(Legendas: Mateus: azul, Marcos: verde, Lucas: vermelho, vários: preto)
Um homem de posição se aproximou de Jesus e lhe perguntou: "Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna? "
Respondeu-lhe Jesus: "Por que você me pergunta sobre o que é bom? Há somente um que é bom (Deus). Se você quer entrar na vida, obedeça aos mandamentos".
"Quais? ", perguntou ele.
Jesus respondeu: " ‘Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não darás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe’ e ‘amarás o teu próximo como a ti mesmo’".
Disse-lhe o jovem: "A tudo isso tenho obedecido. O que me falta ainda? "
Jesus respondeu: "Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois, venha e siga-me".
Ouvindo isso, o jovem afastou-se triste, porque tinha muitas riquezas.
Então Jesus disse aos discípulos: "Digo-lhes a verdade: Dificilmente um rico entrará no Reino dos céus.
E lhes digo ainda: é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus".
Ao ouvirem isso, os discípulos ficaram perplexos e perguntaram: "Neste caso, quem pode ser salvo?"
Jesus olhou para eles e respondeu: "Para o homem é impossível, mas para Deus todas as coisas são possíveis".
Então Pedro lhe respondeu: "Nós deixamos tudo para seguir-te! Que será de nós? "
Jesus lhes disse: "Digo-lhes a verdade: Por ocasião da regeneração de todas as coisas, quando o Filho do homem se assentar em seu trono glorioso, vocês que me seguiram também se assentarão em doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel.
E ele lhes disse: Na verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou pais, ou irmãos, ou mulher, ou filhos por amor ao Reino de Deus e não haja de receber muito mais neste mundo e, na idade vindoura, a vida eterna.
Este ensinamento complementa outro em que Jesus diz que não há como adorar a Deus e ao dinheiro simultaneamente. Além disto, Jesus dá ênfase nos mandamentos que priorizam o próximo, o além de si mesmo, afinal de contas o egoísta, que prioriza seu próprio conforto, status e/ou luxo, não entrará no reino dos céus. Oras, para fazer algo realmente bom e alcançar a vida eterna como consequência natural disto, é preciso se dedicar integralmente aos ensinamentos de Jesus, à lei divina de amor. Uma pessoa que apenas não trai os próximos, mas não ajuda os mais necessitados enquanto vive no luxo, é um hipócrita. Desde o tempo de Jesus e do Império Romano, a iniquidade é comum nas civilizações humanas - uma pessoa “de posição”, ou seja, rica, como descrita por Lucas, não pode fingir que não sabe disto; não se pode querer entrar no reino dos céus enquanto a maioria das pessoas passa por dificuldades de sobrevivência na Terra.
Mateus não nega que o verdadeiro seguidor dos ensinamentos de Jesus vá receber recompensa ainda em vida, mas enfatiza que a recompensa será dada no pós-vida.
Mateus indica que Pedro não falou apenas “Abandonamos tudo e te seguimos”. A pergunta feita a seguir (“Que será de nós?”) pode mostrar alguma dúvida de Pedro. A dúvida é comum do ser humano, principalmente se imerso em questões materiais e do cotidiano na Terra, mas apesar das dificuldades, a confiança em Deus tem que ser total - Ficar em dúvida e se preocupar em ter bens não é sinal de fé e é postura criticada por Jesus em outras passagens.
Platão, ao anotar os ensinamentos de Sócrates, indica o complemento destes ensinamentos de Jesus. Ao ler apenas “O Homem Rico” e “Humildade, Inveja e Escândalo”, pode parecer que Jesus severamente proibiu os humanos de terem alegrias na Terra, mas na verdade ele não faz isso. Apenas não é mencionado a partir de que ponto é possível usufruir de bens na Terra. Jesus não menciona tais coisas possivelmente por estar o tempo todo ajudando os mais pobres e mais necessitados. Esta população diretamente auxiliada por Jesus, praticamente não tinha posses, diferente das pessoas abordadas por Sócrates que instruiu indivíduos das altas classes sociais helênicas.
Daí porque Platão defende a moderação, o autocontrole e a temperança (sophrosyne) e indica quais são os piores e os melhores prazeres em Filebos, Hipias Maior e no livro 8 da República: O prazer "afrodísion" (sensual, sexual) é o mais intenso e escravizador, predominantemente tátil, dá brecha à luxúria, ao sexismo e até à violência sexual. Em seguida, o prazer dos banquetes (dos sabores que se dá pela alimentação), que facilmente incita a gula. Este frequentemente é acompanhado pelos aromas, os prazeres do olfato. Por fim, os menos grosseiros seriam os prazeres dos sons e das belas formas (imagens). No diálogo com Protágoras, Sócrates diz que os prazeres não são ruins, mas seus exageros são. Logo é possível entender que é mais fácil e perigoso exagerar nos prazeres mais intensos, que são os que incitam a luxúria e a gula.
Detalhar essas coisas serve mais para que a alma não se apegue aos bens materiais e aos prazeres sensoriais porque tais coisas são supérfluas diante a importância do Bem (solidariedade, piedade, humildade, sabedoria etc). Além do apego às coisas materiais, tanto Platão quanto Jesus criticam a ganância (afinal esta causa desigualdade e pobreza), a rivalidade e a vingança que causam violência e guerras etc.
Parábola dos operários da vinha (Mateus)
Porque o reino dos céus é semelhante a um homem, pai de família, que saiu de madrugada a assalariar trabalhadores para a sua vinha.
Ajustando com os trabalhadores a um dinheiro por dia, mandou-os para a sua vinha, saindo perto da hora terceira, viu outros que estavam ociosos na praça e disse-lhes: Ide vós também para a vinha, e dar-vos-ei o que for justo. E eles foram.
Saindo outra vez, perto da hora sexta e nona, fez o mesmo.
E, saindo perto da hora undécima, encontrou outros que estavam ociosos, e perguntou- lhes: Por que estais ociosos todo o dia?
Disseram-lhe eles: Porque ninguém nos assalariou. Diz-lhes ele: Ide vós também para a vinha, e recebereis o que for justo.
E, aproximando-se a noite, diz o senhor da vinha ao seu mordomo: Chama os trabalhadores, e paga-lhes o jornal, começando pelos derradeiros, até aos primeiros.
E, chegando os que tinham ido perto da hora undécima, receberam um dinheiro cada um.
Vindo, porém, os primeiros, cuidaram que haviam de receber mais; mas do mesmo modo receberam um dinheiro (denário) cada um.
E, recebendo-o, murmuravam contra o pai de família,
Dizendo: Estes derradeiros trabalharam só uma hora, e tu os igualaste conosco, que suportamos a fadiga e o calor do dia.
Mas ele, respondendo, disse a um deles: Amigo, não te faço injustiça; Não ajustaste tu comigo um dinheiro?
Toma o que é teu, e retira-te; eu quero dar a este derradeiro tanto como a ti.
Ou não me é lícito fazer o que quiser do que é meu? Ou é mau o teu olho porque eu sou bom?
Assim os derradeiros serão primeiros, e os primeiros derradeiros; porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.
Como mencionado anteriormente, as parábolas usavam uma linguagem apropriada para o povo camponês da Judéia/ do Império Romano durante o século 1, ou eram utilizadas para esconder determinado assunto de certas elites, geralmente religiosas como fariseus, escribas etc.
Possivelmente isto dá um objetivo prático ao ensinamento: Não se trata de uma parábola onde se ensina só a honrar a palavra (o tratado), nem de aceitar que os últimos tenham tantos direitos / recompensas quanto os primeiros, quanto os que trabalharam mais. Se trata também em explicar que Deus não prefere um em comparação ao outro, ele ama a todos igualmente. Deus não dá preferência ao que trabalhou mais se o que trabalhou menos assim o fez por uma causa justa, como é mencionado no texto: Os últimos trabalhadores estavam ociosos porque não haviam recebido salário referente a outro(s) serviço(s). Enfim, também é possível entender que Deus ama (e assim, de certo modo recompensa) a todos igualmente: Isto é priorizar o amor ao próximo e a equidade, não a produtividade ou o lucro.
A parábola dos operários da vinha também mostra que é possível começar a praticar a lei divina de amor "tardiamente" (depois de outras pessoas) se houver arrependimento sincero de seus pecados. Isto pode ser explicado pela profecia de Ezequiel: “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai levará a iniquidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele.
Mas, desviando-se o justo da sua justiça, e cometendo a iniqüidade, fazendo conforme todas as abominações que faz o ímpio, porventura viverá? De todas as justiças que tiver feito não se fará memória; na sua transgressão com que transgrediu, e no seu pecado com que pecou, neles morrerá.
Mas se o ímpio se converter de todos os pecados que cometeu, e guardar todos os meus estatutos, e proceder com retidão e justiça, certamente viverá; não morrerá. De todas as transgressões que cometeu não haverá lembrança contra ele; pela justiça que praticou viverá.
Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? diz o Senhor DEUS; Não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva? ”
Conclui-se que praticar a justiça e/ou o bem não é uma questão de quantidade: Não é praticar o bem pelo maior número de dias ou de anos; é uma questão de prática, mas também com intenção de fazer o bem, com vontade e sinceridade. Estes fatores internos para além da prática, são sentimentais, psíquicos e espirituais e só cada indivíduo consegue saber sobre si mesmo - o quão ele é verdadeiro ao praticar o bem.
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