segunda-feira, 29 de abril de 2024

Leitura Ecumênica das Disposições para seguir Jesus

Disposições para seguir Jesus (Mateus, Lucas) 

"Jesus, vendo em torno de si uma grande multidão, ordenou que passassem para o outro lado; 

Aproximando-se dele um escriba, disse-lhe: Mestre, aonde quer que fores, eu te seguirei. 

E disse Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça. 

A outro disse: Segue-me. Mas ele (um de seus discípulos) lhe pediu: Senhor, permita-me que primeiramente vá sepultar meu pai. 

Jesus, porém, disse-lhe: Segue-me, e deixa os mortos sepultar os seus mortos. Tu porém vai, vai e anuncia o reino de Deus. 

Um outro ainda lhe falou: Senhor, te seguirei, mas permita antes que me despeça dos que estão em casa. Mas Jesus disse-lhe: Aquele que põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o reino dos céus."

Jesus parece severo com as pessoas que querem segui-lo, mas a verdade é que estar em dúvida não é querer fazer o bem, nem é crer em Deus. Jesus não critica o sepultamento ou a despedida de familiares em si: ele critica a indecisão, a atenção dividida, pois sua missão é um sentido de vida de dedicação ao bem e este bem exige humildade, autopercepção de seus próprios pensamentos/ sentimentos, paciência, devoção, força de vontade e piedade/ solidariedade! É importante vencer a dúvida, pois esta, de modo geral, se trata de uma opinião dividida, e pessoas com opinião dividida facilmente podem desistir de suas decisões, ou mesmo trair uma causa diante qualquer dificuldade. Para praticar os ensinamentos de Cristo é preciso estar decidido, ter disposição e coragem para enfrentar dificuldades e oposições. 

Isto indica como a devoção a Deus e à sua lei de amor é mais importante do que qualquer tradição ou costume. Tradições e costumes não são proibidos para o cristianismo e para as religiões em geral, mas sem a devoção ao Bem ensinada por Cristo, por Platão, por Kardec e tantos outros espiritualistas, não se encontra “o reino dos céus”. 

Além disso, Jesus indica que os apóstolos verdadeiros dificilmente poderiam permanecer muito presos a um sistema socioeconômico - um sistema que é mera criação humana, geralmente voltado a diferentes interesses de indivíduos e grupos. Priorizar um sistema de regras não espiritual, ou seja, priorizar um sistema que gera poder na Terra entre os seres humanos disputando entre si, obedecendo-o docilmente, implica em abandonar o cristianismo ao menos parcialmente. Por exemplo, se um sistema de regras e/ou de leis de uma sociedade incita ou exige as pessoas a trabalharem para produzir cada vez mais ou para gerar bens materiais excedentes (lucro) para seus empregadores, esta incitação ou exigência contraria a lei divina de amor e os ensinamentos de Cristo. Afinal a submissão ou a adaptação a tais sistemas, deixa pouco ou nenhum tempo livre para as pessoas praticarem a humildade, o perdão, a solidariedade e a busca por equidade. Dedicar a maior parte do tempo ao trabalho em uma empresa, a um negócio e/ ou a uma vida centrada no consumo de produtos, é se distanciar de uma vida espiritual e da prática cristã. 

Esta certamente é uma questão difícil para muitas pessoas: Ela é individual pois requer disposição e coragem de cada pessoa, mas também toca a questão de convívio na Terra.

Sócrates e Platão interagiram com as elites gregas, mas empregaram praticamente todas suas respectivas forças em propagar a importância da amizade com o saber (Filosofia) e o despertar da noção do Bem/ da beleza (Kalos), aplicando-a às leis e à sociedade. 

Após estudar os fenômenos das "mesas girantes" e das "sessões mediúnicas", Kardec devotou praticamente toda sua vida para escrever as obras de fundação do espiritismo, buscando uma aliança entre espiritualidade e ciência, através de uma filosofia descomplicada, aberta à todas classes sociais.

Lahiri Mahasaya ensinou como é a vida devocional mesclada à rotina típica das civilizações na Terra; Trabalhou humildemente e manteve-se com sua família, mas desapegado de bens e prazeres materiais, sempre priorizando períodos de tempo para louvar a Deus e meditar, chegando até mesmo a ensinar a Kriya Yoga para vários alunos;

Yukteswar e Yogananda devotaram suas vidas ao ensinar a meditação como parte importante da espiritualidade, além de buscarem divulgar a universalidade das religiões através da relação entre hinduísmo e cristianismo.

Não se trata de uma obrigação em viver conforme um nômade e sim de se devotar a Deus e ao bem na Terra, sem se apegar às coisas terrenas, ou aos assuntos de regras, normas e interesses humanos materiais individuais.

 

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Leitura Ecumência de "Jesus conversa com Nicodemos"

Jesus conversa com Nicodemos (João) 

"E havia entre os fariseus um homem, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus. Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe: 

Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele. 

Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. 

Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer? 

Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de que eu tenha dito: Necessário vos é nascer de novo. O vento (espírito) assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito. 

 Nicodemos respondeu, e disse-lhe: Como pode ser isso? 

Jesus respondeu, e disse-lhe: Tu és mestre de Israel, e não sabes isto? Na verdade, na verdade te digo que nós dizemos o que sabemos, e testificamos o que vimos; e não aceitais o nosso testemunho. Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais? 

Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu. E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. 

Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. 

E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. 

Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. 

Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus."

Jesus pode ter falado que pessoas como Nicodemos teriam que renascer novamente devido aos seus pecados que podem ter sido muito grandes em número ou em intensidade, exigindo uma transformação completa do líder judeu. Mas para o espiritismo, Jesus pode estar se referindo à reencarnação. Enquanto o ser humano amar mais as coisas da Terra do que as coisas de Deus (amor, humildade, perdão, caridade…), ele não se junta à luz, à Deus, condenando-se aos mundos inferiores ou às reencarnações na Terra. Isto também está de acordo com a filosofia de Platão e com o hinduísmo.

“O que é nascido da carne é carne e o que é nascido do Espírito é Espírito.” Jesus estabelece aí uma distinção entre o Espírito e o corpo. O que é nascido da carne é carne indica claramente que só o corpo procede do corpo e que o Espírito independe deste. 

O Espírito sopra onde quer; ouves-lhe a voz, mas não sabes nem donde ele vem, nem para onde vai: pode-se entender que se trata do Espírito de Deus, que dá vida a quem ele quer, ou da alma do homem. Nesta última acepção — “não sabes donde ele vem, nem para onde vai” — significa que ninguém sabe o que foi, nem o que será o Espírito. Se o Espírito, ou alma, fosse criado ao mesmo tempo que o corpo, sua origem e começo seriam conhecidos. Como quer que seja, essa passagem indica o princípio da preexistência da alma e, por conseguinte, o da pluralidade das existências. 

Deus enviou Jesus para ensinar a importância transcendental da solidariedade, da humildade, do perdão etc. Transcendental porque é importante para a alma que vive tanto na Terra como além. Seus ensinamentos são o que verdadeiramente liberta a alma, salvando-a da escuridão. Tanto que na passagem, Jesus menciona que é o mal que não vai à luz (de Deus, do reino dos céus), pois a odeia e teme que suas obras (egoístas) sejam reprovadas. 

A explicação sobre a "condenação", ou julgamento, que Jesus fez à Nicodemos, também está de acordo com o reino divino onde não há espaço para malevolência e onde as virtudes emanam luz, mostrado no diálogo Fedro (Phaedrus) de Platão, como podemos ver na seguinte parte do texto de João: "Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus." O reino divino onde as virtudes emanam luz é chamado de "Hiper Ouranos" (além céus) por Platão e seria acessado por aqueles que domassem seus desejos mesquinhos e vícios, vivendo as virtudes (temperança, justiça, o bem) se assemelhando o máximo possível às divindades (semi-deuses) e ao "Zeus hegemon", ou "Theos" (Deus).

O espiritismo faz breves explicações sobre aqueles que fazem o mal e após a morte/ o desencarne encontram espíritos superiores (anjos, na linguagem do judaísmo, do catolicismo, do protestantismo e do islamismo): Eles não conseguem esconder seus desejos, intenções, preferências nem memórias/ lembranças de seus erros, crimes ou pecados, diante os espíritos mais puros e mais benevolentes.

Este texto escrito pelo apóstolo João (3: 16-21) está de acordo com outros de sua autoria (como João 5: 22) e com textos do espiritismo, mostram que Deus não pune e praticamente indicam que não há um inferno, embora em algumas outras passagens da bíblia, possa ficar a impressão de que a punição venha de alguém que não seja o próprio egoísta/ pecador. Esta explicação de Jesus dada à Nicodemos, está concordante com o espiritismo: Na verdade, as almas dos egoístas punem a si mesmas ao verem a manifestação (chamada de luz, neste texto de João) de Cristo e de Deus. Isto ocorre por que esta luz é pureza benevolente e envolvente*, e a alma mesquinha envergonha-se diante dela se arrependendo tardiamente, quando já não podem fazer o bem nem reparar seus erros. Por esta razão, tais almas cheias de obras más, terão que reencarnar um dia para buscarem a Deus numa nova chance de fazerem obras boas e de viver a verdade, que é indissociável da lei de amor ensinada por Jesus.

*Eu poderia utilizar a palavra onipresente para descrever a luz como manifestação de Deus, mas utilizo o termo envolvente me referindo à luz também como possível manifestação ligada aos anjos das religiões cristãs, ou espíritos mais puros, do espiritismo; A filosofia espírita estipula que existem seres gradualmente mais puros, desde os parecidos com os habitantes da Terra até os mais próximos de Deus/ unidos a Deus (seria o caso de Cristo certamente). Esta graduação de seres entre a Terra e Deus, pouco difere da hierarquia de anjos ou seres celestiais do judaísmo místico e de algumas religiões cristãs. A diferença das descrições de tais seres entre espiritismo e religiões cristãs é um assunto de menor relevância: O espiritismo, de modo similar a algumas vertentes do hinduísmo, aceita que a evolução das almas possa ser gradual, o que possibilita tornar-nos "anjos" (espíritos bons, puros...) ao longo de existências/ reencarnações, o que as religiões cristãs negam: A igreja católica aceita a possibilidade de santificação da pessoa, embora fechada ao seu próprio círculo religioso (católico) e basicamente todas igrejas sejam protestantes ou católicas pregam a salvação eterna ou a punição/ danação eterna... Embora eu tratei este último assunto como de menor relevância, ele não deixa de tocar num ponto importante: A esperança! Jesus trouxe esperança ou condenação? Certamente quem interpreta que Jesus trouxe a condenação, não entendeu o básico de seus ensinamentos.

 

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Leitura Ecumênica de "Vendilhões expulsos"

Vendilhões expulsos/ Jesus purifica o templo e ensina 

Legendas (Mateus: Azul, Marcos: Verde, Lucas: Vermelho, João: Amarelo) 

"Estava próxima a páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. Entrou no templo de Deus, e achou os que vendiam bois, e ovelhas, e pombos, e os cambiadores assentados

E disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda. Jesus, tendo feito um azorrague de cordéis (chicote de cordas), lançou todos fora do templo, também os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambiadores, e derrubou as mesas; E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todas as nações; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões! (Isaías 56, 7) Por isto os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: "O zelo da tua casa me devorou".

Responderam, pois, os judeus, e disseram-lhe: Que sinal nos mostras para fazeres isto? 

Jesus respondeu, e disse-lhes: Derrubai este templo, e em três dias o levantarei. 

Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu o levantarás em três dias?  Mas ele falava do templo do seu corpo. 

Quando, pois, ressuscitou dentre os mortos, os seus discípulos lembraram-se de que lhes dissera isto; e creram na Escritura, e na palavra que Jesus tinha dito

E foram ter com ele no templo cegos e coxos, e (Jesus) curou-os. 

Vendo, então, os principais dos sacerdotes e os escribas as maravilhas que fazia, e os meninos clamando no templo: Hosana ao Filho de Davi, indignaram-se, e disseram-lhe: Ouves o que estes dizem? E Jesus lhes disse: Sim; nunca lestes: Pela boca dos meninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor? (salmos 8, 3) 

Os príncipes dos sacerdotes, porém, os escribas e os chefes do povo, procuravam tirar-lhe a vida. Mas temiam-no e não sabiam como realizá-lo, porque todo o povo admirava sua doutrina e ficava suspenso de admiração, quando o ouvia falar

E, estando ele (Jesus) em Jerusalém pela páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome. Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia e não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem. E, deixando-os, saiu da cidade para Betânia, e ali passou a noite."

Deus não vende a sua bênção, nem o seu perdão, nem a entrada no reino dos céus. Não tem, pois, o ser humano, o direito de lhes estipular preço - Assim diz o espiritismo, em acordo com a passagem dos "vendilhões expulsos", e, portanto, também em acordo com as (verdadeiras) religiões cristãs. Isto tem todo sentido, afinal vender mercadoria de qualquer tipo é uma atividade humana / terrestre que visa tirar proveito material (lucro) e é incompatível com um lugar (templo, igreja etc) de disseminação da solidariedade e de atividades voltadas ao espiritual, como as orações. 

O dinheiro (ou qualquer outra "unidade monetária") precifica bens e serviços terrestres, e isto, por mais que se argumente que seja uma "necessidade" humana, geralmente fomenta a comercialização: a troca e acúmulo de bens terrestres (palpáveis, mensuráveis sensorialmente). Assim, o comércio de mercadorias supostamente relacionadas com a religião é um charlatanismo, pois indica uma priorização de bens materiais, geralmente o dinheiro, ante a fé e a espiritualidade. O vendedor de "coisas sagradas", sejam vendedores de animais para sacrifício (típicos do século 1, época de Jesus), o vendedor de indulgências (as "passagens para o reino dos céus", inventadas no século 15) ou o vendedor de curas e promessas de recompensas (inventadas no século 20 e existentes até este início de século 21), são todos charlatães: Independentemente de seus argumentos, o objetivo deles é tirar proveito de seus alvos, consequentemente causando-lhes algum prejuízo. Por isso o comércio jamais deve penetrar ou interromper a prática cristã, seja a solidariedade ou as orações. Para não se perder de vista a lei divina de amor, o verdadeiro religioso ou espiritualista (seja cristão, hindu, espírita ou de qualquer fé) deve praticar o comércio com moderação sem priorizar tal atividade ante a religião/ espiritualidade. A moderação em todas atividades voltadas aos interesses individuais e comerciais é importante para evitar que o apego aos bens materiais sobreponha o progresso do conhecimento intelectual e do desenvolvimento empático / colaborativo (progresso do Bem). Não há verdadeira espiritualidade nem religiosidade sem este desenvolvimento.

Além disto, as pessoas sejam "fiéis" ou não, devem realizar tais atividades separadamente dos templos e locais sagrados por uma questão de respeito, ética e lógica pois Jesus também explica que o templo é uma casa de oração. Ou seja, um lugar onde se busca a Deus, seja nos conformes do judaísmo ou de qualquer religião (católica, protestante etc). O espiritismo dá uma ideia de quão importante é purificar a mente/ a alma na busca por Deus e por sua lei de amor, mostrando como deve ser a mentalidade dos participantes de uma reunião cristã (seja uma sessão, culto ou missa): 

Perfeita comunhão de intenções e de sentimentos (entre os indivíduos); 

Cordialidade (afeto, amizade) recíproca entre todos os membros; 

Ausência de todo sentimento contrário à verdadeira caridade cristã; 

Um único desejo: o de se instruírem e melhorarem (por meio dos conselhos e ensinos dos bons Espíritos). Quem sabe que os Espíritos superiores (praticamente equivalente aos anjos das religiões cristãs e aos santos do catolicismo etc) se manifestam para nos fazerem progredir, e não para nos divertirem, compreenderá que eles se afastam dos interesseiros e dos curiosos que nenhum proveito tiram daí; 

Exclusão de tudo o que, apenas exprima o desejo de satisfação da curiosidade durante comunicações e solicitações; 

Recolhimento (concentração) e silêncio respeitosos, durante as conversas com os Espíritos; União de todos os assistentes, pelo pensamento, ao apelo feito aos Espíritos que sejam evocados; Concurso dos médiuns da assembleia, com isenção de todo sentimento de orgulho, de amor-próprio e de supremacia e com o único desejo de serem úteis. 

De acordo com Platão, seu mestre, Sócrates, também criticava aqueles que assumiam posições relevantes na sociedade (sejam governantes, poetas ou religiosos) e buscavam cada vez mais bens materiais e prazeres corporais. Por esta razão, cidadãos influentes das cidades-estado gregas, como os sofistas, por exemplo, inventaram uma série de acusações para condenar o filósofo: Sócrates, em sua apologia (defesa no tribunal) afirma que iria até o fim da sua vida, exercendo a filosofia e pergunta se aqueles que militam em favor do dinheiro e da fama não sentem vergonha. Pois, por fazerem parte de uma cidade com a reputação de ser tão sábia e forte como Atenas, deveriam se preocupar com a reflexão, a verdade e a alma, para que se tornem sempre melhores. 

Sócrates foi condenado a tomar um veneno mortal (sicuta) e aceitou seu julgamento, não num ato de desistência ou de submissão ante seus acusadores, mas em um ato de respeito às leis, que deveriam servir para uma sociedade justa e que busque se tornar sempre melhor, ou seja, que busque o progresso.

 

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Leitura Ecumênica da Cura de um Leproso

Cura de um Leproso (Mateus, Marcos, Lucas) 

"Aproximou-se dele um leproso que, rogando-lhe, e pondo-se de joelhos diante dele, lhe dizia: Se queres, bem podes limpar-me. 

Jesus, movido de grande compaixão, estendeu a mão, e tocou-o, e disse-lhe: Quero, sê limpo. Tendo ele dito isto, logo a lepra desapareceu, e ficou limpo. 

E, advertindo-o severamente, logo o despediu dizendo-lhe: Olha, não digas nada a ninguém; porém vai, mostra-te ao sacerdote, e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho. 

Mas, tendo ele saído, começou a apregoar muitas coisas, e a divulgar o que acontecera; de sorte que Jesus já não podia entrar publicamente na cidade, mas conservava-se fora em lugares desertos; e de todas as partes iam ter com ele."

 Independentemente da história/ do passado do homem leproso, Jesus aceita e quer que ele seja curado. Faz isto espontaneamente, sem julgar e pede para que o homem não espalhe sobre como foi curado. Mesmo assim, este leproso curado, como outros personagens curados por Jesus, não segue sua recomendação e espalha a notícia. 

Referente ao pedido que Jesus faz ao curado, de ir ao templo fazer o que Moisés determinou, possivelmente tem relação ao fato de que os judeus ofereciam sacrifícios quando recebiam "milagres" como a cura de uma doença como a lepra. Estes sacrifícios geralmente eram a oferta de animais, em uma espécie de gratidão e humildade perante Deus. Porém Jesus também diz que esta cura deveria servir de testemunho, ou seja, uma prova de que Deus estava enviando sua nova mensagem/ palavra à humanidade: Os ensinamentos de Cristo, que são baseados no amor. 

Estas modificações, ou renovações, das práticas religiosas/ espirituais ocorreram e devem ocorrer de tempos em tempos na história da humanidade. Na "Grécia Clássica" por exemplo (4 séculos antes de Cristo), Sócrates revolucionava a espiritualidade em um momento onde a religião grega estava numa certa crise: Os filósofos naturalistas gregos (pré-socráticos) questionaram muitos dos mitos sobre os deuses e semi-deuses, oferecendo explicações naturalistas para diversos fenômenos entendidos como divinos até então. Apesar do potencial para extinguir superstições, o movimento dos "pré-socráticos" estava abrindo espaço para o sofismo alguns anos antes de Sócrates iniciar suas atividades. O sofismo era um movimento relativista que alegava a inexistência do bem e do mal, fomentando discursos manipuladores e a busca por ganhos materiais pessoais. Sócrates então, de certa forma oferece uma restauração da espiritualidade/ religiosidade em crise, e traz a importância da ética (e da virtude) nas relações e na prática da vida pública e em sociedade. Por esta razão Sócrates e seu pupilo Platão, agem principalmente entre as altas classes sociais, tentando propagar a ética e combater o egoísmo e a boataria.

As modificações trazidas por Jesus, por sua vez, indicam a importância dos bons sentimentos, além das virtudes: o amor, a piedade, o não-julgar etc.

Séculos mais tarde, Allan Kardec (e seus colegas médiuns, espíritos etc), indicou a importância da ética cristã e platônica junto à busca pelo entendimento do ser humano e da realidade. Kardec fez isto durante uma época onde de um lado tínhamos um materialismo niilista extremista, típico das elites intelectuais e econômicas e, do outro lado, uma série de fenômenos inexplicáveis até então, que atraíam muitos deslumbrados e místicos charlatães. Esta época foi o século 19 e os movimentos anti-espiritualistas, ou seja, o materialismo, o niilismo e suas vertentes como o biologismo, descambaram em movimentos cada vez mais insensíveis, elitistas e racistas, como o darwinismo social. O darwinismo social, por sua vez, foi uma série de argumentos biologistas de teor elitista e racista que incitou a invasão e partilha da África pelos poderosos da Europa por volta da última década do século 19; Além de fomentar uma altíssima desigualdade social no ocidente durante as três primeiras décadas do século 20; 

Movimentos biologistas como o Darwinismo Social eram naturalmente materialistas/ niilistas e contrários não só ao espiritismo, mas contrários a toda espiritualidade. A defesa do comportamento animal ("a sobrevivência do mais adaptado ou do mais forte") é uma incitação ao uso do poder bélico e do poder econômico para oprimir ou matar o próximo em defesa de interesses particulares e insensíveis. Tal individualismo é contrário à doutrina cristã ensinada por Jesus e contrária ao argumento de Sócrates e Platão que diziam que a lei natural é a mesma dos homens, no sentido que a natureza não aniquila a vida, assim como o homem não deveria destruir o seu semelhante (no diálogo Górgias). 

Por fim, pouco após o espiritismo, surge o movimento da Kriya Yoga na Índia, indicando a possibilidade e a importância da fraternidade entre todos seres humanos, todas as culturas e todas as religiões/ espiritualidades. Sri Yukteswar traça as convergências entre hinduísmo e cristianismo, enquanto seu pupilo, Paramahansa Yogananda, leva sua mensagem ecumênica ao ocidente entre a 2ª e a 4ª década do século 20.

Por coincidência ou não, em oposição a isto, influenciado pelo biologismo racista/ elitista, surge o nazismo na Alemanha que estava em crise econômica/ social. O nazismo, para quem não sabe, foi um movimento eugenista/ nacionalista que pregava a "superioridade da raça pura" germânica que ganhou força entre a terceira e a quarta década do século 20. Esta ideologia, aliada ao punitivismo nacionalista (o fascismo), desembocaram na 2ª guerra mundial.

A mensagem de Sócrates, de Platão, de Jesus, de Kardec, de Yukteswar e de Yogananda têm vários pontos em comum entre si, mas destacam a importância de uma coisa em comum: A esperança. Quando se nega a esperança, sobra alguma coisa? A história da humanidade mostra que não, pois a esperança não só faz parte do sentimento humano, como nos move para além de nós mesmos, podendo ser entendida como transcendente no sentido social e no sentido espiritual.


 

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Leitura Ecumênica da Pregação e milagres em Cafarnaum

Pregação e milagres em Cafarnaum (Marcos, Lucas) 

"Entraram em Cafarnaum e, logo no sábado, indo ele (Jesus) à sinagoga, ali ensinava. 

E maravilharam-se da sua doutrina, porque os ensinava como tendo autoridade, e não como os escribas. 

Estava na sinagoga deles um homem com um espírito imundo (impuro), o qual exclamou, dizendo: Ah! que temos contigo, Jesus Nazareno? Vieste destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus. 

E repreendeu-o Jesus, dizendo: Cala-te, e sai dele. 

Então o espírito imundo, convulsionando-o e clamando com grande voz, saiu dele. 

E todos se admiraram, a ponto de perguntarem entre si, dizendo: Que é isto? Que nova doutrina é esta? Pois com autoridade ordena aos espíritos imundos, e eles lhe obedecem! 

E logo correu a sua fama por toda a província da Galiléia."

A Cura da sogra de Pedro/ Pregação e milagres em Cafarnaum (Mateus, Marcos, Lucas) 

"Logo, saindo da sinagoga (de Cafarnaum), foram à casa de Simão e de André com Tiago e João. 

E a sogra de Simão estava deitada com febre; e logo lhe falaram dela. 

Então, chegando-se a ela, ordenou ele à febre, tomou-a pela mão, e levantou-a; e imediatamente a febre a deixou, e passou a servi-los. 

Tendo chegado a tarde, quando já se estava pondo o sol, trouxeram-lhe todos os que se achavam enfermos, e os endemoninhados. E toda a cidade se ajuntou à porta. 

Impondo-lhes a mão, curou muitos que se achavam enfermos de diversas enfermidades, e expulsou muitos demônios, porém não deixava falar os demônios, porque o conheciam. 

E, levantando-se de manhã, muito cedo, fazendo ainda escuro, saiu, e foi para um lugar deserto, e ali orava. 

Eis que seguiram-no Simão e os que com ele estavam e, achando-o, lhe disseram: Todos te buscam. E ele lhes disse: Vamos às aldeias vizinhas, para que eu ali também pregue; porque para isso vim. E pregava nas sinagogas deles, por toda a Galiléia, e expulsava os demônios."

Estas duas passagens estão juntas no texto de Marcos, certamente porque além de serem uma sequência cronológica, tratam praticamente de um mesmo assunto. 

Quando Jesus começou suas pregações e curas, ele falava com autoridade, isto é, tinha domínio sobre o que falava e demonstrava clareza. Isto aliado ao fato de realizar suas curas / milagres, demonstrava o quão próximo Jesus é de Deus. Por exemplo, para expulsar demônios (ou espíritos infelizes/ impuros de acordo com o espiritismo) Jesus não recorria a orações prontas nem a tipo algum de ritual: Ele lhes falava diretamente com firmeza. Esta certeza de que o bem existe e é superior a todas as coisas da Terra, é o seguimento da lei divina de amor e a fé em Deus, o criador onipresente em sua obra. Esta superioridade não é algo separado da vida terrestre: Não se trata de um tirano nem de uma entidade que despreza a Terra. É uma superioridade de amplitude e de profundidade de amor, pois Deus ama toda sua criação e ajudar o próximo e os necessitados é uma execução desta lei que é natural e sublime ao mesmo tempo. 

Também é importante notar que Jesus frequentemente se retirava em isolamento para orar. Isto indica uma busca por conexão com Deus. Um momento de paz e de proximidade com seu Pai, o piedoso Criador. A palavra Pai aqui é utilizada, não para insinuar que Deus é um homem, mas justamente para ressaltar a proximidade e o amor de Deus (poderia ser utilizada a palavra Mãe também). Afinal Deus é transcendente, tanto que cada religião e cada indivíduo, pode ter uma concepção diferente do Criador. Tentar descrever Deus é supérfluo, pois raramente é um assunto frutífero. O importante é amar toda a criação, se aproximando constantemente da lei de amar ao próximo como a si mesmo e de amar ao Todo, ou seja, amar a Deus.

 

Leitura ecumênica de "as boas obras", "a oração" e "o amigo insistente"

Aqui continuo com os ensinamentos de Jesus, conforme os textos atribuídos a Mateus e a Lucas:  Fazer as boas obras discretamente (Mateus, Lu...