quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Espiritismo vs Fanatismos

O espiritismo surgiu na França como um movimento espiritualista, ou seja, que aceita a existência da alma e portanto dos espíritos, bem como de uma realidade espiritual e de Deus. Seu líder, ou "decodificador", o pedagogo e tradutor, Allan Kardec, trouxe a centralidade na ética ensinada por Jesus e no diálogo com a ciência de seu tempo. Em suas revistas podemos ver vários estudos dos fenômenos espirituais, e tais estudos buscavam manter uma base centrada pela ética de Jesus, embora pudesse apresentar traços da cultura européia (pós) iluminista.
Com o passar dos anos, o espiritismo chegou ao Brasil e inevitavelmente esbarrou em temas da realidade da sociedade brasileira, entre eles, a política. Com o acirramento da disputa política e de uma certa polarização após eventos ocorridos entre 2013 e 2018, o espiritismo como qualquer outra esfera do ser humano foi afetado e dividido em diferentes espectros: sejam estes grupos chamados de progressistas, conservadores, esquerdistas, direitistas ou de quaisquer outros nomes. Apesar desta possível polarização, a discussão envolve vários temas importantes como iniquidade (desigualdade social), pobreza, preconceito contra minorias, necessidade de diálogo, negação do conhecimento e por isso é preciso tentar esclarecer alguns pontos dessas rivalidades, narrativas etc.

Espíritas neoliberais, conservadores e/ ou reacionários atacam espíritas anarquistas, socialistas e social-democratas, mas se calam diante cientificistas e materialistas/ niilistas que ridicularizam o espiritismo de modo geral e também se calam diante evangélicos que demonizam o espiritismo como um todo... Porque? Por ignorância? Pode ser, mas acho que também se trata de medo. Medo do umbral (um suposto tipo de inferno ou purgatório, não muito diferente de católicos e evangélicos), medo de fazer tatuagens, de falar sobre sexo e de tantas outras coisas típicas do estilo de vida conservador. Particularmente eu me considero conservador em variados costumes, só que diferente dessas pessoas eu não prego o conservadorismo para os outros: "Cada pessoa deve tirar ramo (ou a trave) de seu próprio olho" ensinou Jesus. Para o coletivo, eu entendo a importância do progresso ético e social, afinal Jesus defendia os vulneráveis e empobrecidos, criticando os poderosos como os fariseus etc. O espiritismo conservador e de ideologias similares então, se apoia na ideia do medo: O espírita das ideologias entendidas como de direita é medroso, ou covarde, porque é fácil e cômodo não ter coragem: talvez seja até seguro; Priorizando o medo do "castigo ou punição espiritual" ao invés de fazer a boa obra e viver sem julgar os outros para se alcançar as "moradas de Cristo", o espírita covarde pode seguir sua rotina com família, trabalho e eventuais ou regulares visitas ao centro espírita gerido por um direitista, seja este médium ou não. Além disto, neoliberalismo, conservadorismo e reacionarismo são fáceis de se propagar, pois não requerem estudo devido ao fato de serem manifestações que desprezam o raciocínio e a ética: você pode falar absurdos sem se preocupar, pode crer em histórias que lhe são coniventes e até "evitar o stress" de se preocupar com injustiças e com os injustiçados. Esses tipos de espíritas bem como qualquer não-espírita de direita tem tudo isso a favor de si. Tais espíritas bem como religiosos de direita em geral, são massa de manobra de seus respectivos líderes; talvez com a única diferença que os líderes espíritas acreditam em suas próprias mentiras (possivelmente acreditam que são guiados por algum "espírito de luz") enquanto os líderes multimilionários evangélicos/ neopentecostais nem sequer devem acreditar em Deus ou em um "pós vida": espalham seus discursos mentirosos só para enganar multidões e enriquecer mais e mais. 

 Espíritas de direita poderiam acusar os de esquerda dizendo que Kardec não era comunista ou que a visão de mundo materialista adotada por muitos marxistas contradiz o espiritismo... Isso é verdade ao menos em parte, mas não quer dizer que Kardec estava de acordo com as ideias absurdas de liberais/ neoliberais, conservadores(*), reacionários e com manifestações ainda mais violentas de segregação e obscurantismo. Kardec buscava diálogo com a ciência e enfrentava católicos conservadores (como pode ser visto em várias revistas espíritas). Kardec criticava o materialismo e a redistribuição repentina de riquezas, mas pregava o espiritismo como um movimento ético de resultados positivos para justiça social: seguir ensinamentos de caridade e melhoria moral dos indivíduos para gerar um mundo mais justo e menos desigual. Alegar que Kardec simplesmente proibiu os espíritas de discutirem política é uma distorção dos fatos que propaga ignorância; é desconsiderar que Kardec viveu numa época da França em que o governo era uma monarquia: Kardec e os demais espíritas franceses "não podiam" discutir política porque não haviam opções nem soluções neste campo. Em última instância, devemos considerar que Kardec baseou sua ética nos ensinamentos de Jesus e considerou Platão como precursor do espiritismo; O filósofo grego claramente teve uma posição política de criticar os amantes do dinheiro (filokerdes) e os amantes da disputa/ da vitória (filonikons). Platão centrou a filosofia em valores universais com a finalidade da melhoria não só dos indivíduos mas também da sociedade. Ainda que sua proposta de governo tivesse uma classe de governantes/ legisladores filósofos; ele indicou que tal classe deveria se apartar de toda atividade comercial e servir o coletivo/ o estado, controlando a classe mercadora para que essa não se tornasse muito influente nem tomasse o poder. Por fim, Platão criticou o uso exagerado da retórica (linguagem complexa ou empolada) e sua aplicação para fins lucrativos (em suma, foi contra o charlatanismo e, de certo modo, contra o capitalismo). 

 Hoje porém, milênios após Platão e Jesus, séculos após Kardec, temos um meio de comunicação chamado internet, este que está em grande parte sob domínio de multimilionários que não se importam com o conhecimento, a verdade e a ética. Assim, o desafio de enfrentar os movimentos obscurantistas (conservadorismo e reacionarismo), os movimentos capitalistas que precificam e objetificam a vida (neoliberalismo) e os movimentos de extermínio (neo fascismo e nazismo), me parece que requer mais do que uso das redes na internet... eu não sei quais melhores formas de resistir ou enfrentar tais grupos, porém imagino que qualquer espiritualista "de esquerda" vai precisar não só de união e ações palpáveis/ mensuráveis, mas também de uma sincera prática espiritual: meditação para estabilizar a mente; oração para se conectar com Deus/ com seus bons espíritos em busca de desenvolver vários aspectos psíquicos tais como paciência, força de vontade, auto controle, misericórdia, entendimento, sabedoria, esperança etc. E falando de aspectos psíquicos, se for o caso, também pode ser bom fazer uma psicoterapia.

 Enfim, uma coisa que as pessoas voluntariamente de direita não têm, é a conexão com Deus ou com bons espíritos... ao menos não enquanto defenderem a miséria, a violência, o medo e a ignorância... 
Creio que nossa luta seja por mais equidade e menos desigualdade. Mais conscientização e menos boataria e sensacionalismo. Mais diálogo buscando a aplicação de valores universais e menos discursos de ódio; Mais inclusão e menos violência contra os vulneráveis.
Façamos nossa parte então, por nós, por quem está do nosso lado e até por quem está contra nós (não que eles entendam e não da forma que eles querem as coisas)... Façamos nossa parte por todos.

 (*) não, liberalismo não é o oposto do conservadorismo, mas não vou explicar política, economia ou sociologia neste post. 

sábado, 25 de janeiro de 2025

Leitura ecumênica de "O jovem rico" e dos "Operários da vinha"

O Jovem Rico 
(Legendas: Mateus: azul, Marcos: verde, Lucas: vermelho, vários: preto) 
 Um homem de posição se aproximou de Jesus e lhe perguntou: "Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna? " 
 Respondeu-lhe Jesus: "Por que você me pergunta sobre o que é bom? Há somente um que é bom (Deus). Se você quer entrar na vida, obedeça aos mandamentos". 
 "Quais? ", perguntou ele. 
 Jesus respondeu: " ‘Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não darás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe’ e ‘amarás o teu próximo como a ti mesmo’". 
Disse-lhe o jovem: "A tudo isso tenho obedecido. O que me falta ainda? " 
 Jesus respondeu: "Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois, venha e siga-me". 
 Ouvindo isso, o jovem afastou-se triste, porque tinha muitas riquezas. 
 Então Jesus disse aos discípulos: "Digo-lhes a verdade: Dificilmente um rico entrará no Reino dos céus. 
 E lhes digo ainda: é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus". 
 Ao ouvirem isso, os discípulos ficaram perplexos e perguntaram: "Neste caso, quem pode ser salvo?" Jesus olhou para eles e respondeu: "Para o homem é impossível, mas para Deus todas as coisas são possíveis". 
 Então Pedro lhe respondeu: "Nós deixamos tudo para seguir-te! Que será de nós? " 
 Jesus lhes disse: "Digo-lhes a verdade: Por ocasião da regeneração de todas as coisas, quando o Filho do homem se assentar em seu trono glorioso, vocês que me seguiram também se assentarão em doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel. 
 E ele lhes disse: Na verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou pais, ou irmãos, ou mulher, ou filhos por amor ao Reino de Deus e não haja de receber muito mais neste mundo e, na idade vindoura, a vida eterna. 

 Este ensinamento complementa outro em que Jesus diz que não há como adorar a Deus e ao dinheiro simultaneamente. Além disto, Jesus dá ênfase nos mandamentos que priorizam o próximo, o além de si mesmo, afinal de contas o egoísta, que prioriza seu próprio conforto, status e/ou luxo, não entrará no reino dos céus. Oras, para fazer algo realmente bom e alcançar a vida eterna como consequência natural disto, é preciso se dedicar integralmente aos ensinamentos de Jesus, à lei divina de amor. Uma pessoa que apenas não trai os próximos, mas não ajuda os mais necessitados enquanto vive no luxo, é um hipócrita. Desde o tempo de Jesus e do Império Romano, a iniquidade é comum nas civilizações humanas - uma pessoa “de posição”, ou seja, rica, como descrita por Lucas, não pode fingir que não sabe disto; não se pode querer entrar no reino dos céus enquanto a maioria das pessoas passa por dificuldades de sobrevivência na Terra. 
 Mateus não nega que o verdadeiro seguidor dos ensinamentos de Jesus vá receber recompensa ainda em vida, mas enfatiza que a recompensa será dada no pós-vida. 
 Mateus indica que Pedro não falou apenas “Abandonamos tudo e te seguimos”. A pergunta feita a seguir (“Que será de nós?”) pode mostrar alguma dúvida de Pedro. A dúvida é comum do ser humano, principalmente se imerso em questões materiais e do cotidiano na Terra, mas apesar das dificuldades, a confiança em Deus tem que ser total - Ficar em dúvida e se preocupar em ter bens não é sinal de fé e é postura criticada por Jesus em outras passagens. 
 Platão, ao anotar os ensinamentos de Sócrates, indica o complemento destes ensinamentos de Jesus. Ao ler apenas “O Homem Rico” e “Humildade, Inveja e Escândalo”, pode parecer que Jesus severamente proibiu os humanos de terem alegrias na Terra, mas na verdade ele não faz isso. Apenas não é mencionado a partir de que ponto é possível usufruir de bens na Terra. Jesus não menciona tais coisas possivelmente por estar o tempo todo ajudando os mais pobres e mais necessitados. Esta população diretamente auxiliada por Jesus, praticamente não tinha posses, diferente das pessoas abordadas por Sócrates que instruiu indivíduos das altas classes sociais helênicas. 
 Daí porque Platão defende a moderação, o autocontrole e a temperança (sophrosyne) e indica quais são os piores e os melhores prazeres em Filebos, Hipias Maior e no livro 8 da República: O prazer "afrodísion" (sensual, sexual) é o mais intenso e escravizador, predominantemente tátil, dá brecha à luxúria, ao sexismo e até à violência sexual. Em seguida, o prazer dos banquetes (dos sabores que se dá pela alimentação), que facilmente incita a gula. Este frequentemente é acompanhado pelos aromas, os prazeres do olfato. Por fim, os menos grosseiros seriam os prazeres dos sons e das belas formas (imagens). No diálogo com Protágoras, Sócrates diz que os prazeres não são ruins, mas seus exageros são. Logo é possível entender que é mais fácil e perigoso exagerar nos prazeres mais intensos, que são os que incitam a luxúria e a gula. Detalhar essas coisas serve mais para que a alma não se apegue aos bens materiais e aos prazeres sensoriais porque tais coisas são supérfluas diante a importância do Bem (solidariedade, piedade, humildade, sabedoria etc). Além do apego às coisas materiais, tanto Platão quanto Jesus criticam a ganância (afinal esta causa desigualdade e pobreza), a rivalidade e a vingança que causam violência e guerras etc. 

 Parábola dos operários da vinha (Mateus) 
 Porque o reino dos céus é semelhante a um homem, pai de família, que saiu de madrugada a assalariar trabalhadores para a sua vinha. 
 Ajustando com os trabalhadores a um dinheiro por dia, mandou-os para a sua vinha, saindo perto da hora terceira, viu outros que estavam ociosos na praça e disse-lhes: Ide vós também para a vinha, e dar-vos-ei o que for justo. E eles foram. 
 Saindo outra vez, perto da hora sexta e nona, fez o mesmo. 
 E, saindo perto da hora undécima, encontrou outros que estavam ociosos, e perguntou- lhes: Por que estais ociosos todo o dia? 
 Disseram-lhe eles: Porque ninguém nos assalariou. Diz-lhes ele: Ide vós também para a vinha, e recebereis o que for justo. 
 E, aproximando-se a noite, diz o senhor da vinha ao seu mordomo: Chama os trabalhadores, e paga-lhes o jornal, começando pelos derradeiros, até aos primeiros. 
 E, chegando os que tinham ido perto da hora undécima, receberam um dinheiro cada um. Vindo, porém, os primeiros, cuidaram que haviam de receber mais; mas do mesmo modo receberam um dinheiro (denário) cada um. 
 E, recebendo-o, murmuravam contra o pai de família, 
 Dizendo: Estes derradeiros trabalharam só uma hora, e tu os igualaste conosco, que suportamos a fadiga e o calor do dia. 
 Mas ele, respondendo, disse a um deles: Amigo, não te faço injustiça; Não ajustaste tu comigo um dinheiro? 
 Toma o que é teu, e retira-te; eu quero dar a este derradeiro tanto como a ti. 
 Ou não me é lícito fazer o que quiser do que é meu? Ou é mau o teu olho porque eu sou bom? Assim os derradeiros serão primeiros, e os primeiros derradeiros; porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos. 
 Como mencionado anteriormente, as parábolas usavam uma linguagem apropriada para o povo camponês da Judéia/ do Império Romano durante o século 1, ou eram utilizadas para esconder determinado assunto de certas elites, geralmente religiosas como fariseus, escribas etc. 
 Possivelmente isto dá um objetivo prático ao ensinamento: Não se trata de uma parábola onde se ensina só a honrar a palavra (o tratado), nem de aceitar que os últimos tenham tantos direitos / recompensas quanto os primeiros, quanto os que trabalharam mais. Se trata também em explicar que Deus não prefere um em comparação ao outro, ele ama a todos igualmente. Deus não dá preferência ao que trabalhou mais se o que trabalhou menos assim o fez por uma causa justa, como é mencionado no texto: Os últimos trabalhadores estavam ociosos porque não haviam recebido salário referente a outro(s) serviço(s). Enfim, também é possível entender que Deus ama (e assim, de certo modo recompensa) a todos igualmente: Isto é priorizar o amor ao próximo e a equidade, não a produtividade ou o lucro. 
 A parábola dos operários da vinha também mostra que é possível começar a praticar a lei divina de amor "tardiamente" (depois de outras pessoas) se houver arrependimento sincero de seus pecados. Isto pode ser explicado pela profecia de Ezequiel: “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai levará a iniquidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele. 
Mas, desviando-se o justo da sua justiça, e cometendo a iniqüidade, fazendo conforme todas as abominações que faz o ímpio, porventura viverá? De todas as justiças que tiver feito não se fará memória; na sua transgressão com que transgrediu, e no seu pecado com que pecou, neles morrerá. 
Mas se o ímpio se converter de todos os pecados que cometeu, e guardar todos os meus estatutos, e proceder com retidão e justiça, certamente viverá; não morrerá. De todas as transgressões que cometeu não haverá lembrança contra ele; pela justiça que praticou viverá. Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? diz o Senhor DEUS; Não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva? 
Conclui-se que praticar a justiça e/ou o bem não é uma questão de quantidade: Não é praticar o bem pelo maior número de dias ou de anos; é uma questão de prática, mas também com intenção de fazer o bem, com vontade e sinceridade. Estes fatores internos para além da prática, são sentimentais, psíquicos e espirituais e só cada indivíduo consegue saber sobre si mesmo - o quão ele é verdadeiro ao praticar o bem.
 

 

sábado, 18 de janeiro de 2025

Leitura Ecumênica sobre Jesus e as Crianças

O que entregar aos anjos e profetas (Tomé) 
 Jesus disse: "Os anjos e os profetas virão a vocês e lhes darão o que vocês (já) têm. E vocês também, dêem-lhes o que vocês têm e digam a si mesmos: 'Quando eles virão e tomarão o que é deles?'" 

 Jesus diz que os anjos e profetas trazem algo para seus interlocutores. Certamente eles trazem o bem, os bons ensinamentos e os ouvintes de Jesus devem ser seus seguidores, os apóstolos, discípulos, enfim, os cristãos. Então é importante todos os cristãos perguntarem-se: Eu fiz o bem? Fiz tudo o que eu pude crendo na lei divina, que é de amor? 

 Jesus abençoa as crianças (Mateus, Marcos, Lucas) 
 Apresentaram-lhe crianças para que lhes tocasse, mas os discípulos repreendiam os que as traziam. Jesus, porém, vendo isto, indignou-se, e disse-lhes: Deixai vir pequeninos a mim, e não os impeçais; porque deles é o reino de Deus. 
 Em verdade vos digo que qualquer que não receber o reino de Deus como criança, de maneira nenhuma entrará nele. 
 E, tomando-as nos seus braços, e impondo-lhes as mãos, os abençoou. 

 Certamente a maior parte da sociedade da época de Jesus tratava as crianças sem carinho e sem entender que elas são muito dependentes dos pais (de quem as criam). Pois a preocupação com a criança indefesa só começou a se propagar no início do século 18, e o entendimento da necessidade infantil por afeto só se propagou com estudiosos como Pestalozzi durante o século 19 na Europa. 
Jesus, por sua vez, já sabia da importância de tratar as crianças com expressões de bons sentimentos, como o carinho, e também sabia como elas estão abertas a aprender não só racionalmente/ cognitivamente, como também são abertas às emoções que os adultos transmitem a elas. Esta receptividade da criança pode ser comparada com uma humildade interior, ou seja, um dos requisitos básicos para seguir os ensinos de Jesus e a lei divina de amor ao próximo, a Deus e a si. Sem receptividade e sem humildade não se entra no reino dos céus, na verdade, nem se vive em paz na Terra. Ser receptivo não é ser frágil, nem aceitar qualquer ideia apresentada, afinal Jesus também exige de seus discípulos, vigilância e devoção à solidariedade. Ele diz “sejam pacíficos (inofensivos, simples) como a pomba e espertos (prudentes) como a serpente”.

 Como se tornar crianças do Reino dos Céus (Tomé, Filipe
 Jesus viu crianças sendo amamentadas e disse aos seus discípulos:  Estas crianças que estão sendo amamentadas são como aquelas que entram no Reino. 
Eles lhe disseram: Devemos nós, então, como crianças, entrar no Reino? 
 Jesus lhes respondeu: Quando vocês fizerem o(s) dois um, e quando vocês fizerem o interior como o exterior e o exterior como o interior, e o acima como o abaixo, e quando você fizer o macho e a fêmea uma e a mesma, para que o macho não seja macho nem o feminino feminino; e quando você faz olhos no lugar de um olho, e uma mão no lugar de uma mão, e um pé no lugar de um pé, e uma semelhança no lugar de uma semelhança; então você vai adentrar [o Reino]. 
 O Senhor fez tudo em um mistério, um batismo e uma crisma e uma eucaristia e uma redenção e uma câmara nupcial. [...] 
 ele disse: "Eu vim para fazer as coisas de baixo como as de cima, e as de fora como as de dentro. Eu vim para uni-las no lugar." 
 [...] aqui através de tipos [...] e imagens. 

 Tomé mostra que Jesus ensinava sobre a importância de abandonar os conceitos culturais sociais de sexualidade: O homem não é melhor do que a mulher, nem vice-versa - pois ambos devem buscar características dos “dois lados” neutralizando a convenção social do que é um homem e do que é uma mulher. O verdadeiro amor, ou seja, o amor de Deus, pouco se importa com convenções terrestres de sexualidade/ “gênero”: Os sentimentos bons e puros estão muito acima de tabus, de interesses em prazeres sensoriais e de vantagens materiais. 
 Interessante como isto também está de acordo com Sócrates e Platão: A busca pelo bem e pela verdade é essencialmente mental (de “psiquê”, ou seja, da alma), assim ela é muito mais sublime e mais importante do que os prazeres sensoriais intensos como os que envolvem a sensualidade e suas disputas, impulsos e vícios. Não se trata de reprimir a sexualidade e seus respectivos prazeres nem de simplesmente evitar consumir alimentos saborosos - é uma questão de decisão, escolha e força de vontade; Se a pessoa evita os prazeres, mas continua desejando-os, então ela não entendeu o que é escolha nem força de vontade. A psiquê, seja mente e/ ou alma, deve ser livre em sua escolha por priorizar viver o bem/ as virtudes, como a humildade, a serenidade, a atenção, a paciência, o querer o bem dos outros e fazer o bem de coração etc.
 Reforçando a importância do aspecto mental, ou seja, da alma, Jesus disse para seus discípulos tornarem seu exterior como o interior. Seguindo o mesmo ensinamento, no diálogo Fedro, Platão mostra a oração em que Sócrates pede para ser humilde e honesto (veraz, transparente) - Isto é ser verdadeiro, não esconder nada, tornar sua aparência externa harmoniosa com sua alma. Assim, o corpo puro, se torna como a alma, que em sua origem como criação de Deus, é luz pura: A luz no sentido espiritual, além do universo material. Isto é unir o corpo com o espírito, o gnóstico com o ortodoxo, o que pensa no bem da alma e do mundo espiritual e o que pensa no bem do corpo e no bem do mundo material.

sábado, 11 de janeiro de 2025

Leitura ecumênica sobre "o Matrimônio"

Aqui trago o texto de Mateus e de Marcos sobre o matrimônio (casamento) e também uma breve passagem de Tomé mais o fragmentado texto atribuído a Filipe, que abordam temas próximos ou similares.

Debates sobre o Matrimônio (Mateus, Marcos) 
 … (Jesus) foi para a região da Judéia, além do Jordão. As multidões voltaram a segui-lo pelo caminho e de novo ele pôs-se a ensiná-las, como era de costume. Os fariseus vieram perguntar-lhe para pô-lo a prova: 
 É permitido a um homem rejeitar sua mulher por um motivo qualquer? 
 Respondeu-lhe Jesus: Não lestes que o Criador, no começo, fez o homem e a mulher e disse: Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá a sua mulher e os dois formarão uma só carne? Assim já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu. 
 Disseram-lhe eles: Por que, então, Moisés ordenou dar um documento de divórcio à mulher, ao rejeitá-la? 
 Disse-lhes ele: Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim. 
 Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério. 
 Disseram-lhe seus discípulos: Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar. 
 Ele, porém, lhes disse: Nem todos podem receber esta palavra, mas só aqueles a quem foi concedido. 
 Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos, por causa do reino dos céus. Quem pode compreender isto, compreenda. 

 Fica claro que Jesus trata o homem igual a mulher nesta passagem. Quem faz a questão como se o direito de rejeitar fosse apenas do homem, são os fariseus. Não é difícil entender que tanto no tempo de Moisés (algum ponto entre o século 16 antes de Cristo e o século 13 antes de Cristo), como no tempo de Jesus (século 1) as sociedades humanas eram patriarcais, portanto predominantemente machistas: As mulheres quase não tinham direitos e os homens tinham muitos direitos. 
 Jesus ainda aponta a dureza dos corações como causa da permissão do divórcio, afinal quando os interesses mesquinhos como a ganância, a avareza e a luxúria dominam a mente humana, não há amizade verdadeira nem amor entre o casal. Pois nestes casos a pessoa ou o casal prioriza coisas como riquezas materiais, luxo, sexo, status, enfim, prefere valores meramente estéticos ou prazeres sensoriais, menosprezando, ignorando, ou até mesmo abominando, os bons sentimentos e emoções. Esta dureza dos corações é a falta de receptividade, de amizade, de devoção e de esperança, ou seja, é a falta de amor e a falta de buscar amar. 
 Por fim, a lei divina é imutável, pois prioriza o amor e o bem sempre, assim como as leis da natureza são sempre as mesmas independente da época e das civilizações humanas. Já a lei humana, muda de acordo com a sociedade e seus respectivos costumes e progresso. Assim, a lei humana apenas lida com os atos do homem e da mulher quando estes já não levam em consideração a lei divina de amar o próximo. Assim Jesus não proíbe o divórcio, pois sabe que a lei humana que permite o divórcio, serve quando não há amor nem amizade entre o casal. 

Mistério da união profana e da união sagrada (Tomé, Filipe
 Jesus disse: “Miserável é o corpo que depende de um corpo, e miserável é a alma que depende desses dois”. 
 As formas de espírito maligno incluem as masculinas e as femininas. Os machos são aqueles que se unem com as almas que habitam uma forma feminina, mas as fêmeas são aqueles que se misturam com aqueles em forma masculina, embora alguém que foi desobediente. E ninguém poderá escapar deles, pois eles o detêm se ele não receber um poder masculino ou um poder feminino, o noivo e a noiva. Um os recebe da câmara nupcial espelhada. Quando as mulheres devassas vêem um homem sentado sozinho, elas saltam sobre ele e brincam com ele e o contaminam. Assim também os homens lascivos, quando vêem uma bela mulher sentada sozinha, a persuadem e a constrangem, querendo contaminá-la. Mas se virem o homem e sua mulher sentados um ao lado do outro, a mulher não pode entrar no homem, nem o homem entrar na mulher. Assim, se a imagem e o anjo estão unidos um ao outro, ninguém pode se aventurar a entrar no homem ou na mulher. 

 Muitos dos textos de Filipe e de Tomé foram feitos em linguagem não clara, parecendo abordar temas místicos e espirituais. 
 Aqui Tomé diz que um corpo que depende de outro é miserável e qualquer alma que dependa desses dois corpos também é miserável. 
 Filipe diz que espíritos malignos tem gênero, ou seja, um sexo. O espírito é alma, que em prática é mente, portanto, originalmente não possui um corpo físico dotado de órgão genital. Então ele deve indicar que estes são espíritos dependentes dos corpos/ apegados à carne, que buscam seres encarnados com alguma disposição a infidelidade ou ao sexismo. 
Encontrando tais seres, os espíritos agem sobre eles, pois estão apegados/ viciados nas relações sexuais, ou seja aos dois corpos nestas condições. Mas os casais verdadeiramente unidos, ou seja, que se uniram sem priorizar interesses materialistas (sejam interesses financeiros, de bens ou interesses sexuais) e que honram um ao outro em amizade, buscando conhecer um ao outro, são invulneráveis a tais espíritos malignos (sejam "zombeteiros" ou "impuros" de acordo com o espiritismo). Estes casais verdadeiros estão mais “próximos ou unidos ao anjo”. Claro, este tema é polêmico por ainda ser tabu em grande parte da sociedade e por envolver intenções individuais que podem mudar conforme o passar dos anos para cada pessoa. É importante não ditar regras sobre a vida alheia quando se aborda tal assunto, pois cada pessoa adulta tem responsabilidade sobre suas escolhas e atos.
 Enfim, somente no final do texto, Filipe menciona o bem. A partir daí é importante lembrar que textos com tais argumentos só são relevantes se o bem for considerado como prioridade: É muito mais importante estudar o bem e praticá-lo do que teorizar sobre o mal. 

 Desapego à matéria não é amor nem ódio (Filipe) 
 Aquele que sai do mundo, e assim não pode mais ser detido pelo fato de estar no mundo, evidentemente está acima do desejo do [...] e do medo. 
 Ele é mestre sobre [...]. 
 Ele é superior à inveja. Se vier, eles o agarram e o estrangulam. E como este conseguirá escapar das grandes [...] potências? Como ele vai conseguir [...]? 
 Há quem diga: "Somos fiéis" para que [...] os espíritos imundos e os demônios. Pois se eles tivessem o Espírito Santo, nenhum espírito imundo se apegaria a eles. 
 Não tema a carne nem a ame. Se você a temer, ela ganhará domínio sobre você. Se você a ama, ela vai engolir e paralisar você. 
 E assim ela habita neste mundo ou na ressurreição ou no lugar do meio. Deus me livre que eu seja encontrado lá! Neste mundo, existe o bem e o mal. Suas coisas boas não são boas, e suas coisas más não são más. Mas há mal depois deste mundo que é verdadeiramente mal - o que é chamado de "o meio". É a morte. Enquanto estamos neste mundo, convém que adquiramos a ressurreição, para que, quando nos despomos da carne, sejamos achados em repouso e não andemos no meio. Pois muitos se desviam no caminho. Pois é bom sair do mundo antes que se peque. 

 Neste texto de Filipe, “a morte”, aparece como um lugar onde as almas apegadas à carne e aos bens materiais ficam vagando. Isto tem semelhança com alguns ensinamentos de Platão que indicava que a alma (psiquê) dos que amavam os prazeres sensoriais ficariam vagando na Terra, pois continuavam desejando tais coisas após deixar o corpo.
Já a ressurreição neste texto parece se referir à reencarnação em uma das moradas de Cristo, enfim, no Reino dos Céus. 
 Desapegar-se do corpo é uma maneira de libertar a alma de seu domínio: Assim a pessoa evita o vício e se mantém fora de disputas mesquinhas/ materialistas. 

 

sábado, 4 de janeiro de 2025

Leitura sobre a Piedade de Jesus/ do "Reino dos Céus"

Cura de uma mulher encurvada (Lucas) 

 "Jesus ensinava no sábado, numa das sinagogas. E eis que estava ali uma mulher que tinha um espírito de enfermidade, havia já dezoito anos; e andava curvada, e não podia de modo algum endireitar-se. 
 Vendo-a Jesus, chamou-a a si, e disse-lhe: Mulher, estás livre da tua enfermidade. 
 E pôs as mãos sobre ela, e logo se endireitou, e glorificava a Deus. 
 Tomando a palavra o príncipe da sinagoga, indignado porque Jesus curava no sábado, disse à multidão: Seis dias há em que é mister trabalhar; nestes, pois, vinde para serdes curados, e não no dia de sábado. 
 Respondeu-lhe, porém, o Senhor, e disse: Hipócrita, no sábado não desprende da manjedoura cada um de vós o seu boi, ou jumento, e não o leva a beber? E não convinha soltar desta prisão, no dia de sábado, esta filha de Abraão, a qual há dezoito anos Satanás tinha presa? 
 E, dizendo ele isto, todos os seus adversários ficaram envergonhados, e todo o povo se alegrava por todas as coisas gloriosas que eram feitas por ele.

 A solidariedade não é um mero trabalho ou um favor - é uma necessidade, portanto é uma verdade para se viver; Assim sua prática é mais importante do que qualquer regra ou lei humana. 
 Interessante notar como a cena se passa em uma sinagoga (templo) e como a mulher estava sofrendo há 18 anos. Certamente Jesus realizou tal cura não só para ajudar a mulher, mas para mostrar como os religiosos estavam sendo insensíveis e contraditórios ignorando-a por tanto tempo. 

 A jarra de comida (Tomé) 
 Jesus disse: "O Reino do [Pai] é como uma certa mulher que estava carregando uma jarra cheia de comida. Enquanto ela estava andando [na] estrada, ainda a alguma distância de casa, a alça da jarra quebrou e a comida se esvaziou atrás dela na estrada. Ela não percebeu; ela não notou nenhum acidente. 

 Talvez esta passagem signifique que o reino do Pai (certamente sinônimo de "reino dos céus"), como destino dos indivíduos/ almas benevolentes e humildes, continua a existir independente das ações dos seres humanos, sejam os que se dizem religiosos ou outros. 
 Vale lembrar que Jesus diz a seus apóstolos para que não fiquem se preocupando com os assuntos do cotidiano terreno, como comida, vestimentas e outros bens materiais - A prioridade ensinada por Jesus é propagar o bem e todos seus respectivos aspectos (amor, piedade, humildade, esperança etc), por isso questões terrenas cotidianas não devem sobrepor a importância da caridade e da solidariedade - O ser humano precisa de alimentos e de outros bens básicos, mas não é a priorização de tais coisas que levam ao bem, ou ao "Reino dos Céus". Além disto, em outras passagens, Jesus indica que o "Reino dos Céus/ do Pai" não é simplesmente um destino "pós vida": ele deve ser colocado em prática durante a vida terrena, porque não praticá-lo é uma contradição para aqueles que são cristãos ou que buscam propagar o bem.

 O inimigo poderoso (Tomé) 
 Jesus disse: "O Reino do Pai é como um certo homem que queria matar um homem poderoso. Em sua própria casa, ele puxou sua espada e enfiou-a na parede para descobrir se sua mão poderia continuar. Então ele matou o homem poderoso." 

 Esta parábola parece ter uma relação com o ensinamento da trave (ramo) no próprio olho, pois o homem crava a espada na parede da própria casa ao invés de golpear o inimigo (poderoso), certamente fez isso para destruir o mal que reside em si mesmo ao invés de julgar o próximo. Assim é o Reino dos Céus: Não julga, não pune nem destrói, pois a bondade do Criador é expansiva e desvela todas as mentes/ almas fazendo que na hora da condenação, o pecador julgue e condene a si mesmo. Esta pureza do Criador transcende o espaço e o tempo, portanto não é possível evitá-la. 
Tal passagem do evangelho de Tomé é mental/ espiritual e parece ter semelhança com alguns ensinamentos espíritas que indicam que a pessoa deve corrigir suas próprias intenções e ações para evitar obsessões e fascinações.

 Quantas Vezes Perdoar/ Parábola do Servo Cruel (Mateus/ Lucas) 
 Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: "Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? " 
 Jesus respondeu: "Eu lhe digo: não até sete, mas até setenta vezes sete. 
 "Por isso, o Reino dos céus é como um rei que desejava acertar contas com seus servos. Quando começou o acerto, foi trazido à sua presença um que lhe devia (10.000 talentos) uma enorme quantidade de prata. Como não tinha condições de pagar, o senhor ordenou que ele, sua mulher, seus filhos e tudo o que ele possuía fossem vendidos para pagar a dívida. 
 "O servo prostrou-se diante dele e lhe implorou: ‘Tem paciência comigo, e eu te pagarei tudo’. O senhor daquele servo teve compaixão dele, cancelou a dívida e o deixou ir. 
 "Mas quando aquele servo saiu, encontrou um de seus conservos, que lhe devia cem denários. Agarrou-o e começou a sufocá-lo, dizendo: ‘Pague-me o que me deve! ’ 
 "Então o seu conservo caiu de joelhos e implorou-lhe: ‘Tenha paciência comigo, e eu lhe pagarei’. "Mas ele não quis. Antes, saiu e mandou lançá-lo na prisão, até que pagasse a dívida. 
 Quando os outros servos, companheiros dele, viram o que havia acontecido, ficaram muito tristes e foram contar ao seu senhor tudo o que havia acontecido. 
 "Então o senhor chamou o servo e disse: ‘Servo mau, cancelei toda a sua dívida porque você me implorou. 
 Você não devia ter tido misericórdia do seu conservo como eu tive de você? ’ 
 Irado, seu senhor entregou-o aos torturadores, até que pagasse tudo o que devia. 
 "Assim também lhes fará meu Pai celestial, se cada um de vocês não perdoar de coração a seu irmão". 

 Com razão, entende-se que o termo “perdoar 70 vezes 7” signifique perdoar sempre - afinal a misericórdia / o perdão são mencionados como uma das bases da solidariedade e do amor ao próximo em outros ensinamentos de Jesus. 
 Os 10.000 talentos que o “servo cruel” devia ao rei é uma quantidade equivalente a dezenas de toneladas de ouro ou prata, ou seja, uma fortuna imperial. Isto certamente quer dizer que se trata o quanto ele devia espiritualmente/ moralmente a Deus, afinal o servo cruel é um exemplo de pessoa que não vê a necessidade do próximo nem perdoa o próximo. O rei (personagem que representa Deus) perdoa o servo cruel, mas este último, por sua vez, não perdoou seu companheiro que lhe devia uma quantidade insignificantemente pequena. Além disto, o “servo cruel” se faz de vítima fingindo ser o único digno de perdão, ou seja, é nitidamente um grande egoísta. 
 A pessoa que não perdoa, naturalmente vai se tornando intolerante. A intolerância, por sua vez, é terrível, pois gera separatividade e rivalidades hostis, como o fanatismo, o ultra nacionalismo, o elitismo, o machismo, o racismo etc. O reino dos céus jamais admitiria uma alma assim tão egoísta e intolerante. 
 Para se propagar o bem, perdoar deve ser uma postura e uma prática constante. Não se trata de permitir o mal, mas de não fazer igual a ele, e denunciá-lo quando for útil para se propagar o bem. Afinal, "não se olha o cisco no olho alheio sem ver a trave no próprio olho".

 

Leitura sobre Últimos encontros com Jesus

Ressurreição e aparição a Maria Madalena ( Mateus , Marcos , Lucas , João ) Eis que no primeiro dia da semana, houve um violento tremor de t...