segunda-feira, 27 de maio de 2024

Leitura Interreligiosa de "Vocação de Mateus/ Junto com os Pecadores"

Legendas - Mateus: azul, Marcos: verde, Lucas: vermelho

E tornou a sair (para o mar, e toda a multidão ia ter com ele), e ele os ensinava

Passando, viu Levi (Mateus), filho de Alfeu, sentado na alfândega (recebedoria), e disse-lhe: Segue-me. E, levantando-se, deixando tudo, o seguiu. 

E fez-lhe Levi um grande banquete em sua casa; Aconteceu que, estando sentado à mesa em casa deste, também estavam sentados à mesa com Jesus e seus discípulos muitos publicanos e pecadores; porque eram muitos, e o tinham seguido. 

E os escribas e fariseus, vendo-o comer com os publicanos e pecadores, murmuraram e disseram reclamando aos seus discípulos: Por que come e bebe ele (seu mestre) com os publicanos e pecadores? 

Jesus, tendo ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes (enfermos); Ide, porém, e aprendei o que significa: Eu quero a misericórdia, e não sacrifício (Oséias 6 - 6). Eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento

Ora, os discípulos de João e os fariseus jejuavam; e foram e disseram-lhe: Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, e não jejuam os teus discípulos? 

E Jesus disse-lhes: Podem porventura os filhos das bodas jejuar enquanto o esposo está com eles? Enquanto têm consigo o esposo, não podem jejuar; Mas dias virão em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão naqueles dias. 

Ninguém costura remendo de pano novo em roupa velha; doutra sorte o mesmo remendo novo (não condiz com a velha e) rompe o velho, e a rotura (o furo, o rasgo) fica maior. 

E ninguém deita vinho novo em odres velhos; doutra sorte, o vinho novo rompe os odres e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; o vinho novo deve ser deitado em odres novos. 

E ninguém tendo bebido o velho quer logo o novo, porque diz: Melhor é o velho

Jesus continua ensinando que os seres humanos devem perdoar os pecados de todos, pois seus ensinamentos não são os mesmos dos judeus, ou seja, não são iguais ao velho testamento. Julgar os outros não é ensinamento de Jesus, portanto não é um ato cristão. Jesus não apoia o pecado, mas acolhe os pagãos, ateus e até os pecadores, pois dá chances aos que pecam, na esperança que estes aceitem e vivam seus ensinamentos sobre a lei divina de amor. 

Ao falar “Enquanto têm consigo o esposo, não podem jejuar; Mas dias virão em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão naqueles dias” Jesus está mostrando que aqueles que o seguem, ou seja, se interessam por seus ensinamentos e os pratica, não precisam de sacrifícios como o jejum: Tais sacrifícios, só servem se for um meio para a pessoa em particular evitar o pecado ou para desapegar-se de prazeres terrenos, vícios e coisas semelhantes a estas. Não deve ser um ato que se impõe aos outros, e sim, um ato de humildade voluntária e de busca de proximidade à Deus. 

Não se impõe punições espirituais e sacrifícios aos outros, pois isto deve vir da capacidade de cada indivíduo se avaliar. Impor ideias e comportamentos aos outros é tortura e opressão, não é ensinar nem tolerar, portanto é algo completamente diferente dos ensinamentos de Cristo. 

Suportar uma dificuldade em humildade é algo nobre, mas é bem diferente de rituais realizados como meras desculpas para evitar ser empático e solidário e também muito diferente de auto flagelação. Estes dois últimos comportamentos são meras mentiras diante a lei divina de amor. O que Jesus pede é para que as pessoas façam o bem, com alegria e confiança em Deus. Deus não pune, Ele ama: Quem põe o amor em prática ao ser solidário e tolerante, está em harmonia com Deus. 

As parábolas da roupa velha e do odre velho, possivelmente se referem que não se ensina sobre o amor e o bem para aqueles que, por alguma razão, não podem aprender. Seja porque já não querem aprender mais, porque acham que sabem demais, ou porque estão muito apegados a algo na Terra, como poder, luxo ou riquezas terrestres. Quando Deus nos chama/ quando nos aproximamos de Deus, não se desiste da aproximação. Deus é a realidade última, além do mundo sensorial/ “material” - é bom e eterno.

 

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Leitura Interreligiosa de "Jesus se Justifica" (João)

Esta passagem é praticamente toda do evangelho de João (o evangelista). A frase onde Jesus cita que Deus lhe deu a vida e o poder de exercer juízo pode ser similar a alguma outra que apareça nos evangelhos dos demais apóstolos.

"Mas Jesus respondeu, e disse-lhes: Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma, se o não vir fazer o Pai; porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente. Porque o Pai ama o Filho, e mostra-lhe tudo o que faz; e ele lhe mostrará maiores obras do que estas, para que vos maravilheis.

Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer. E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo; Para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou.

Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida.

Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão.

Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo; E deu-lhe o poder de exercer o juízo, porque é o Filho do homem.

Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação.

Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma. Como ouço, assim julgo; e o meu juízo é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou.

Se eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro.

Há outro que testifica de mim, e sei que o testemunho que ele dá de mim é verdadeiro.

Vós mandastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da verdade.

Eu, porém, não recebo testemunho de homem; mas digo isto, para que vos salveis.

Ele era a candeia (lâmpada) que ardia e alumiava, e vós quisestes alegrar-vos por um pouco de tempo com a sua luz. Mas eu tenho maior testemunho do que o de João; porque as obras que o Pai me deu para realizar, as mesmas obras que eu faço, testificam de mim, que o Pai me enviou. E o Pai, que me enviou, ele mesmo testificou de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz, nem vistes o seu parecer. E a sua palavra não permanece em vós, porque naquele que ele enviou, vós não credes.

Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam; E não quereis vir a mim para terdes vida.

Não recebo glória dos homens, mas bem sei que não tendes em vós o amor de Deus.

Eu vim em nome de meu Pai, e não me aceitais; se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis. Como podeis vós crer, recebendo honra uns dos outros, e não buscando a honra que vem só de Deus? Não cuideis que eu vos hei de acusar para com o Pai. Há um que vos acusa, Moisés, em quem vós esperais.

Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele.

Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?"

O apóstolo João mostra um diálogo após a "cura do paralítico", onde Jesus explica de maneira mais detalhada como Deus deu poder a ele. Jesus não busca satisfazer suas próprias vontades, ele veio fazer a vontade de seu Pai e isto é uma prova de humildade, amor e esperança em Deus e para toda a criação. Isto está de acordo com o texto hindu do Bhagavad Gita: “Nada do que faço sou eu quem faz! Assim pensará quem se atém à verdade das verdades” (...)

Além disto Jesus reforça que Deus não julga e diz que não acusará pessoa alguma diante Deus, pois ele veio salvar a humanidade, ensinando-a a lei de amor. As críticas que Jesus faz aos religiosos corruptos em outras passagens, são críticas voltadas a estes na Terra, não no pós vida. São críticas aos líderes que enganavam as pessoas buscando proveito próprio: difundiam rituais vazios, comercializavam a religiosidade, buscavam enriquecer materialmente e oprimir o povo - Isto completa o que ele explicou à Nicodemos de que o julgamento (a condenação) é a vinda da luz, afinal “todo aquele que faz o mal odeia a luz”, O praticante do mal não vai para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas, mas o bondoso e verdadeiro vai para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus. 

Jesus também indica que não adianta "crer em profetas anteriores à ele" e não ouvir sua palavra (citando João Batista como exemplo). Esta seletividade em escolher um "profeta" como exemplo ou como mestre e deixar os ensinamentos de Jesus em segundo plano, seria contradizer a Deus. Jesus também diz que não veio para ser glorificado entre os homens e que veio trazer os ensinamentos de Deus - já mencionados por Moisés cerca de 13 ou 14 séculos antes. Com a diferença que Jesus, em seu tempo, já fala claramente do amor de Deus e ensina sobre a importância deste amor.

O trecho “Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros (os que morreram, ou seja, os que deixaram a vida corpórea, restando-lhe somente a essência - o espírito) ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação.” parece se referir à reencarnação, pois não havia tal palavra entre os judeus durante o século 1. Então a palavra "ressurreição" era usada tanto para as ressurreições "milagrosas" onde a pessoa era trazida de volta à vida (Lázaro, o filho da viúva de Naim etc), quanto para os espíritos que iriam renascer, seja no Reino dos Céus/ junto a Deus ou para "pagar por seus pecados". Assim é possível entender que Jesus quis dizer: Os que fizeram o bem reencarnarão em um mundo superior/ rumarão à morada de Cristo e os que fizeram mal reencarnarão em um mundo inferior para se aperfeiçoarem pagando por suas dívidas diante a lei de amor/ redimindo-se de seus pecados, ou seja, buscando progresso moral. Isto aproxima o cristianismo do espiritismo, do hinduísmo e da filosofia fundada por Platão, ocasionalmente chamada de platonismo. Reencarnar para "pagar dívidas" devido aos seus erros não é punição, pois Deus não pune nem condena: é aprender a amar, perdoar, enfim aprender os ensinamentos de Jesus e dos demais profetas sobre a lei de amor.

Enfim, ao criticar os sacerdotes líderes cheios de poder na Terra e ao expor que os mortos ressuscitarão (possivelmente reencarnarão), Jesus traz uma mensagem de equidade e de esperança!

 

 

segunda-feira, 13 de maio de 2024

Leitura Interreligiosa da "Cura de um Paralítico"

Aqui apresento a passagem onde Jesus cura o paralítico, unificando a narrativa dos 4 apóstolos:

Legendas: (Mateus: azul, Marcos: verde, Lucas: vermelho, João: amarelo) 

"Entrando no barco, Jesus passou para o outro lado, e chegou à (Cafarnaum) sua cidade. Depois disto havia uma festa entre os judeus, e Jesus subiu a Jerusalém.

Ora, em Jerusalém há, próximo à porta das ovelhas, um tanque, chamado em hebreu Betesda (Beit Chesed, que significa casa da misericórdia), o qual tem cinco alpendres. Nestes jazia grande multidão de enfermos, cegos, mancos e paralíticos, esperando o movimento da água.

Porquanto um anjo descia em certo tempo ao tanque, e agitava a água; e o primeiro que ali descia, depois do movimento da água, sarava de qualquer enfermidade que tivesse

E souberam que ele estava na casa. Eis que reuniu-se uma tal multidão (vindos de todas localidades da Galiléia, da Judéia e de Jerusalém), que não podiam encontrar lugar nem mesmo junto à porta. Estava ali um homem que, havia trinta e oito anos, se achava enfermo. E Jesus, vendo este deitado, e sabendo que estava neste estado havia muito tempo, disse-lhe: Queres ficar são?

O enfermo respondeu-lhe: Senhor, não tenho homem algum que, quando a água é agitada, me ponha no tanque; mas, enquanto eu vou, desce outro antes de mim. Então lhe trouxeram o paralítico, deitado numa cama, carregado por 4 homens. E procuravam introduzi-lo na casa e colocá-lo diante dele, mas não achando por onde o pudessem levar, por causa da multidão, subiram ao telhado, e por entre as telhas o baixaram com a cama, até ao meio, diante de Jesus.

Jesus, vendo a fé deles, disse ao paralítico: Filho, tem bom ânimo, perdoados te são os teus pecados. E eis que alguns dos escribas (e fariseus) diziam entre si: Como pode este homem falar assim? Ele blasfema. Quem pode perdoar os pecados senão Deus?

Mas Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse: Por que pensais mal em vossos corações? Pois, qual é mais fácil? dizer: Perdoados te são os teus pecados; ou dizer: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais que o Filho do homem tem na terra autoridade para perdoar pecados (disse então ao paralítico): Levanta-te, toma a tua cama, e vai para tua casa.

Logo aquele homem ficou são; Levantando-se, foi para sua casa. e tomou o seu leito, e andava. A multidão, vendo isto, maravilhou-se, e glorificou a Deus, que dera tal poder aos homens. 

Aquele dia era sábado, então os judeus disseram àquele que tinha sido curado: É sábado, não te é lícito levar o leito.

Ele respondeu-lhes: Aquele que me curou, ele próprio disse: Toma o teu leito, e anda.

Perguntaram-lhe, pois: Quem é o homem que te disse: Toma o teu leito, e anda?

E o que fora curado não sabia quem era; porque Jesus se havia retirado, em razão de naquele lugar haver grande multidão.

Depois Jesus encontrou-o no templo, e disse-lhe: Eis que já estás são; não peques mais, para que não te suceda alguma coisa pior.

E aquele homem foi, e anunciou aos judeus que Jesus era o que o curara.

E por esta causa os judeus perseguiram a Jesus, e procuravam matá-lo, porque fazia estas coisas no sábado.

E Jesus lhes respondeu: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.

Por isso, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não só quebrantava (“violava”) o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus."

Embora o evangelho de João geralmente seja tratado como se não tivesse intersecção com os demais apóstolos, é possível que a passagem de João sobre a cura de um paralítico seja a mesma citada pelos outros 3 apóstolos. Pois apesar de algumas diferenças na história, João trata do mesmo assunto, mas de maneira um pouco diferente de Marcos, Mateus e Lucas. 

Ao curar o paralítico e ordenar que ele se levantasse e fosse para casa, Jesus não mostra apenas que Deus deu poder aos homens, ele dá uma lição de piedade e solidariedade: 

Os judeus acreditavam que os doentes e deficientes, como os paralíticos desta passagem, tinham tais problemas porque mereceram, pois teriam pecado de alguma maneira para que tivesse tal tipo de infortúnio. Independentemente dos motivos que levaram as pessoas para uma situação de dificuldade, de sofrimento ou de miséria, Jesus mostra que deve-se ajudar a todos. Assim, Cristo mostra a importância da solidariedade e da piedade.

O hinduísmo diz que pessoas reencarnam porque possuem um "karma" relacionado aos seus desejos terrenos ou problemas morais - o que não difere muito do platonismo nem do espiritismo. O espiritismo diz que muitas das pessoas que passam por situações de dificuldade, como a desse paralítico, pagam por pecados de outras existências/ encarnações. Mas nem por isso deve-se julgar ou ser insensível ao sofrimento destes “pecadores”, pois é ensinado que mesmo estes indivíduos que estão “pagando por seus pecados” devem receber ajuda sincera, de coração, com piedade e solidariedade. 

Isto faz sentido, afinal a pessoa sofredora, bem como a maioria das pessoas, praticamente não se lembra de suas vidas passadas! O espiritismo relaciona este esquecimento natural com o fato que as almas reencarnadas não precisam se lembrar de seus crimes/ pecados de vidas anteriores: ela está aqui para aprender a amar e para elevar sua moral. Certamente se a alma mantivesse seus desejos anteriores vívidos ou se ainda tivesse claramente as lembranças de seus erros, seria mais difícil para ela se desvencilhar de tais atos. Imaginemos dois exemplos: 

Uma alma foi um multimilionário na vida anterior e tinha todo tipo de regalias e prazeres. Vivia de modo narcisista, desprezando os mais necessitados e constantemente buscando mais dinheiro e mais luxo. Se ele mantém estas lembranças, não será mais difícil se livrar delas? Não será mais difícil ele entender que é uma psiquê (alma em essência) e que os bens materiais são temporários e não podem ser transportados à vida espiritual eterna? Não será mais difícil ele desapegar de tais coisas para ser menos egoísta e menos ganancioso?

Outra alma foi um indivíduo extremamente violento durante toda sua última vida encarnada; que sofreu violência desde sua infância e cresceu vingativo e acostumado a tal cenário sem perspectivas para entender ou usufruir de paz e de amor. Se essa alma reencarna neste estado, como ela vai se desvencilhar de suas perturbações? Como deixará de ser vingativo ou violento? 

Quando tais almas desencarnam elas sofrem porque não podem mais esconder os erros de si mesmas, nem dos espíritos mais justos e benevolentes do que elas mesmas. Por isso elas sofrem, em tal situação, mas a alma sendo imortal e Deus sendo piedoso (não julga, como mostrado no diálogo de Jesus com Nicodemos) - É preciso recomeçar.

"Pagar os pecados" nada mais é do que ter oportunidade para reaprender. Reaprender a importância da piedade, da humildade, da esperança, enfim do amor ensinado por Jesus. Reaprender a ideia (eidos) do Bem (kalos) ensinada no tema central (ética) da filosofia fundada por Platão. 

Deus, seja chamado de Nous (a mente divina), Alá, Jeová (Yhwh), Brahman ou qualquer outro nome, é piedoso e amoroso. Sua esperança é infinita e ele espera por todos seus filinhos - Ele nos deu livre arbítrio, mas espera reencontrar toda sua criação em seu "Reino dos Céus", "Plano Causal", "Hiper Ouranos" ou seja qual for o nome da União Suprema.

 

 

terça-feira, 7 de maio de 2024

Diálogo interreligioso sobre a Fé e Bondade de Jesus

As duas passagens seguidas mostram como a bondade de Jesus é vinculada a sua fé.

Tempestade Acalmada (Mateus, Marcos, Lucas) 

"A tarde daquele dia, entrando ele no barco, deixaram o povo (e) seus discípulos o seguiram; E eis que no mar se levantou uma tempestade, tão grande que o barco era coberto pelas ondas; ele (Jesus), porém, estava dormindo. 

E os seus discípulos, aproximando-se, o despertaram, dizendo: Senhor, salva-nos! Estamos perecendo! Não te importa que pereçamos? 

Jesus disse-lhes: Por que temeis, homens de pouca fé? Então, levantando-se, repreendeu os ventos e o mar dizendo: Silêncio! Cala-te!, e seguiu-se uma grande bonança. 

Ele disse-lhes: Como sois medrosos. Ainda não tendes fé? 

E aqueles homens se maravilharam, dizendo (cochichando): Que homem é este, que até os ventos e o mar lhe obedecem?"

Continuando a passagem anterior, o episódio da tempestade é uma provação da fé e da coragem daqueles que decidem seguir o ensinamento de Cristo. 

Jesus não temia nem mesmo a tempestade que ameaçava virar sua embarcação. Sua fé era inabalável, afinal ele veio cumprir a missão de propagar os ensinamentos de Deus. Embora certamente ninguém tenha alcançado uma fé equivalente a de Jesus, Ele mostrou a importância de se manter firme na fé, mesmo diante dos maiores perigos. Não se trata de ignorância ou de ação suicida, e sim, de crer firmemente em Deus e sua lei, mesmo diante das grandes dificuldades. Esta fé inclui uma certeza no que é certo/ no que é justo, mas mantendo humildade, pois justiça não inclui vingança nem “auto piedade”. Para uns pode parecer algo difícil, para outros, pode parecer relativo, isso porque tal certeza é um estado da consciência e/ ou um estado de mentalidade - é interior de cada ser. Ao mesmo tempo que é interior também é transcendente: relaciona-se ao respeito e amor por todos os seres / por Deus: o amor ensinado por Cristo. 

Expulsão dos Demônios/ O possesso e os porcos (Mateus, Marcos, Lucas) 

"E, tendo chegado ao outro lado, à província dos gergesenos (ou gadarenos, ambos povos do leste), saíram-lhe ao encontro dois endemoniados, vindos dos sepulcros (cemitério); eram tão ferozes que ninguém podia passar por aquele caminho. O qual não se vestia há tempos e tinha a sua morada nos sepulcros, e nem ainda com cadeias o podia alguém prender; Porque, tendo sido muitas vezes preso com grilhões e cadeias, as cadeias foram por ele feitas em pedaços, e os grilhões em migalhas, e ninguém o podia amansar. E andava sempre, de dia e de noite, clamando pelos montes, e pelos sepulcros, e ferindo-se com pedras. 

E, vendo Jesus ao longe, correu (correram) e eis que clamaram, dizendo: Que temos nós contigo, Jesus, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo? 

(Porque Jesus lhe dizia: Sai deste homem, espírito imundo.) 

E (Jesus) perguntou-lhe: Qual é o teu nome? 

E lhe respondeu, dizendo: Legião é o meu nome, porque somos muitos. 

Andava pastando distante deles uma manada de muitos porcos. E os demônios rogaram-lhe, dizendo: Se nos expulsas, permite-nos que entremos naquela manada de porcos. 

Jesus respondeu-lhes: Ide, permitindo-os que saíssem para aqueles porcos. Então, saindo eles, se introduziram na manada dos porcos; e eis que toda aquela manada de (uns dois mil) porcos se precipitou no mar por um despenhadeiro, e morreram nas águas. 

Os porqueiros (pastores de porcos) que aquilo tinham visto, fugiram e, chegando à cidade, divulgaram tudo o que acontecera aos endemoniados e acerca dos porcos. 

Eis que toda aquela cidade foi ter com Jesus, e viram o endemoniado, o que tivera a legião, assentado, vestido e em perfeito juízo, e temeram. 

Então começaram a rogar-lhe que saísse dos seus termos. 

E, entrando Jesus no barco, o que esteve endemoniado rogava-lhe (pedia-lhe) que o deixasse estar com ele. 

Jesus, porém, não lho permitiu, mas disse-lhe: Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes quão grandes coisas o Senhor te fez, e como teve misericórdia de ti. 

E ele foi, e começou a anunciar em Decápolis quão grandes coisas Jesus lhe fizera; e todos se maravilharam."

 

A fé de Jesus é vinculada à bondade/ ao bem porque não há fé verdadeira sem benevolência. Jesus entende que pensar e praticar o bem possibilita resolver todos os problemas da humanidade, portanto ele faz o bem porque acredita nisto e entende isto. Se todos fizessem o bem, o mal acabaria - usar a maldade/ ignorância do outro como desculpa para não fazer o bem é facilitar a propagação do mal e contradizer a Deus. 

Deus é bom e o ser humano tem o livre arbítrio para ser bom: para praticar a lei de amor benevolente com todos. Muitos fazem mal uso de seu livre arbítrio, mas não devemos tomar estes por exemplo, isto seria "nivelar por baixo" e seria abandonar a esperança, desistir da vida. A bondade/ benevolência é uma dimensão humana e espiritual, afinal o ser humano não é só corpo, é principalmente mente, psiquê, alma/ espírito.

Esta é uma das passagens que mostra a ação de espíritos sobre a Terra e os poderes da fé e da bondade ensinadas por Cristo. Espíritos são um assunto abordado em muitas religiões: umbanda, candomblé, hinduísmo (asuras e devas...), em variadas religiões ameríndias etc.

O termo "emdemoniado" utilizado no texto, geralmente entendido como "possesso" no catolicismo, é o que o espiritismo, a umbanda e o candomblé chamam de obsediado.

Independentemente se eram um ou dois indivíduos que habitavam o cemitério, as narrativas contam que eram uma legião de espíritos imundos que assombravam os homens naquela região ao leste da Judéia. Aquela certamente era uma região de uma sociedade diferente da judaica, pois criavam porcos, coisa que os judeus não faziam, pois consideravam estes animais impuros. (a menos que os porcos sejam um tipo de alegoria/ uma linguagem simbólica, o que não é comum nos textos de Marcos, Lucas e Mateus: as alegorias geralmente aparecem contadas por Jesus e não no texto em si) 

O espiritismo explica que "demônios" nada mais são do que espíritos infelizes (atormentados, tomados por egoísmo etc) e isto está em acordo com que Jesus diz nesta passagem: Ele chega ordenando para que o espírito (imundo) deixe o homem. Porém o espiritismo tem um olhar crítico sobre a parte de mandar esses espíritos aos porcos: Considera pouco provável uma grande quantidade de porcos naquela época e região, além de considerar uma exceção às regras da natureza (também criadas por Deus) permitir que supostos espíritos humanos (ou próximos de humanos) tomassem corpos de seres vivos tão diferentes como os porcos. 

Nota-se que Jesus quebrou uma cadeia de relações nocivas naquela região: Com sua fé que é verdadeira, e portanto bondosa, ele expulsou a legião de espíritos, libertando o(s) possesso(s) e incomodando a população local, que talvez tivessem ganhos (econômicos ou qualquer outro) com a criação de porcos. Esta população de estrangeiros inicialmente se mostra insensível com o(s) liberto(s) da possessão e pede para que Jesus fosse embora de suas terras. Possivelmente esta sociedade valorizava mais os animais do que a vida humana e do que a segurança, pois Jesus prestou-lhes um favor ao tornar o cemitério um lugar mais seguro e menos violento. Jesus então pede para que o(s) ex "endemoniado(s)" espalhe(m) para o povo local, como ele foi liberto e como Deus é misericordioso.

 

Leitura ecumênica de "as boas obras", "a oração" e "o amigo insistente"

Aqui continuo com os ensinamentos de Jesus, conforme os textos atribuídos a Mateus e a Lucas:  Fazer as boas obras discretamente (Mateus, Lu...