quarta-feira, 30 de abril de 2025

O arrependimento... E Espiritualidade como Sentido de Vida

Este texto não é precisamente uma leitura dos evangelhos e tem um teor mais pessoal, mas ainda assim toca alguns temas espirituais que aparecem na cristandade: o arrependimento por exemplo.

Certamente Deus nos fez para evoluir e não para agirmos por meros instintos de reprodução/ de alimentação. Não para agirmos pelo mero prazer sensorial, mas para amarmos e pensarmos, para entendermos e sermos sábios, o que aponta para ética. Isso é ter esperança... 
Vejamos a vida e seu fluxo por exemplo: da matéria inorgânica (e de uma série de processos que desconheço) deve ter surgido a vida mais rústica/ unicelular. Daí surge a reprodução e depois a vida pluricelular, sejam algas, fungos e/ ou plantas. Surge a vida animal, como invertebrados, peixes, anfíbios, répteis, aves... e os mamíferos... que vão se tornando bípedes até o surgimento dos hominídeos e sua respectiva complexidade psíquica. 
A vida não deve parar no animalesco que vivia só pela reprodução/ alimentação, pois vida não é a lei do mais forte individualista e segregador. Não é o exagero e o desequilíbrio, onde a vida destrói a vida porque uns poucos querem acumular enormes quantidades de bens materiais ou de prazeres ilimitados, enquanto outros ficam na miséria. Os animais caçam uns aos outros porque sua limitação é sobreviver com base nas necessidades de seus corpos - o ser humano evoluiu de forma bem diferente, pois não é um quadrúpede com presas ou garras. Não tem a maxila tão especializada para morder e mastigar como um leão, um crocodilo ou um cão. Não tem a massa corpórea de um elefante, de um urso nem de um cavalo, pois não vive para priorizar meramente sua própria alimentação nem sommente para fortalecer seu próprio corpo. A existência do ser humano é um indício de que a lei natural, ou a vida em si, existe para algo mais complexo. Existem indícios de que a lei natural é da empatia e da inteligência que age em grupo para além da vida individualista. O intelecto e o sentimento humano abrem novas possibilidades: A lei então é mais do que coletiva - é expansiva, portanto universal. E cada ser deve ser assim, evoluir assim, por mais que existam diferenças que tornem as relações da vida complexas... A lei sendo da empatia, é a lei do psiquismo: o humano deve usar sua capacidade psíquica nesse sentido. De ética: esperança universal; 
Porém eu contrariei isso em um ou mais momentos de minha vida. Porquê? 
Se as formas de vida mais simples que o ser humano não contrariam as leis naturais, então essa contradição é uma monstruosidade.... E essa monstruosidade chegou ao ponto de me causar uma dor profunda... na alma. 
Aí entra o arrependimento... eu estranhei essa palavra por anos. Via na Bíblia e de alguma forma evitava pensar muito sobre o tema. Me acovardava? A palavra arrependimento soava pesada? 
Porquê? Eu achava que era só parar de fazer algo errado para fazer algo certo, ou fazer algo moralmente/ eticamente melhor. De fato, parar de fazer o mal e fazer o bem é bom, mas por anos tive dificuldade em ser sincero na postura benigna. Fiz caridade... ajudei pessoas... mas a mentalidade era muito lenta para abandonar algumas malícias e preconceitos. Fui vencendo alguns preconceitos, porém o processo pareceu não só gradual, mas também sutil... exceto em certos pontos: um dia me lembrei de um conselho ignorante e materialista que dei à minha mãe. Ignorei a necessidade de uma pessoa e a julguei oportunista... Percebi o erro após a morte de mamãe. A pessoa não era o que julguei. 
Arrependido, chorei amargamente. 
Meses se passaram e outra questão me incomodava: qual era a linha que cruzamos ao sermos sexistas? Sexismo é objetificação da vida. Quando objetificamos alguém? Eu tinha cruzado essa linha e tentei me comparar com o que parecia aceito socialmente. 
Não me serviu. Esse parâmetro é hedonista e aceita objetificar (alg)uma(s) pessoa(s) eventualmente: põe o prazer sensorial em 1⁰ plano mesmo que só por instantes, rebaixando o sentimento, o sentido e a alma. Eu já tinha percebido isso em um relacionamento que tive no ano de 2017, mas menti a mim mesmo por muito tempo. Hoje chorei amargamente essas minhas atitudes hedonistas. Eu não preciso cruzar essa linha. 
O arrependimento é uma mudança psíquica e não é gradual... é mais brusco e por isso dói. E isso me dava medo... mas ele cura... a alma. Parece a retirada de algo preso na psiquê. A retirada de algo que nos incapacitava mas parecia confortável. Mas o conforto era um tipo de ilusão que me causava contradição sem que eu entendesse claramente. Se eu deixasse essa contradição em minha psiquê até o fim desta vida, eu teria passado por uma existência sem sentido e sem espiritualidade real. Esse era o abismo que (o espírito de) Abraão diz que existe para o (espírito do) rico que desprezou o leproso no texto de Mateus? Parece que sim.

 

domingo, 27 de abril de 2025

Leitura sobre Jerusalém, os religiosos e sobre a espiritualidade

Entrada de Jesus em Jerusalém (Mateus, Marcos, Lucas, João
No dia seguinte, logo que se aproximaram de Jerusalém, de Betfagé e de Betânia, junto do Monte das Oliveiras, enviou dois dos seus discípulos, E disse-lhes: Ide à aldeia que está defronte de vós; e, logo que ali entrardes, encontrareis preso um jumentinho, sobre o qual ainda não montou homem algum; soltai-o, e trazei-mo. E, se alguém vos disser: Por que fazeis isso? dizei-lhe que o Senhor precisa dele, e logo o deixará trazer para aqui. 
Então foram, e encontraram o jumentinho preso fora da porta, entre dois caminhos, e o soltaram. E alguns dos que ali estavam lhes disseram: Que fazeis, soltando o jumentinho? 
 Eles, porém, disseram-lhes como Jesus lhes tinha mandado; e deixaram-nos ir. 
E levaram o jumentinho a Jesus, e lançaram sobre ele as suas vestes. E achou Jesus um jumentinho, e assentou-se sobre ele, como está escrito: Não temas, ó filha de Sião; eis que o teu Rei vem assentado sobre o filho de uma jumenta. 
Os seus discípulos, porém, não entenderam isto no princípio; mas, quando Jesus foi glorificado, então se lembraram de que isto estava escrito dele, e que isto lhe fizeram. 
E ouvindo uma grande multidão, que viera à festa, que Jesus vinha a Jerusalém, muitos estendiam as suas vestes pelo caminho, e outros cortavam ramos das árvores (ramos de palmeiras), e os espalhavam pelo caminho. Aqueles que iam adiante, e os que seguiam, clamavam, dizendo: Hosana, bendito o que vem em nome do Senhor; Bendito o reino do nosso pai Davi, que vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas. 
A multidão, pois, que estava com ele quando Lázaro foi chamado da sepultura, testificava que ele o ressuscitara dentre os mortos. Por isso a multidão lhe saiu ao encontro, porque tinham ouvido que ele fizera este sinal. 
Neste momento alguns fariseus interpelaram a Jesus no meio da multidão: Mestre, repreende os teus discípulos.
Jesus respondeu: Digo-vos: se estes se calarem, as pedras clamarão!
Disseram, pois, os fariseus entre si: Vedes que nada aproveitais? Eis que toda a gente vai após ele. 
Aproximando-se ainda mais, Jesus contemplou Jerusalém e chorou sobre ela, dizendo: Oh! Se também tu ao menos neste dia que te é dado, conhecesse o que te pode trazer a paz! ... Mas não, isso está oculto aos teus olhos; Virão sobre ti dias em que teus inimigos te cercarão de trincheiras, te sitiarão e te apertarão de todos os lados; irão destruir a ti e a teus filhos, não deixando pedra sobre pedra, porque não conheceste o tempo que foste visitada.
Ora, havia alguns gregos, entre os que tinham subido a adorar no dia da festa. Estes, pois, dirigiram-se a Filipe, que era de Betsaida da Galiléia, e rogaram-lhe, dizendo: Senhor, queríamos ver a Jesus. 
Filipe foi dizê-lo a André, e então André e Filipe o disseram a Jesus. 
E Jesus lhes respondeu, dizendo: É chegada a hora em que o Filho do homem há de ser glorificado. Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto. 
Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna. Se alguém me serve, siga-me, e onde eu estiver, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, meu Pai o honrará. 
Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora; mas para isto vim a esta hora. Pai, glorifica o teu nome. 
 Então veio uma voz do céu que dizia: Já o tenho glorificado, e outra vez o glorificarei. 
 Ora, a multidão que ali estava, e que a ouvira, dizia que havia sido um trovão. Outros diziam: Um anjo lhe falou. 
Respondeu Jesus, e disse: Não veio esta voz por amor de mim, mas por amor de vós. Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo. E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. 
E dizia isto, significando de que morte havia de morrer. 
Respondeu-lhe a multidão: Nós temos ouvido da lei, que o Cristo permanece para sempre; e como dizes tu que convém que o Filho do homem seja levantado? Quem é esse Filho do homem? 
Disse-lhes, pois, Jesus: A luz ainda está convosco por um pouco de tempo. Andai enquanto tendes luz, para que as trevas não vos apanhem; pois quem anda nas trevas não sabe para onde vai. Enquanto tendes luz, crede na luz, para que sejais filhos da luz. Estas coisas disse Jesus e, retirando-se, escondeu-se deles. 
E, ainda que tinha feito tantos sinais diante deles, não criam nele; Para que se cumprisse a palavra do profeta Isaías, que diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor? Por isso não podiam crer, então Isaías disse outra vez: Cegou-lhes os olhos, e endureceu-lhes o coração, A fim de que não vejam com os olhos, e compreendam no coração, E se convertam, E eu os cure. Isaías disse isto quando viu a sua glória e falou dele. 
 Apesar de tudo, até muitos dos principais creram nele; mas não o confessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos da sinagoga. Porque amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus. 
E Jesus clamou, e disse: Quem crê em mim, crê, não em mim, mas naquele que me enviou. E quem me vê a mim, vê aquele que me enviou. 
Eu sou a luz que vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas. E se alguém ouvir as minhas palavras, e não crer, eu não o julgo; porque eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo. 
Quem me rejeitar a mim, e não receber as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia. Porque eu não tenho falado de mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar. 
E sei que o seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu falo, falo-o como o Pai mo tem dito. 

 Pode parecer paradoxal afirmar que se ganha vida só quem a perde pelos ensinamentos de Cristo, mas isto é assim porque Jesus também falava de uma existência após a vida material, ou seja, após a vida encarnada. O permanecer para sempre pode se referir ao “pós vida”, seja o reino dos céus (certamente de acordo com as religiões cristãs católicas e protestantes) ou uma outra encarnação (conforme possibilidade levantada pelo espiritismo e por religiões reencarnacionistas). Em todo caso, mesmo na vida material, quem mais pratica os ensinamentos de Cristo, menos tempo tem para perder com futilidades e mesquinharias, assim pode-se dizer que menos vive para si mesmo e mais para os outros, para os mais necessitados. 
A Kriya Yoga indica que Jesus não usou mera linguagem figurativa ao falar que até as pedras clamarão caso seus discípulos fossem silenciados: Ele fala de uma justiça divina onde aqueles que tentam silenciar os justos e benevolentes (os que seguem seus ensinamentos), sofrerão as consequências de seus atos mesquinhos e/ ou injustos. A voz dos pacíficos não pode ser definitivamente calada, pois é a vontade de Deus: se uns forem calados, outros virão e pregarão os ensinamentos de Jesus sobre amor e paz.
Também é importante notar que Jesus mais uma vez diz que não julga! Isto está de acordo com sua explicação dada à Nicodemos como registrada pelo apóstolo João, e também está de acordo com o espiritismo que explica que o espírito pecador sofre de suas próprias culpas, afinal, Deus e os bons espíritos não condenam: eles olham para os pecadores como se estes fossem crianças que cometem erros, ou como almas em perturbação/ que se perderam da verdade. Eles aguardam que o pecador aprenda e para aprender, este geralmente sofre por períodos indeterminados no mundo espiritual para “um dia” reencarnar em algum mundo e recomeçar. Esta explicação espírita pouco difere dos conceitos de karma e ciclo de reencarnações do hinduísmo. Tais explicações não excluem a necessidade do perdão e da solidariedade na espiritualidade, como algumas pessoas pensam: Dharma é a espiritualidade em si, tanto é que aparece no nome original do "hinduísmo": Sanatana Dharma; O karma que geralmente é tido como a "lei de atração" aqui no ocidente, se refere de fato às coisas mais cíclicas da vida e da morte, tais como algumas "características da alma" ou do indivíduo e suas típicas ações e reações. Porém o verdadeiro espiritualista "hindu", seja um iogue ou swami, prioriza o estado de união com Brahman (Deus) e isso implica em quebrar o ciclo monótono e/ ou angustiante de reencarnações (samsara). Só se quebra tal ciclo quando se "aprende" a viver com humildade espontânea, serenidade, paciência, piedade e as demais "virtudes" ou "excelências" conhecidas no ocidente seja por filósofos como Platão ou por Jesus, seus apóstolos, os profetas, os santos etc.

 Acusações contra os escribas e fariseus (Mateus, Marcos, Lucas
 Então falou Jesus à multidão, e aos seus discípulos: Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem; 
 Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com seu dedo querem movê-los; 
 E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, alargam as franjas das suas vestes, e amam os primeiros lugares nas ceias, as primeiras cadeiras nas sinagogas, as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens: Rabi, Rabi. 
 Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. 
 Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo. O maior dentre vós será vosso servo. E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado. 
 Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando. 
 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que devorais as casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações; por isso sofrereis mais rigoroso juízo. 
 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós. 
 Ai de vós, condutores cegos! pois que dizeis: Qualquer que jurar pelo templo, isso nada é; mas o que jurar pelo ouro do templo, esse é devedor. 
 Insensatos e cegos! Pois qual é maior: o ouro, ou o templo, que santifica o ouro? 
 E aquele que jurar pelo altar isso nada é; mas aquele que jurar pela oferta que está sobre o altar, esse é devedor. 
 Insensatos e cegos! Pois qual é maior: a oferta, ou o altar, que santifica a oferta? 
 Portanto, o que jurar pelo altar, jura por ele e por tudo o que sobre ele está; 
 E, o que jurar pelo templo, jura por ele e por aquele que nele habita; 
 E, o que jurar pelo céu, jura pelo trono de Deus e por aquele que está assentado nele. 
 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas. 
 Condutores cegos! que coais um mosquito e engulis um camelo. 
 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de intemperança. 
 Fariseu cego! limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que também o exterior fique limpo. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia. 
 Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade. 
 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que edificais os sepulcros dos profetas e adornais os monumentos dos justos, E dizeis: Se existíssemos no tempo de nossos pais, nunca nos associaríamos com eles para derramar o sangue dos profetas. Assim, vós mesmos testificais que sois filhos dos que mataram os profetas. 
 Enchei vós, pois, a medida de vossos pais. Serpentes, raça de víboras! como escapareis da condenação do inferno? 
 Portanto, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas; a uns deles matareis e crucificareis; e a outros deles açoitareis nas vossas sinagogas e os perseguireis de cidade em cidade; 
 Para que sobre vós caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que matastes entre o santuário e o altar. Em verdade vos digo que todas estas coisas hão de vir sobre esta geração. 
 Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e tu não quiseste! 
 Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta; 
 Porque eu vos digo que desde agora não me vereis mais, até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor. 

 Jesus começa falando que as seitas dos fariseus e dos escribas ocuparam o lugar de Moisés, um dos principais patriarcas do monoteísmo/ do judaísmo, que teria vivido na Terra cerca de 13 ou 15 séculos antes de Cristo. Isto constitui um longo período, no qual o judaísmo foi sobrevivendo no oriente médio em meio aos ataques de nações vizinhas, assim certamente, aos poucos, houve uma consolidação do poder das seitas judaicas na região. Mas com esta consolidação vieram os interesseiros que foram desvirtuando as orientações e leis religiosas a favor de si mesmos e acabaram por formar algumas seitas. Jesus então aponta todas as falácias, as mentiras e maldades de duas seitas em particular: os fariseus e os escribas. Títulos, vestimentas e rituais passaram a ser utilizados em abundância pelos sacerdotes corruptos que abandonaram os principais ensinamentos de profetas como Moisés, que priorizavam a justiça, humildade e respeito mútuo. O judaísmo na época de Jesus estava predominantemente tomado por gananciosos e falastrões que mandavam os outros praticarem as leis propagadas por Moisés e não as seguiam. Isto é negar a Deus e sua lei divina, a qual Jesus a clareou, mostrando a importância do amor. 

 Predição da ruína de Jerusalém (Mateus, Marcos, Lucas
 Quando Jesus ia saindo do templo, aproximaram-se dele os seus discípulos para lhe mostrarem a estrutura do templo. E disse-lhe: Mestre, olha que pedras e que construção! 
 Jesus, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada. 
 E, estando assentado no Monte das Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos (Pedro, Tiago, João e André) em particular, dizendo: Dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo? 
 Jesus, respondendo, disse-lhes: Acautelai-vos, que ninguém vos engane; Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos. 
 E ouvireis de guerras e de rumores de guerras; olhai, não vos assusteis, porque é mister (necessário) que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares. Mas todas estas coisas são o princípio de dores. 
 Então vos hão de entregar (aos tribunais) para serdes atormentados (castigados) e matarão muitos de vós; Sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome. Nesse tempo muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se odiarào. E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará. Mas aquele que perseverar até ao fim, esse será salvo. E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim. Quando, pois, virdes que a abominação da desolação no lugar onde não deve estar, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo; quem lê, entenda
 Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; Quem estiver sobre o telhado não desça a tirar alguma coisa de sua casa; E quem estiver no campo não volte atrás a buscar as suas vestes. Mas ai das grávidas e das que amamentarem naqueles dias! 
 E orai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem no sábado; Porque haverá então grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem tampouco há de haver. E, se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias. 
 Então, se alguém vos disser: Eis que o Cristo está aqui, ou ali, não lhe deis crédito; Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e enganarão a muitos. farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos. 
 Eis que eu tenho predito a vós. Portanto, se vos disserem: Eis que ele está no deserto, não saiais. Eis que ele está no interior da casa; não acrediteis. Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até ao ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem. Pois onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias (abutres) 

 Esta passagem não é uma predição ou profecia apenas sobre Jerusalém - ela trata do futuro da religião, mais precisamente do cristianismo e também do mundo. Jesus diz sobre o aumento da iniquidade, ou seja, de um mundo que terá cada vez menos equidade e como nesta época as pessoas estarão menos amorosas e mais insensíveis. O esfriamento do amor é também perda de piedade, esperança, paciência e responsabilidade principalmente pelos mais necessitados e/ ou vulneráveis.
Jesus também fala de guerras, de falsos templos cristãos e líderes religiosos que impressionam e enganam multidões. 
Jesus, seja filho de Deus, espírito mais elevado, ou uno com Deus; de acordo com sua fala, certamente sabia que seus seguidores - os cristãos, se dividiriam em muitas denominações (as igrejas católicas romana e ortodoxa, as igrejas protestantes, calvinistas, presbiterianas, pentecostais etc) e que guerras seriam declaradas falsamente em nome de Deus (as cruzadas, as inquisições e as guerras religiosas da Renascença são exemplos dessa desvirtuação). 
 Estas 3 passagens acabam indicando que o verdadeiro templo / a verdadeira igreja é a alma de cada ser humano e que a "Jerusalém" que importa não é um local nem uma nação deste mundo, mas é o "Reino dos Céus" - alcançado pela prática sincera do bem, da piedade, enfim dos ensinamentos de amor propagado por Jesus e por seus apóstolos.

 Vinda inesperada do Filho de Deus (Tomé, Mateus, Marcos, Lucas
  Jesus disse (continuando): E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas. 
 Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. 
 E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus. 
 Aprendei, pois, esta parábola da figueira: Quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão. 
 Igualmente, quando virdes todas estas coisas, sabei que ele está próximo, às portas. 
 Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar. Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, mas unicamente meu Pai. E, como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem. 
 Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, E não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do homem. 
 Então, estando dois no campo, será levado um, e deixado o outro; 
 Estando duas moendo no moinho, será levada uma e deixada outra. 
"Dois descansarão em uma cama: um morrerá, e outro viverá.
" Salomé disse-lhe: "Quem és tu, homem, que tu, como vindo do Uno, subiste ao meu leito e comeste da minha mesa?" 
 Jesus disse a ela: "Eu sou Aquele que existe do Indiviso. Algumas das coisas de meu Pai me foram dadas." 
 Salomé disse: "Eu sou seu discípulo." 
Jesus disse a ela, "Por isso eu digo, se ele for , ele será cheio de luz, mas se ele estiver dividido, ele será cheio de trevas." 
 Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor. 
 Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria minar a sua casa. 
 Por isso, estai vós apercebidos também; porque o Filho do homem há de vir à hora em que não penseis. 

 Aqui Jesus também fala de um futuro aparentemente sombrio, mas revelador e recomenda que seus seguidores estejam alertas ao seguir e praticar os ensinamentos cristãos. Esta recomendação pode ter sido feita apenas para que seus apóstolos alertassem gerações futuras, mas possivelmente também leva em conta a possibilidade da reencarnação, já que nenhum de seus apóstolos viveu na Terra por mais de 2000 anos para esperar tais eventos das profecias de Jesus. 
 Obviamente ao falar da vinda inesperada do filho de Deus, Jesus traz também o ensinamento mostrados em outros de seus diálogos e parábolas: Não devemos nos entregar à ignorância, aos vícios, aos desejos egoístas nem às contendas - devemos nos manter alertas e pacientes na humildade, na misericórdia e na esperança. Ao viver as práticas e a mentalidade ensinadas por Jesus Cristo, devemos nos manter neste sentido, sem nos contradizer, ou seja, devemos nos manter indivisos. Aquele que contradiz isto, está dividido… 

 Exortação à vigilância (Mateus, Lucas) 
 Quem é, pois, o servo fiel e prudente, que o seu senhor constituiu sobre a sua casa, para dar o sustento a seu tempo? 
 Bem-aventurado aquele servo que o seu senhor, quando vier, achar servindo assim. Em verdade vos digo que o porá sobre todos os seus bens. 
 Mas se aquele mau servo disser no seu coração: O meu senhor tarde virá; E começar a espancar os seus conservos, e a comer e a beber com os ébrios, Virá o senhor daquele servo num dia em que o não espera, e à hora em que ele não sabe, E separá-lo-á, e destinará a sua parte com os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes. 

 A continuação da recomendação para que seus seguidores fiquem alertas, também traz a indicação para que não caiam em pecado, ou seja, vigiem a si mesmos. Estes pecados são a violência, a ganância, a inveja, os prazeres sensoriais excessivos que podem levar ao vício, etc. Certamente o melhor meio de não cair nesses pecados, é praticar os ensinamentos de Cristo: Ser humilde, piedoso, solidário, cuidar dos vulneráveis de coração. Jesus menciona novamente os "atos e pensamentos" de coração, ou seja, o que a pessoa realmente valoriza. Não adianta ser bom só nas aparências, cada pessoa deve buscar se corrigir internamente (subjetivamente, psiquicamente) e ser coerente com suas ações. A prática do bem não deve ser realizada como estorvo ou mera obrigatoriedade, mas sim de coração, como sentido existencial, de vida e só cada pessoa pode saber sobre sua própria sinceridade e sua própria mentalidade.

 

domingo, 20 de abril de 2025

Leitura da Esperança de Jesus contra o desprezo de seus opositores

Como tratar/ perdoar o culpado (Mateus, Lucas) / Oração em Comum (Mateus
Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai repreende-o entre ti e ele somente: Se te ouvir, terás ganho teu irmão. Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de que toda a questão se resolva pela decisão de duas ou três testemunhas. Se recusa ouvi-los, dize-o à ekklesia (assembleia, traduzido como igreja). E se recusar também a ouvir a ekklesia, seja ele para ti um pagão e um gentio. Amém (de verdade) digo a vós, tudo que ligardes sobre a terra será ligado no céu e tudo que desligardes sobre a terra, será também desligado nos céus. 
Digo-vos ainda isto: Se dois de vós se unirem sobre a terra para pedir, seja o que for, será concedido por meu Pai que está nos céus. Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou entre eles. 

Neste trecho Jesus ensina como deve ser as relações de quem segue seus ensinamentos de amor. Só deve se afastar de uma pessoa, quando esta estiver fazendo mal e insistir no mal - o mesmo deve valer para as reuniões cristãs, sejam em igrejas ou assembleias: Se há um indivíduo pecando contra o cristão, este deve reunir-se com os demais cristãos e indicar o caminho dos ensinamentos de Jesus ao pecador. Se ele continuar negando, deve ser tratado como alguém que despreza os ensinamentos de Jesus. 
Por fim, Jesus indica que onde as pessoas se reunirem e pedirem algo conforme seus ensinamentos, eles obterão algum êxito. Jesus indica que pode estar em qualquer lugar onde seja chamado de coração. 

 Os judeus querem apedrejar Jesus (João) 
Os judeus pegaram então outra vez em pedras para o apedrejar.
Respondeu-lhes Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas procedentes de meu Pai; por qual destas obras me apedrejais?
Os judeus responderam, dizendo-lhe: Não te apedrejamos por alguma obra boa, mas pela blasfêmia; porque, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo.
Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: Sois deuses?
Pois, se a lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida, e a Escritura não pode ser anulada, como acusais aquele a quem o Pai santificou, e enviou ao mundo, vós dizeis: 
Blasfemas, porque disse: Sou Filho de Deus?
Se não faço as obras de meu Pai, não me acrediteis. Mas, se as faço, e não credes em mim, crede nas obras; para que conheçais e acrediteis que o Pai está em mim e eu nele.
Procuravam, pois, prendê-lo outra vez, mas ele escapou-se de suas mãos, E retirou-se outra vez para além do Jordão, para o lugar onde João tinha primeiramente batizado; e ali ficou.
Assim, muitos iam ter com ele, e diziam: Na verdade João não fez sinal algum, mas tudo quanto João disse deste era verdade. E muitos ali creram nele.

 Aqueles que aceitaram a palavra de Deus, ou seja, sua lei divina de amor, são chamados de deuses. Isto não é uma comparação dos fiéis e profetas com os ídolos das antigas culturas pagãs / politeístas. Na verdade, trata-se de uma aproximação das pessoas que realmente vivem os ensinamentos de Jesus e a lei divina do amor, com Deus. Certamente isto mostra a possibilidade de nos aproximar do que os textos judaico - cristãos chamam de anjos, os quais a filosofia espírita chama de espírito superior ou puro. Santa Teresa d’Ávila diz que nossa alma foi criada à semelhança de Deus, por isso não devemos nos cansar de tentar entendê-la: Além da alma ser nossa própria essência, ou nós mesmos, ela é imortal, existindo além de nosso corpo (no platonismo, a psiquê parece designar alma e mente, na Kriya Yoga, a alma seria a porção mais real e imortal da mente).
A Kryia Yoga lembra que as escrituras proclamam que Deus criou o ser humano à sua própria imagem e esta imagem é onipotente. O controle sobre o universo que parece sobrenatural, na verdade é natural e inerente a todos seres humanos que alcançam a “lembrança correta” de sua origem divina. Estes humanos livraram-se do princípio do ego (ahamkara) e de seus surtos de desejos pessoais, entrando em harmonia com rta, a justiça natural. “Ser Deus” não é ser meramente virtuoso, é tornar-se a Virtude. No Livro dos Médiuns do espiritismo, fica claro que quanto mais puro o espírito for (moralmente elevado, benigno…), mais “poderoso” e próximo de Deus ele é. Assim é explicado como os espíritos muito elevados ou puros atendem preces e súplicas dos encarnados em vários locais diferentes ao mesmo tempo, também podendo se manifestar simultaneamente para seres distantes entre si. Platão, em A República, lembra que a possível evolução moral não é linear. Pois o bem (kalos) não é aprendido como um conhecimento técnico e sim despertado no indivíduo. O platonismo não impõe valores individuais sobre outras pessoas, ele incita a busca do valor universal - Ao mostrar Sócrates dialogando e induzindo seus interlocutores com seu método da maiêutica, Platão indica que cada ser deve fazer seus esforços para desenvolver a ideia (eidos) do bem e passar a viver em função dela. 

Ressurreição de Lázaro (João) 
 Estava, porém, enfermo um certo Lázaro, de betânia, aldeia de Maria e de sua irmã Marta. 
E Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com ungüento, e lhe tinha enxugado os pés com os seus cabelos, cujo irmão Lázaro estava enfermo. 
Mandaram-lhe, pois, suas irmãs dizer: Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas. 
E Jesus, ouvindo isto, disse: Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela. 
Ora, Jesus amava a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro. 
Ouvindo, pois, que estava enfermo, ficou ainda dois dias no lugar onde estava. Depois disto, disse aos seus discípulos: Vamos outra vez para a Judéia. 
Disseram-lhe os discípulos: Rabi, ainda agora os judeus procuravam apedrejar-te, e tornas para lá? 
Jesus respondeu: Não há doze horas no dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo; Mas, se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz. 
Assim falou; e depois disse-lhes: Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono. Disseram, pois, os seus discípulos: Senhor, se dorme, estará salvo. 
Mas Jesus dizia isto da sua morte; eles, porém, pensavam que falava do repouso do sono. 
Então Jesus disse-lhes claramente: Lázaro está morto; E folgo, por amor de vós, de que eu lá não estivesse, para que acrediteis; mas vamos ter com ele. 
Disse, pois, Tomé, chamado Dídimo, aos condiscípulos: Vamos nós também, para morrermos com ele. 
Chegando, pois, Jesus, achou que já havia quatro dias que estava na sepultura. (Ora Betânia distava de Jerusalém quase quinze estádios. ) E muitos dos judeus tinham ido consolar a Marta e a Maria, acerca de seu irmão. 
Ouvindo, pois, Marta que Jesus vinha, saiu-lhe ao encontro; Maria, porém, ficou assentada em casa. Disse, pois, Marta a Jesus: Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Mas também agora sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus te concederá. 
Disse-lhe Jesus: Teu irmão há de ressuscitar. 
Disse-lhe Marta: Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia. 
Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; E todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. Crês tu isto? 
Disse-lhe ela: Sim, Senhor, creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo. 
E, dito isto, partiu, e chamou em segredo a Maria, sua irmã, dizendo: O Mestre está cá, e chama-te. 
Ela, ouvindo isto, levantou-se logo, e foi ter com ele. (Pois, Jesus ainda não tinha chegado à aldeia, mas estava no lugar onde Marta o encontrara.) 
 Vendo, pois, os judeus, que estavam com ela em casa e a consolavam, que Maria apressadamente se levantara e saíra, seguiram-na, dizendo: Vai ao sepulcro para chorar ali. 
Tendo, pois, Maria chegado aonde Jesus estava, e vendo-o, lançou-se aos seus pés, dizendo-lhe: Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. 
Jesus pois, quando a viu chorar, e também chorando os judeus que com ela vinham, moveu-se muito em espírito, e perturbou-se. E disse: Onde o pusestes? 
 Disseram-lhe: Senhor, vem, e vê. 
Jesus chorou. 
Disseram, alguns judeus: Vede como o amava. E outros deles disseram: Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer também com que este não morresse? 
Jesus, pois, movendo-se outra vez muito em si mesmo, veio ao sepulcro; e era uma caverna, e tinha uma pedra posta sobre ela. 
Disse Jesus: Tirai a pedra. 
 Marta, irmã do defunto, disse-lhe: Senhor, já cheira mal, porque é já de quatro dias. 
Disse-lhe Jesus: Não te hei dito que, se creres, verás a glória de Deus? 
Tiraram, pois, a pedra de onde o defunto jazia. E Jesus, levantando os olhos para cima, disse: Pai, graças te dou, por me haveres ouvido. Eu bem sei que sempre me ouves, mas eu disse isto por causa da multidão que está em redor, para que creiam que tu me enviaste. E, tendo dito isto, clamou com grande voz: Lázaro, sai para fora. 
Então o defunto saiu, tendo as mãos e os pés ligados com faixas, e o seu rosto envolto num lenço. 
 Disse-lhes Jesus: Desligai-o, e deixai-o ir. 

Certamente esta é uma passagem polêmica no que se diz respeito ao que Jesus fez, pois são poucos quem acreditam que alguém possa ser trazido de volta à vida. Porém mais importante do que o que é percebido com os olhos ou com o toque, são os sentimentos que são elementos essenciais do ser humano - E embora os sentimentos ruins necessitem ser vividos e superados, os bons são mais importantes: Jesus ensina esta importância e não se trata de uma positividade tóxica como vemos neste início de século 21 entre charlatães que prometem riqueza, "felicidade" e saúde fáceis. Jesus diz para seus apóstolos carregarem suas próprias cruzes, ou seja, diz que viver os ensinamentos de amor é uma luta, seja ao lidar com os preconceitos dos outros ou ao lidar consigo mesmo no auto aperfeiçoamento. Porém ele também diz que seu fardo é leve, pois é compensador pelo fato de ser uma vida de amor e esperança.
O se importar pelo próximo e a esperança neste amor são os maiores exemplos de fé pois combinam a solidariedade e humildade fazendo com que o pensamento e o sentimento se projetem para além de si mesmo. O choro, as lágrimas pelo próximo, são representadas na zéfira (sefirot) máxima da árvore da vida e possivelmente estão ligados à "metáfora" do misticismo judaico que conta que no "início"/ na criação do cosmo, Deus olhou para baixo e chorou; Estas lágrimas pelo próximo também estão na passagem bíblica da ressurreição de Lázaro: "e Jesus chorou" (diante do túmulo de Lázaro). 
Além disto, quando Jesus fala para remover a pedra, há um significado literal em sua frase: Remover a pedra que cobria o “túmulo” e remover o que encobre a esperança e o amor ao próximo. Esperança não é passividade: é o atributo humano que nos dá sentido e é o atributo divino que transcende ciclos de destruição e criação de universos. 
Esta esperança é como a fé, mas independe de religiões específicas e a postura dos religiosos que Jesus denunciava e enfrentava era contrária a isso. Era uma postura de orgulho que desprezava todos os ensinamentos e obras de Jesus. 
Por fim, Jesus não ressuscitou Lázaro por apego, pois não realizou tal ato para viver junto dele, afinal foi dito: ... Deixai-o ir.

Obstinação dos judeus (João), Conspiração contra Jesus (Mateus, Marcos, Lucas
E aconteceu que, quando Jesus concluiu todos estes discursos, disse aos seus discípulos: Bem sabeis que daqui a dois dias é a páscoa; e o Filho do homem será entregue para ser crucificado. 
Estava, pois, perto a festa dos pães ázimos (sem fermento), chamada a páscoa. E os principais dos sacerdotes, e os escribas, andavam procurando como o matariam; porque temiam o povo. 
Embora tivesse feito tantos milagres na presença deles, não acreditavam nele. Assim se cumpria o oráculo do profeta Isaias: Senhor, quem creu em nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor? (53, 1) Aliás não podiam crer, porque outra vez disse Isaias: Ele cegou-lhes os olhos, endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos, nem entendam com o coração e se convertam e eu os sare (6, 10). Assim se exprimiu Isaias, quando teve a visão de sua glória e dele falou.
Não obstante, também muitos dos chefes creram nele, mas por causa dos fariseus não o manifestavam, para não serem expulsos da sinagoga. Assim preferiram a glória dos homens àquela que vem de Deus. 
Reuniram-se no pátio do Sumo Sacerdote, chamado Caifás e deliberaram sobre os meios de prender a Jesus por astúcia e de o  matar. E diziam: "Sobretudo, não seja durante a festa. Poderá haver um tumulto entre o povo".

 Ainda que o evangelho seja um texto entendido como religioso, de um ponto de vista mais material/ histórico esta cena faz sentido, uma vez que Jesus e seus apóstolos enfrentavam, mesmo que pacificamente, as seitas manipuladoras e os poderosos gananciosos na província romana da Judéia: Os sumo sacerdotes, sejam fariseus, escribas, ou mesmo príncipes, certamente odiavam a Jesus e seus seguidores pelo fato deles fomentar o amor piedoso e a verdade, favorecendo principalmente os doentes, os mais pobres e os necessitados. 

Somente Lucas coloca a traição de Judas imediatamente junta desta passagem: Marcos e Mateus colocam após o jantar em Betânia, o qual certamente Lucas coloca bem antes. João por sua vez, indica que Judas Iscariotes só trai Jesus após a última ceia.

 

sábado, 12 de abril de 2025

Leitura sobre o ceticismo e o elitismo contra Jesus

Sinal do Céu, Fermento dos Fariseus (Mateus, Marcos, Lucas
Saíram os fariseus (e os saduceus) e começaram a disputar com ele (Jesus), pedindo-lhe, para o tentarem, um sinal do céu.
E, suspirando profundamente em seu espírito, disse: Por que pede esta geração um sinal? Esta é uma geração perversa. 
Hipócritas, sabeis distinguir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? Em verdade vos digo que a esta geração não se dará sinal algum, senão o de Jonas. Porquanto, assim como Jonas foi sinal para os ninivitas, assim o Filho do homem o será também para esta geração.
A rainha do sul se levantará no juízo com os homens desta geração, e os condenará; pois até dos confins da terra veio ouvir a sabedoria de Salomão; e eis aqui está quem é maior do que Salomão. Os homens de Nínive se levantarão no juízo com esta geração, e a condenarão; pois se converteram com a pregação de Jonas; e eis aqui está quem é maior do que Jonas.
Ora, deixando-os, tornou a entrar no barco, e foi para o outro lado. E eles (os discípulos) se esqueceram de levar pão e, no barco, não tinham consigo senão um pão.
Jesus ordenou-lhes, dizendo: Olhai, guardai-vos do fermento dos fariseus e do fermento de Herodes (dos saduceus). 
E pensavam entre si, dizendo: É porque não temos pão.
Jesus, conhecendo isto, disse-lhes: Para que argumentam, que não tendes pão? não considerastes, nem compreendestes ainda? tendes ainda o vosso coração endurecido?
Tendo olhos, não vedes? e tendo ouvidos, não ouvis? e não vos lembrais, Quando parti os cinco pães entre os cinco mil, quantas alcofas cheias de pedaços levantastes? 
Disseram-lhe: Doze.
E, quando parti os sete entre os quatro mil, quantos cestos cheios de pedaços levantastes? E disseram-lhe: Sete.
E ele lhes disse: Como não compreendestes que não vos falei a respeito do pão, mas que vos guardásseis do fermento dos fariseus e saduceus?
Então compreenderam que não dissera que se guardassem do fermento do pão, mas da doutrina dos fariseus.

 Os saduceus sendo uma seita judaica composta por aristocratas e religiosos ricos, favoráveis ao helenismo e aos romanos, deveriam abominar as ações de Jesus, que pregava a solidariedade, favorecendo os pobres e os mais necessitados. A diferença mais significativa entre os saduceus e os fariseus, é que os primeiros aceitavam apenas a torá escrita do judaísmo e os segundos aceitavam uma tradição oral, mas eram formalistas - priorizavam regras e rituais. 
Jesus critica as priorizações destas duas seitas: Ambas abandonaram os mandamentos se prendendo nas regras meramente terrenas e nada espirituais nem benevolentes. Os religiosos/ as seitas estavam tão certas de si, que não acreditavam em nada do que Jesus ensinava e nem mesmo no que ele fazia: pediam milagres como prova que ele fosse um profeta ou o "filho de Deus", mas não queriam mudar.

 O Bom Pastor (João)
Na verdade, na verdade vos digo que aquele que não entra pela porta no curral (aprisco) das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador.
Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor das ovelhas.
A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora. E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. Mas de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos.
Jesus disse-lhes esta parábola; mas eles não entenderam o que era que lhes dizia.
Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo que eu sou a porta das ovelhas. Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram. Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens. O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.
Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas. Mas o mercenário e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e dispersa as ovelhas.
Ora, o mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas.
Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido.
Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas. Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor.
Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém me tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai.
Tornou, pois, a haver divisão entre os judeus por causa destas palavras.
E muitos deles diziam: Tem demônio, e está fora de si; por que o ouvis?
Diziam outros: Estas palavras não são de endemoninhado. Pode, porventura, um demônio abrir os olhos aos cegos?

 Jesus explica que ele veio salvar a humanidade, mostrando o caminho do amor, a lei de Deus. Ele usa a figura de linguagem de que é um pastor de ovelhas, pois é o guia daqueles mansos de coração, ou seja, quem segue os ensinamentos de Cristo é pacífico e humilde. Ele continua explicando que os pastores falsos só se importam com o dinheiro e espalham o mal entre as pessoas, enquanto o verdadeiro pastor (verdadeiro sacerdote, pontífice ou profeta) dá a sua vida pelos fiéis (a Deus) ou pelos mais necessitados, se for necessário. Obviamente não se trata de suicídio, nem de servir um exército ou qualquer milícia alegando lutar por Deus, afinal Deus quer que todos vivam com abundância. Deus não pede sacrifícios sangrentos, nem conflitos ou guerras. Viver em abundância, é viver sem miséria, sem desigualdade, sem rixas e sem conflitos. Não se trata de luxo nem de excessos, se trata de viver em paz e respeitando uns aos outros - viver de coração o que Jesus ensinou: o amor a Deus, ao próximo e a si mesmo, ou seja, o amor a toda vida criada por Deus. Embora Jesus soubesse que suas palavras trariam discórdia e conflito entre os conservadores, os ricos e os poderosos, ele deseja a paz para a humanidade.
A kriya yoga entende a metáfora que Jesus diz “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens. O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.” como uma alusão ao “olho” espiritual, estrela de prana e “porta” da salvação - O acesso à consciência Crística (que abraça a divindade, não querendo mais nada em troca, abandonando todos desejos mesquinhos) contra o “ladrão” (maya, a ilusão dos gostos terrenos, rixas, disputas etc).
Em Mateus, as duas próximas passagens aparecem após "A figueira amaldiçoada", o que faz muito sentido, já que a figueira que não dá fruto é símbolo daqueles que não fazem boas obras - que não vivem os ensinamentos de amor a todos. A figueira pode muito bem representar os grupos religiosos corruptos, como mostrado a seguir:

Autoridade de Jesus (Marcos, Mateus, Lucas)/ Festa de Dedicação (João
Em Jerusalém havia a festa da dedicação, e era inverno. 
E Jesus andava passeando no templo, no alpendre de Salomão
Rodearam-no, os anciãos do povo, os escribas e os príncipes dos sacerdotes e perguntaram-lhe: 
Com que direito fazes isso? Quem te deu esta autoridade?
Respondeu-lhes Jesus: Eu vos proporei também uma questão. Se responderdes, eu vos direi com que direito o faço. Donde procedia o batismo de João: do céu ou dos homens?
Ora, eles raciocinavam entre si: Se respondermos dos céus, ele nos dirá: Porque não crestes nele? E se dissermos: dos homens, é de tremer-se a multidão, porque todo mundo considera João como profeta.
Responderam a Jesus: Não sabemos.
Pois tampouco vos digo com que direito faço estas coisas, retorquiu Jesus.
Os judeus, pois, disseram-lhe: Até quando terás a nossa alma suspensa? Se tu és o Cristo, dize-no-lo abertamente.
Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo tenho dito, e não o credes. As obras que eu faço, em nome de meu Pai, essas testificam de mim.
Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito.
As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem;
E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que me deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai. Eu e o Pai somos um.

 Os egoístas e os céticos em demasia não conseguem crer em Jesus, nem em qualquer cristão que operasse os ditos milagres (fenômenos mediúnicos de acordo com o espiritismo, com a umbanda etc). Eles, inutilmente, buscavam diversas maneiras provar que Jesus era uma farsa, mas na verdade a farsa era eles mesmos. Transvestidos de classes espiritualizadas, os saduceus, os fariseus e os escribas nada de verdadeiramente espiritual faziam: Em resumo eram formalistas, gananciosos, egoístas etc. 
Jesus diz que seus seguidores foram lhe dados por Deus e que dá a vida eterna a eles. Assim, ninguém pode tirar os verdadeiros seguidores de Deus (que aceitam os ensinamentos de Jesus e buscam se aproximar dele realizando obras solidárias e/ou benéficas ao maior número de pessoas possível), pois Jesus e Deus são um.
Esta última frase pode ser interpretada como se Jesus fosse Deus, embora em alguns outros trechos dos 4 evangelhos, Jesus claramente diz que não é bom, e que seu Pai sim é bom. Esta aparente contradição faz com que as pessoas escolham uma interpretação unilateral da identidade de Jesus: Ou ele é Deus ou ele não é Deus, sendo só o filho ou um espírito elevado. Pode parecer mais uma questão predominantemente tola já que se afasta dos ensinamentos de Jesus, porém é importante evitar discursos exclusivistas de que só Jesus é Deus, acusando todas outras religiões de serem falsas. Tal tipo de discurso contradiz os ensinamentos de Cristo que são baseados em humildade, piedade, tolerância, universalidade etc.

Parábola dos 2 filhos (Mateus)
(Jesus diz:) Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse-lhe: "Meu filho, vai trabalhar hoje na minha vinha". Respondeu ele: "Não quero." Mas em seguida, tocado de arrependimento, foi. 
Dirigindo-se depois ao outro, disse-lhe a mesma coisa. O filho respondeu: "Sim, pai!" Mas não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai?
O primeiro, responderam-lhe.
E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo, os publicanos e as meretrizes vos precedem no reino de Deus! João veio a vós no caminho da justiça e não crestes nele. Os publicanos, porém, e as prostitutas creram nele. E vós, vendo isto, nem fostes tocados de arrependimento para crerdes nele.

Jesus critica abertamente os religiosos que se achavam escolhidos de Deus e ignoravam ou negavam as obras de João Batista. O "trabalhar" utilizado na parábola de Jesus, certamente se refere a fazer as obras que ele mesmo e João Batista faziam. Mas a arrogância dos religiosos aos quais Jesus contou a parábola, sejam os fariseus, os escribas ou outros, faziam com que eles desprezassem toda solidariedade, toda justiça e toda fé verdadeira.

Como será a ressurreição (Marcos, Mateus, Lucas)
Naquele mesmo dia, os saduceus, que negavam a ressureição, interrogaram Jesus: Mestre, Moisés disse: "Se um homem morrer sem filhos, seu irmão case-se com a sua viúva e dê-lhe assim uma posteridade". (Deut 25, 5) Ora, havia entre nós sete irmãos: O primeiro casou-se e morreu. Como não tinha filhos, deixou sua mulher ao seu irmão. O mesmo sucedeu ao segundo, depois ao terceiro, até o sétimo. Por sua vez, depois deles todos, morreu também a mulher. Na ressureição, de qual dos sete será a mulher?
Respondeu-lhes Jesus: Errais, não compreendendo as escrituras nem o poder de Deus. Na ressureição os homens não terão mulheres, nem as mulheres maridos; mas serão como os anjos de Deus no céu.
Quanto a ressureição dos mortos, não lestes o que Deus disse: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó? Ora, ele não é o Deus dos mortos, mas Deus dos vivos.
E ouvindo esta doutrina, as turbas se enchiam de grande admiração.

Vale lembrar que os saduceus eram a seita religiosa de tendência materialista e cética. 
Os católicos explicam que Deus considera Abraão e os demais profetas vivos, por isso não há obstáculo em crer na sua ressureição futura. 
É possível que Jesus se refira a dois pontos aqui: A mulher, o marido e seus sete irmãos, ao morrerem, desencarnam, ou seja, tornam-se espíritos e não precisam se casar, nem são capazes de se reproduzirem. Oras, se Jesus diz que Deus é espírito, e há uma hierarquia de seres entre os humanos e Deus, sendo esta hierarquia composta pelos anjos (cujo, os níveis são melhores definidos na árvore da vida da cabala no judaísmo místico), deve haver alguma semelhança entre os anjos e o conceito de espírito(s). Isto é bem explicado no espiritismo de Kardec, escrito na França do século 19: Os espíritos são seres incorpóreos e podem reencarnar em formas superiores conforme vivem e aprendem/ desenvolvem as virtudes ensinadas por Jesus (isto também parece estar de acordo com o hermetismo). Quanto mais "elevada", ou seja, mais semelhante a Jesus e sua bondade, o espírito reencarna em formas mais sutis ("eterizadas") até que os mais elevados seres sejam o mais parecidos (e próximos) a Deus. Como bem notado por Kardec não havia um termo para reencarnação entre os judeus da época de Jesus e a metempsicose era palavra exclusiva de algumas seitas das religiões gregas, como os órficos, por exemplo. O espiritismo não foi proposto exatamente como um religião por Kardec e o mesmo titubeou ao responder tal questão em seu tempo: tentou explicar que era religião do ponto de vista da importância de coisas como a fé em Deus e da oração, mas não como um corpo fechado que nega tudo das outras religiões. Em outras palavras, não havia o termo espiritualidade no século 19 - esta palavra só passa a ser difundida após o contato do ocidente com o Sanatana Dharma (religiões hindus) em meados do século 20. O espiritismo francês, apesar das limitações ideológicas da época, certamente foi uma proposta de diálogo inter religioso. Com alguma semelhança aos movimentos new age oriundos do contato ocidente-oriente ("hinduísmo") mencionado acima; Porém também com a diferença que Kardec propôs uma filosofia que também dialogava como uma construção de conhecimento, ou seja, propôs um diálogo com a ciência de seu tempo, ainda que com pouco ou nenhum sucesso.

O Messias; "Filho de Davi" (Marcos, Mateus, Lucas)
Como os fariseus se agrupassem, continuava Jesus a ensinar no templo e propôs esta questão: 
"Como dizem os escribas que Cristo é o filho de Davi? Pois o mesmo Davi diz, inspirado pelo Espírito Santo: Disse o Senhor ao meu Senhor: senta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos sob os teus pés (Salmo 109,1).
Ora, se o próprio Davi o chama Senhor, como então é ele seu filho?"
A grande multidão ouvia-o com satisfação e depois daquele dia, ninguém mais ousou interrogá-lo.

Esta passagem pode muito bem quebrar a ideia biologista de que Jesus pertence a mesma linhagem de Davi ou de quaisquer profeta judeu da antiguidade. Linhagem de sangue nada tem a ver com os ensinamentos de Jesus que são centrados no amor a Deus (onipresente Espírito criador de todas as coisas) e no amor ao próximo como a si mesmo, ou seja o amor a todos, como explicado em outras passagens. Seja Jesus desta linhagem ou de outra, pouco importa: Jesus não defendia uma nacionalidade em particular, muito menos uma suposta "raça".
Esta fala também está de acordo com a discussão de Jesus com os judeus, quando o mesmo explica que já existia antes de Moisés. E também quando diz que estava próximo de Deus antes mesmo do surgimento do mundo (da Terra). Isto explica porque Jesus diz a Nicodemos que ninguém sabe de onde vem o espírito nem para onde vai o espírito; O corpo é mortal, mas o espírito é imortal.

domingo, 6 de abril de 2025

As relações das religiões com a sociedade, a ciência e a filosofia no ocidente;

Este texto traz a importância da filosofia para além da construção de conhecimento: Traz a questão do diálogo e da espiritualidade do ser humano.
Meses atrás escrevi sobre como a proposta da filosofia de Platão era baseada no seguinte eixo: assumir a própria ignorância antes de qualquer investigação; praticar o diálogo equitativo a partir dessa presunção da própria ignorância e buscar a melhoria das coisas que são - a interação dos valores universais, a psiquê humana e a sociedade; Mas porque a necessidade da presunção da ignorância? Isso não traria o risco de aceitar qualquer absurdo para a construção de conhecimento e para a sociedade? Não seria melhor um pressuposto "palpável"? 

... Bom, vejamos pelo lado contrário então: Quais os benefícios de iniciar qualquer diálogo ou estudo, assumindo uma pré-suposição (teoricamente) mais palpável do que a própria ignorância sobre um tema desconhecido ou a ser investigado? Um pressuposto é uma pré-suposição... Como seria essa pré-suposição e qual sua finalidade?

Conheço 2 tipos de resposta que ouvi por aí de duas classes geralmente diferentes entre si: A resposta típica de cientistas, e a típica de religiosos.
Alguns dos cientistas que vi abordar este assunto, ao longo de minha vida, deram o seguinte tipo de resposta: O pressuposto é um ponto de partida básico e necessário de qualquer investigação ou estudo. Ele tem que existir, para que não se inicie um estudo "do nada".
Particularmente achei esta resposta insuficiente: Primeiramente afirmar que "tem que existir" uma pré suposição para se estudar algo não é uma resposta bem embasada. "Tem que ser" de um jeito "x" ou "y" me parece um mero autoritarismo. Mas entendo que o professor universitário que respondeu meus questionamentos desta forma em uma aula de psicologia, temia que iniciar um estudo supostamente "do nada", parecesse algo frouxo ou inseguro... Mas se "nada" não existe (se existisse, deixaria de ser nada), o que esse professor quis dizer? Que a ciência é algo contínuo? Que é preciso uma análise dos pares? É claro que há continuidade na ciência e também é importante que haja análise de pares, senão a ciência seria mera experiência particular sem diálogo ou seria mera opinião. 

Porém a questão aqui é outra: investiga-se o que é desconhecido ou não? Se há algo a ser investigado é porque é totalmente ou, ao  menos, parcialmente desconhecido - Porém ser parcialmente desconhecido inclui a possibilidade de checar o que se sabe sobre tal assunto... Se é verdadeiro ou não; se está certo ou errado, enviesado, incompleto etc. Aí já teríamos um problema: tal discussão seria uma mera disputa de narrativa ou de opiniões se não se pautasse por algo maior - algo bom para todos ou que servisse a todos... como valores universais. Isto não se trata de indivíduos fazerem julgamento moral uns dos outros nem de valores individuais - valores universais é "tema" da ética e ética é necessária em toda construção de conhecimento no ocidente desde o primeiro corpo de obra registrado da filosofia ocidental. O que o professor, como outros cientistas comumente fazem é apelar para a evidência material e para reprodutibilidade da investigação a qual muitos chamam de "mensurabilidade". Isso constitui o método de investigação (empírico) de pré suposição materialista (e niilista como citei em outros textos). Porém esta apelação à evidência sensorial/ reprodutibilidade, além de deixar os valores universais (ética) em segundo plano, é altamente discutível na psicologia, principalmente na área da  psicoterapia que lida com questões internas do paciente, como já expliquei em outros textos: https://amorpelosabersaberamar.blogspot.com/2025/04/aspectos-psiquicos-da-saude-mental-e.html e https://nea-ekklesia.blogspot.com/2024/06/por-que-substituir-o-reducionismo-e-o.html

Neste ponto vale lembrar que a ciência nasceu da filosofia e ambas por variadas razões envolviam raciocínios e discussões complexas, inacessíveis para a maioria das pessoas; Se a filosofia nunca foi algo das massas, a ciência não é diferente: a investigação científica qualquer que seja, requer estudo, análise, dedicação etc.
E o segundo tipo de resposta, a religiosa, vem de uma classe que lida com as multidões e coletivos de pessoas há muitos anos, para não dizer muitos séculos... A classe religiosa (pastores, sacerdotes etc) geralmente não usa o termo "pressuposto", mas usa os termos dogma ou "lei de Deus"... Ela se apoia não só no argumento que Deus fez todas as coisas, pois isso seria bem leve e daria abertura para variadas interpretações do que se fazer com a criação de Deus. As religiões como (infelizmente) a maior parte da ciência nega a presunção da ignorância porque é um modelo fechado de visão de mundo. Enquanto a ciência parte do pressuposto reducionista de que só há a matéria perceptível ou visões parecidas com esta, a religião contraditoriamente tem uma cosmovisão mais ampla que aceita uma realidade espiritual para além da material, mas impõem uma série de regras sobre toda e qualquer realidade, seja ela material ou espiritual. 
As religiões "cristãs" por exemplo, se apoiam em argumentos estabelecidos como verdade inquestionável nos concílios da igreja, feitos no passado, entre a antiguidade e a era medieval. Além disto, algumas igrejas cristãs modernas, muito influentes com milhares de seguidores, fazem interpretações particulares dos textos da bíblia. Os argumentos dos concílios da igreja e as reinterpretações neopentecostais, são pré suposições de seus líderes, impostas sobre todos os fiéis. Não há presunção da ignorância nas maiores igrejas cristãs do mundo, assim como não há na ciência tradicional. Não há cosmovisão aberta nestas igrejas, porque elas criaram uma série de regras que contradizem isto e não há cosmovisão aberta na ciência porque ela se fechou em sua própria visão biologista que dificulta o estudo transdisciplinar principalmente das "ciências humanas" e sua intersecção com a filosofia.

Porém a ciência só adquiriu uma posição de poder na história da humanidade em algumas nações do hemisfério norte e em determinados períodos (também cito tais fatos em outros textos como este: https://amorpelosabersaberamar.blogspot.com/2025/03/apos-o-surto-evangelico-o-retorno-do.html). A realidade do Brasil é outra: Um país predominantemente religioso desde sua fundação, o Brasil nunca teve proeminência da ciência, mesmo porque tal proeminência geralmente torna-se uma posição de poder nas civilizações humanas e quem busca grandes poderes raramente assume a responsabilidade equivalente. E qualquer poder que não tenha a ética como finalidade, ou seja, que não tenha compromisso com a sociedade/ a humanidade, é corrupto e danoso.

Voltando às religiões em si, elas não exigem o esforço racional e observacional que a ciência exige, muito menos o esforço psíquico reflexivo e ético que a filosofia exige - certamente por isso elas atraem mais pessoas do que estas outras duas áreas. Note que as religiões as quais me refiro não são necessariamente espiritualidade. Na verdade, na maioria das vezes estas religiões negam a prática da espiritualidade! Explico:
Consideremos que as duas maiores religiões do Brasil sejam cristãs: o catolicismo e o protestantismo (talvez o nome mais adequado seja neopentecostalismo ou evangelismo...) Estas religiões estão cheio de pré-suposições que nada mais são do que os "famosos" dogmas. Estes dogmas são regras de como se portar não só na igreja, mas em vida. Porém desde os concílios da igreja há séculos atrás, estes dogmas impostos criam mais regras requerendo obediência aos líderes religiosos do que regras para o convívio saudável fisicamente e psicoemocionalmente entre as pessoas, famílias e instituições. Só este fato já contradiz maior parte dos ensinamentos os quais as religiões e os religiosos explicam ser de Deus e/ ou de seus profetas. 
A negação religiosa da presunção da ignorância então é óbvia: É a criação de dogmas e/ ou regras para manter a obediência de um número cada vez maior de pessoas com a finalidade de adquirir e manter poder e riquezas; Nega-se então as etapas seguintes também propostas pela filosofia fundada por Platão: o diálogo equitativo e reflexivo e a busca por melhoria de todas as coisas/ a busca pelos valores universais e a prática disto. Estas religiões então negam a ética que visa o bem coletivo, do ser humano e sua(s) sociedade(s). As igrejas protestantes e seus líderes por exemplo atacam não só religiões de matriz africana (umbanda, candomblé...), mas também atacam tudo que difere de seu corpo fechado de pressupostos/ dogmas, como o espiritismo, as "religiões" indígenas, a espiritualidade independente, o diálogo inter-religioso etc. 
Eis porque nem a ciência, muito menos o cientificismo, combatem efetivamente estas religiões: Primeiro que há semelhança entre os dois meios, pois ambos são centrados em suas respectivas regras (sejam pressupostos, paradigmas ou dogmas) se pautando por valores individuais ao invés de assumir a própria ignorância, praticar o diálogo e valores universais. Ambos também atacam de maneiras diferentes a espiritualidade, seja a afrodescendente, a indígena ou a independente. A ciência "mainstream" (tradicional) despreza e/ ou ridiculariza não só as religiões, mas a espiritualidade em geral e às vezes chega ao ponto de considerar a filosofia como um tipo de espiritualidade ou misticismo, jogando-a na  mesma vala das religiões etc. 
Já as religiões fundamentalistas como as maiores igrejas neopentecostais negam a ciência e demonizam outras religiões e práticas espirituais. Como exemplo disto temos um livro onde o famoso líder da Igreja Universal do Reino de Deus, acusa descaradamente o espiritismo e as religiões afrodescendentes de serem dominadas por "demônios"... Um atentado à liberdade de culto feito às abertas e comercializado normalmente em nosso país. 
É possível concluir que a ciência reducionista bem como as piores religiões atacam a espiritualidade e ignoram ou desprezam a filosofia... 
Em relação à ciência eu já apontei que ela precisa estar aliada à filosofia que usa do diálogo e da ética para propagar progresso humano. Assim, a ciência não deve desenvolver somente a indústria e a tecnologia! Progresso requer debate ético e desenvolvimento ético dos indivíduos. Requer educação que considere TODAS esferas humanas: biológica, psicológica, social/ cultural e existencial/ espiritual. 
E como as religiões opressoras e mentirosas poderiam ser benéficas para o povo se elas pregam a desesperança de forma similar ao cientificismo materialista/ niilista? 
Quando estas religiões corruptas não estão defendendo o enriquecimento e as posses de seus líderes, elas estão pregando segregação basicamente pautada em sentimentos ruins: Pregam a intolerância para que seus fiéis permaneçam "ungidos" na igreja e desprezem todos que não pertençam a sua respectiva religião ou pregam o medo em seus fiéis, pois caso estes pequem, serão condenados eternamente ao "inferno". 
Vejamos o dogma da punição eterna nas igrejas: o pecador que não se arrependeu na vida supostamente é condenado eternamente ao sofrimento/ inferno. Isso contradiz o Deus explicado por Jesus que fala: "O Pai a ninguém julga" (em João 5; 22-26) "E todos serão ensinados por Deus" (João 6; 45). Oras, se todos serão ensinados por Deus, o julgamento ou punição é temporário, pois serve para que a alma aprenda a ser piedosa e humilde como Jesus! Um dos vários autores do cristianismo "primitivo" propôs a ideia de apocatástase em contra partida ao Apocalipse - neste estágio da existência todas almas se uniriam com Deus. Porém este argumento de Orígenes foi recusado arbitrariamente enquanto outros argumentos de autores da mesma época (séculos 1 a 3) foram aceitos na igreja mesmo não mencionados por Jesus e seus apóstolos. Este é um dos pontos fracos da teologia das igrejas católicas e protestantes: a punição eterna é um argumento que inspira medo e desesperança! Um argumento que facilita a ideias de clube e segregação - "nós e eles". Tal ideia é refutável com a explicação da reencarnação citada no próprio evangelho em João 3; 3-9 (diálogo de Jesus com Nicodemos) e da sobrevivência da alma além do corpo em Mateus 12; 43-45 (o sinal de Jonas). 
A segregação das igrejas em relação às religiões diferentes e ao ateísmo é feita com seus líderes ditando aos fiéis quando se pode expressar sentimentos e quais destas expressões/ emoções são permitidas. A atual "moda" de ungir fiéis nada mais é do que um meio de manter seu público fiel, alienando-o da realidade a sua volta; Assim as igrejas insinuam que os fiéis podem fazer qualquer coisa contanto que vão receber a unção: Eles podem difamar, agredir ou enganar qualquer um que não seja da igreja, porque estará "ungido" (protegido)... pelas mentiras dos pastores. A opressão destas religiões é principalmente voltada para aqueles que não participam de seus eventos e cultos, pois veladamente incitam a violência e o conflito entre seus fiéis e os "não ungidos". As mentiras destas igrejas são obviamente antiéticas porque fomentam a estagnação do ser humano na ignorância em relação a todos seus aspectos: biológico, psíquico, social, cultural, existencial e espiritual!
A espiritualidade por sua vez requer desenvolvimento humano com respeito aos sentimentos, às emoções e respeito ao convívio em sociedade. 
E como é a sociedade deste país enorme chamado Brasil? 
O Brasil não é a Inglaterra, a Alemanha ou os Estados Unidos. É um país multi-étnico, pluricultural,  onde duas de suas maiorias étnicas foram historicamente oprimidas e quase exterminadas: os indígenas e os afrodescendentes. É um país onde as massas de pessoas buscam uma espiritualidade, seja uma igreja (as religiões mais comuns ao longo da história), um terreiro, um centro espírita ou um caminho mais independente. É um país onde durante muitos anos a prática religiosa ou espiritual era presente na vida das pessoas, seja com cultos aos santos, com festas religiosas, simpatias, rezas, remédios que misturavam a fé das pessoas com algum conhecimento sobre ervas medicinais etc. São essas coisas que devem ser atacadas na esfera religiosa/ espiritual? Ou elas já foram atacadas ao longo de nossa história, tanto por cientificistas como por religiosos fundamentalistas? Não parece que o problema sejam estes aspectos culturais-espirituais e sim que o objetivo das maiores religiões brasileiras deste início do século 21: manter as fortunas de seus líderes e dominar o povo tornando-o intolerante ao diferente.
Enquanto o que há de podre nas religiões não for denunciado e substituído por algo melhor, parece que não haverá paz nem progresso no Brasil. Enquanto a ganância e os discursos de opressão de certos líderes religiosos permanecerem soltos por aí, não haverá mudança. Enquanto estas religiões e seus líderes manterem poder sobre a política, a economia e até sobre a segurança do país, dificilmente haverá liberdade. Enquanto não se propagar a verdade sobre a espiritualidade de Jesus e seus apóstolos, estas religiões seguirão como um poder que espalha ódio, ignorância, segregação e miséria. 
A espiritualidade de Jesus não espalhava competitividade, rixa nem desigualdade econômica. Ela é muito mais próxima da filosofia de Platão no que se diz respeito à finalidade: Não é um mero método nem um conjunto de regras por si mesmo - sua presunção é humildade/ equidade e serenidade, seu meio é o amor/ amizade e seu fim é a solidariedade e a esperança. O cristianismo em sua origem no século 1 só difere do platonismo por ser um caminho mais afetivo, mais centrado no sentimento, enquanto Platão e seus seguidores que praticaram sua filosofia raciocinavam mais, em um caminho onde o diálogo e a construção de conhecimento se pautavam por moderação, coragem, bondade (kalos) e justiça.


terça-feira, 1 de abril de 2025

Leitura ecumênica sobre viver os ensinamentos de Jesus

Entre variadas passagens do evangelho de Jesus, trago algumas passagens atribuídas a Tomé e Filipe as quais parecem dialogar com os temas dos demais textos.

Parábola dos talentos (Mateus, Lucas
Como estava perto de Jerusalém, alguns persuadiam de que o reino de Deus se manifestaria em breve; Jesus acrescentou esta parábola: Porque isto é também como um homem que, partindo para fora da terra, chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus bens. 
E a um deu cinco talentos, e a outro dois, e a outro um, a cada um segundo a sua capacidade, e ausentou-se logo para longe.
Tendo ele partido, o que recebera cinco talentos negociou com eles, e granjeou outros cinco talentos. Da mesma sorte, o que recebera dois, granjeou também outros dois.
Mas o que recebera um, foi e cavou na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor.
E muito tempo depois veio o senhor daqueles servos, e fez contas com eles.
Então aproximou-se o que recebera cinco talentos, e trouxe-lhe outros cinco talentos, dizendo: Senhor, entregaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos que granjeei com eles.
E o seu senhor lhe disse: Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra na alegria do teu senhor.
E, chegando também o que tinha recebido dois talentos, disse: Senhor, entregaste-me dois talentos; eis que com eles granjeei outros dois talentos.
Disse-lhe o seu senhor: Bem está, bom e fiel servo. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra na alegria do teu senhor.
Mas, chegando também o que recebera um talento, disse: Senhor, eu conhecia-te, que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste; E, atemorizado, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu.
Respondendo, porém, o seu senhor, disse-lhe: Mau e negligente servo; sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei? Devias então ter dado o meu dinheiro aos banqueiros e, quando eu viesse, receberia o meu com os juros.
Tirai-lhe pois o talento, e dai-o ao que tem os dez talentos.
Porque a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao que não tiver até o que tem ser-lhe-á tirado.
Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes.

 O que pode ser tirado de bom desta parábola são dois ensinamentos: Não é porque a pessoa tem menos que ela deva abandonar completamente a solidariedade. Ter poucos bens ou poucas capacidades, não é desculpa para ser insensível, nem desculpa para ser egoísta ou preguiçoso. O segundo ensinamento é que, considerando que foi Jesus quem contou esta parábola, certamente o dinheiro refere-se às condições para se fazer o bem. E isto se refere mais à capacidade do que ao dinheiro em si! O patrão dos servos deu capacidades aos seus servos e o menos capaz ao invés de fazer pouco, de acordo com sua capacidade menor em relação aos dois outros servos, escolheu FAZER NADA. O patrão aqui seria Deus e os servos, os diferentes tipos de seres humanos. Um ensinamento de Cristo jamais ensinaria a lidar com finanças ou com negócios. Isto seria contra diversos outros ensinamentos cristãos que afirmam que é mais importante ser solidário e humilde do que planejar coisas do cotidiano! A atenção às coisas da Terra deve ser dada com humildade, cuidando apenas do dia em que se vive, um de cada vez - Pois planejar ganhos materiais além do básico necessário para a vida, nunca fez parte dos ensinamentos de Cristo. O espiritismo complementa este ensinamento, indicando um caminho para equidade e para o desenvolvimento da empatia solidária: O acúmulo de grande fortunas só se justifica, se esta fortuna for aplicada para o bem da humanidade / para o progresso da humanidade.

 Discussão entre Jesus e os Fariseus (João)
Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.
Disseram-lhe, pois, os fariseus: Tu testificas de ti mesmo; o teu testemunho não é verdadeiro. Respondeu Jesus, e disse-lhes: Ainda que eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro, porque sei de onde vim, e para onde vou; mas vós não sabeis de onde venho, nem para onde vou.
Vós julgais segundo a carne; eu a ninguém julgo. E, se na verdade julgo, o meu juízo é verdadeiro, porque não sou eu só, mas eu e o Pai que me enviou. 
E na vossa lei está também escrito que o testemunho de dois homens é verdadeiro. 
Eu sou o que testifico de mim mesmo, e de mim testifica também o Pai que me enviou. 
Disseram-lhe, pois: Onde está teu Pai? Jesus respondeu: Não me conheceis a mim, nem a meu Pai; se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai. 
Estas palavras disse Jesus no lugar do tesouro (cofre de esmolas), ensinando no templo, e ninguém o prendeu, porque ainda não era chegada a sua hora. 
Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Eu retiro-me, e buscar-me-eis, e morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou, não podeis vós vir.
Diziam, pois, os judeus: Porventura quererá matar-se a si mesmo, pois diz: Para onde eu vou não podeis vir?
E dizia-lhes: Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo. Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados, porque se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados.
Disseram-lhe, pois: Quem és tu?
Jesus respondeu: Isso mesmo que já desde o princípio vos disse. Muito tenho que dizer e julgar de vós, mas aquele que me enviou é verdadeiro; e o que dele tenho ouvido, isso falo ao mundo.
Mas não entenderam que ele lhes falava do Pai.
Disse-lhes, pois, Jesus: Quando levantardes o Filho do homem, então conhecereis que EU SOU, e que nada faço por mim mesmo; mas isto falo como meu Pai me ensinou. E aquele que me enviou está comigo. O Pai não me tem deixado só, porque eu faço sempre o que lhe agrada.
Dizendo ele estas coisas, muitos creram nele.

 Jesus explica que os fariseus julgavam segundo a carne, ou seja, eram materialistas: Eles achavam aceitável viver no luxo enquanto tantas pessoas viviam na miséria sem amparo algum. Os fariseus ainda desvirtuaram a religiosidade (espiritualidade) ensinada pelos profetas, se apegando meramente a ritos, vestimentas, cerimônias e templos. Jesus em sua constante solidariedade, sempre ajudando os mais necessitados, ensinava a lei divina não só através de palavras, mas através de seus próprios atos. Jesus ainda diz que pessoas como os fariseus não conhecem a Deus, pois não praticam a solidariedade e desprezam os mais necessitados. Quando Jesus diz que vai para onde os fariseus não podem ir, ele quis dizer que quando sua hora chegar, vai ao reino dos céus enquanto os fariseus apegados às coisas terrenas sofrerão as consequências de suas escolhas egoístas.
Ao dizer “nada faço por mim mesmo, mas isto falo como meu Pai me ensinou”, Jesus indica que está livre do mundo (material, sensorial) e uno com Deus. Isto está de acordo com o hinduísmo, como mostra a obra Bhagavad Gita (V: 8 e 9 da tradução de Edwin Arnold): “Nada do que faço sou eu quem faz. Assim pensará quem se atém à verdade das verdades. Sempre seguro que este é o mundo dos sentidos que brincam com as sensações”... 

 Jesus é o Todo (Tomé)
Jesus disse: Quem acredita que o Todo em si é deficiente, é (ele mesmo) completamente deficiente. Eu sou a luz que está acima de todos eles. Sou eu quem sou o Todo. De Mim veio o Todo, e para Mim se estendeu o Todo. Parta um pedaço de madeira, e eu sou ali. Levante a pedra, e você me encontrará lá.

 Assim como Deus é transcendente, Tomé indica que Jesus também é, pois Cristo é uno com o Pai. Certamente Jesus, no Reino dos Céus, (ou no Aeon, como chama Filipe), viu todos os profetas encarnarem e desencarnarem na Terra. Assim como João e Filipe, Tomé também mostra o caráter sagrado da luz… 
Este argumento de que Jesus é uno com Deus certamente é polêmico em diálogos inter religiosos: Pode parecer um discurso de poder utilizável pelas igrejas para alegar que o cristianismo é a única religião verdadeira ou que é superior a outras religiões por que “Jesus é Deus, o Todo” etc. Este é um dos motivos do porquê muitos espíritas criticam tal argumento. Porém esta união de Jesus com Deus não contradiz necessariamente o espiritismo nem as outras religiões, vejamos alguns exemplos disto: O espiritismo busca explicações filosóficas ao tentar aproximar a espiritualidade cristã da ciência, mas nem o movimento espírita, nem a ciência tem a resposta para tudo até este início de século 21. O espiritismo não considera que Jesus seja Deus, mas dá a entender que ele é o espírito mais elevado (bom, puro, justo etc) que passou pela Terra e possivelmente é o espírito mais próximo de Deus, podendo ter agido como o “medium de Deus" durante sua vida terrestre. 
No sanatana dharma (hinduísmo) alguns iogues indicam ter alcançado essa unidade com o Todo, ou seja com Deus que é sinônimo do onipresente Brahman. Então Jesus como alguns desses yogues e sris (santos) das religiões hindus poderiam estar em plena harmonia com Deus e toda sua criação. 
É possível que Jesus seja transcendente de tal forma, que seu espírito (sua verdadeira forma) seja tão pura e de um amor tão expansivo, que é mais adequado compará-lo com Deus do que com a maioria dos humanos, sejam profetas ou espíritos benevolentes encarnados. Tanto que o espiritismo diz que os espíritos mais puros e mais próximos de Deus são capazes de se comunicar em vários locais ao mesmo tempo, praticamente transcendendo o espaço-tempo.
Porém isto não deve ser desculpa para não praticar os ensinamentos de Jesus nem para separá-lo dos fiéis e de pessoas que vivem conforme a lei de amor, pois o mais importante é que esta pureza não é coisa impossível de ser alcançada: Ela também é fruto de Jesus encarnado como humano! É fruto de suas ações tanto solidárias, como instrutivas: Jesus nos ensina através de suas palavras e de suas práticas que fazer o bem faz bem. As falas de Jesus como “... está escrito em vossa lei: vós sois deuses” e “se alguém dizer a este monte: ergue-te e lança-te ao mar e não duvidar em seu coração, mas crer no que se fará o que diz, assim será com ele” mostram que é possível se unir a Deus através da vivência da lei de amor em prática e em mentalidade. 

 (Continuação da Discussão entre Jesus e os Fariseus)
Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. 
Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão, e nunca servimos a ninguém; como dizes tu: Sereis livres?
Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado. Ora o servo não fica para sempre em casa; o Filho fica para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres. Bem sei que sois descendência de Abraão; contudo, procurais matar-me, porque a minha palavra não entra em vós. 
Eu falo do que vi junto de meu Pai, e vós fazeis o que também vistes junto de vosso pai. 
Responderam, e disseram-lhe: Nosso pai é Abraão. 
Jesus disse-lhes: Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão. Mas agora procurais matar-me, a mim, homem que vos tem dito a verdade que de Deus tem ouvido; Abraão não fez isto. Vós fazeis as obras de vosso pai. 
Disseram-lhe, pois: Nós não somos nascidos de fornicação; temos um Pai, que é Deus.
Respondeu-lhes, Jesus: Se Deus fosse o vosso Pai, certamente me amaríeis, pois que eu saí, e vim de Deus; não vim de mim mesmo, mas ele me enviou. Por que não entendeis a minha linguagem? Por não poderdes ouvir a minha palavra. Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira. Mas, porque vos digo a verdade, não me credes. Quem dentre vós me convence de pecado? E se vos digo a verdade, por que não credes? Quem é de Deus escuta as palavras de Deus; por isso vós não as escutais, porque não sois de Deus.
Responderam, pois, os judeus, e disseram-lhe: Não dizemos nós bem que és samaritano, e que tens demônio?
Jesus respondeu: Eu não tenho demônio, antes honro a meu Pai, e vós me desonrais. Eu não busco a minha glória; há quem a busque, e julgue. Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte.
Disseram-lhe, pois, os judeus: Agora conhecemos que tens demônio. Morreu Abraão e os profetas; e tu dizes: Se alguém guardar a minha palavra, nunca provará a morte. És tu maior do que o nosso pai Abraão, que morreu? E também os profetas morreram. Quem te fazes tu ser?
Jesus respondeu: Se eu me glorifico a mim mesmo, a minha glória não é nada; quem me glorifica é meu Pai, o qual dizeis que é vosso Deus. E vós não o conheceis, mas eu conheço-o. E, se disser que o não conheço, serei mentiroso como vós; mas conheço-o e guardo a sua palavra.
Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o, e alegrou-se.
Disseram-lhe, pois, os judeus: Ainda não tens cinqüenta anos, e viste Abraão?
Disse Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou.
Então pegaram em pedras para lhe atirarem; mas Jesus ocultou-se, e saiu do templo, passando pelo meio deles, e assim se retirou.

 Jesus sempre disse apenas a verdade, nunca mentindo. Pois a verdade liberta, enquanto mentir é ocultar, distorcer e poluir os fatos, os pensamentos e os sentimentos, uma manobra típica de quem prioriza a si próprio, desprezando os outros. 
Jesus glorificou seu Pai (Deus), propagando seus ensinamentos de amor e realizando suas obras, enquanto os fariseus mal intencionados e sempre desejosos de se livrarem de Jesus, alegavam ser filhos de Deus invocando uma ancestralidade (linhagem sanguínea, materialista) de Abraão. 
Jesus diz que aquele que comete pecado é servo do pecado, dando a entender que o pecado é como o vício. É preciso um esforço, como o arrependimento, para se deixar o pecado. Ora, se a mentira em todas suas facetas é pecado por confrontar a verdade, a mentira também é um vício e a verdade é o que realmente liberta.
Nas obras de Platão, o autor menciona que seu mestre Sócrates, ensinou que o vício é o que mais se aproxima de destruir a alma, mas que mesmo este é incapaz de destruí-la. Obviamente a alma aqui pode ser tanto sinônimo de mente, como uma porção espiritual do indivíduo vinculada à mente. A kriya yoga afirma que tanto os rishis (sábios hindus), como os profetas do Velho Testamento (judeus) sabiam sobre Maya, só que estes últimos a chamavam de Satã. De fato os opositores de Jesus, como os fariseus, tinham a mentalidade e a atitude materialista, ou seja, eram “filhos” de Maya: Isto pode ser notado pela importância que davam à "ancestralidade" sanguínea / linhagem familiar, à ritualística, às aparências e às suas posições privilegiadas na sociedade. Assim, Maya pouco difere de Satã, ou de diabolos em grego. Jesus, ou a Consciência Crística se manifestou na Terra para libertar as pessoas desta ilusão.

 O oculto e o revelado, A ignorância e a verdade (Filipe) 
 … Se ignoramos (a nossa maldade), ela se enraíza em nós e produz seu fruto em nosso coração. Ela nos torna seus escravos. É poderosa porque não a reconhecemos, pois enquanto existe, está ativa. 
A ignorância é a mãe de todos os males. A ignorância resultará em morte, porque aqueles que vêm da ignorância não foram, nem são, nem serão. [...] 
serão perfeitos quando toda a verdade for revelada. Pois a verdade é como a ignorância: enquanto está escondida, repousa em si mesma, mas quando é revelada e reconhecida, é louvada, pois é mais forte que a ignorância e o erro. Dá liberdade. A Palavra disse: "Se conhecerdes a verdade, a verdade vos libertará" (Jo 8:32). A ignorância é uma escrava. Conhecimento é liberdade. Se conhecermos a verdade, encontraremos os frutos da verdade dentro de nós. Se nos unirmos a ela, ela trará nossa realização.

 Aqui, Felipe explica e complementa o texto de João sobre a discussão entre Jesus e os fariseus. A maldade e a ignorância são como vícios e devemos encará-los e superá-los corrigindo nossos erros, buscando o bem e o conhecimento. Todo ensinamento de Jesus é sobre a prática do bem, pois seu amor é humilde, piedoso, solidário e expansivo - leva esperança por onde passa. 
Apesar disto, muita gente pode achar que o conhecimento é independente do bem e que há conhecimento “neutro”. Isso porém é uma falácia pois todo pensamento e toda ação tem uma finalidade seja ela mais ou menos clara - tem uma intenção. 
Platão em sua obra indica como o verdadeiro conhecimento (a episteme) é indissociável das mais elevadas virtudes ou excelências como kalos (a bondade e a beleza), sophrosyne (moderação e autocontrole), coragem e justiça. Tais virtudes são alcançáveis pela psiquê em sua atividade cognoscível e devem ser colocadas em prática para um convívio justo em sociedade e para que a alma tenha um bom destino em sua imortalidade. 

 O ser verdadeiramente livre não peca: Ama espiritualmente (Filipe) 
Aquele que conhece a verdade é um homem livre, mas o homem livre não peca, pois "Quem peca é escravo do pecado" (João 8,34). A verdade é a mãe, o conhecimento, o pai. 
Aqueles que pensam que o pecado não se aplica a eles são chamados de "livres" pelo mundo. O conhecimento da verdade apenas torna essas pessoas arrogantes, que é o que as palavras "torna-as livres" significam. Até lhes dá uma sensação de superioridade sobre o mundo inteiro. 
Mas "o amor edifica" (1 Coríntios 8:1). De fato, quem é realmente livre, pelo conhecimento, é escravo, por amor a quem ainda não conseguiu alcançar a liberdade do conhecimento. O conhecimento capacita-os a se tornarem livres. O amor nunca chama algo de seu, [...] Nunca diz "Isto é seu" ou "Isto é meu", mas "Tudo isso é seu". O amor espiritual é vinho e fragrância. Todos os que se ungem com ela têm prazer nisso. Enquanto aqueles que são ungidos estão presentes, aqueles que estão próximos também lucram (com a fragrância). Se os ungidos com ungüento se afastam deles e vão embora, então os não ungidos, que apenas ficam por perto, ainda permanecem em seu mau cheiro. O samaritano não deu nada além de vinho e azeite ao ferido. Não é nada mais do que a pomada. Curou as feridas, pois "o amor cobre uma multidão de pecados" (1 Pedro 4:8).

 A verdade não é má, bem como o conhecimento que leva a verdade. Portanto quem realmente conhece a verdade sente uma necessidade de libertar quem ainda está preso na ignorância. Platão mostra isso na parábola (ou mito) da caverna: O verdadeiro conhecimento nos liberta pelo amor (pela ideia/eidos do bem/kalos), e o amor existe para ser transmitido/ para ser expresso e relacionar-se com os outros. Esse amor não é possessivo nem opressor como Filipe indica. Portanto, isto difere de impor a mera opinião aos outros, pois é uma ato de se livrar espiritualmente de intenções e desejos egoístas.
Filipe indica que ao nos livrarmos de nossos desejos egoístas, sejam eles de preguiça, luxúria, avareza, maledicência, orgulho/ vaidade, fúria, intolerância, ódio, ganância ou qualquer outro, nós estaremos cada vez mais aptos a praticar o bem, ou seja, a lei divina de amor. Assim podemos ser mais plenamente humildes, moderados, pacientes, amigáveis, piedosos etc. Esta prática nos leva à verdade, ao verdadeiro conhecimento e ao amor, nos fazendo mais compreensivos e empáticos. É a partir daí que nos tornamos verdadeiramente livres, pois nos desapegamos dos desejos fúteis e dos egoístas, passando a nos aproximar cada vez mais dos seres mais puros, ou seja, dos que são mais próximos de Deus. 

Leitura sobre Últimos encontros com Jesus

Ressurreição e aparição a Maria Madalena ( Mateus , Marcos , Lucas , João ) Eis que no primeiro dia da semana, houve um violento tremor de t...