições de poder na história, mesmo séculos após Jesus lançar seus ensinamentos no Império Romano: Imperadores traíram-se mutuamente até a queda deste império no ano de 480 depois de Cristo. Séculos depois, por volta dos anos 800 d.C., os príncipes e reis das primeiras dinastias francas ("pré francesas"), que alegavam aceitar o cristianismo, mataram uns aos outros em disputas por poder e riquezas materiais. E até mesmo guerras hipócritas em nome do cristianismo surgiram das cruzadas do século 11 até os confrontos internacionais entre católicos e protestantes do século 17. 

O seguidor de Cristo deve saber disso e saber manter-se fiel aos ensinamentos de Jesus mesmo diante os ofensores e os perseguidores. Os cristãos não precisam ser suicidas, pois fica claro que Jesus permite que eles se defendam evitando confrontos inúteis. Porém não deve-se desistir de ensinar e espalhar a lei divina de amor. 

"Enquanto isso, os homens tinham se reunido aos milhares em torno de Jesus, de modo que se atropelavam uns aos outros. Jesus começou a dizer a seus discípulos: Guardai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. Portanto, não os temais; porque nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se. 

Seus discípulos o interrogaram e lhe disseram: "Você quer nós para jejuar? Como devemos orar? Vamos dar esmolas? Que dieta vamos observar?" 

Jesus respondeu: "Não conte mentiras, e não faça o que você odeia, pois todas as coisas são claras aos olhos do Céu. O que vos digo em trevas dizei-o em luz; e o que escutais ao ouvido pregai-o sobre os telhados. E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo. 

Não se vendem dois passarinhos por um ceitil (centavo)? e nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai. E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais, pois; mais valeis vós do que muitos passarinhos. 

Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus. Mas qualquer que me negar diante dos homens, eu o negarei também diante de meu Pai, que está nos céus."

Jesus pede para que não temam aqueles que dizem conhecer os segredos, seja do saber religioso ou de qualquer outro saber. Também diz para não temer os que ameaçam fisicamente, pois a alma é imortal. Devemos nos defender daqueles que tentam nos convencer de abandonar o ensinamento de Cristo, seja com orações ou evitando tais indivíduos. A palavra de Cristo, o ensinamento sobre o bem e o amor, deve ser propagado para as pessoas: Não se deve ter vergonha de propagar seus ensinamentos, pois este que se envergonhar do bem e da humildade será esquecido no pós vida. Para se ter coragem de enfrentar aqueles que negam a importância da bondade ou que atacam a prática da solidariedade e a propagação da justiça é necessário manter-se firme nestas ideias e atitudes. Não se deve ter vergonha de evoluir e de querer a evolução dos (bons) sentimentos e da empatia solidária. A evolução destes conceitos é uma verdade necessária para o progresso de todos os seres humanos, pois está ligada à preocupação com o todo (toda sociedade, toda a humanidade, toda a criação de Deus).

 

segunda-feira, 8 de julho de 2024

Leitura de Jesus em Nazaré; Priorizar a Lei de Amor ante coisas do mundo

Jesus em Nazaré - Legendas: (Azul: Mateus, Verde: Marcos, Vermelho: Lucas, Cian: Tomé, Preto: "vários") 

"Partindo dali, chegou à sua pátria (cidade), e os seus discípulos o seguiram. 

E, chegando o sábado, começou a ensinar na sinagoga; Onde foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: 

O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados de coração, A pregar liberdade aos cativos, E restauração da vista aos cegos, A pôr em liberdade os oprimidos, A anunciar o ano aceitável do Senhor. 

E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele. 

Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos. e muitos, ouvindo-o, se admiravam, dizendo: De onde lhe vêm estas coisas? e que sabedoria é esta que lhe foi dada? e como se fazem tais maravilhas por suas mãos? 

Não é este o carpinteiro, filho de Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão? e não estão aqui conosco suas irmãs? E escandalizavam-se (ficavam perplexos) nele. 

E Jesus lhes dizia: Sem dúvida me direis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; faze também aqui na tua pátria tudo que ouvimos ter sido feito em Cafarnaum. Não há profeta sem honra senão na sua pátria, entre os seus parentes, e na sua casa. Nenhum profeta é aceito em sua própria aldeia; nenhum médico cura aqueles que o conhecem. 

Em verdade vos digo que muitas viúvas existiam em Israel nos dias de Elias, quando o céu se cerrou por três anos e seis meses, de sorte que em toda a terra houve grande fome; E a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a Sarepta de Sidom, a uma mulher viúva. E muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro. Ouvindo estas coisas, todos na sinagoga se encheram de ira. 

Então, levantando-se, o expulsaram da cidade, e o levaram até ao cume do monte em que a cidade deles estava edificada, para dali o precipitarem. Ele, porém, passando pelo meio deles, retirou-se. 

Já não podia fazer ali nenhuma obra maravilhosa; somente curou alguns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos. E, admirado, da incredulidade deles, percorreu as aldeias vizinhas, ensinando."

As pessoas da cidade de Nazaré devem ter avistado Jesus desde criança, crescendo com seus pais e familiares. Admitir que um de seus cidadãos era um dos profetas de Deus, ou mais precisamente, o filho de Deus, parecia-lhes absurdo. Além disto, é possível que os habitantes de Nazaré fossem conservadores e nacionalistas, preferindo manter suas crenças e rotinas do que aceitar tamanha revolução diante os seus olhos. 

Jesus ressalta que seu ensinamento é de levar esperança às pessoas; Não é uma "esperança exclusivamente física", como ao curar e alimentar os necessitados, mas também é emocional e psicológica, pois Jesus também fala em curar os quebrantados de coração e libertar os oprimidos. Opressões podem ser feitas além do corpo das pessoas: podem ser a imposição de "culturas", de regras, de violências psicológicas, de sistemas religiosos e de crenças.

Lucas destaca que os judeus nazarenos chegaram a tentar condenar Jesus à morte, pois pretendiam jogá-lo do topo de um monte abaixo. Embora não seja explicado detalhadamente, de alguma forma Jesus evita tal destino passando entre os nazarenos: A menos que tenha se escondido entre algum tumulto de pessoas, o que não é evidente em texto algum, Jesus deixou o monte de Nazaré sendo visto por seus opositores/ detratores, sem que esses conseguissem puni-lo.

Priorizar a Lei Divina ante as coisas do mundo (Tomé) 

"Jesus disse: Se você não jejuar em relação ao mundo, você não encontrará o Reino. Se você não observar o sábado como sábado, você não verá o Pai". 

Este trecho pode parecer contradizer alguns outros onde Jesus diz que ritos como o jejum e guardar o sábado nada valem diante a caridade, mas possivelmente trata-se de duas coisas: prioridades e humildade; O “sábado” certamente refere-se ao sabá (shabat), um dia de descanso consagrado a Deus. A consagração do descanso, tanto quanto as obras de caridade, quando feitas sinceramente e de coração são valiosas pois fazem parte de viver a lei de Deus, que é de amor. Mas o jejum e o ato de guardar o sábado também têm sua importância em relação ao “mundo”, ou seja, em relação à maioria dos que desprezam os ensinamentos de Jesus Cristo - quando realizados, devem ser com esforço para evitar tentações e para se manter humilde priorizando e vivendo a lei divina, que é de amor - um amor expansivo. 

Jejuar em relação ao mundo também pode significar para os apóstolos e todos os seguidores de Jesus não darem importância ao que os outros vão pensar ou dizer deles, em sua respectiva missão de viver e propagar o bem/ o amor piedoso e solidário. Trata-se de não sucumbir às dores nem se apegar aos prazeres do mundo.

Note que não é desprezar o mundo e a vida: Pois cuidar dos necessitados, da humanidade e da vida é ensinamento de Jesus - pilhar, predar e acumular enormes quantidades de bens em poder de poucos indivíduos é contra tais ensinamentos.

 

segunda-feira, 1 de julho de 2024

Leitura ecumênica de "tesouro no céu, olho são" e "vãs preocupações"

Embora os textos dos 4 apóstolos aceitos nas religiões cristãs sejam suficientemente claros no que se refere à prática dos ensinamentos de Jesus, aqui trago alguns textos atribuídos a Tomé e Filipe, além dos textos de Lucas e Mateus. O 1º deles, aparece tanto nos evangelhos de Lucas e Mateus, como também no de Tomé: 

Tesouro do Céu, olho são (Tomé, Mateus, Lucas) 

"Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; 

Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. 

A candeia (lanterna) do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz; 

 Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!"

Ajuntar riquezas materiais de modo a priorizar isto ante a solidariedade, a fraternidade e o progresso ético da humanidade, é contrário à lei de amor caridoso e humildade ensinada por Jesus. É sinal de ganância e/ou de avareza. Afinal, um dos maiores problemas da civilização ainda é a ganância desmedida, a supervalorização do acúmulo de fortunas, do sucesso financeiro, do status social que geram tantas dificuldades e conflitos na humanidade. Jesus priorizou o ensinamento da importância do amor piedoso e o auxílio aos mais necessitados.

Ajuntar tesouros nos céus então, é, além de praticar a solidariedade, manter-se humilde e firme nos ensinamentos de Jesus, a lei divina de amor. Esta firmeza é amparada pela atenção em seus próprios discursos, pela oração sincera e consciente e pela vigilância de seus próprios pensamentos e sentimentos. Tal vigilância, além da oração, pode ser realizada por meio da meditação ou do silêncio na busca por aperfeiçoar/ purificar os próprios pensamentos e sentimentos, mantendo-se grato a Deus. Assim, o olho que Jesus menciona, pode se referir à forma de olhar os fatos e as pessoas, ou seja, algo igual à intenção ou relacionado à esta. Se você olha muitas coisas com escárnio, desprezo ou inveja, então você não é luz, é trevas. A Kryia Yoga explica que este olho pode ser entendido como o terceiro olho, o ajna. Durante a meditação, o olho único, ou espiritual, torna-se visível dentro da parte central da testa. Este olho onisciente é mencionado de vários modos nas escrituras como a estrela do oriente, a pomba descendo dos céus, o olho de Shiva, o olho da intuição etc. 

Onde está o Reino dos Céus (Tomé) 

Jesus disse: "Se aqueles que te lideram dizem: 'Veja, o Reino é no céu', então os pássaros do céu o precederão. Se eles dizerem a você: 'Está no mar', então o peixe o precederá. 

 Em vez disso, o Reino está dentro de você e está fora de você. 

Quando vocês se conhecerem, vocês se tornarão conhecidos, e vocês vão perceber que são vocês que são os filhos do vivo Pai. Mas se você não se conhecer, você mora na pobreza e é você que é essa pobreza." 

"Os céus e a terra se enrolarão na tua presença. E aquele que vive do Vivo não verá a morte." Jesus não diz, "Quem se encontra é superior ao mundo?" 

Quando se fala em Reino dos Céus, muitos se perguntam onde ele estaria, enquanto outros simplesmente ridicularizam e não acreditam. Jesus indica que só se encontra tal “Reino” interiormente, ou seja com a mente, com os sentimentos, a alma. Porém não há uma fórmula secreta nem um rito ou um pensamento fixo para isto: é preciso seguir os ensinamentos de Cristo: Viver conforme a lei de amor, ou seja, praticando o bem com os outros e superando pensamentos hostis e sentimentos negativos. 

Santa Teresa d’Ávila indica como o reino está dentro de nós: Sua metáfora de que nossa alma pode ser comparada com um castelo de diamante com 7 níveis, dos níveis mais externos até o nível mais interno, mostra como devemos nos esforçar para buscar aperfeiçoar nossos próprios pensamentos, sentimentos e intenções. Quanto mais deixamos os interesses do mundo de lado, priorizando de coração os ensinamentos de Cristo, mais aptos nos tornamos para entrar em contato com Deus. O contato com Deus então poderá ocorrer através da oração consciente e do recolhimento (que pode ser comparado a um tipo de meditação, para conhecer a si mesmo). Este é um processo interno baseado em intenções e que requer auto-atenção (zelo) para abandonar desejos mesquinhos e destrutivos, paciência para lidar com as dificuldades exteriores, devoção aos ensinamentos de Cristo, força de vontade e piedade. Seguindo estas “etapas” seria totalmente contraditório tentar enganar a si mesmo ou a Deus. 

A fé e os sentimentos são interiores de cada pessoa, mas devem ser expressas e direcionadas para além de si, pois na prática cristã deve ser direcionada aos irmãos, aos necessitados, enfim, ao próximo. Assim entende-se que o Reino está dentro e fora de cada pessoa.

A verdadeira vida não é meramente biológica, nem é exclusivamente social, ou seja, não é só o ambiente e a matéria percebida pelos nossos sentidos. Ela é também interna, psíquica e sentimental - esta é uma das razões da importância de "buscarmos Deus e o Reino dos Céus" interiormente. 

Deus está em todos nós (Filipe) 

Aqueles que dizem: "Há um homem celestial e há um acima dele" estão errados. Pois é o primeiro desses dois homens celestiais, aquele que é revelado, que eles chamam de "aquele que está embaixo"; e aquele a quem o oculto pertence é aquele que está acima dele. Pois seria melhor para eles dizerem: "O interior e o exterior, e o que está fora do exterior". Por causa disso, o Senhor chamou a destruição de "as trevas exteriores": não há outra fora dela. Ele disse: "Meu Pai que está em segredo". Ele disse: "Entra no teu quarto e fecha a porta atrás de ti, e ora a teu Pai que está em secreto" (Mateus 6:6), aquele que está dentro de todos eles. Mas o que está dentro de todos eles é a plenitude. Além dele, não há mais nada dentro dele. Isto é aquilo de que eles dizem: "Aquilo que está acima deles". 

Deus não está no céu no sentido concreto da palavra. Ele é transcendente, pois criou todo o universo e existe nele, além dele e em nós mesmos. Isto porque o Criador nos deu nossa alma/ essência, como sementes, pois nossos pensamentos, sentimentos, consciência e livre arbítrio (enfim, nossa psiquê) é a obra mais sutil que Deus fez, não podendo ser normalmente percebida externamente pelos nossos sentidos que só captam a matéria mais grosseira. Por isso podemos orar em pensamento e seremos escutados - quanto mais humilde, sincera e fervorosa for feita a oração com objetivos benevolentes, maior é a chance de ser ouvida. Ainda assim, não entendemos todos os planos de Deus, que transcende nosso universo, então é preciso constante humildade para não nos indignarmos com resultados inesperados ou incompreensíveis.

Vãs Preocupações (Tomé, Mateus, Lucas) 

"Jesus disse: É impossível que (simultaneamente) um homem monte dois cavalos ou estique dois arcos. Nenhum homem bebe vinho velho e imediatamente deseja beber vinho novo. 

 Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom (riqueza, luxo). 

Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário? 

Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas? 

Qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura? 

E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam; 

Eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé? 

Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? 

Porque todas estas coisas os gentios procuram. Decerto vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas; Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. 

Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal."

Jesus fala que a mente dividida, ou seja, em dúvida, não tem comprometimento com o bem ou com o amor. Assim, como aquele que ama as riquezas materiais, não ama a Deus e sua lei de amor piedoso, de esperança e de equidade. Dito isto, Jesus continua seu ensinamento sobre a importância da humildade e o perigo da avareza e da ganância. Não priorizar as coisas da Terra e manter-se mentalmente e praticamente fiel à lei divina do amor é fundamental para manter a devoção ao bem. Esta devoção pode ser cuidar de um necessitado, ajudar as pessoas não só com dinheiro, roupa ou alimento, mas também confortando-as e dispondo-se a ouvir sobre dificuldades e sofrimentos, etc. 

Certamente Jesus exige mais dos apóstolos, ou seja, daqueles que receberam a graça divina (ou a mediunidade etc) e daqueles que se comprometeram com o bem, com os ensinamentos da lei divina - lei esta que não é apartada da lei natural. Afinal este ensinamento parece continuar as recomendações que ele fez aos seus apóstolos (em suas jornadas, usarem apenas a roupa do corpo, não levar bolsas, cajados etc)... Por mais difícil que pareça, para estes que assumiram um compromisso com a propagação do Bem/ da lei divina de amor, pensar o dia que se vive é suficiente, pois ficar planejando dias futuros é atitude de quem está em dúvida ou de quem não crê em Deus e em Sua lei. Ter esperança no reino dos céus não significa ficar planejando friamente o que se deve fazer na Terra, significa seguir e praticar os ensinamentos de Cristo, um dia de cada vez. A crítica de Jesus à inquietação e a preocupação mostra que também é importante uma mentalidade serena, não julgando os outros, sem se abalar e um comportamento humilde sem desejar mais coisas do que o básico necessário. 

As passagens citadas aqui também parecem abordar um conceito igual ou similar ao de "sophrosyne" mencionado pelo filósofo Sócrates, de acordo com Platão. Sem tradução exata para outros idiomas além do grego antigo, sophrosyne era parte importante da virtude ensinada por Platão, que incluía os significados de temperança/ moderação, autocontrole e bom-senso. Este aspecto ou parte da virtude possivelmente estava relacionado com a famosa frase "Conhece a ti mesmo", supostamente inscrita no templo de Apolo em Delfos.

 

Leitura sobre Últimos encontros com Jesus

Ressurreição e aparição a Maria Madalena ( Mateus , Marcos , Lucas , João ) Eis que no primeiro dia da semana, houve um violento tremor de t...