sábado, 13 de janeiro de 2024

Leitura Ecumênica do Nascimento de Jesus

Aqui trago os textos de Mateus e Lucas juntos, praticamente mesclados, não que isso gere um texto exatamente coerente, mas serve como um resumo a ser comentado... 

Legendas do texto: Lucas em vermelho; Mateus em azul; Intersecção entre autores: em preto.

Nascimento de Jesus (Mateus 1: 18-25, Lucas 2: 1-21) 

"Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Que estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo. 

Então José, seu marido, como era justo, e a não queria infamar, intentou deixá-la secretamente. Projetando ele isto, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo; 

E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados

Aconteceu naqueles dias que saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo se alistasse (Este primeiro alistamento foi feito sendo Quirino presidente da Síria). 

Todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade. E subiu também José da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém (porque era da casa e família de Davi), A fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. 

Aconteceu que, estando eles ali, se cumpriram os dias em que ela havia de dar à luz

Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor, pelo profeta, que diz; Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamá-lo-ão pelo nome de EMANUEL, que traduzido é: Deus conosco. 

José, despertando do sono, fez como o anjo do Senhor lhe ordenara, e recebeu a sua mulher; e não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe por nome Jesus. 

E Maria deu à luz a seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem. 

Ora, havia naquela mesma comarca pastores que estavam no campo, e guardavam, durante as vigílias da noite, o seu rebanho. 

Eis que o anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor. E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo: Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos será por sinal: Achareis o menino envolto em panos, e deitado numa manjedoura. 

E, no mesmo instante, apareceu com o anjo uma multidão dos exércitos celestiais, louvando a Deus, e dizendo: Glória a Deus nas alturas, Paz na terra, boa vontade para com os homens. 

E aconteceu que, ausentando-se deles os anjos para o céu, disseram os pastores uns aos outros: Vamos, pois, até Belém, e vejamos isso que aconteceu, e que o Senhor nos fez saber. 

E foram apressadamente, e acharam Maria, e José, e o menino deitado na manjedoura. 

Vendo-o, divulgaram a palavra que acerca do menino lhes fora dita; 

E todos os que a ouviram se maravilharam do que os pastores lhes diziam. 

Mas Maria guardava todas estas coisas, conferindo-as em seu coração. 

E voltaram os pastores, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes havia sido dito. 

E, quando os oito dias foram cumpridos, para circuncidar o menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, que pelo anjo lhe fora posto antes de ser concebido."

Há diferenças entre os textos de Mateus e Lucas, o que não é algo inesperado já que os 2 apóstolos viveram em épocas próximas, mas não iguais, e cada um deles tinha sua própria interpretação dos fatos e sua respectiva maneira de narrá-los: Mateus indica uma gravidez milagrosa, enquanto Lucas dá ênfase à aparição dos anjos. Mateus alega que magos visitaram Jesus (explicarei no próximo texto) enquanto Lucas menciona os pastores que viviam nos arredores de José e Maria (na mesma comarca).

Os anjos tratados como ficção ou alegorias pelo materialismo, são espíritos moralmente superiores em relação aos humanos, de acordo com o espiritismo. Eles podem aparecer de variadas maneiras para os seres humanos, mas de modo geral, surgem numa forma aceitável para quem os recebe. 

A Kriya yoga aceita a terminologia "anjo" em busca de um diálogo ecumênico (entre religiões), mas certamente usa outros nomes dentro da cultura hindu/ da Índia. 

O platonismo cita a existência de seres além da vida corpórea, mas não é claro para definir nomes ou categorias destes seres, certamente porque tinha o dever de fazer um diálogo transitório da religião politeísta/ mitologia da Grécia clássica e a filosofia que estava surgindo naquela época (século 4 a.C.). Na filosofia fundada por Sócrates e Platão, são mencionados seres psíquicos (mentais/ espirituais) capazes de entrar em contato com os seres humanos, como é o caso do "daemon" de Sócrates, uma espécie de gênio, espírito guia ou semi-divindade. Embora Sócrates e Platão não descrevam a aparência dos daemons, na arte grega alguns deles aparecem como seres humanos de asas emplumadas (Nike, a daemon da vitória é um exemplo). Outros seres "psíquicos" são as ninfas mencionadas no diálogo Phaedrus (Fedro). Possivelmente as denominações e classificações de anjos só foram trabalhadas através de sincretismos religiosos/ filosóficos durante os séculos 1, 2 e 3. 

Interpretações mais críticas destes textos sobre o nascimento do Jesus, tratam seu conteúdo como um mito, ou seja, uma invenção. Alguns destes críticos afirmam que estes textos foram inventados para embelezar a história de Jesus de Nazaré, enquanto outros acreditam que é uma "mitificação" de Jesus, que coloca-o como um ser divino distante das pessoas normais. Porém é importante lembrar que tratando-se de um personagem que veio trazer ensinamentos belos e importantes à humanidade, tanto sobre questões da vida terrestre como sobre a vida posterior (espiritual), é plausível, ao menos, deixar tais questões em aberto. 

Assim como encher Jesus de atributos e detalhes fantásticos poderia "distanciá-lo" das pessoas fazendo com que elas nem tentassem seguir seus ensinamentos, o contrário, retirar-lhe todos atributos divinos, também pode gerar afastamento entre Jesus e as pessoas, pois é negar uma série de histórias, crenças e esperanças, impondo uma visão de mundo de que não existe nada além do que possamos ver, ouvir ou tocar. 

Detalhar ou explicar mais todas argumentações à favor e contra o conteúdo destas passagens, não é falar da importância dos ensinamentos de Cristo nem de outro profeta ou sábio de religião alguma… A gravidez milagrosa e a vinda de anjos são assuntos que fazem com que cada pessoa defenda sua própria crença ou ponto de vista: Geralmente afastam as pessoas da postura de humildade, de receptividade e de tolerância, também afastando-as da importância da solidariedade, enfim, do bem. Sem estas posturas não há diálogo, nem ecumenismo... Pode-se até mesmo afastar as pessoas da espiritualidade! 

Ao longo de seus textos, Lucas parece priorizar a humildade através do desapego da posse de riquezas e do dinheiro, enquanto Mateus indica um caminho mais voltado ao desapego dos prazeres materiais. Isto não quer dizer que um deles ou ambos estejam errados e sim que cada indivíduo tem seu viés ao buscar viver e ensinar sobre a lei divina de amor propagada por Jesus Cristo. Mateus sendo um publicano (cobrador de impostos a serviço do Império Romano) devia tolerar mais as riquezas, dando menos importância aos ensinamentos que fomentam o afastamento de tais coisas. Já Lucas, como um médico, possivelmente tolerou mais os erros e vícios relativos ao corpo humano. 

Lucas menciona que os pastores que viviam nas proximidades foram avisados pelo(s) anjo(s) sobre o nascimento de Jesus. Interessante notar que além de pertencerem a uma classe humilde, eles pareciam esforçados devido ao fato de guardarem as ovelhas à noite e também foram receptivos à mensagem dos anjos.

Mateus cita os magos (sacerdotes zoroastristas) que vieram de longe e falaram com o governante da província romana da Judeia, Herodes. Certamente notando algo estranho com Herodes, os magos, chamados de "wise men" no idioma inglês (homens sábios), partem ao encontro com Jesus e não informam a localização deste ao governante.

Enfim, o texto que mais evidencia a origem humilde de Jesus de Nazaré possivelmente é do profeta judeu Isaías (53, 1-3): "Quem deu crédito à nossa pregação? E a quem se manifestou o braço do Senhor? Cresceu perante ele, e como raiz numa terra árida; não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos. Era desprezado, e o mais marginalizado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum." Esta passagem está de acordo com a descrição de Mateus e de Lucas - Jesus nasceu entre os humildes e receptivos, pois não faria sentido algum ser de modo diferente: Jesus que veio ensinar sobre amor, humildade e esperança, sendo um dos seres mais elevados moralmente (eticamente) e espiritualmente, não precisaria passar pelo abandono de uma vida de riquezas como vários outros personagens de elevada espiritualidade passaram (por exemplo, Sidarta Gautama, Francisco de Assis entre outros).

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