Disposições para seguir Jesus (Mateus, Lucas)
"Jesus, vendo em torno de si uma grande multidão, ordenou que passassem para o outro lado;
Aproximando-se dele um escriba, disse-lhe: Mestre, aonde quer que fores, eu te seguirei.
E disse Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.
A outro disse: Segue-me. Mas ele (um de seus discípulos) lhe pediu: Senhor, permita-me que primeiramente vá sepultar meu pai.
Jesus, porém, disse-lhe: Segue-me, e deixa os mortos sepultar os seus mortos. Tu porém vai, vai e anuncia o reino de Deus.
Um outro ainda lhe falou: Senhor, te seguirei, mas permita antes que me despeça dos que estão em casa. Mas Jesus disse-lhe: Aquele que põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o reino dos céus."
Jesus parece severo com as pessoas que querem segui-lo, mas a verdade é que estar em dúvida não é querer fazer o bem, nem é crer em Deus. Jesus não critica o sepultamento ou a despedida de familiares em si: ele critica a indecisão, a atenção dividida, pois sua missão é um sentido de vida de dedicação ao bem e este bem exige humildade, autopercepção de seus próprios pensamentos/ sentimentos, paciência, devoção, força de vontade e piedade/ solidariedade! É importante vencer a dúvida, pois esta, de modo geral, se trata de uma opinião dividida, e pessoas com opinião dividida facilmente podem desistir de suas decisões, ou mesmo trair uma causa diante qualquer dificuldade. Para praticar os ensinamentos de Cristo é preciso estar decidido, ter disposição e coragem para enfrentar dificuldades e oposições.
Isto indica como a devoção a Deus e à sua lei de amor é mais importante do que qualquer tradição ou costume. Tradições e costumes não são proibidos para o cristianismo e para as religiões em geral, mas sem a devoção ao Bem ensinada por Cristo, por Platão, por Kardec e tantos outros espiritualistas, não se encontra “o reino dos céus”.
Além disso, Jesus indica que os apóstolos verdadeiros dificilmente poderiam permanecer muito presos a um sistema socioeconômico - um sistema que é mera criação humana, geralmente voltado a diferentes interesses de indivíduos e grupos. Priorizar um sistema de regras não espiritual, ou seja, priorizar um sistema que gera poder na Terra entre os seres humanos disputando entre si, obedecendo-o docilmente, implica em abandonar o cristianismo ao menos parcialmente. Por exemplo, se um sistema de regras e/ou de leis de uma sociedade incita ou exige as pessoas a trabalharem para produzir cada vez mais ou para gerar bens materiais excedentes (lucro) para seus empregadores, esta incitação ou exigência contraria a lei divina de amor e os ensinamentos de Cristo. Afinal a submissão ou a adaptação a tais sistemas, deixa pouco ou nenhum tempo livre para as pessoas praticarem a humildade, o perdão, a solidariedade e a busca por equidade. Dedicar a maior parte do tempo ao trabalho em uma empresa, a um negócio e/ ou a uma vida centrada no consumo de produtos, é se distanciar de uma vida espiritual e da prática cristã.
Esta certamente é uma questão difícil para muitas pessoas: Ela é individual pois requer disposição e coragem de cada pessoa, mas também toca a questão de convívio na Terra.
Sócrates e Platão interagiram com as elites gregas, mas empregaram praticamente todas suas respectivas forças em propagar a importância da amizade com o saber (Filosofia) e o despertar da noção do Bem/ da beleza (Kalos), aplicando-a às leis e à sociedade.
Após estudar os fenômenos das "mesas girantes" e das "sessões mediúnicas", Kardec devotou praticamente toda sua vida para escrever as obras de fundação do espiritismo, buscando uma aliança entre espiritualidade e ciência, através de uma filosofia descomplicada, aberta à todas classes sociais.
Lahiri Mahasaya ensinou como é a vida devocional mesclada à rotina típica das civilizações na Terra; Trabalhou humildemente e manteve-se com sua família, mas desapegado de bens e prazeres materiais, sempre priorizando períodos de tempo para louvar a Deus e meditar, chegando até mesmo a ensinar a Kriya Yoga para vários alunos;
Yukteswar e Yogananda devotaram suas vidas ao ensinar a meditação como parte importante da espiritualidade, além de buscarem divulgar a universalidade das religiões através da relação entre hinduísmo e cristianismo.
Não se trata de uma obrigação em viver conforme um nômade e sim de se devotar a Deus e ao bem na Terra, sem se apegar às coisas terrenas, ou aos assuntos de regras, normas e interesses humanos materiais individuais.