Compaixão pelo povo que sofre/ Missão dos 72 discípulos (Mateus, Marcos, Lucas)
E depois disto designou o Senhor ainda outros setenta (e dois), e mandou-os adiante da sua face, de dois em dois, a todas as cidades e lugares aonde ele havia de ir.
Jesus percorria todas as cidades e aldeias. Ensinava nas sinagogas, pregando o Evangelho do reino e curando todo o mal e toda enfermidade.
Vendo a multidão, ficou tomado de compaixão, porque estavam enfraquecidos e abatidos como ovelhas sem pastor. Disse então aos seus discípulos: A messe (seara) é grande, mas os operários (obreiros) são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da messe, que envie operários para a sua messe.
E voltaram os setenta (e dois) com alegria, dizendo: Senhor, pelo teu nome, até os demônios se nos sujeitam.
Jesus disse-lhes: Eu via Satanás, como raio, cair do céu. Eis que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões, e toda a força do inimigo, e nada vos fará dano algum. Mas, não vos alegreis porque os espíritos vos estão sujeitos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus.
Esta passagem mostra a preocupação de Jesus com a grande quantidade de vítimas das injustiças propagadas pelas classes dominantes da sociedade. Jesus buscava ajudar a todos os desfavorecidos, injustiçados e oprimidos e orientou aos seus discípulos a orarem para que Deus enviasse (e, talvez, inspirasse) mais indivíduos solidários ao mundo.
Nenhum tipo de orgulho é bom. Quando os discípulos dizem alegremente que os espíritos maus lhes obedecem, Jesus diz para eles não se alegrarem com isto, e sim, para se alegrarem por fazerem o bem, ou seja, por servirem a Deus e aos céus. Esta é uma lição de humildade e de gratidão. Tal lição é mais valiosa ainda para os grupos que lidam com espíritos, sejam espíritas, umbandistas, católicos, evangélicos ou qualquer outro, pois deve-se alegrar por ajudar o próximo, e não por meramente expulsar ou dar ordens a espíritos.
A messe, seara, ou plantio, ou semeada, são as obras de Jesus: seus ensinamentos a todos e seu auxílio aos necessitados. O hinduísmo, com seus diversos tipos de yoga, está de acordo com a necessidade de se propagar o bem, como mostra o Bhagavad Gita (III: 4-8): “Nenhum homem pode escapar de agir, evitando a ação; não, e ninguém chegará à perfeição pela mera renúncia. Não, e nenhuma fração de tempo, em qualquer tempo, permanece inativa; a lei de sua natureza a compele, mesmo sem querer, a agir (pois pensamento é ato em imaginação). (...) Quem, de corpo vigoroso servindo à mente, aplica seus poderes mortais ao trabalho digno sem buscar o ganho, Ajruna, esse é honrado. Cumpre a tarefa a ti reservada!”
O Evangelho revelado aos pequeninos (Mateus, Lucas)
Naquela mesma hora se alegrou Jesus no Espírito Santo, e disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste às criancinhas (pequeninos); assim é, ó Pai, porque assim te aprouve.
Tudo por meu Pai foi entregue; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
E, voltando-se para os discípulos, disse-lhes em particular: Bem-aventurados os olhos que vêem o que vós vedes. Pois vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que ouvis, e não o ouviram.
Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.
Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.
Os humildes são os indivíduos mais apropriados para crer na lei divina de amor e pregar os ensinamentos de Cristo. As pessoas com mais conhecimento tendem a achar que sabem de tudo ou considerar a si mesmas como superiores às outras, assim como os indivíduos com mais bens materiais tendem a julgar de modo arrogante e preconceituoso os mais pobres taxando-os como vagabundos e/ou repulsivos.
Cerca de 4 séculos antes do nascimento de Jesus na Terra, Sócrates ouviu do oráculo de Delfos que era o mais sábio entre os homens e que por isso, achando que nada sabia, foi questionar outros supostos sábios sobre suas respectivas “sabedorias”. Assim Sócrates descobriu que vários homens tidos como sábios, apenas se achavam sábios, enquanto ele mesmo, ao menos, reconhecia que nada (ou pouco) sabia. Sócrates passou a questionar diversos sábios, políticos, poetas, artesãos, entre outros, e descobriu que os mais bem-vistos eram os mais carentes de uma conduta reflexiva, enquanto os mais banais, lhe pareceram os mais razoáveis. Por causa desta perambulação, Sócrates passou a ser odiado por muitos. Sócrates então, diz crer que O Deus é sábio, mas a sabedoria humana nada vale. Por isso, em conformidade com Ele, seguiu investigando e interrogando para identificar aqueles que pensam que sabem, e então refutá-los.
Já 18 séculos depois da morte de Jesus de Nazaré, Alan Kardec obteve a seguinte resposta sobre os inteligentes que pensam que sabem demais: “É que o homem está longe de conhecer todas as leis da natureza. Se as conhecesse todas, seria Espírito superior. Cada dia que se passa desmente os que, supondo tudo saberem, pretendem impor limites à natureza, sem que por isso, entretanto, se tornem menos orgulhosos. Desvendando-lhe, incessantemente, novos mistérios, Deus adverte o homem de que deve desconfiar de suas próprias luzes”...
Além disto, muitos dos estudiosos (sábios e inteligentes) se apegam às teorias e desprezam a prática, deixando de lado a ação do acolhimento, da devoção e da solidariedade esperançosa. Sem esta prática, ou seja, sem a vivência do bem, não há conhecimento verdadeiro, nem amor ao próximo, nem compaixão verdadeira.
Uma das características das crianças, mais útil à humanidade e mais bela, é a humildade (ainda que tal característica possa estar relacionada com inocência). O que Jesus também chamava de “pequenino”, ou ser como a criancinha, não é o tolo, o medroso, o ignorante nem o irresponsável - é o indivíduo humilde, receptivo e sem grandes pretensões.
Jesus diz ainda que sua lei é suave e seu dever leve. Quem faz a lei divina difícil de ser cumprida, são os seres humanos corrompidos por orgulho, ganância e outros pecados. Sua lei é de amor e Deus não a fez difícil, pois ele nos dá esperança.
Só agora, após uma conversa, me lembrei de deixar o seguinte esclarecimento sobre este texto: Eu não comentei a menção que Jesus faz de "satanás" conforme o evangelho de Lucas, primeiramente porque é muito comum pessoas pensarem que tal personagem dúbio é o oposto de Deus em posição, ou seja, em poder: Isso por si só contradiz o cristianismo e todas as demais religiões monoteístas (entre outras filosofias), afinal Deus é Uno, é O Espírito onipresente e o mais perto de dialogar sobre as "características" de Deus não são os textos bíblicos e sim, Parmênides, de Platão. Em segundo lugar porque, mesmo que houvesse alguma entidade de "destaque" menos poderosa que Deus nesta posição de "queda dos céus", teria pouca relevância conforme os ensinamentos de Jesus, de Platão etc. Pois esses ensinamentos estão centrados na busca pela ética, pelo valor universal, o Bem, o amor, enfim, na busca por Deus/ Jeová/ Alá/ Theos/ Nous/ Brahman...
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