sábado, 31 de agosto de 2024

Leitura de "Discussão sobre um milagre" e "Pecado contra o Espírito Santo"

Discussão sobre um Milagre/ Blasfêmia dos Fariseus (Mateus, Marcos, Lucas) 

"Dirigiram-se para uma casa. E afluiu outra vez a multidão, de tal maneira que nem sequer podiam comer pão (tomar alimento). Quando os seus ouviram isto, saíram para o prender (reter); porque diziam: Está fora de si. 

Estava ele (Jesus) expulsando um demônio, o qual era mudo. E aconteceu que, saindo o demônio, o mudo falou; A multidão maravilhou-se e dizia: Não é este o Filho de Davi? Mas alguns deles (fariseus) diziam: Ele expulsa os demônios por Belzebu, príncipe dos demônios. E outros, tentando-o (provocando), pediam-lhe um sinal do céu. 

Porém, conhecendo ele os seus pensamentos, Jesus disse-lhes: Todo o reino, dividido contra si mesmo, será assolado; e a casa, dividida contra si mesma, cairá. E, se também Satanás está dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? Pois dizeis que eu expulso os demônios por Belzebu. Se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam vossos filhos? Eles, pois, serão os vossos juízes. 

Mas, se eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente a vós é chegado o reino de Deus. Quando o valente guarda, armado, a sua casa, em segurança está tudo quanto tem; Mas, sobrevindo outro mais valente do que ele, e vencendo-o, tira-lhe toda a sua armadura em que confiava, e reparte os seus despojos. 

Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha."

Marcos indica que pessoas próximas de Jesus, sejam familiares como primos, ou amigos que o conheciam há algum tempo, não se conformavam com sua atitude. Falavam “está fora de si”, seja porque não acreditavam que uma pessoa conhecida e próxima pudesse fazer milagres ou porque não viam sentido no fato de Jesus sair em sua missão de ensinar sobre a importância do amor, do perdão e da solidariedade. Jesus enfrenta e supera esta má aceitação de pessoas próximas, não só nesta passagem, mas em outras, como quando esteve em Nazaré e na Festa de Tabernáculos

A discussão sobre os milagres operados por Jesus é típica entre os que duvidam dele. Mateus descreve que são os fariseus que estão a acusar Jesus de estar ligado aos demônios, os quais o espiritismo e a umbanda classificam de espíritos infelizes ou egoístas e o hinduísmo geralmente chama de asuras (em oposição aos devas). 

Resumidamente, não faz sentido um servo de um "príncipe dos demônios" sair expulsando demônios por aí: Isto é a refutação mais óbvia da acusação pronunciada pelos fariseus e assim Jesus explica que realiza seus feitos em nome de Deus. Mas além disto, Jesus indica que um reino (casa, ou qualquer outro agrupamento de seres) que vive contra seus ensinamentos de solidariedade e piedade, não subsiste, ou seja, não dura. Isto porque tal reino ou casa, é repleto de intolerância e separatividade. Assim é o egoísmo: suas alianças são falsas e elas geralmente duram pouco. Isto é mais certo e  mais evidente na dimensão espiritual, onde não há como esconder pensamentos, sentimentos e intenções, pois não há corpos, nem um local para se ocultar. O espiritismo explica isto afirmando que os espíritos menos puros não conseguem ocultar coisa alguma de espíritos mais puros (numa comparação simples: um "demônio" não consegue ocultar coisa alguma diante anjos e santos das religiões cristãs). Isto faz sentido porque quanto mais puro o espírito, mais próximo de Deus ele é, então mais próximo da onisciência e da onipresença ele é. Seguindo esta lógica, qualquer "reino" de espíritos malignos é um reino de mentes que se traem e é mais frágil do que qualquer espírito mais verdadeiramente benévolo. Desta forma Jesus afirma que aqueles que estão divididos, ou seja, aqueles que atacam os outros promovendo ódio, discórdia ou rivalidade, não só correm o risco de serem traídos durante a vida na Terra, mas que inevitavelmente fracassarão no "pós vida", na realidade espiritual. 

Também é importante lembrar que acusar alguém que está ajudando pessoas, ao longo da história foi um tipo de ação recorrentemente feita por religiosos (ou supostos religiosos) que não queriam perder prestígio e poder sobre as multidões. 

Estes que acusaram Jesus e os profetas, são como os que atacam as pessoas que pregam e praticam a solidariedade, neste início de século 21. Os religiosos fanáticos, os charlatães e os falsos profetas desprezam a equidade e a solidariedade, pois para esconderem seus crimes e pecados, pregam rivalidade e intolerância, inventando inimigos e fomentando frágeis conluios essencialmente baseados em sentimentos negativos (de medo ou ódio ao diferente por exemplo). 

Entre estes supostos religiosos estão alguns que vivem falando de demônios seja para acusar pessoas ateias e de outras religiões ou para fingir que exorcizam pessoas supostamente "endemoniadas" - tais líderes embora geralmente ajam dentro de uma religião, também podem agir fora da instituição religiosa, e não são diferentes dos inquisidores que estudaram priorizando tais temas ao longo da história: Em várias nações da Europa, tais como Escócia, Inglaterra, Espanha, Império Germânico (etc), durante a Idade Média até o final da Renascença, as elites que incitaram inquisições e perseguições para caçar e exterminar supostas bruxas, viviam imersas em teorias e leituras sobre espíritos malignos. O rei James VI da Escócia e Inglaterra, o puritano inglês Mathew Hopkins, auto intitulado enviado do parlamento para caçar bruxas e os papas Inocêncio VIII e Clemente VIII são exemplos de perseguidores responsáveis pela execução de supostas bruxas e bruxos - geralmente pessoas que destoavam das cultura e da espiritualidade/ religião dominantes ou, em casos mais raros, da política dominante. Embora cada um destes indivíduos estivessem por trás da morte de centenas de indivíduos, o total de vítimas perseguidas e executadas por este tipo de pensamento entre os séculos 15 e 18, são de dezenas de milhares de pessoas.

Não se pode esperar nada da espiritualidade sem as virtudes ensinadas por Cristo e pelos outros sábios e profetas que ensinaram sobre a lei divina de amor e sobre o bem. As virtudes são humildade, autoconhecimento, autocontrole, piedade, paciência, fé (força de vontade), solidariedade, busca pela verdade, esperança… Os que priorizam tais virtudes não vivem procurando espíritos malignos nem alvos para acusarem. Ao dizer que todo reino ou cidade dividida contra si mesma está fadada à devastação e à inexistência, Jesus está dizendo que os grupos de pessoas que acusam os outros (como cultos liderados por falsos profetas, grupos supremacistas e outros similares) estão condenados a este tipo de decadência: Devem se espalhar e desaparecer com o desenvolver do progresso, pois este não é só racional, é principalmente ético

A parábola do guarda valente (também chamado de guarda forte) se refere à força da fé e da esperança em Deus. Aquele que perde esta força ou sua coragem no bem, na esperança, acaba subjugado pelo mal, seja amedrontado ou fascinado por este. Assim, Jesus completa este ensinamento com a crítica que ele faz aos seus opositores (fariseus e/ou outros) na passagem seguinte: Os fariseus são covardes e mentalmente fracos e agem com inveja de Jesus. Aquele que é decidido a seguir os ensinamentos de Jesus, a lei divina, é forte e suporta provocações, insinuações, difamações e mentiras em geral.

Pecado contra o Espírito Santo (Mateus, Marcos, Lucas) 

"Portanto, eu vos digo: Todo o pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens. 

E, se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do homem, ser-lhe-á perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro. 

Ou fazei a árvore boa, e o seu fruto bom, ou fazei a árvore má, e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore. 

Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca. 

O homem bom tira boas coisas do bom tesouro do seu coração, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más. 

Mas eu vos digo que de toda a palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo. Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado."

Certamente acusar alguém que está fazendo o bem, como se este fosse maligno, é um erro (pecado) grave. Deste modo, pensar em acusar alguém falsamente devido a interesses individualistas já é um pecado e expressar isto visando convencer outras pessoas de tal mentira, é algo pior ainda. Por fim, acusar Cristo/ o Espírito Santo é absurdo. 

As palavras são expressões e de certo modo, são ações também: Elas podem ajudar ou podem ferir e por isso falar a verdade buscando o bem universal é tão importante quanto a solidariedade e a piedade ensinadas por Jesus. Por isso é importante viver o amor ensinado por Jesus: interiormente, de coração, na psiquê (mente e alma) e externamente, buscando o bem de todos. 


sábado, 24 de agosto de 2024

Leitura de "Espigas debulhadas no sábado" e "Cura de um homem de mão seca, ao sábado"

Aqui trago a leitura de duas passagens abordadas pelos apóstolos Mateus, Marcos e Lucas.

Espigas debulhadas no sábado

"Naquele tempo passou Jesus pelas searas (campos), em um sábado; e os seus discípulos, tendo fome, começaram a colher espigas, e a comer. 

Os fariseus, vendo isto, disseram-lhe: Veja! Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer num sábado. 

Ele, porém, lhes disse: Não lestes o que fez Davi, quando teve fome, ele e os que com ele estavam? Ele entrou na casa de Deus, sendo Abiatar príncipe dos sacerdotes, e comeu os pães da proposição, que não lhe era lícito comer, nem aos que com ele estavam, mas só aos sacerdotes. 

Ou não tendes lido na lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado, e ficam sem culpa? O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. 

Pois eu vos digo que está aqui quem é maior do que o templo. 

Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes. (Oséias 6-6) Porque o Filho do homem até do sábado é Senhor."

Esta é uma das passagens onde Jesus mais dá ênfase ao valor da vida. As regras religiosas, as explicações de fenômenos sagrados, as interpretações de textos religiosos, as liturgias e os sacrifícios de nada valem caso não se defenda a vida. 

Não importa o quão difícil pareça, o cristianismo prega o amor à todos, pois Deus é onipresente e está em toda sua criação - e obviamente em todos os seres humanos. Ritos religiosos são meramente complementares ao seguimento da lei divina de amor que Jesus tanto ensinou. Espiritualidade sem humildade, sem piedade e sem solidariedade é farsa.

Cura de um homem de mão seca, ao sábado

"Partindo dali, chegou à sinagoga deles. Estava ali um homem que tinha uma das mãos mirrada; e eles, para o acusarem, o interrogaram, dizendo: É lícito curar nos sábados? 

E Jesus disse ao homem que tinha a mão mirrada: Levanta-te e vem para o meio. 

Então ele lhes disse: Qual dentre vós será o homem que tendo uma ovelha, se num sábado ela cair numa cova, não lançará mão dela, e a levantará? Pois, quanto mais vale um homem do que uma ovelha? É, por conseqüência, lícito fazer bem nos sábados ou fazer mal? salvar a vida, ou matar? E eles calaram-se. 

 Jesus, olhando para eles em redor com indignação, condoendo-se da dureza do seu coração, disse ao homem: Estende a tua mão. E ele a estendeu, e ficou sã como a outra. 

Após ver este ato de Jesus, os fariseus, tendo saído, formaram conselho contra ele, para o matarem. E retirou-se Jesus com os seus discípulos para o mar. Seguia-o uma grande multidão da Galiléia e da Judéia, E de Jerusalém, e da Iduméia, e de além do Jordão, e de perto de Tiro e de Sidom; uma grande multidão que, ouvindo quão grandes coisas fazia, vinha ter com ele. 

Então ele disse aos seus discípulos que lhe tivessem sempre pronto um barquinho junto dele, por causa da multidão, para que o não oprimisse, Porque tinha curado a muitos, de tal maneira que todos quantos tinham algum mal se arrojavam sobre ele, para lhe tocarem. 

E os espíritos imundos vendo-o, prostravam-se diante dele, e clamavam, dizendo: Tu és o Filho de Deus. E ele os ameaçava muito, para que não o manifestassem."

Jesus continua ensinando que nenhuma regra, lei ou ritual é mais importante do que ajudar as pessoas necessitadas. Ele não só ajuda o homem da mão seca (ou mão mirrada), como o chama para o centro da sinagoga diante dos fariseus, durante o sábado. Uma demonstração de coragem e da importância da solidariedade. 

O exemplo da ovelha citado por Jesus questiona a atitude de indivíduos como os fariseus: Se as pessoas tentam salvar um animal seu durante o sábado (ou que fosse qualquer outro dia da semana) porque não salvar uma vida humana? Quem salva um animal e deixa seres humanos necessitados, abandonados para morrer é que tipo de pessoa? Ainda que a pessoa salve o animal por amor a este (e não por outros interesses), não é um ato de auto aperfeiçoamento ajudar também um ser humano, sem tentar tirar algum proveito deste?

 

domingo, 18 de agosto de 2024

Diálogo filosófico sobre "A mulher doente/ A filha de Jairo" e "Diversas Curas"

A mulher doente/ A filha de Jairo - Legendas: (Mateus, Marcos, Lucas

"Dizendo-lhes Jesus estas coisas, eis que chegou um chefe da sinagoga, por nome Jairo, e o adorou prostrando-se, dizendo: Minha filha faleceu agora mesmo; mas vem, impõe-lhe a tua mão, e ela viverá. E Jesus, levantando-se, seguiu-o, ele e os seus discípulos. 

Eis que uma mulher que havia já doze anos padecia de um fluxo de sangue e gastara com os médicos todos os seus haveres, e por nenhum pudera ser curada, chegando por detrás dele, tocou a orla de sua roupa; Porque dizia consigo: Se eu tão-somente tocar a sua roupa, ficarei sã. E logo se lhe secou (estancou) a fonte do seu sangue; e sentiu no seu corpo estar já curada daquele mal. 

Logo Jesus, conhecendo que a virtude de si mesmo saíra, voltou-se para a multidão, e disse: Quem tocou nas minhas vestes? 

Responderam-lhe os seus discípulos: Vês que a multidão te aperta, e dizes: Quem me tocou? E ele olhava em redor, para ver a que isto fizera. 

Então a mulher, que sabia o que lhe tinha acontecido, temendo e tremendo, aproximou-se, e prostrou-se diante dele, e disse-lhe toda a verdade. 

 E Jesus, voltando-se, e vendo-a, disse: Tem ânimo, filha, a tua fé te salvou. E imediatamente a mulher ficou sã. 

Estando ele ainda falando, chegaram alguns do principal da sinagoga, a quem disseram: A tua filha está morta; para que enfadas (incomodas) mais o Mestre? 

Jesus, tendo ouvido estas palavras, disse ao principal (Jairo) da sinagoga: Não temas, crê somente. E Jesus, chegando à casa daquele chefe, não permitiu que alguém o seguisse, a não ser Pedro, Tiago, e João, irmão de Tiago e vendo os instrumentistas e o povo em alvoroço, entrando, disse-lhes: Por que vos alvoroçais e chorais? A menina não está morta, mas dorme. E riam-se dele. 

Disse-lhes: Retirai-vos, e, logo que o povo foi posto fora, entrou Jesus, e pegou-lhe na mão, e disse-lhe: Talita cumi; que, traduzido, é: Menina, a ti te digo, levanta-te. 

E logo a menina se levantou, e andava, pois já tinha doze anos; e assombraram-se com grande espanto. 

Jesus mandou-lhes expressamente que ninguém o soubesse; e disse que lhe dessem de comer. E espalhou-se aquela notícia por todo aquele país."

Esta passagem trata notoriamente da fé. Não apenas de crer em Jesus / em Deus, mas também de se crer no bem, e, consequentemente, nas boas pessoas. A fé não é apenas um estado mental de fervor, nem é mera crendice ou como torcer por qualquer esportista ou clube durante uma competição. A fé (ao menos de certa forma) é o sentido de vida da pessoa e sua capacidade de transcender para além de si. Este transcender para além de si é pensar no bem do próximo, desejar-lhe o bem direcionando-lhe bons sentimentos e sempre que possível, praticar este bem. Isto não é feito com um vazio afetivo ou existencial, afinal a pessoa tem um sentido de vida, pois crê no bem. Esta busca por alguém além de si, crendo no bem, relaciona-se com algo, ou mais precisamente, com alguém além de si. Sendo assim não é um mero efeito neuroquímico no nosso cérebro ou em qualquer outra parte de nosso corpo, como uma descarga de adrenalina etc. Este profundo efeito mental/ sentimental, é transcendente, portanto espiritual. Nota-se então que o estado mental daqueles que realmente crêem/ têm fé, contém a humildade - Os arrogantes ou orgulhosos jamais acreditam em Cristo ou no bem, eles duvidam e/ ou desprezam (d)o que não entendem. 

(Mais) Diversas Curas (Mateus) 

"Partindo Jesus dali, dois cegos o seguiram, gritando: Filho de Davi, tem piedade de nós! Jesus entrou numa casa, e os cegos aproximaram-se dele. Disse-lhes: Credes que eu posso fazer isso? Sim, senhor! responderam eles. Então ele tocou-lhes nos olhos se abriram. Recomendou-lhes Jesus em tom severo: Vede que ninguém o saiba. Mas apenas haviam saído, espalharam sua fama por toda região."

Jesus curando os doentes por Carl Bloch (1834-1890)

Mateus mostra que Jesus realizou muitas curas e que estes milagres também dependiam da fé de quem os recebiam, mas poucas pessoas seguiam sua recomendação para não espalharem suas histórias e serem discretos.

Estas duas passagens tratam de temas que tornaram-se polêmicos em certo nível na sociedade ocidental pós moderna. O tema dos milagres: Porque ele aparece tanto nas passagens sobre Jesus? Qual é a importância disto? Os milagres realmente ocorreram? Eles não ocorrem mais?

Os milagres de Jesus são resumidamente aceitos dentro das religiões cristãs, dominadas pela institucionalização e pelo dogmatismo. Porém, a busca por entendimento é muito rara nas religiões até este início de século 21, certamente devido à exigência de obediência propagada por líderes religiosos que pouco ou nada ensinam sobre a lei de amor solidário difundido por Jesus. 

A construção de conhecimento, por sua vez, é quase toda reservada às universidades e meios científicos, estes, tomados por um materialismo niilista que mais parece uma religião ateísta enrustida e fanática. A filosofia, mesmo com temas importantes como a ética, a epistemologia e ontologia, desde o século 20 foi relegada ao estado de acessório ou mero ornamento dos saberes, em uma posição de isolamento e intelectualismo. 

A menos que se coloque toda a causa dos milagres "no além" (anjos, Deus, espíritos etc), é praticamente impossível abordar o tema dos "milagres" e não "questionar/ investigar como a fé funciona". Enquanto houver dúvida, muitas perguntas relacionadas ao tema podem ser feitas: É um processo mental? Espiritual? Como interage com o corpo humano e com o meio a sua volta? Transcende o universo tridimensional?

Um dos poucos autores a tentar fazer a mediação das passagens cristãs com a construção de conhecimento, foi Allan Kardec (1804-1869) durante o século 19; Para o autor e seu círculo de colegas, muitos dos milagres fazem parte dos fenômenos naturais e por isso não precisam ser chamados assim (de milagres, ou de fenômenos sobrenaturais). 

Este tipo de fenômeno foi relatado ao longo da história humana pelo mundo todo em diferentes culturas e por variados povos: pessoas que curaram doentes somente com as próprias mãos, se comunicaram com seres do "além", flutuaram, saíram do próprio corpo visitando outra dimensão ou realidade, descobriram ou descreveram fatos aos quais não tinham acesso etc. Para os espíritas e alguns outros espiritualistas, os fenômenos relatados, como as curas entre outros, poderiam ser explicados como resultados de uma conexão do indivíduo na Terra com o divino ou com uma realidade espiritual por meio de um estado psíquico de fé / grande vontade e confiança e centrados na moral solidária e humilde (nos ensinamentos de Jesus, por exemplo). 

Mas como funcionaria isto? Como algo psíquico (seja mental ou espiritual) poderia gerar efeitos no nosso entorno perceptível (sensorial)? Questões sobre a relação "Mente-Corpo" são tratadas no mínimo desde René Descartes (1596-1650), um filósofo que incitou a investigação racional dos fenômenos, sem duvidar da existência da alma e sem negar a Deus. O debate sobre o que é a mente, sua existência e relação com o corpo, ou com partes específicas do corpo (cérebro), se acirrou na Europa após as publicações deste filósofo e nunca foi concluído de maneira definitiva. O que aconteceu no meio acadêmico gradualmente após o século 17, foi uma dominância da pré suposição de que a mente é só o cérebro / sistema nervoso central e seus efeitos eletroquímicos - Uma visão da realidade meramente materialista/ niilista, que nega conceitos de mente, alma, espírito e possíveis realidades além da tridimensional.

No período final deste processo, ao longo do século 19, surgem o positivismo, a criação do termo cientista e o darwinismo social (biologização de todas "ciências" humanas). Inclusive a ciência separada da filosofia parecia ser afastada da ética, pois as ideias de raça expostas por "intelectuais" da Europa no século 17, se intensificaram de tal maneira durante o século 19, que mesmo diante o surgimento do movimento pela abolição da escravização, a maior parte dos europeus e seus descendentes passaram a difundir o racismo até mesmo nos estudos "científicos". A ética ficou relegada à filosofia e a ciência passou a ser pregada como o "conhecimento verdadeiro" (o cientificismo surgiu de tudo isso).

Apesar da dominância desta interpretação da realidade na ciência no século 19, de acordo com o fundador do espiritismo, haveria um agente intermediário entre espírito e corpo, o qual ele denominou de perispírito. Devido às limitações da época, Kardec o considerou um tipo de fluído super sutil e este pode ter sido um ponto fraco de seus argumentos, pois pouquíssimos indivíduos perceberiam tal “fluído” ou o perispírito. No Livro dos Médiuns e Evocadores, ele discute a possibilidade de tais forças estarem relacionadas à eletricidade e ao magnetismo - ponto ressaltado também em um dos números de sua Revista Espírita. Mas isto era insuficiente para a ciência do século 19 pois pouco se sabia sobre campos eletromagnéticos. Um dos únicos autores a teorizar algo semelhante relacionado à “vida animal” foi Franz Mesmer (1734-1815) com suas explicações sobre “magnetismo animal”. 

A ciência descobriu os campos eletromagnéticos de determinados orgãos do corpo humano (cérebro e coração, por exemplo) apenas nos anos de 1960, mas pouco ou nada explica sobre sua causa ou finalidade. Pesquisas sobre o assunto são tímidas e lentas por uma série de motivos, então certamente ainda estamos muito longe de descobrir se Kardec e suas explicações espíritas do século 19 estavam apontando para um caminho correto. 

De qualquer maneira, antes de tais avanços científicos, é muito mais importante a humanidade evoluir eticamente e isso é um processo mais lento do que os avanços da ciência: basta vermos, ao longo da história, o desprezo pelo bem universal na construção de conhecimento (o desprezo pela ética difundida por Platão no século 4 antes de Cristo) e a falta de empatia, piedade e solidariedade nas religiões cristãs (a distorção e/ ou o desprezo pelos ensinamentos de amor difundidos por Jesus e seus apóstolos no século 1). 

Os "milagres", "capacidades mediúnicas", "transes místicos" ou "magias" existiram e existem em relatos muito variados e são inúmeros - muitos deles estão além do alcance do método empírico de investigação porque este se baseia na experiência sensorial e na reprodutibilidade, ou seja, o indivíduo que investiga o fenômeno deve ter controle sobre este: Ele deve reproduzi-lo mecanicamente. Desta forma os fenômenos mediúnicos/ milagrosos podem ser discutidos somente na construção de conhecimento por via de investigações mais filosóficas (observação, diálogo, comparações, reflexões). Alguns podem ser expressos e entendidos por meio das artes, o que envolve muito mais o sentimento e as emoções do que a racionalidade: músicas ou poesias, por exemplo, historicamente fizeram parte da espiritualidade em sociedades como os celtas (bardos), nórdicos (skalds) e gregos (rapsodos). Então classificar todos os relatos sobre tais experiências como meras mentiras ou alucinações é tão absurdo quanto querer explicar todos eles de maneira absoluta sem progredir mais, não só intelectualmente, mas principalmente eticamente e empaticamente.

"Vertentes" do hinduísmo, como a Kriya Yoga, mostram a importância da ética/ do caráter da pessoa na vida espiritual. A meditação faz parte de um progresso espiritual, onde o yogue começa a perceber e lidar melhor com seus próprios sentimentos e pensamentos e este progresso pouco ou nada difere do que é defendido por Allan Kardec, por Platão e por tantos outros líderes ou pensadores que trataram da espiritualidade. 

Platão, o fundador da filosofia ocidental, inclusive coloca a ética no centro da construção de conhecimento, sem determinismos, sem permissividade e sem reducionismos e segregacionismos: Sua filosofia tem rigor no método de investigação dos fenômenos: Pautando-se pela ideia (eidos) do bem (kalos), Platão partia da presunção da ignorância (não muito diferente da fenomenologia de Husserl) e investigava os assuntos através da maiêutica - diálogo, exposição de idéias, análise e reflexão; Além disto a filosofia ocidental em sua proposta original tinha abertura (universalidade) através do diálogo com diferentes formas de consciência: a racional, a mítica (dos mitos) e a mística (dos transes, experiências transcendentais etc). Este modo de consciência integral incitado originalmente por Platão é abordado por poucos filósofos na modernidade, como por exemplo, por Jean Gebser (1905-1973).

Tudo isto foi exposto para indicar que a ideia do bem está relacionada com o amor ensinado por Jesus. Não se trata de determinar o que existe ou não existe - se trata de expor que o bem é importante porque é um valor universal e é praticável por qualquer ser humano, portanto deveria estar por trás das grandes decisões e ações humanas. Todo ser humano tem uma noção do que é certo, do que é bom para todos, seja uma noção eventualmente menos nítida ou mais nítida.

 

domingo, 11 de agosto de 2024

Leitura ecumênica de A pecadora perdoada/ Jantar em Betânia e Piedosas mulheres acompanham Jesus

A seguir estão diversas passagens onde aparentemente é abordada a relação de Maria Madalena, Jesus e os apóstolos. Possivelmente existem divergências de opiniões sobre a mulher citada nestas passagens, então uni os textos me pautando na ideia da aceitação de mulheres entre os apóstolos por parte de Jesus, independente de suas origens, se eram pecadoras ou não: O que importava era a disposição sincera para seguir Jesus e praticar seus ensinamentos de amor piedoso e esperançoso.

Legendas: Lucas: Vermelho, Mateus: Azul, Marcos: Verde, João: Amarelo

Filipe: Magenta, Mais de 1 autor: Preto

A pecadora perdoada / Jantar em Betânia (Lucas 7: 36-48, Mateus 26: 6-13, Marcos 14: 3-9, João 12: 1-8)

"E seis dias antes da Páscoa, estando Jesus em Betânia, rogou-lhe um dos fariseus que comesse com ele; e Jesus, entrando na casa do fariseu [Simão (Lázaro), o leproso], assentou-se à mesa. Ali prepararam um jantar para Jesus. Marta servia, enquanto Lázaro estava à mesa com ele. Então Aproximou-se dele uma mulher da cidade, (Maria) uma pecadora, sabendo que ele estava à mesa em casa do fariseu, com um vaso de alabastro, com ungüento de nardo puro (grande valor). Quebrando o vaso derramou-lho sobre a cabeça (sobre os pés e enxugou-lhe os cabelos), quando ele estava assentado à mesa. E, estando por detrás, aos seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas, e enxugava-lhos com os cabelos da sua cabeça; e beijava-lhe os pés, e ungia-lhos com o ungüento. E a casa encheu-se com a fragrância do perfume. 

E alguns dos seus discípulos (Judas Iscariotes, que mais tarde iria traí-lo), vendo isto, indignaram-se, dizendo: Por que é este desperdício? 

Pois este ungüento podia vender-se por grande preço, e dar-se o dinheiro aos pobres. Ele não falou isso por se interessar pelos pobres, mas porque era ladrão; sendo responsável pela bolsa de dinheiro, costumava tirar o que nela era colocado. 

Jesus, porém, conhecendo isto, disse-lhes: Por que afligis (molestais) esta mulher? Deixe-a em paz pois praticou uma boa ação para comigo. Porquanto sempre tendes convosco os pobres, mas a mim não me haveis de ter sempre. Ora, derramando ela este ungüento sobre o meu corpo, fê-lo preparando-me para o meu sepultamento. Em verdade vos digo que, onde quer que este evangelho for pregado em todo o mundo, também será referido o que ela fez, para memória sua. Quando o fariseu que o tinha convidado viu isto, falava consigo, dizendo: Se este fosse profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, pois é uma pecadora. 

Respondendo-o, Jesus disse: Simão, uma coisa tenho a dizer-te. E ele disse: Dize-a, Mestre. 

(Jesus continua): Um certo credor tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos dinheiros, e outro cinqüenta. E, não tendo eles com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Dize, pois, qual deles o amará mais? E Simão, respondendo, disse: Tenho para mim que é aquele a quem mais perdoou. Então ele lhe disse: Julgaste bem. 

E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês tu esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; mas esta regou-me os pés com lágrimas, e os enxugou com os cabelos de sua cabeça. 

Não me deste ósculo, mas esta, desde que entrou, não tem cessado de me beijar os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta ungiu-me os pés com ungüento. Por isso te digo que os seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco é perdoado pouco ama. 

E disse-lhe a ela: Os teus pecados te são perdoados. 

Então os que estavam à mesa começaram a dizer entre si: Quem é este, que até perdoa pecados? E Jesus disse à mulher: A tua fé te salvou; vai-te em paz."

 O texto de Lucas menciona que o anfitrião, Simão, era um fariseu, Mateus e Marcos só dizem que Jesus estava na casa de Simão, o leproso e João alega que eles estavam na casa de Lázaro e que Marta e Maria estavam com eles. 

Há bíblias que tratam o texto de Lucas como se não tivesse relação com os demais, porém como o texto seguinte de Lucas menciona Maria Magdalena, como se esta tivesse passado a andar junto de Jesus e os apóstolos, é possível que os 4 apóstolos estejam falando da mesma cena ao citar a “mulher com o vaso” - Por isso João a identifica com o nome de Maria (possivelmente se referindo à Maria Magdalena que Lucas revelaria o nome só na passagem seguinte). 

Enquanto Mateus e Marcos não revelam quais discípulos reclamaram pelo fato de Maria ter quebrado o vaso, João identifica que foi Judas Iscariotes. Como resposta à indignação do(s) discípulo(s), Jesus defende a mulher de maneira mais nítida no texto de João, ao mandar o discípulo Judas, deixá-la em paz. Em linhas gerais, pode-se notar nesta passagem o machismo típico da sociedade patriarcal, pois seja quem for que reclamou do valor em dinheiro dos itens “desperdiçados” poderia estar também reclamando da atitude da mulher (Maria) por ela possivelmente ser uma prostituta. Mesmo Maria chorando e beijando os pés de Jesus, Judas mostrou-se incomodado com ela, e portanto impiedoso e contrário aos ensinamentos cristãos.

Os textos de João e de Lucas ainda detalham os modos delicados de Maria, típicos da mulher, já que os homens em qualquer sociedade machista são inibidos de serem carinhosos.

De qualquer modo, entende-se que Maria (Magdalena) era uma mulher com mais pecados que o fariseu anfitrião de Jesus. Certamente ela estava mais arrependida do que o fariseu, mostrando maior humildade também em relação a este, o que fez com que Jesus contasse a parábola (dos devedores) a Simão. O amor se manifesta com humildade e se expressa com devoção, seja à Deus, seguindo sua lei de amor, ou ao próximo, praticando a solidariedade e fomentando esperança. Estas manifestações de amor, quando sinceras no íntimo de cada pessoa, também as tornam mais dignas de perdão. Assim, mais uma vez Jesus mostra a importância pública e notória do perdão - Quanto mais se perdoa, mais se ama, portanto com este ciclo de expressões de bons sentimentos, mais se segue a lei divina, que é de amor. Já o arrependimento, apesar de importante, é um processo individual e predominantemente interno de cada pessoa. 

Por fim, seja por ter desafiado os fariseus e percebido suas respectivas reações, ou seja por possuir capacidades proféticas (divinas, mediúnicas etc), Jesus sabia que iria morrer em breve, por isso falou que o perfume/ unguento foi a preparação para seu sepultamento.

Piedosas mulheres acompanham Jesus (Lucas, Filipe) 

"E aconteceu, depois disto, que andava de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus; e os doze iam com ele, 

E algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; 

E Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, e Suzana, e muitas outras que o serviam com seus bens. 

Haviam três que andavam sempre com o Senhor: Maria, sua mãe, e sua irmã, e Madalena, aquela que era chamada sua companheira. Sua irmã, sua mãe e sua companheira eram, cada uma, uma Maria."

Assim como Lucas, Filipe confirma que mulheres acompanhavam Jesus em sua missão. Na verdade, Filipe chega a identificar aquelas (três) que constantemente andavam ao seu lado. 


 

domingo, 4 de agosto de 2024

Leitura Interreligiosa de "O servo do centurião" e "O filho da viúva de Naim"

O servo do centurião (Mateus, Lucas) 

"Entrando Jesus em Cafarnaum, o servo de um certo centurião, a quem muito estimava, estava doente, e moribundo. E, quando ouviu falar de Jesus, enviou-lhe uns anciãos dos judeus, rogando-lhe que viesse curar o seu servo. 

Chegando eles junto de Jesus, rogaram-lhe muito, dizendo: É digno de que lhe concedas isto, Porque ama a nossa nação, e ele mesmo nos edificou a sinagoga. 

E foi Jesus com eles; mas, quando já estava perto da casa, chegou junto dele um (o) centurião, rogando-lhe, e dizendo: Senhor, o meu criado jaz em casa, paralítico, e violentamente atormentado. E Jesus lhe disse: Eu irei, e lhe darei saúde. 

O centurião, respondendo, disse: Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado, mas dize somente uma palavra, e o meu criado há de sarar. Pois também eu sou homem sob autoridade, e tenho soldados às minhas ordens; e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu criado: Faze isto, e ele o faz. 

E maravilhou-se Jesus, ouvindo isto, e disse aos que o seguiam: Em verdade vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tanta fé. 

Mas eu vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e assentar-se-ão à mesa com Abraão, e Isaque, e Jacó, no reino dos céus; E os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes. Então disse Jesus ao centurião: Vai, e como creste te seja feito. E naquela mesma hora o seu criado sarou."

O centurião parece ser um tipo raro de pessoa: mesmo em posição de poder e pertencente a uma instituição voltada ao conflito e a guerra (o exército romano), ele mostrou-se humilde e receptivo com Jesus: Não se considerou digno, mas acreditou na piedade de Cristo. De modo também possivelmente raro, o centurião sentia-se responsável ou tinha grande afeto por seu servo, que foi curado por Jesus. 

Jesus, ao ver um centurião romano possivelmente judeu, afirma que muitos estrangeiros de diversas regiões do mundo se juntarão ao seu reino: A fé não depende de uma determinada cultura nem de uma nacionalidade. 

Lucas ressalta que o centurião seguia a religião judaica, ou seja, não seguia a religião politeísta romana: Era monoteísta e suas atitudes indicavam que acreditava em Deus. 

O filho da viúva de Naim (Lucas) 

"Aconteceu que, no dia seguinte, Jesus foi à cidade chamada Naim, e com ele iam muitos dos seus discípulos, e uma grande multidão; 

E, quando chegou perto da porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único de sua mãe, que era viúva; e com ela ia uma grande multidão da cidade. 

Vendo-a, o Senhor moveu-se de íntima compaixão por ela, e disse-lhe: Não chores. 

Chegando-se, tocou o esquife (e os que o levavam pararam), e disse: Jovem, a ti te digo: Levanta-te. E o que fora defunto assentou-se, e começou a falar. E entregou-o à sua mãe. 

De todos se apoderou o temor, e glorificavam a Deus, dizendo: Um grande profeta se levantou entre nós, e Deus visitou o seu povo. 

E correu dele esta fama por toda a Judéia e por toda a terra circunvizinha. 

E os discípulos de João anunciaram-lhe todas estas coisas."

Mais uma passagem que mostra a compaixão de Jesus pelos mais vulneráveis: Jesus viu a viúva sofrendo com a perda de seu filho ainda jovem e decidiu ressuscitá-lo. 

Os jovens são símbolos do futuro: têm a vida toda pela frente e a nível coletivo, são eles que decidem os rumos da sociedade por determinados períodos da história das civilizações humanas. 

Além disto Jesus reconhece a dor de uma mãe ao perder o filho e este é mais um dos motivos que ele decide ajudá-la. 

Uma questão de menor importância é a do ressuscitar os mortos, pois ela faz parte dos assuntos que se afastam dos ensinamentos de Jesus e da importância da ética e dos bons sentimentos - A questão facilmente se torna um tecnicismo, que fomenta mais divisões entre as pessoas do que união.

No espiritismo, Kardec diz que os judeus não conheciam/ não possuíam a palavra reencarnação em seu vocabulário e por isso utilizavam a palavra ressurreição para AMBOS casos: o de reencarnação e o de ressurreição. Ele não nega que os judeus, ou os cristãos dos séculos 1 ao 3 descrevessem casos de ressurreição como o do filho da viúva de Naim citado nesta passagem e como o caso de Lázaro. O que Kardec põe em dúvida com seu olhar crítico é que possa ter ocorrido tais casos de ressurreição, pois o autor fundador e codificador do espiritismo dialogava com a visão científica de sua época (século 19). Esta é uma interpretação do autor e de outros que concordam com ele, apenas isto. O próprio Kardec sobre a discussão em torno de dogmas diz que a finalidade do espiritismo é o melhoramento moral do ser humano e não perpetuar um antagonismo. Sua prioridade é unir o ser humano sob o ideário da caridade, como irmãos, independentemente de suas crenças. Se existem dogmas controversos "é preciso deixar ao tempo e ao progresso das luzes o cuidado de sua depuração".

Práticas ecumênicas do Sanatana Dharma, como a Kriya Yoga (surgida no mesmo século em que o espiritismo surgiu), obviamente aceita a ideia equivalente à reencarnação, mas não nega a possibilidade de Jesus ter ressuscitado as pessoas citadas nas passagens da bíblia. Não há uma preocupação em buscar respaldo de métodos de investigação científica: os mestres e autores da Kriya não eram contra a ciência, na verdade até buscaram um diálogo com a ciência da época de Einstein, porém sabiam que haviam muitos materialistas e empiristas na academia. E o empirismo a rigor exige reprodutibilidade de fenômenos perceptíveis, algo praticamente impossível de se obter nos fenômenos descritos como feitos por Jesus.

 

Leitura ecumênica de "O tesouro. A pérola. A rede"

O tesouro. A pérola. A rede   Legendas: ( Tomé: ciano , Mateus: azul , Filipe : magenta )  " Jesus disse: Também o reino dos céus ( do...