quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Conservadorismo: A Farsa na Espiritualidade

 

O Cristianismo é Conservador em seus Fundamentos? 

Como mencionei em meu texto onde abordo o fundamentalismo (https://nea-ekklesia.blogspot.com/2022/01/os-fundamentos-do-saber.html), o cristianismo não se trata de ensinamentos conservadores nem de uma religião conservadora. Desde seu surgimento no século 1, até meados do século 4, o cristianismo vinha trazendo novos modos de pensar, de agir e de se expressar e o que traz novidades não pode ser conservador. Afinal o cristianismo ensina a importância do amor que rege a lei divina e portanto a verdadeira lei de todas as coisas. Este amor que Jesus mostrou durante sua vida no século 1, tão raro na sociedade tomada pela cultura bélica de Roma e tão esquecido entre as seitas corrompidas do judaísmo, é humilde e piedoso; não é controlador nem ciumento. 

Talvez o único ensinamento do cristianismo que se aproxime polemicamente de um suposto elemento do conservadorismo, seja o de não olhar para (o corpo de) uma pessoa desejando-(o)a. Esta passagem bíblica trata de uma crítica ao sexismo, mas que para pessoas que valorizam demais o sexo casual (sem relacionamento ou sem sentimentos envolvidos) pode ser algo proibitivo ou incômodo. 

Ponto em comum entre Cristianismo e Platonismo 

O argumento desta passagem se assemelha com os ensinamentos de Platão (e de Sócrates), onde o filósofo identifica a priorização dos prazeres, como um ato de desprezar a mente e seu respectivo potencial de busca pelo conhecimento e pelo bem. Em suas obras, Platão indica que os prazeres materiais mais intensos e os mais exagerados são os piores para a alma (mente), típicos de quem se encontra no estado da mente inferior, enquanto os prazeres mais sutis e voltados ao bem (kalos) são típicos de quem se encontra no estado da mente superior. Tanto a filosofia socrática/platônica, como o cristianismo, acabam apontando as inconsistências de se querer cada vez mais bens materiais. Platão estende a critica à busca incessante por prazeres materiais e ainda aponta os males do vício, que pode ser facilmente relacionado a este tema do materialismo demasiado, chegando a organizar rudimentarmente quais prazeres são mais sublimes e quais são menos. Segue uma tentativa de listar os prazeres do mais prejudicial à mente ao mais benéfico: 

O prazer individual misturado com a dor física ou psíquica (um dos piores); 

A intensidade do prazer do ato sexual (chamado de amor sensual nos escritos de Platão); 

O prazer do paladar relacionado à comida saborosa, mas pouco nutritiva, ou ao consumo em demasia; 

Os prazeres do olfato, como os causados por perfumes e aromas; 

Os prazeres da audição, do som, como escutar música; 

Os prazeres da visão, como apreciar imagens agradáveis e paisagens belas; 

Os prazeres de ajudar o próximo, principalmente os mais necessitados (um dos melhores); 

Embora esteja listada ordenando os 5 sentidos humanos (tato/ paladar/ olfato/ audição/ visão), o fator intensidade é decisivo para determinar se o prazer desvia a atenção da alma tornando-a apegada ao mundo material; Ou seja, esta é um lista rudimentar podendo ter algumas variáveis. O estado mais desenvolvido da mente é quando esta se entrega pela busca ao Bem maior, pelo conhecimento, pela verdade (o Bem deve gerar o prazer mais real, mais sublime do que os prazeres da visão). 

Completando este ensinamento sobre o que há de menos e mais elevado na mente humana, Sócrates (e Platão) indica(m) que o maior sempre serve o que lhe é submisso, o que lhe é inferior. Se a mente mais desenvolvida ou elevada busca o bem maior, ela naturalmente acaba buscando servir os mais humildes, os menos desenvolvidos etc. 

Em última instância priorizar o Bem e o desenvolvimento da mente (ou da alma, como preferir), não pode ser chamado de conservadorismo. Fazer o bem, não só ajuda o mais necessitado a superar uma dificuldade, como pode o inspirar a também ajudar o próximo.

Há quem diga que os elementos filosóficos socráticos e platônicos sejam mentalistas/ idealistas/ espiritualistas. Eles até parecem priorizar apenas a vida mental/ espiritual, mas na verdade eles são pluralistas. Platão nunca desprezou questões da vida, do mundo material. Para isto basta ler "A República" onde ele traça diversos argumentos para melhorar a civilização humana na Terra. 

O mesmo vale para os ensinamentos de Jesus Cristo: Apesar de mencionar que seu reino não é deste mundo, ele nunca abandonou os pobres na Terra, sempre demonstrando a importância de ajudar a todos. Por fim, o golpe final no conservadorismo por parte do cristianismo está na seguinte passagem: "Não penseis que eu tenha vindo trazer paz à Terra; não vim trazer a paz, mas a espada; — porquanto vim separar de seu pai o filho, de sua mãe a filha, de sua sogra a nora; — e o homem terá por inimigos os de sua própria casa." Afinal de contas, como poderia Jesus Cristo pregar a lei de amor, obedecendo classes religiosas corruptas, como os fariseus e os escribas, que queriam conservar a miséria e a ignorância do próprio povo?

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

A Necessária União entre a Espiritualidade Progressista

Ao longo dos anos estudando sobre religiões e "mitologias" notei que várias religiões falavam das mesmas coisas: da importância do bem, de um criador, de um todo divino... Mas também vi  religiosos evitarem ler coisas de autores que não professam suas crenças escolhidas: Há crentes que não lêem nada religioso fora a Bíblia, espíritas que lêem apenas Kardec etc. Isto é compreensível e até aceitável contanto que não gere mais divisões e insensibilidade em nossa sociedade.

Recentemente assisti uma missa onde o padre fez uma leitura bastante "pés no chão" sobre uma passagem bíblica. Em até certo ponto foi possível entender que Jesus curou enfermos não para provar que era Deus ou filho de Deus. Isto é válido, para não dizer, óbvio: Jesus o fez para propagar o bem. Todos os ensinamentos de Jesus giram em torno do bem: Amar o próximo como a si próprio.

Porém a leitura pareceu mostrar uma abertura para indicar que Jesus não fez milagres e que não tinha poderes sobrenaturais. Talvez seja uma explicação da teologia da libertação a qual ainda não estudei a fundo. Este é um ponto bem polêmico, mas há mais teorias que lidam com a religião e com a espiritualidade que convergem para este caminho: O espiritismo por exemplo alega que tudo (ou muito mais coisas do que conhecemos até o século 21) virá às claras, ou seja, tudo será compreendido. Os milagres vão gradualmente sendo explicados como manifestações da "mediunidade". Mediunidade esta que depende principalmente da interação de seres "incorpóreos", chamados de espíritos. Outro fator que o espiritismo indica ser necessário para as realizações mediúnicas é o fluído universal que está por trás da criação de todo universo. Este fluído parte de uma pureza máxima (Deus) e passa por diversas transformações constituindo desde forças praticamente indetectáveis para os seres humanos (como o perispírito) até energias e elementos normalmente perceptíveis pela vida terrestre.

Ninguém pode ser forçado a acreditar em uma coisa nem em outra: O católico certamente escolherá crer que Jesus fez milagres porque era filho de Deus ou o próprio Deus. O espírita dirá que Jesus foi um dos mais elevados espíritos que passou pela Terra e por isso mostrou grande domínio mediúnico em sua vida na Terra. E quem diz que Jesus não fez milagre nem foi um medium? O materialista, que geralmente é ateu. Obviamente porque ateus não crêem em Deus, e muitos deles, também não crêem em uma dimensão espiritual. Para o materialista apenas o universo "3D" existe. A mente é mero produto do cérebro: Está em reações químicas do sistema nervoso, nas sinapses ou na relação destes efeitos com o ambiente onde o ser vivo está inserido. Geralmente, para os ateus, milagres são invencionices criadas pelas igrejas para manipular o povo. Por enquanto não me aprofundarei nesse frágil argumento, mas sei que a "igreja européia" após o ano de 380 dC, inventou muitas coisas para manipular as massas.

Em linhas gerais, a igreja católica, assim como as igrejas protestantes, durante todo período colonial/ neo-colonial (do final do século 15 até meados do século 20) continuaram sendo usadas como ferramenta de poder ignorando os ensinamentos de seu principal profeta: Jesus Cristo. Os cristãos que acreditavam e praticavam os ensinamentos de Jesus Cristo eram minoria dentro da religião e por causa disso muitos absurdos foram admitidos, desde genocídio dos povos indígenas até a escravização dos povos da África subsaariana.

Portanto existia a necessidade de acabar com o poderio dentro das igrejas (ou das religiões), colocando-as em seus devidos lugares - o lugar do amor e da espiritualidade.

O espiritismo surgiu no século 18 entre uma classe de pedagogos europeus. Nesta época as práticas "místicas" haviam ganhado prestígio entre classes médias e altas da sociedade, o que deu abertura para proliferação de charlatanismo baseado em superstições e fascinação. A parte menos mesquinha e mais séria destes movimentos místicos eram essencialmente religiosos (espiritualistas, mas este termo era pouco ou nada usado na época), porém com a propagação do charlatanismo todos eles passaram a ser mau vistos pelas pessoas mais sérias, havendo uma  necessidade de reação.

O espiritismo pode não ter surgido essencialmente como reação, mas surgiu nesta época. Este movimento predominantemente filosófico (cristão/platônico, e, de certa forma também ontológico e até epistemológico), buscou explicar diversos fenômenos tidos como sobrenaturais: Contato com espíritos, visões "do além", êxtases espirituais, incorporações etc. Em seus esforços este grupo liderado por Kardec, coletou informações durante o século 19 e tentou uma conciliação com as elites intelectuais (entre elas, os cientistas) e com alguns grupos religiosos. Mas o resultado não foi muito promissor e o espiritismo em sua forma pura foi majoritariamente rechaçado como se fosse parte do movimento de charlatanismo da época. Ele só ganhou força no Brasil, durante o século seguinte, mas a elite econômica insistiu em distorcer muito da teoria e da prática espírita, o que fomentou divisões no espiritismo: Daí surgiu a Umbanda e os movimentos espíritas progressistas, afinal Kardec fala muito no progresso moral como base para o progresso da humanidade.

Como é possível notar, foi praticamente impossível convencer indivíduos cheio de poder (seja econômico, político ou religioso) a abandonarem seus excessos e suas ganâncias. Assim, a teologia da libertação surgiu de necessidades reais durante a transição dos anos 60 aos 70 do século 20.  

Movimentos como a teologia da libertação trabalharam junto aos pobres, aos humildes e aos desfavorecidos nas sociedades. Esta foi uma verdadeira aproximação dos ensinamentos de Cristo. O autor da obra considerada como marco do movimento, menciona que a raiz da exploração humana é a ruptura da amizade com Deus e com os Homens. Afinal o amor ensinado por Jesus Cristo, é o amor ao Deus onipresente criador de tudo e o amor a toda sua criação - daí amar ao próximo como a si mesmo.

Porém um dos perigos da aproximação com o materialismo, é desconsiderar a dimensão espiritual e a pluralidade. Alegar que os "milagres" de Cristo são uma invenção é argumento de anti-religiosos e anti-espiritualistas. Mesmo dizer que foi uma invenção para o bem, é um reducionismo - reduz as capacidades de Jesus Cristo e pressupõe uma certeza que nada parecido com milagres ou com a mediunidade existe.

Os milagres podem ser um tema polêmico, mas alegar que eles foram simplesmente inventados é sair do cerne dos ensinamentos da lei de amor. Se você não crê em milagres, pode buscar explicações filosóficas que indicam uma possibilidade como as do espiritismo ou as de filosofias e religiões orientais e africanas, ou pode deixar a questão em aberto.

Pregar verdades absolutas sobre o que ainda está a ser estudado ou sobre o desconhecido, é cair no erro. Nestes temas relacionados à espiritualidade e aos milagres, é útil e importante priorizar os ensinamentos de Cristo, que indicam que a lei divina, e portanto, universal, é a lei de amor. A lei é universal, regendo do maior (Deus) para os menores (toda sua criação e criaturas) e assim também é a lei da natureza (o Sol, a Terra e os seres vivos), como explicada por Sócrates (no livro A República, de Platão), tido como uma das bases do espiritismo. Os ensinamentos de Sócrates também indicam que o amor tem a capacidade de transcender além da vida material, como foi registrado por Platão no livro "O Banquete".

Alegar que todos os feitos de Cristo são invenções é "pregar verdades" sobre o que não se tem certeza ainda. É cair no mesmo erro das fúteis e nocivas discussões se Jesus era santo antes ou depois do batismo por João Batista. É cair no erro da discussão se a verdadeira espiritualidade deveria permitir ou não a reprodução de imagens de santos e profetas. É cair no erro de discutir se Maria, mãe de Jesus, era virgem ou não, se era santa ou não. É cair no erro das cisões, do clubismo, do separatismo, da opressão, das acusações mútuas e dos conflitos.

É querer propagar a opinião própria como verdade absoluta, como dogmas.

São como as perseguições religiosas do final do império romano, os conflitos entre budistas e taoistas, as cruzadas medievais, as guerras entre católicos e protestantes da era colonial, o darwinismo social, o fascismo, o nazismo, a guerra fria, o terrorismo no oriente médio etc.

O fanatismo não existe só nas religiões, muito menos só na espiritualidade. Ele existe em todo lugar onde se prega verdades absolutas ignorando minorias.

Os egoístas e os gananciosos negaram o espiritismo porque acharam absurdo ou terrificante a ideia de outras dimensões onde correriam o sério risco de pagar por seus erros (pecados). O espiritismo não prega a pobreza, mas diz que as grandes fortunas materiais só se justificam se aplicadas ao progresso da humanidade.

Este mesmo tipo de pessoa (egoísta e/ou gananciosa) renega a teologia da libertação não por sua aproximação do materialismo, mesmo porque o materialismo é sua defesa. Os multimilionários construíram seus argumentos falaciosos de que suas fortunas são frutos de um suposto trabalho árduo, sendo a matéria, tudo que eles têm. Esses gananciosos odeiam a teologia da libertação porque sentem nojo ou ódio de pessoas humildes e querem enganar e explorar os pobres. Renegam por causa de seu apego a quantidades gigantescas de riquezas materiais e por seus desejos de adquirirem cada vez mais.

O espiritismo e a teologia da libertação parecem movimentos bem diferentes entre si, mas ambas correntes de pensamento cristão fomentam um progresso que incomoda somente aqueles que querem perpetuar seu poder pelo maior período de tempo possível.

 

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Possíveis relações da Mente com o Universo - Parte 3

 As raízes da Ciência - Filosofia, Ontologia e Epistemologia 

A ciência não existe nem poderia existir sem a filosofia. Na história da humanidade, toda a discussão sobre a existência e todo o desenvolvimento de métodos de estudo partiu da filosofia (ontologia e epistemologia). Resumidamente isto ocorreu porque o conhecimento sempre esteve em poder de uma classe mais introspectiva/ pensadora das sociedades humanas. Esta classe que muitas vezes era religiosa ou espiritualizada, com certa frequência assumia a liderança das sociedades, ou, mantinham elos com o governo (geralmente monárquico ou imperial) agindo como conselheiros por exemplo. Afinal, o conhecimento desta classe servia para organizar e orientar as sociedades de diversas maneiras. 

 Como frequentemente existiu esse elo com a religiosidade/ espiritualidade, os pensadores e filósofos surgiam da (ou se envolviam com a) religião de seu respectivo tempo e local. Isto tem uma ligação direta com o fato das reflexões sobre a existência e sobre a mente/ a alma, fato que deu origem a ontologia no decorrer da história. 

Na Europa do século 17, com a transição do período renascentista ao iluminista, emergem as primeiras questões sobre a interação da alma/ mente com o corpo. 

René Descartes - Meditações sobre a Primeira Filosofia (1641) 

A afirmação central do que é frequentemente chamado dualismo cartesiano, em homenagem a Descartes, é que a mente imaterial e o corpo material, embora sejam substâncias ontologicamente distintas, interagem causalmente. Essa é uma ideia que continua a aparecer com destaque em muitas filosofias não europeias. Eventos mentais causam eventos físicos e vice-versa. Mas isso leva a um (suposto) problema substancial do dualismo cartesiano: como uma mente imaterial pode causar algo em um corpo material e vice-versa? Isso costuma ser chamado de "problema do interacionismo". 

O próprio Descartes lutou para encontrar uma resposta viável para esse “problema”. Em sua carta a Isabel da Boêmia, Princesa do Palatinado, ele sugeriu que "espíritos" dos nervos interagiam com o corpo através da glândula pineal, uma pequena glândula no centro do cérebro, entre os dois hemisférios. 

Apesar desta dualidade ser considerada um problema pelos filósofos e demais estudiosos mais apegados ao materialismo, Kardec acreditou que muitos dos materialistas que criticavam o dualismo cartesiano, poderiam e deveriam andar em paz ao lado dos espíritas. 

Espiritismo - Uma Filosofia Dualista ou Pluralista 

Sobre a possível relação espírito-corpo, Kardec cogita algo relacionado com o eletromagnetismo e/ou com a eletricidade em mais de um de seus escritos: 

“Tomamos para termo de comparação o calor que se desenvolve pelo movimento de uma roda, por ser um efeito vulgar, que todo mundo conhece, e mais fácil de compreender­-se. Mais exato, no entanto, houvéramos sido, dizendo que, na combinação dos elementos para formarem os corpos orgânicos, desenvolve­-se eletricidade. Os corpos orgânicos seriam, então, verdadeiras pilhas elétricas, que funcionam enquanto os elementos dessas pilhas se acham em condições de produzir eletricidade: é a vida; que deixam de funcionar, quando tais condições desaparecem: é a morte. Segundo essa maneira de ver, o princípio vital não seria mais do que uma espécie particular de eletricidade, denominada eletricidade animal, que durante a vida se desprende pela ação dos órgãos e cuja produção cessa, quando da morte, por se extinguir tal ação.” 

Se aproximando mais de uma crítica ao materialismo, Kardec escreveu (seja anotando as falas das médiuns ou de próprio punho) que praticamente toda mudança na Terra ocorre de modo gradual, como pode ser notado na evolução das espécies. O ser humano (homo sapiens) possui uma enorme semelhança de funcionamento de seu corpo em relação aos demais mamíferos, principalmente aos demais primatas, como chimpanzés, orangotangos e gorilas. 

“Ainda que isso lhe fira o orgulho, tem o homem que se resignar a não ver no seu corpo material mais do que o último anel da animalidade na Terra. Aí está o inexorável argumento dos fatos, contra o qual seria inútil protestar. Todavia, quanto mais o corpo diminui de valor aos seus olhos, tanto mais cresce de importância o princípio espiritual. Se o primeiro o nivela ao bruto, o segundo o eleva a incomensurável altura. Vemos o limite extremo do animal: não vemos o limite a que chegará o espírito do homem. 

O materialismo pode por aí ver que o Espiritismo, longe de temer as descobertas da Ciência e o seu positivismo, lhe vai ao encontro e os provoca, por possuir a certeza de que o princípio espiritual, que tem existência própria, em nada pode com elas sofrer.” 

O Espiritismo marcha ao lado do materialismo, no campo da matéria; admite tudo o que o segundo admite; mas, avança para além do ponto onde este último para. O Espiritismo e o materialismo são como dois viajantes que caminham juntos, partindo de um mesmo ponto; chegados a certa distância, diz um: “Não posso ir mais longe.” O outro prossegue e descobre um novo mundo. Por que, então, há de o primeiro dizer que o segundo é louco, somente porque, entrevendo novos horizontes, se decide a transpor os limites onde ao outro convém deter-se? Também Cristóvão Colombo não foi tachado de louco, porque acreditava na existência de um mundo, para lá do oceano? Quantos a História não conta desses loucos sublimes, que hão feito que a Humanidade avançasse e aos quais se tecem coroas, depois de se lhes haver atirado lama? 

Impactos do Materialismo vs Dualismo/ Pluralismo 

Em seu livro “Gênese, Milagres e as Predições segundo o Espiritismo”, Kardec ainda explica a importância de entender a mente/ alma como algo que transcende a matéria em contínuo processo de evolução: 

“A pluralidade das existências, cujo princípio o Cristo estabeleceu no Evangelho, sem todavia defini-lo como a muitos outros, é uma das mais importantes leis reveladas pelo Espiritismo, pois que lhe demonstra a realidade e a necessidade para o progresso. Com esta lei, o homem explica todas as aparentes anomalias da vida humana; as diferenças de posição social; as mortes prematuras que, sem a reencarnação, tornariam inúteis à alma as existências breves; a desigualdade de aptidões intelectuais e morais, pela ancianidade do Espírito que mais ou menos aprendeu e progrediu, e traz, nascendo, o que adquiriu em suas existências anteriores. 

Com a doutrina da criação da alma no instante do nascimento, vem-se a cair no sistema das criações privilegiadas; os homens são estranhos uns aos outros, nada os liga, os laços de família são puramente carnais; não são de nenhum modo solidários com um passado em que não existiam; com a doutrina do nada após a morte, todas as relações cessam com a vida; os seres humanos não são solidários no futuro. Pela reencarnação, são solidários no passado e no futuro e, como as suas relações se perpetuam, tanto no mundo espiritual como no corporal, a fraternidade tem por base as próprias leis da natureza; o bem tem um objetivo e o mal consequências inevitáveis. 

Com a reencarnação, desaparecem os preconceitos de raças e de castas, pois o mesmo Espírito pode tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. 

Tirai ao homem o espírito livre e independente, sobrevivente à matéria, e fareis dele uma simples máquina organizada, sem finalidade, nem responsabilidade; sem outro freio além da lei civil e própria a ser explorada como um animal inteligente. Nada esperando depois da morte, nada obsta a que aumente os gozos do presente; se sofre, só tem a perspectiva do desespero e o nada como refúgio. Com a certeza do futuro, com a de encontrar de novo aqueles a quem amou e com o temor de tornar a ver aqueles a quem ofendeu, todas as suas ideias mudam.” 

Os Estados da Mente para além de Si Mesma 

Pode-se dizer resumidamente que todas as pessoas que passam pela nossa vida (participam de modo significativo), deixam marcas psíquicas: Sejam desejos, expectativas, sentimentos ou formas de pensamento… Isto marca a importância da relação e da fraternidade entre seres humanos. A fraternidade pode ser entendida como um estado mental/ estado de consciência - Semelhante do que se ouve dizer nesta 2ª década do século 21, a fraternidade deve ser praticada assim como empatia: Após desenvolver empatia, convivendo e/ou solidarizando com pessoas diferentes, é possível ver o próximo de maneira mais compreensível, respeitando-o, buscando o bem das comunidades, e certamente, da humanidade como um todo. 

Estados de consciência são altamente determinantes - podem ser jaulas (que aprisionam a mentalidade da pessoa e consequentemente, sua respectiva vida), mas também podem ser transcendentes, e de certa forma, libertadores, como mencionado pelo neuropsiquiatra e logoterapeuta Viktor Frankl: Sob condições de extrema dificuldade (miséria e tortura) nos campos de concentração da 2ª Guerra, os prisioneiros que acreditavam em algo bom ou se agarravam psicologicamente a uma esperança ou fé, tinham mais condições de sobreviver. Esta condição mental (ou estado de consciência) estava ligada a uma melhoria na capacidade de tolerância e de recuperação do corpo e tem relação com o que Viktor Frankl chama de transcendência. Em última instância, o sentido de vida da pessoa tem uma importância central em sua existência e está diretamente ligado a capacidade de direcionar bons sentimentos para além de si mesmo. 

Este estado mental parece típico de ascetas religiosos (ou espiritualizados) de diversas regiões diferentes do globo. Assim estes indivíduos suportam grandes dificuldades inspirando-se em suas fés/ crenças. 

Neurologia e Filosofia 

Os 3 tópicos (a seguir) são baseados no diálogo entre o neurocientista Miguel Nicoelis e a filósofa Lúcia Helena Galvão. 

A mente é análoga: Mídias com que interagimos alteram a morfologia do nosso sistema nervoso central, pois ele é plástico para sobreviver às mudanças do mundo externo; Quando as recompensas são dadas por comportamentos cada vez mais semelhantes às máquinas, o sistema nervoso apara (pruning) componentes analógicos que não se adequam ao mundo digital, comprimindo capacidade cognitiva, empática e emocional, atingindo a inteligência. 

A seleção natural é contínua e permanece ocorrendo até os dias de hoje. Portanto, muitas das pressões seletivas que ocorrem sobre nosso sistema nervoso central são de nossa própria criação (do ser humano como espécie). A redução do número de poetas, artistas e artesãos nas sociedades humanas indica esse movimento. A informação não aprofundada / não processada serve como bloqueio da criatividade e imaginação (independe de escolaridade). Esta informação não aprofundada pode ser considerada dados que não formam mensagens coerentes nem úteis. A vasta e rápida propagação destes dados em geral não tem a função de informar e sim de entreter, distrair e vender produtos aos usuários de diversas mídias. Esta propagação de informação incompleta/ não aprofundada, fomentou uma geração de meros usuários (de mídias digitais) e não de criadores. Tal bombardeio de propagandas e outras futilidades agem como ruído atrapalhando tanto a capacidade de pesquisa como a formação de conteúdo psíquico/ emocional, pois a originalidade e a captação das ideias serve à ciência também, não só à arte. 

A mente humana é maior do que o conjunto de neurônios, pois gerou experiências mentais há centenas de milhares de anos. A capacidade de preencher, complementar espaços e narrativas, tanto de captação de informações dos sentidos como de interpretação de mitos e histórias, indicam essa grandiosidade. 

Para a neurociência de Nicolelis, o senso e a imagem corporal do eu são criações fluidas e plásticas que podem mudar a cada instante. Ele estudou crianças vítimas de má-formação congênita, sem membros, e verificou que elas continuavam a sentir braços e pernas fantasmas desde a infância. Isso mostrou a ele que o cérebro (a mente) humano é capaz de gerar um modelo muito bem definido do corpo e do senso do “eu”, mesmo na ausência de sinais somáticos derivados de componentes corporais. Assimilamos até ferramentas artificiais como verdadeiras extensões contínuas de nossos corpos biológicos. Temos um cérebro capaz de simular, além de um mapa de nossos corpos, também uma representação do próprio mundo em nossas habilidades mais valiosas. Para um bom violinista, por exemplo, o cérebro precisa incorporar o violino como extensão dos seus braços. 

Para o famoso psiquiatra e psicólogo Carl Gustav Jung, do mesmo modo, o “eu” acumula imagens que se agrupam por significados oriundos tanto da percepção quanto da memória. É a formação de um complexo de ideias, sentimentos e imagens que não possuem realidade em si. O eu é, portanto, uma solução de compromissos entre imagens (sensoriais e mnemônicas) prevalentes num dado momento para tornar-se objeto do pensamento abstrato. Jung chamou a isso de“complexo do eu”. 

Pelo fato de o cérebro assimilar tudo que lhe é familiar, a dor do amor é mais do que real. Perder o objeto de nossa afeição é como amputar uma parte do senso do “eu”. 

 Ele continua a nos explicar o “eu”, o amor e a paixão como cascatas de hormônios que se aliam aos sentidos e fazem o cérebro lutar para incorporar esse fluxo de informações como parte de realidade e do senso do “eu”, compondo sobre o produto de experiências prévias. Os hormônios mediadores dos contatos corporais como abraços, fazer amor, massagens, o encontro social com alguém desejado e etc., criam a sensação de prazer nutrida pela simulação da realidade criada pelo cérebro, até que essa realidade seja também integrada como parte do modelo neural que define o senso do “eu”. 

 Compartilhamos nossas vidas como um verdadeiro amálgama de corpo e seres que estão na ativa e dinamicamente mantidos no espaço neuronal do cérebro de cada um de nós. Por isso a fantasia do fim do mundo, como um desejo de morte solidária e democrática, é compensatória para esse medo da finitude que é lembrado quando um ano se finda. Pois, quando alguém morre e outros ficam, os que ficam sofrem as dores cruciantes da saudade. Essa fantasia faz essa dor não acontecer, já que todos partiriam juntos. 

As pesquisas de Nicolelis se orientam para criar uma interface entre o cérebro e as máquinas. Abreviou com as iniciais ICM. Nos mostra que máquinas podem “ler pensamentos” e traduzi-los em comandos computacionais, fazendo com que um primata em um laboratório controle um robô do outro lado do mundo. Fala de um futuro próximo em que o homem poderá conduzir seu veículo, comunicar-se com outras pessoas por meio dos seus pensamentos, numa “brainet”, uma verdadeira rede social de cérebros humanos. Pessoas portadoras de paraplegia teriam condições de se movimentar novamente, graças a um exoesqueleto, sob o comando do pensamento, ajustado ao corpo como se fosse um traje. 

A humanidade vai muito além de um controle da consciência em que a vontade atua modificando estruturas mecânicas. Somos cada um o todo onde o outro é um pedaço de si e, por isso, amar a si mesmo é também amar o outro. 

A Mente na Filosofia 

A filosofia trabalha ideias universais, mais amplas que formam, diferente do saber mais técnico que apenas informa. Por exemplo, o pedreiro joga argamassa numa parede com determinadas distância, quantidade e força. Este processo na filosofia desconsideraria a profissão e os materiais, fazendo as seguintes modificações (para um diálogo por exemplo): momento certo, quantidade certa e intensidade certa. 

Saber se comunicar, conhecer sua própria identidade, cuidar do bem-estar mental são fatores importantes que servem como uma defesa contra a opinião alheia e contra tentativas de manipulação feitas por outras pessoas. 

Além de trabalhar ideias universais, a filosofia traz o exercício da reflexão, ou seja, exercitar e dominar a própria mente. Tal domínio não é parar a mente, mas ter um momento sem interferência externa. 

Aplicar teoria é obrigatório; testar ideias é importante para inovação e adaptação; reflexão é o encontro com sua alma e o desenvolvimento da capacidade de avaliar; 

A filosofia assim como a ciência e a religião não deveria ser usada em benefício de poucos e sim em prol da maioria. Não deve ser usada para fins perigosos ou destrutivos e sim para o progresso, para o bem. 

A Consciência e o Progresso da Humanidade 

A consciência naturalmente rejeita aquilo que ela já aprendeu totalmente e/ou já superou. Deixar-se levar por qualquer razão, aos problemas já superados, leva a processos de sofrimento e/ou de vício. Desistir de ideais nobres que priorizam o bem do próximo e/ou da maioria, por exemplo, implica gradualmente em dar mais espaço às ideias contrárias, como as de segregação, de elitização, os discursos de ódio etc. Se um número grande de pessoas desiste dos ideais de justiça, equidade, fraternidade/ solidariedade, as pessoas com ideias contrárias prevalecem, causando na sociedade, o impacto destrutivo da segregação, indiferença, elitização etc. 

Entregar-se ao consumo abusivo de qualquer substância devido a dificuldade em lidar com uma questão/ problema, é uma situação similar à anterior mas em um nível individual. Danifica-se o corpo e a mente causando até um possível processo letal de adoecimento. 

O processo de evolução da espécie humana não pode ser desvinculado de sentimentos como a empatia, a amizade, a solidariedade, a curiosidade em aprender, a devoção etc. Estes “sentimentos” não são elementos separáveis que podem ser comparados lado a lado com impulsos mais rudimentares nem com sentimentos destrutivos ou nocivos. A diferença se dá por níveis, afinal se todo ser humano se entregasse frequentemente aos impulsos de perpetuação da espécie, estaríamos todos apenas buscando sexo e comida há mais de 220.000 anos. 

Com tais exemplos é possível ver que, ao menos de certo modo, a identidade de cada forma é como um nível de vibração (podendo variar do menos ao mais intenso e/ou do menos ao mais amplo, e vice-versa). Resumidamente tal movimento (ou "vibração") vale para toda "matéria e energia": sólido, líquido, gás, plasma, radiação e também para a mente humana. 

O que é Transcendência? 

As informações que compõem todos os dados mentais e suas respectivas relações que formam interpretações, jeitos, crenças e identidades, se manifestam através do sistema nervoso central (cérebro, neurônios etc). Ela depende do potencial elétrico e das sinapses para manifestar-se através do SN (sistema nervoso), mas nenhuma pesquisa empírica prova sua localização. Não há provas obtidas por tal método de estudo, de que a mente esteja precisamente no cérebro, nos neurônios ou em qualquer outra parte ou fluído do corpo. O que se detecta são pontos do SN onde surgem efeitos e consequências de intenções, escolhas etc. 

Tais informações (psíquicas) não desaparecem repentinamente nem mesmo na morte. Os casos chamados de “Experiência de Quase Morte” dão esse indício, ainda que haja muita resistência na comunidade científica. Pacientes que perderam a consciência nestas experiências, efetivamente morrem por alguns segundos, pois passam por um breve período de inatividade cerebral total, mas não tiveram suas memórias, visões ou sensações apagadas da existência, para depois simplesmente ressurgirem - eles se lembram e muitos até contam o que viram “enquanto seus corpos estavam mortos”.. 

O sentimento é uma peça chave nas questões de transcendência psíquica, mas são mal estudados. Alguns estudos de psicologia cardíaca indicam uma relação do coração, tanto com os sentimentos, como com o cérebro e com campos eletromagnéticos. Porém, a maior parte da aplicação dos estudos desta área são voltadas ao tratamento de pacientes com problemas cardíacos. 

Mas estas questões abordadas desta maneira beiram o materialismo, e isto é pouco relevante se comparado com a importância dos bons sentimentos e de suas expressões. Humildade, receptividade, comunicação clara, paciência, devoção, força de vontade, solidariedade/ piedade, entendimento/ responsabilidade e empatia/ difusão de ideias são essenciais para que a humanidade não se destrua. 

Além do Materialismo 

 Sendo o processo de expansão dos bons sentimentos parte de um processo de evolução do aparelho psíquico (e todos seus elementos constituintes como sensações, interpretações, informações, memórias etc), esta evolução ocorre essencialmente pela transcendência, através do ir além de si mesmo, e apreciando humildemente o máximo de coisas ao seu redor e se preocupando com o Bem além de percepções individuais e/ou imediatistas. É claro que tal processo não consiste em abandonar a si mesmo, mas também ver e respeitar a si mesmo como uma pequena parte de uma realidade enorme, em prática, como parte de uma realidade infinita. 

Tal progresso ou processo de evolução trabalha de alguma forma os elementos psíquicos que transcendem o espaço-tempo conhecido pela humanidade. Então esse aparelho psíquico (ou espírito) que transcendeu, já não está mais preso às leis naturais conhecidas pelos habitantes da Terra: Ele é capaz de viajar de maneira praticamente inimaginável pela humanidade, ainda que deva ter algum limite dentro de um conjunto de leis possivelmente “maiores” ou que abranjam esta hipotética quarta dimensão além do espaço-tempo. 

Tais seres possivelmente energéticos com uma imensa vastidão de sentimentos puros e conhecimentos verdadeiros só podem ser descritos pelos seres humanos (da antiguidade à modernidade) como seres gloriosos, divinos e angelicais. 

Estes seres indicam a existência de uma ou mais dimensões além do que nós seres humanos entendemos como realidade até este início do século 21 do calendário gregoriano. 

Tal dimensão jamais seria algo subordinado ao nosso “espaço-tempo” ou à nossa realidade, colocando a Terra e todos seus habitantes em uma posição de antecessor a se desenvolver ou a evoluir. Embora pareça uma situação de pequenez ou de impotência da vida terrestre ante tamanha vastidão (o infinito vai além das 3 dimensões), na verdade as dimensões além simplesmente mostram que a Terra e toda sua realidade onde está inserida tem a sua importância sob uma outra ótica. Esta ótica não é nada surpreendentemente nova: É a lógica, onde o bem, sendo o objetivo central nas civilizações, cessa todos os conflitos e os entraves do progresso. O progresso não se dá só pela racionalidade e pelo acúmulo de conhecimentos objetivos que gera tecnologia, o progresso também se dá pela valorização de tudo relacionado aos sentimentos: A expressão das artes, da espiritualidade, o desenvolvimento da empatia, da solidariedade etc. 

Obviamente estes sentimentos não são destrutivos nem mesquinhos, são sentimentos relacionados ao processo real de transcendência, de ir além. Não se trata de sentimentos de posse, nem de emoções que forçam outras pessoas a estarem subjugadas de alguma forma. 

O sentimento sendo algo mais interno e geralmente mais duradouro do que suas expressões/ emoções, é um estado mental. Muitas vezes, não é simples nem fácil entrar neste estado, mas é preciso buscar, se mover e sentir. 

Fontes (além de minhas experiências "subjetivas"): 

https://www.youtube.com/watch?v=ZZcXTJmdYHE acessado em 30/09/2021; 

https://www.youtube.com/watch?v=DRTQ-azfSac acessado em 10/11/2021; 

KARDEC Allan, RIBEIRO Guillon, A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo; 

Descartes, R. (1641) Meditations on First Philosophy, in The Philosophical Writings of René Descartes, trans. by J. Cottingham, R. Stoothoff and D. Murdoch, Cambridge: Cambridge University Press, 1984, vol. 2, pp. 1-62.

sábado, 8 de janeiro de 2022

Possíveis relações da Mente com o Universo - Parte 2

Reflexões sobre a Mente além do Corpo 

Ao longo da história várias pessoas que experimentaram sensações além de seu próprio corpo e de sua própria mente, tentaram buscar uma relação da mente com a física e com o eletromagnetismo, entre elas estão Franz Mesmer, Allan Kardec e Julius Robert von Mayer (este último é citado pelo psiquiatra e psicanalista Carl Gustav Jung). 

O primeiro foi considerado “pai” do hipnotismo (mesmerismo) e formulou a teoria do magnetismo animal e de um campo magnético que espalha-se sobre todo o cosmo (talvez relacionado ao bóson de Higgs descoberto posteriormente). Tal campo magnético geralmente é percebido por pessoas que passam por experiências tidas como sobrenaturais, mas não foi detectado pelos cientistas da época de Mesmer, que desacreditaram sua hipótese. 

O segundo, tido como pai do espiritismo, trouxe a público conceitos do fluido universal (estudando também a partir de Mesmer) e estipulou ligações entre fenômenos eletromagnéticos e seres inteligentes corpóreos e incorpóreos (médiuns e espíritos); 

O terceiro foi um médico germâncio que começou a se interessar pela física já em sua juventude. Uma experiência inexplicável (possivelmente mediúnica) em Jakarta, aumentou seu interesse pela física fazendo-o seguir carreira neste ramo e na química. 

 Experiências “mediúnicas” particulares 

Sensações que vão além do corpo parecem pouco estudadas pela ciência e provavelmente muitas são tidas como meras alucinações. Isto se deve porque muitas delas dependem de fatores indetectáveis como sentimentos (emoções não externalizadas), e na maioria das vezes, uma inteligência, ou seja um ser (naturalmente imperceptível por estar além da curvatura espaço-tempo ou por ser altamente energético vibrando em frequências não detectáveis pelos cinco sentidos humanos), está por trás da experiência. 

Como experiências particulares tive algumas negativas e outras positivas: 

Positivas: Alcançar ou atrair pensamentos e principalmente sentimentos coesos que variavam do neutro ao positivo: Paz (“neutro”), amor e instrução (positivos). Estes “coesos” na maioria dos casos se caracterizavam como seres, ainda que aparentemente imateriais ou incorpóreos e em geral luminosos. Só apareciam durante o estado de sono ou inconsciência. 

Negativas: Atrair pensamentos fragmentados externos e sentimentos externos, todos negativos é claro: ódio, sadismo, ofensas etc. Ataques eletromagnéticos: Estocadas em determinadas partes do corpo que se manifestavam como choques, empurrões e/ou formigamentos. Na grande maioria das vezes se manifestavam à noite. 

Gerais: Percepção de sentimentos ligados a um formigamento sobre (acima d)a cabeça. Se manifestavam numa região mais ou menos esférica, talvez variando de 10 cm até 50 cm além da cabeça. Aparentemente, estes últimos foram tornando-se impedidos ou bloqueados por alguma “força” externa… 

*Sentir não é ressentir, está ligado a experiência, pois o sentimento inicial, é o começo de um “eu” consciente. Uma dúvida aparentemente comum na filosofia é: Eu e experiência são diferentes entre si? Há uma grande importância no momento, pois não é recomendável se perder no futuro nem no passado: Assim é a vida material. Deslocar-se do presente é um risco de ser fascinado ou obsediado por mentes sem corpo, de um lugar onde o tempo não existe ou passa de forma diferente. Daí a importância de viver o agora. 

"Incorpóreo" - Matéria ou Radiação Indetectável 

A questão sobre o incorpóreo ou imaterial aparece em uma questão do Livro dos Espíritos: 

"82. É certo dizer que os Espíritos são imateriais? 

— Como podemos definir uma coisa, quando não dispomos dos termos de comparação e usamos uma linguagem insuficiente? Um cego de nascença pode definir a luz? Imaterial não é o termo apropriado; incorpóreo, seria mais exato; pois deves compreender que, sendo uma criação, o Espírito deve ser alguma coisa. É uma matéria quintessenciada, para a qual não dispondes de analogias, e tão eterizada que não pode ser percebida pelos vossos sentidos." 

Em resumo, isto quer dizer que as entidades que se comunicaram através das jovens que responderam a Kardec (sejam elas o que forem, espíritos, deuses ou fruto exótico do inconsciente de adolescentes) não disseram que o espírito é imaterial, ou que há algo além de matéria e energia no universo. Imaterial parece apenas uma maneira de se referir a algo muito sutil, além dos estados gasoso e plasmático da matéria. O que elas dizem é que há muita coisa indetectada, e nisso elas de certa forma estavam antecipando o que os físicos descobriram mais de um século depois: que só cerca de 4% do que existe interage com fótons; e tudo o que conseguíamos detectar do universo até outro dia eram fótons (agora temos também as "ondas gravitacionais"). 

Relatividade 

Uma verificação experimentada da distorção da passagem do tempo foi feita: Do ponto de vista dos astronautas fora da Terra o tempo parece passar minimamente mais lento. (necessita de um cronômetro mais sofisticado do que os existentes até 2018 para confirmação) 

No Grande Colisor de Hádrons, as partículas relativamente efêmeras aparecem apenas quando outras partículas mais comuns colidem-se e, logo depois desaparecem conforme os níveis de energia do impacto se dissipam. Como as colisões são realizadas a velocidades próximas à da luz, os cientistas ganham um tempinho a mais de observação, pois do ponto de vista deles, o tempo passa mais devagar para as partículas efêmeras (que duram mais que as outras). 

Checagem de Argumentos anti-espirituais: 

Os trechos entre aspas a seguir são argumentos materialistas e/ou empiristas que classificam a mente humana como o cérebro ou apenas algo diretamente produzido pelo cérebro. Resumidamente, tais argumentos em geral tentam provar (ou insinuar, quando apenas querem negar experiências transcendentais/ espirituais) que elementos psíquicos como sentimentos, memórias, intenções e tantos outros existam apenas em reações químicas do sistema nervoso ou nas sinapses, por exemplo: 

“...E há também as armadilhas da memória. A memória humana não é um DVD que registra tudo e pode ser assistido de novo a qualquer momento. Cada vez que nos lembramos de algo, o cérebro reconstrói toda a situação, e nessas reconstruções, muitas vezes, lacunas são preenchidas com dedução, imaginação e fragmentos de memórias diversas, semelhantes, sem que percebamos.” 

Até aqui o argumento sobre a mente humana parece plausível, embora a matéria não apresente as fontes. O trecho a seguir apresenta o viés materialista e está no mínimo pouco embasado (talvez nada embasado): 

Essa função “autopreencher” da memória faz com que as lembranças que temos de interações com figuras como médiuns, cartomantes, astrólogos etc contenham muito mais informação relevante e precisa do que realmente foi apresentado pelo profissional. Há experimentos em que sessões com um “vidente” foram gravadas e a gravação, depois, confrontada com as memórias do cliente a respeito do que foi dito na consulta. Em geral, o que é realmente dito, e consta no conteúdo gravado, é muito mais vago e impreciso do que aquilo que o cliente se lembra de ter ouvido.” 

O autopreenchimento da memória faz com que “experiências místicas'' tenham muito mais informação relevante e precisa? Quais são os estudos sobre este “autopreenchimento” e sua suposta relação com tais experiências? Quais são os parâmetros de relevância e de precisão destes casos? Quais e quantas sessões “esotéricas/espirituais” foram gravadas? Quantas pessoas lembram das sessões, ou relatam sonhos com o conteúdo destas e quantas pessoas não lembram nem relatam sonhos com sessões experimentadas? Existem dados estatísticos sobre o assunto? O autor do texto não revela. E se houverem tais informações, como garantir que não haja viés em um assunto tão subjetivo como a mente humana e seus respectivos pensamentos, sentimentos, imaginação, memórias etc? 

Alguns relatos particulares sobre o assunto: 

1. Passei por duas “sessões” com médiuns/ espíritos em centros de umbanda. Lembro de pouco do que foi dito: No máximo 60% da primeira sessão e 40% da segunda, ou seja, o contrário do que o materialista/ empirista afirmou acima. 

Eu passei a anotar meus sonhos diariamente (os que eu lembro, é óbvio) 4 meses após a última “sessão”. O conteúdo de tais diálogos nunca apareceram na vasta lista de meus sonhos (anotei uma média de 1 a 4 sonhos por dia) durante 17 ou 18 meses desde que fui à estas “sessões”. De fato o que é dito com a astrologia é muito vago, mas o que é dito em “sessões” de umbanda, geralmente não. A conversa é direta e o indivíduo consultado (seja o médium ou o espírito, não importa no que você crê) fala sobre o assunto requerido acertando / descobrindo fatos ou errando / mentindo. Pela minha experiência, só há resposta vaga ou imprecisa nestas “sessões” se o tema do assunto foi pouco exposto, ou mal abordado, como em qualquer conversa sobre um assunto pouco ou nada dominado. 

2. Minha mãe e uma prima passaram por uma “sessão” de umbanda com um “médium”. O indivíduo consultado respondeu todas questões diretamente e “respondeu” até o que não foi perguntado. Ele revelou o que uma pessoa próxima de minha mãe fazia às escondidas e ela confirmou o que o “médium” disse dias depois. Claro, alguns diriam que o médium viu a pessoa “próxima” de minha mãe, mas não é o assunto aqui, estou indicando que as “sessões com médium” podem ser, e muitas vezes são, mais diretas do que cartomancia, astrologia e outros métodos classificados como místicos. 

Por fim, não existe evidência alguma que determinadas experiências como “sessões” esotéricas sejam mais reativadas nas memórias ou nos sonhos de cada indivíduo em relação a qualquer outro tipo de experiência, seja religiosa, de descoberta científica, de estudo, de conversas com amigos, com desafetos, com psicólogos etc. O pensamento e o sentimento (e outros aspectos da mente, como memórias, desejos etc) existem, mas não podem ser medidos nem quantificados por método algum. Ao menos, ainda não… 

Ampliação da Percepção e Extensão das propriedades Mentais 

A “estrutura” mental que fica em aberto nos médiuns em religiões como a umbanda é chamada de tonali na religião (ou “mitologia”) asteca. Uma vez que o indivíduo "torne a estrutura aberta”, ele ficaria mais suscetível às “mentes desencarnadas”. 

Extensibilidade e/ou expansividade seria a mente em expansão, a percepção e os dados mentais (memórias, sentimentos etc) se “abririam” para alcançar outras mentes. A pessoa que se preocupa com outras ou com o todo, teria iniciado este processo ainda que timidamente. Vivenciar e/ou expor este pensamento, como com atos de solidariedade, é colocar a extensibilidade e/ou expansividade em prática, e talvez, abrir o tonali. 

Resumidamente o movimento contrário seria de retração da mente, causado por ideais e pensamentos egoístas e/ou baseados em orgulho. 

Considerando que seja possível que em algum momento do processo de expansividade das atividades psíquicas, as pessoas sejam capaz de “desenvolver” a característica chamadas de mediunidade ou abertura do tonali, uma série de perguntas podem ser feitas: 

Como ocorrem tais processos? Qual a amplitude de suas consequências? No que acarreta este processo? 

De acordo com o espiritismo e a umbanda, a mediunidade pode se manifestar de variadas maneiras. Porém a impossibilidade de captação dos fenômenos pelos 5 sentidos humanos e a dificuldade de reprodutibilidade destes fenômenos, faz com que praticamente toda comunidade (científica ou não) que tenha um pensamento e/ou visão monista materialista, empirista e/ou racionalista, duvide de todas essas experiências “transcendentais” / “espirituais”. 

Mas a dificuldade em perceber e entender tais processos e eventos deveria impedir a divulgação e os estudos sobre isto? Seguindo o próprio pensamento científico: Não. Afinal não se descobriria nada, se desistíssemos diante toda dificuldade. 

É provável que a grande dificuldade esteja relacionada ao estudo dos sentimentos e toda subjetividade em seu entorno. O que é mais uma prova que o desistir é uma tolice, pois o sentimento existe, por mais que um materialista negue este fato. 

Porém a maioria dos eventos mediúnicos, transcendentes e espirituais se dão em condições de solidão ou em pequenos grupos. Isto ocorre porque, ao menos no ocidente, as religiões mais divulgadas estão muito institucionalizadas há muito tempo (não falo de institucionalização com fins sociais). 

Embora pareça difícil perceber atividades mentais que se propaguem além dos indivíduos, existem alguns relatos sobre tal assunto… 

Durante o início da 2ª guerra mundial, Jung espantou-se com os processos de manifestações pró nazismo e de certa “histeria” coletiva. Ele cita a possibilidade do arquétipo de Wotan (Odin em germânico) estar se manifestando sobre a população. Embora a citação de uma antiga divindade pareça um retorno ao paganismo ou às religiões teutônicas/ nórdicas politeístas, Jung descreve tais eventos como parte do inconsciente coletivo. O inconsciente coletivo, ao tornar-se perceptível, passa a conter os arquétipos que são conteúdos que se propagam através do inconsciente das pessoas. No inconsciente ocorrem as transmissões genéticas de traços psíquicos que até mesmo os behavioristas (mais empiristas do que os psicanalistas e os fenomenólogos) estão descobrindo através de estudos com bebês e também ocorrem estas transmissões além do indivíduo. 

Mas se houveram na história da humanidade eventos coletivos de pânico, ódio e outros sentimentos ruins, não houveram tais manifestações com sentimentos bons em algum momento? 

A própria lógica indica que sim, se um é possível o outro também é. Porém os eventos de sentimentos bons parecem abafados por algumas narrativas. Narrativas estas feitas na maioria das vezes sob influência de quem tem poder, daí aquela percepção: “A história conta os eventos apenas com a visão do dominador”. É um viés que ocorreu diversas vezes ao longo da cronologia das civilizações humanas. 

Alguns casos relacionados aos bons sentimentos ocorreram provavelmente durante as experiências espíritas da época de Kardec e durante os eventos (aparições) ocorridos na cidade de Fátima em Portugal entre os meses de maio e outubro de 1917. 

As transmissões de fenômenos psíquicos além do indivíduo ocorrem pelo inconsciente coletivo de acordo com Jung, pois algumas faculdades psíquicas não são inteiramente limitadas pelo espaço-tempo. Porém são nítidas as semelhanças deste conceito com a descrição “esotérica” de plano astral. Além disto, em várias religiões extintas ou não, foram descritos uma (ou mais) dimensão onde os espíritos transitam. As aparições de Fátima vistas por milhares de pessoas, indicam que o conceito de inconsciente coletivo é parcial devido a uma tentativa de Jung aproximar-se das correntes empíricas / racionalistas. Um ato desnecessário se Jung levasse outras teorias e métodos de construção de conhecimento, como o fenomenológico (que tem semelhanças com a teoria geral dos sistemas surgida na década de 50 do século XX) em consideração. O inconsciente humano mostra sim uma capacidade de conexão além de si mesmo, mas de acordo com relatos como este (e tantos outros) existem seres / mentes além daquelas dos “seres vivos” e além das três dimensões conhecidas. 

A "Mente além do Corpo" no Espiritismo (Semelhança com outras filosofias e religiões?) 

 O espiritismo alega que o princípio inteligente é retirado do elemento inteligente universal e que a inteligência (do homem e do animal) é retirada / emanada deste elemento. Com alguma semelhança a este argumento, os filósofos helênicos naturalistas (pré-socráticos) afirmavam que Nous, a mente cósmica, organizou todo o cosmos. 

Ainda de acordo com o espiritismo, o espírito passa a 1ª fase de seu desenvolvimento em existências que antecede a “humanidade”. Estas existências anteriores seriam em animais e plantas, de maneira vagamente similar às religiões orientais como o hinduísmo ou alguma vertente do budismo. Como praticamente nada na natureza ocorre de maneira brusca, o espírito humano pode manter vestígios de seus estados primitivos em suas primeiras encarnações como humano. Em geral seria extremamente raro o espírito manter lembranças de suas vidas pré humanas, pois conforme o espiritismo elas estão muito distantes (várias encarnações), embora culturas consideradas primitivas pelas lideranças socioeconômicas do ocidente, indiquem alguma crença ou relação com “espíritos animais”.

O espiritismo cita exemplos em que os espíritos apegados à vida material / Terra ainda retém características que possuíam em vida, seja comportamento, manifestações de voz, escrita, aparência etc. Também cita que existe uma estrutura chamada perispírito, que seria intermediária entre o corpo e o espírito. Talvez o perispírito também esteja relacionado à retenção das características relacionadas à última encarnação / vida material do espírito. O perispírito também poderia ser responsável pela retenção da individualidade parcial ou total do espírito. 

Seriam os espíritos superiores (como os arcanjos das religiões abraâmicas), seres “liberados” de “si mesmos” (termos de religiões orientais) ou de “suas individualidades”? Sendo assim estes seres superiores de baixa ou nula individualidade formariam os conceitos de falanges espirituais? Seriam estes seres difíceis / impossíveis de se contatar diretamente pelos mortais por suas vastas informações mentais (memórias, sentimentos, pensamentos etc) estarem naturalmente “abertas”, causando “sobrecargas” nos cérebros humanos? Alguns seres espirituais aparecem em passagens do velho testamento gerando grande impacto em quem os vê. Exemplos são cair desacordado, morte(?) e pânico(?). Talvez estes “efeitos” descritos no velho testamento tenham relação com os conceitos de períspirito e de "espírito superior" propostos pelo espiritismo.

A Mente e sua relação com o “universo tridimensional” 

A psicologia analítica de Jung afirma que o fato (de ao menos alguma parte) da psique não estar sujeita às leis do espaço-tempo, indica em prática, uma continuação da vida após a morte. É possível interpretar que estas mentes seriam numa comparação tosca, como informações de um computador: Mesmo quando apagadas (com o comando "shift del") ainda restariam suas partes fragmentadas, diminuídas ou “corrompidas”. 

Estas mentes desencarnadas, geralmente chamadas de espíritos em várias religiões, viajaram na velocidade do pensamento, ignorando (todo ou parte do) espaço / tempo e perceberiam “em todas direções”. Portanto o espírito (como uma mente desencarnada) seria praticamente imortal e o efeito mais próximo de se “apagar” esta mente do cosmo, seria sua intensa contração ou supressão a possíveis níveis microscópicos ou “subdimensionais” (um termo improvisado teorizando a existência em menos de 3 dimensões). Tal contração possivelmente é oriunda de uma existência material (vida) cheia de males. Os males aqui designam causar o mal aos outros seres vivos e/ ou a si mesmo. 

O espírito de alguém que causou muito mal em vida, estaria apegado a determinadas coisas do plano / mundo material e sofreria muito em sua “nova” existência desencarnada. Sem um corpo só lhe resta suas experiências da vida (que foi causar muito mal) então impossibilitado de se livrar disto e, de certa forma, “apagado” de sua existência material, ele sentiria-se como se estivesse deformado, despedaçado, em dor etc. Isto explicaria o porque algumas ordens às quais multi milionários pertencem, busquem uma “espiritualidade” alternativa, substituindo o bem e a humildade, por uma busca de limpar suas consciências e/ou por uma busca por “conhecimento” (apenas material, com doses de obscurantismo para manter classes sociais mais baixas na ignorância) 

Tanto o espiritismo, como o livro de Enoch (Enoque, personagem das religiões abraâmicas) e várias outras religiões (hermetismo, budismo?), pregam a humildade, a prática da solidariedade e mostram a vida na Terra como apenas uma experiência passageira na imensidão do cosmo. O livro de Enoch foi banido da maioria das religiões judaico-cristãs por volta do século IV, quando a igreja católica passou a se tornar um centro de poder. Note que as igrejas que se mantiveram como instituições de poder, como a protestante e todas suas subdivisões, continuaram a renegar o livro de Enoch. 

As mentes desencarnadas, ou espíritos, dos praticantes do bem (solidariedade etc) manteriam uma coesão, talvez através de seu perispírito até que se tornassem cada vez mais boas, puras etc. Num estado de maior pureza elas iriam gradualmente (seja de modo lento ou rápido) expandindo e se unindo ao único Deus onipresente, ou de certa forma, ao próprio cosmo / mente cósmica. Isso se deve ao fato de que fazer o bem requer que o indivíduo se coloque no lugar de outros e isto seria literalmente uma maneira de expandir a mente. Tanto que termos como extensibilidade podem ser usados significando ágape, ou o verdadeiro amor (piedoso, que busca entender outras mentes). 

Percepção da Radiação: O que é “Visível e o que é Invisível” 

Após o desenvolvimento (ou surgimento) da mediunidade, que poderia ser a abertura do “tonali” da religião asteca, a indiferença pode se tornar um ponto de vulnerabilidade. Ao contatar o “astral” ou uma mente desencarnada / espírito, algo em nosso corpo ou mente ficaria mais perceptível para os desencarnados. Esta “abertura” pode estar vinculada a um estado ou atividade no endocéfalo, particularmente da glândula pineal? Como um orgão fotorreceptor, a atividade da glândula pineal significa que o ser humano se tornou capaz de entrar em contato com radiações ou formas radioativas imperceptíveis até então. 

A radiação mais energética conhecida (de menor comprimento de onda) são os raios cósmicos. Sua origem ainda é desconhecida (ao menos até o 1º semestre de 2021), pois embora o Sol possa produzir raios cósmicos, a energia destes raios cósmicos solares é pequena se comparada com os raios cósmicos de origem desconhecida. Talvez seu alto índice de energia e penetração indique que esta “faixa” de radiação seja capaz de atravessar o espaço-tempo? 

Esta radiação poderia diminuir sua energia através do efeito comptom? Esta diminuição de energia poderia ser o suficiente para que ela se torne visível aos olhos humanos (luz)? Se tais fenômenos forem possíveis, poderiam indicar que espíritos são seres energéticos, ou seres de “informação incorpórea” capazes de se manifestar ao plano corpóreo/ material, diminuindo sua energia… 

Quanto menor o comprimento de onda, maior a vibração / atividade. Daí porque o quando o corpo negro é aquecido ele adquire um tom avermelhado / incandescente inicialmente e ao atingir temperaturas maiores torna-se azulado. Sabe-se que o vermelho é a radiação do espectro visível de maior comprimento de onda, os “tons azul-violeta” são os de menor comprimento de onda e acima (além) do violeta estão os raios ultravioleta, os raios gama, raios-X e raios cósmicos… As radiações de comprimentos de onda menores do que a “luz azul / violeta” não são perceptíveis pelos sentidos humanos, nem as maiores do que a “luz vermelha”. 

Fótons de raios-X e raios gama podem perder energia quando interagem com a matéria se espalhando por uma partícula carregada (geralmente um elétron). Poderiam então se tornar raios ultravioleta ou mesmo “luz visível”? 

As ações ou aparições de mentes desencarnadas se daria por um método similar? O incorpóreo seria composto por partículas demasiadamente separadas ou demasiadamente juntas. As mais separadas teriam relação com a expansão e portanto com “dimensões superiores” enquanto as mais confinadas (juntas) estariam relacionadas às “dimensões inferiores”? 

O princípio da incerteza explica a mudança temporária na quantidade de energia num ponto do espaço, chamada de flutuação do vácuo ou flutuação quântica. Esta flutuação do vácuo possivelmente foi necessária na origem do universo, pois permite a criação de partículas-antipartículas ou partículas virtuais. 

Átomos e Física Sub Atômica 

Os átomos foram considerados a menor partícula da matéria por algum tempo. Sua estrutura é composta por um núcleo formado por prótons e nêutrons (cargas positivas e neutras) e este núcleo é cercado por uma “nuvem” de elétrons (cargas negativas). Porém há um vasto espaço vazio entre o núcleo e os elétrons, sendo que estes últimos curiosamente não se movem nem ficam parados (ao menos em alguns elementos). Resumidamente isto indica que, na verdade, toda matéria é formada por relações (entre as cargas e com seu exterior): Estas relações são classificadas pela Teoria Geral dos Sistemas em 3 tipos: De mudança, de repetições/ padrões e de transcendência (ir além de si mesmo, expandir-se). 

Movimento de expansão e retração psíquica no espaço-tempo 

Assumindo-se que exista uma relação das atividades cerebrais com o conteúdo psíquico, com a eletricidade e com os campos magnéticos (eletromagnetismo), imaginemos a seguinte situação: O ato de se preocupar com o próximo, buscar entender outras pessoas causam uma expansão do suposto campo magnético ou um aumento da energia / frequência da onda de radiação. 

Este movimento estaria literalmente ligado ao futuro, além de ser expansivo / transcendental pelo fato de ir além de si mesmo. 

O movimento contrário de egoísmo, seria uma retração, e uma possível volta ao passado. A união da preocupação com o próximo com a preocupação com o futuro (sem priorizar a si mesmo, mas não patológica) seria um movimento bom (o melhor possível); Pois une dois movimentos expansivos. O contrário (desejar muito poder, dinheiro etc e remoer o passado) seria união que gera o movimento ruim (o pior). A partir daí é possível imaginar variadas combinações de movimento (atômico, desde níveis microscópicos até astronômicos e além da curvatura espaço-tempo) mais ou menos expansivos. Enfim, resumido de uma maneira rudimentar é isso: O bem deve estar relacionado aos movimentos de criação e expansão (como a inflação cósmica / big bang) e o mau está vinculado à contração e aniquilação (“corpos”, eventos como os buracos negros talvez?)

domingo, 2 de janeiro de 2022

Possíveis relações da Mente com o Universo - Parte 1

 

Esta é a primeira de longas reflexões que eu fiz sobre mente humana após meses de experiências (chamadas de mediúnicas em certos meios espiritualistas). Em resumo, eu passei pouco mais de uma década de minha vida (aproximadamente dos 20 aos 35 anos de idade) como um cético, ateu em prática. Mas após experiências mediúnicas que me causaram significativo sofrimento, e que, muitos me classificariam como esquizofrênico ou louco, eu senti a necessidade de me dedicar a espiritualidade. Ainda assim, achei bastante ilógico desconsiderar as tentativas de explicações sobre a mente e seus fenômenos mais "polêmicos", então escrevi uma série de reflexões...

Reflexão sobre Expansão e Extensibilidade da Mente 

Existem duas possibilidades de desenvolver as capacidades mentais de um ser vivo (particularmente o ser humano): Racionalmente, resolvendo problemas, pesquisando soluções e desenvolvendo novas ideias / projetos e sentimentalmente, colocando-se no lugar de diversos outros seres vivos, e imaginando suas motivações, percepções e reações, principalmente no lugar de outros seres de intelecto complexo (como o homo sapiens na Terra por exemplo). Note que se trata de um desenvolvimento do pensar (entender fatos, eventos etc) e do sentir (não apenas os sentidos do indivíduo, mas também os sentimentos próprios e alheios). Apesar de diferentes, o desenvolvimento racional-mnemônico e o sensitivo-intuitivo não são excludentes entre si. 

Um possível exemplo é quando estuda-se ideias, conceitos, dogmas, filosofias, teogonias e religiões. O estudo através da leitura e interpretação de textos geralmente é racional ao menos inicialmente. A partir do momento em que o estudioso dedica-se à prática de um ou mais temas estudados ou a partir de um momento de profunda reflexão sobre tais assuntos, as duas formas de desenvolvimento (racional-mnemônico e o sensitivo-intuitivo) aproximam-se entre si. 

A aquisição de conhecimento aliada à prática de entender “o próximo” pode ser tratada como uma forma de expansão e/ou extensão da mente. O termo extensão parece mais utilizado no segundo caso, também como sinônimo de solidariedade e ágape. 

A prática da solidariedade / ágape é uma maneira de exercitar o entender dos seres humanos além das necessidades e desejos individuais, além de ser uma maneira ou oportunidade de criar um elo saudável, onde não há foco em cobrar a pessoa que recebe a ajuda. 

Existem maneiras diferentes de expandir a mente no campo sensitivo-intuitivo, mas esta é uma das mais intensas: É onde há a possibilidade de conhecer a fundo não só os problemas da pessoa que está a receber a ajuda, mas também suas experiências, motivações etc. 

Obviamente se tratando de uma relação interpessoal, o processo geralmente não é simples: Quanto mais ou maiores os problemas da pessoa que recebe a ajuda, mais desafiadora será a prática da extensibilidade. 

Importante notar que pessoas em necessidade, seja sócio / econômica, afetiva etc, geralmente vivem em grupos como famílias ou comunidades e são também uma realidade social em muitos países, portanto também são um “problema” de grande abrangência nestes territórios. Tal problema pode exigir um desenvolvimento mais intelectual / racional, principalmente por pessoas da área de assistência social que precisam encontrar soluções para auxiliar estes grupos de pessoas… Enfim, ajudar uma comunidade ou uma pessoa são práticas de extensibilidade da mente humana. Em geral entende-se que é mais difícil um indivíduo ajudar uma comunidade inteira, a menos em caso deste indivíduo ter recursos que facilitem uma intervenção para auxiliar o grupo, como um alto posto político e/ou econômico. 

 Limites da Extensibilidade 

Em geral, o indivíduo pode se ocupar gerando a possibilidade de inclusão de uma ou mais pessoas necessitadas na sociedade ou até buscar um bem estar social das comunidades. 

Para isto é necessário certo grau de empatia, afinal uma pessoa sem esta qualidade não vê motivos para ajudar o próximo, seja uma pessoa ou uma comunidade toda. 

Este exercício de ajudar o próximo, numa escala menor ou maior, é contínuo e cedo ou tarde requer que mais pessoas o pratiquem. Por exemplo uma população sem visão da amplitude de toda sua nação (sociedade) tende a ser ignorante, exploradora, intolerante e até mesmo separatista, pois a mentalidade e comportamento contrários à extensibilidade é o pensar apenas em si mesmo (egoísmo, individualismo) e a cobrança (de uma recompensa, taxa etc) antes de prestar qualquer tipo de auxílio ao próximo. 

Similaridades e Relações entre Expansão e Projeção da Mente 

 Teorias espirituais e religiosas levam a extensibilidade além dos agrupamentos humanos, sejam eles vilas, cidades ou até nações. Em muitas delas a mente humana se estende além do corpo, seja antes, depois ou até mesmo durante a vida na Terra. 

Parece algo muito diferente dos pensamentos e sentimentos voltados às outras pessoas e a sociedade, mas na verdade esta diferença é mínima, pois alguns filósofos ao longo da história, já fizeram esta relação. O filósofo dinamarquês do período iluminista, Soren Kierkegaard, por exemplo, identifica 3 estágios da existência humana que variam de acordo com as visões de mundo e as experiências particulares de cada pessoa: 

 O 1º estágio é o estético, no qual o prazer momentâneo do belo e do desejo imediatista satisfeito é o que garante a “felicidade” ao ser humano. É descrito como o paraíso das experiências sensoriais e do ponto de vista mais religioso, também é o estágio onde predominam o pecado e o desespero (não necessariamente no sentido de medo, mas possivelmente a falta de esperança). 

O 2º estágio é o ético, que, ao suceder o estágio estético, garante uma evolução na condição humana. Neste estágio o ser vai abandonando seus prazeres e gostos pessoais por haver encontrado nas leis da moral e da conduta universais um patamar melhor para sua existência. A pessoa que entra no estágio ético, compreende que as leis, ainda que de forma um tanto abstrata, são mecanismos que limitam o comportamento humano e que podem ser um guia na racionalidade. A moral e a ética levam o indivíduo a aceitar uma certa limitação e desse modo o peso da culpa faz-lhe distinguir o próprio ser de forma individual. Aqui o ser pode aprender o valor da vida. 

Por fim, no 3º estágio, o religioso, é o mais difícil de ser assimilado. No estágio anterior, o ético, podem surgir pensamentos ou sentimentos de dúvida, de culpa ou de inconformidade que farão a pessoa regredir ao estágio estético, ou avançar ao religioso (aqui podemos usar a palavra estágio espiritual, mesmo porque, Kierkegaard era bem crítico à igreja protestante de seu tempo). O estágio ético é como uma mola propulsora que não permite à pessoa ficar apenas naqueles padrões de compreensão. Ela necessita mais. E essa transição para o religioso é difícil e dolorosa, assim muitas das vezes, a pessoa adere ao que lhe parece mais confortável e fácil, retornando ao primeiro estágio, o estético. Porque, para se garantir o alcance definitivo do estágio religioso, a pessoa necessita se comprometer com a própria fé e nunca duvidar ou retornar ao ponto de partida, o primeiro estágio. A crença em um Deus vivo e forte, não somente em uma imagem ou pensamento, mas um Deus supremo e no qual o Amor é representado de forma íntegra, o único caminho, a Verdade suprema. Uma compreensão que muitas vezes fere o próprio ego, mas que ao ser atingida no estágio religioso, serve de guia a uma existência engrandecedora e verdadeira. 

Portanto, a mente que busca o conhecimento e o bem, ainda que seja de modo abstrato, pode se estender além do corpo, sendo assim, indissociável do conceito de extensibilidade como conjunto empatia e ágape / solidariedade. 

O estado mental de pureza e de compreensão do todo é representado nas religiões em esquemas gráficos ou em imagens de profetas, santos, enfim, de personagens da religião: 

A “coroa” vista no topo da árvore da vida do judaísmo e no mais elevado chakra do hinduísmo, o disco acima da cabeça nas imagens egípcias de deuses e faraós e as auras em torno da cabeça nas imagens de Jesus e dos santos no cristianismo é uma representação desta expansão mental / desta extensibilidade. A mediunidade do espiritismo e da umbanda, assim como o tonali da religião asteca, é a abertura e a expansão da mente nesta maneira. 

Mas criar uma representação visível da bondade e de um conjunto de dons tidos como sobrenaturais faz sentido? Ora, tanto a bondade, como as histórias de pessoas capazes de realizar milagres e outros feitos aparentemente inexplicáveis existem desde antes da história escrita (iniciada aproximadamente em 3500 aC), então obviamente uma forma de registrar tais coisas é representá-las de alguma forma nas artes como nas pinturas e nas esculturas. 

Se estes registros existem desde antes da história da escrita seriam todos eles mentiras? Superstições? Provavelmente não. 

Talvez enquanto o ser humano não realiza o desenvolvimento racional-mnemônico e principalmente o sensitivo-intuitivo, ele não pode perceber nada além da curvatura espaço-tempo. As mentes desenvolvidas desta maneira e as mentes que de alguma forma se mantém coesas após o desencarne, naturalmente “se deslocariam” para uma dimensão além do espaço / tempo conhecido (plano astral, 4ª dimensão etc), ou talvez, seja uma matéria (elemento ou radiação) inicialmente imperceptível para a maioria dos seres humanos. 

Talvez o fato da glândula pineal ser um fotorreceptor interno na cabeça do ser humano tenha alguma relação com as matérias / elementos / radiações imperceptíveis e com as mentes desencarnadas / espíritos. 

Verdadeiras Religiões - A mente se expandindo e conectando-se à algo maior: 

No judaísmo místico cada uma das ordens de espíritos (anjos) está situada em uma zona do cosmo representada por uma zéfira (gema ou fruto), separadas em 4 níveis: 

Atziluth: plano da emanação; onde Deus age diretamente (praticamente só, o mistério / paradoxo da mudança do imutável ao mutável); 

Beriah: plano das criações; onde espíritos superiores (expandidos?), os anjos, começam a perceber suas existências distintas de Deus; separado de Atziluth pelo abismo (ou reflexo, pseudo sefirat) do Daath. lar dos arcanjos (permanentes); 

Yetzirah: plano das formações dos elementos e da vida material; onde os anjos (temporários) agem. Onde define-se o bem e o mal. O bem ganha força para superar o mau após dedicarmos a fazer o bem para os outros. Pode ser percebido ao falar (orar) para Deus, ou a estudar o Torá; 

Asiah: plano das ações (Malkhut), representando a existência material. Os ofanin (Ishim?), liderados por Sandalphon, ouvem e apoiam esforços contra o mau. Espiritualidade e piedade são transmitidas a este mundo, onde os poderes obscuros e impuros espreitam. 

O espelho ou abismo do Daat está no espaço entre o nível Beriah e o Atziluth. Somente num momento de verdadeira solidariedade / piedade e certeza(?) / Harmonia / gratidão? (Alegria e gratidão por ser solidário ou piedoso) é possível ver o (reflexo do?) Kéter. 

Isto parece explicar alguns outros processos mediúnicos, pois na religião asteca por exemplo, a abertura do tonali (a alma do topo da cabeça) deixaria o indivíduo (certamente um típico religioso ou sacerdote) vulnerável aos tanto aos espíritos maus como aos bons. 

No espiritismo, a necessidade de progredir (progresso este inseparável da humildade e da solidariedade) são ressaltadas para que o médium receba orientações e consolações de bons espíritos. 

A busca por algo além da vida e do universo material pode gerar um efeito desconfortável de “vazio” psicológico, chamado aqui de escorregão mental. Talvez forçando uma região do cérebro (tálamo, glândula pineal?) numa tentativa de perceber ou projetar dados / informações da mente além da curvatura espaço / tempo, o escorregão então geraria um breve “vazio”. Com insistência, (mas sem desenvolver empatia, praticar solidariedade, ágape?) breves contatos com dados mentais (vibrações ou espíritos) mais próximos à Terra, ocorreriam. Estes podem ser interpretados como mentes que se projetaram além do corpo, mas permanecem perdidas ou apegadas à Terra. 

“Dentro do judaísmo místico” estariam estas mentes em Asiah ou até mesmo em Yetzirah? Talvez uma experiência profunda como o êxtase ampliaria muito o alcance da mente? 

As Dimensões da Mente e suas Projeções 

De fato estas dimensões não possuem estruturas fáceis de se entender como as 3 dimensões do universo material conhecido até então. Devem ser alcançadas com um tipo de expansão mental, pois as dimensões chamadas de 4ª ou de plano astral estão ligadas a um tipo de movimento em várias (ou todas) direções “para fora” (expansão / explosão) enquanto a retração mental estaria ligado ao universo material ou a um espaço “sub” vinculado à todas direções para “dentro” (contração / implosão)? 

Explicar experiências psíquicas que alcançam além de nosso corpo é difícil por várias razões… Talvez a partir de determinado ponto de percepção ou conhecimento das dimensões (além da curvatura espaço tempo), geram-se aberturas que podem atrair as mentes projetadas / desencarnadas. Quais tipos de mentes serão atraídas varia conforme os sentimentos do “ser material”… 

Funcionaria como uma lei natural de reação à projeção de pensamentos, sentimentos, memórias, conhecimentos etc. Ou talvez como um tipo de magnetismo que atrai o que se assemelha (ou o que está relacionado), o que explicaria a teoria do magnetismo animal proposta por Franz Mesmer no século 18. 

Como mencionado anteriormente o movimento de extensão e/ou expansão seria relacionado à ágape, abrir-se a outras mentes e se dispor a perdoar. Enquanto o de retração seria o individualismo, o egoísmo e o preconceito / intolerância… 

Para entender melhor as possíveis “dimensões” da mente, é útil recorrer a alguns autores: 

O filósofo grego do século IV aC, Sócrates, afirmou que é importante sempre buscar o bem (kalos, que abrange o bem e o belo, similar ao inglês "fine"), e que só assim se encontra ou se aproxima da verdade. Todo estudo e todo conhecimento deve ser voltado ao bem senão tende à falsidade ou à inutilidade. Os mais belos e mais verdadeiros prazeres estão associados à inteligência e à sabedoria, aspectos da mente, que por sua vez, só encontra a verdadeira beleza no bem. 

Sócrates, chamando a mente de alma (psique), afirma que ela é imortal. Três de seus argumentos são: Tudo existe através de relações. (sim, tem semelhança com a teoria geral dos sistemas, desenvolvida 24 séculos depois) Portanto a existência do frio e do calor são interdependentes, assim como a existência dos corpos grandes e dos pequenos, do egoísmo e do altruísmo etc. Estas relações parecem se apoiar em uma dualidade ou em oposições. Assim a vida existe por causa da morte e vice-versa. A mente (alma) do vivo deve “morrer” e a mente do morto deve reviver (nega a inexistência, assim como outros filósofos também negaram). Os opostos não existem simultaneamente, pois isto seria o estado de caos (teoricamente anterior a existência do universo), provavelmente citado por Anaxágoras e presente no mito de Khaos, a entidade que deu origem aos “primeiros deuses” da mitologia grega. 

As reminiscências podem trazer lembranças ou associações de uma vida anterior ao nascimento da pessoa, ou seja, de outra vida, outra encarnação. 

O que pode fazer dano à mente (alma) é o vício, mas mesmo o vício que pode degenerar tanto a mente, não é capaz de destruí-la por completo, portanto a alma é imortal. 

Os pensamentos e sentimentos existindo fazem da mente alguma coisa. O psicanalista suíço, Carl Gustav Jung, afirma isto e também diz que o fato de não conseguirmos medir a mente não deve nos impedir de estudá-la. Jung reconhece a repetição de comportamentos e de certas crenças através das gerações de seres humanos como um elemento ligado ao inconsciente da mente. O inconsciente não seria formado apenas por impulsos primitivos de sobrevivência e de memórias e sentimentos reprimidos, ele também tem a ligação com a possibilidade de uma “memória” além da vida intrauterina, e portanto, com uma função transcendente. No inconsciente também existem um desejo de comodidade que tende a ser estagnante e uma força criativa, que pode ter ou receber inspirações pelo fato de estar conectada com o que existe ou existiu além da vida intrauterina de cada pessoa. 

Porém Jung entende por transcendência uma espécie de harmonia entre o inconsciente e o consciente. O consciente que está ligado não só ao ego (o Eu, ou “self”), às normas sociais, mas também ao viver o presente, às percepções e interpretações “em tempo real” etc. 

De acordo com Sócrates/ Platão tudo o que é visível (entende-se tudo que é capturado por um dos 5 sentidos) é mutável, podendo ser composto e decomposto. A alma/ mente seria (ao menos quando afastada dos sentidos do corpo material) imutável, por isso seria imortal. 

Considerando que a expansão da mente pode se dar pelo desenvolvimento racional (muito estudo) e pelo desenvolvimento sentimental (uso da empatia, buscar entender o próximo etc), esta expansão de um modo mais literal ativaria um outro sentido. Talvez relacionado ao que antigas culturas afirmavam sobre o “olho da mente”, localizado na glândula pineal, no tálamo ou em algum outro ponto “dentro da cabeça” etc… 

Este sentido passaria a detectar sentimentos e manifestações sutis de origem eletromagnética ou de origem em algum comprimento de onda que não era percebido até então. 

Imutável x Mutável? 

O conceito de uma entidade eterna onipresente (imutável) é totalmente distinto do plano material onde todos seres e objetos estão submetidos ao espaço e tempo (mutável). 

O supremo Deus do judaísmo, do orfismo (grego), possivelmente também do hinduísmo e do politeísmo fenício (cananeu) teria(m) criado o universo, gerando (ou “movendo”) o tempo (e o espaço “físico”?) 

Se dimensões “mentais / espirituais” como a “quarta” ou o "plano astral" forem mais próximas de Deus, seriam elas atemporais? Seriam apenas conectadas (ou as próprias conexões) entre mentes encarnadas e projetadas, ignorando os efeitos do tempo? 

Do ponto de vista da mente humana, a transição do imutável ao mutável, seria uma mudança / transformação constituída de contradições, assim como parece contraditória a passagem da existência à não-existência ou vice-versa. Estas contradições já foram discutidas por filósofos da Grécia antiga, talvez de maneira pouco ou nada frutífera, já que tratam de assuntos extremamente complexos e distantes das questões da vida na Terra. Atualmente, cientistas que tentam desvendar sobre o surgimento do universo são os que mais se aproximam de temas deste nível, mas através de métodos científicos, sejam baseados no empirismo, na teoria geral dos sistemas ou outro meio "mensurável"… 

Expandindo a Mente além da Solidariedade e da Piedade 

Analisando a árvore da vida judaica de baixo para cima encontramos 3 zéfiras acima de Chesed (a Piedade). Possivelmente o tema central da doutrina de Jesus Cristo, Chesed/ piedade, também representa a ágape e o ato de auxiliar o próximo sem esperar recompensa. Acima deste conceito de ágape estão as zéfiras de Binah (o Entendimento), Chokmah (a Sabedoria) e Kether (a “Coroa”). O Entendimento e a Sabedoria estão relacionadas a outras antigas religiões com elementos astrológicos (Grega e Romana): O Entendimento está relacionado à Saturno (comparado com Kronos da religião grega) e a Sabedoria com Urano (comparado com Caelus da religião romana). Na astrologia estes planetas representam a mente superior, talvez a mente além do corpo humano que se aproximam da Mente Cósmica / de Deus. Por fim o Kether está relacionado à Netuno na astrologia (talvez isto explique porque no mito grego da Atlântida havia uma posição especial para Poseidon, a divindade comparada com Netuno) e o ponto mais alto da árvore da vida, a zéfira “mais escondida” no universo. Em alguns textos judaicos o Kether representa a humildade de Deus que cria o universo. Ao “olhar para baixo, suas lágrimas” representam a tristeza sincera pela situação de dor / vazio do próximo e a duradoura esperança. Aqui possíveis interpretações são que Deus dá uma chance (eternamente) a cada ciclo de renascimento do universo… Um estado mental além da solidariedade, a tentativa de ajudar aqueles que se perderam e a esperança que transcende os renascimentos cósmicos. 

Como este processo de expansão mental é um processo de evolução, ou de desenvolvimento, ele pode ser árduo e para a maioria das pessoas deve ser bastante lento, isto quando ocorre. A dificuldade está em desenvolver variados aspectos da mente, como a racionalidade e o sentimento. 

 Logicamente, muitas das lideranças do sistema socioeconômico dominante, irão preferir que a maioria das pessoas não desenvolva tais aspectos mentais. Na verdade, o lado racional é permitido, desde que se atenha às tarefas específicas e limitadas, como uma profissão. Já o lado sentimental é permitido desde que possa ser manipulado, seja por propagandas consumistas, religiosas conservadoras, discursos de medo, paranoia etc. 

Além disto, é possível que aconteça algum tipo de isolamento psicossocial quando o indivíduo desenvolve qualquer um destes aspectos mentais em demasia (em comparação à maioria da população). Este desenvolvimento mental em demasia pode parecer pura especulação, pois o conhecimento neste campo envolve complexos estudos do cérebro e possivelmente experiências e dados inconclusivos, mas mesmo assim, assumindo que existe a tal neuro-plasticidade, ela pode ter um limite. Ultrapassado este limite pode ocorrer a síndrome do burnout, que tida como um desgaste profissional, na verdade pode estar vinculada ao excesso de atividades racionais ou de racionalização da mente. Por um outro lado, síndromes como a despersonalização podem estar relacionadas a um desequilíbrio nos aspectos sentimentais. 

Apesar das possíveis dificuldades do processo de expansão mental, é possível perceber que os processos positivos ou expansivos estão em “sair de si mesmo”: Buscar conhecimentos novos, relações novas, sentimentos profundos com uma outra pessoa, ou mesmo novos sentimentos com grupos maiores de pessoas. Os processos positivos mais internos são a reflexão sobre os próprios sentimentos, sobre as experiências individuais ou mesmo sobre as experiências coletivas. Já os negativos estão em fechar-se em si mesmo, seja isolando-se ou impondo seus sentimentos e pensamentos sobre outros. Oprimir, ameaçar, agredir o próximo são manifestações externas dos processos negativos. 

Logo é possível entender por evolução, os processos positivos, por uma questão óbvia: Embora estes processos pareçam subtrair dos indivíduos como no caso de “doar-se”, ao demonstrarem sentimentos POSITIVOS, eles ADICIONAM ao todo, ou seja, nas relações com todas as coisas, rumo a algo literalmente maior, expansivo. Além disto, se um indivíduo doa seu conhecimento ou sua atenção e emoções a(s) outra(s) pessoa(s), forma-se uma relação, e, independentemente de sua duração em tal processo pode existir uma troca de informações, conhecimentos, afetos etc. 

Logicamente os processos NEGATIVOS, de um modo geral, SUBTRAEM do todo, das relações e são típicos da rivalidade, da ignorância (inclui negacionismo) da ganância etc. 

Portanto, "expandir conectando” deve ser a verdadeira evolução de todas as coisas. Conectando pessoas, seres vivos com o ambiente, estruturando as forças psíquicas, sociais, biológicas, eletromagnéticas do universo, continuando o processo de expansão cósmica sem colapsar… 

Bhakti-Yoga, as Filosofias e as Ciências 

O Bhakti-Yoga é um dos ramos da Yoga (união da mente e do corpo em um contínuo único), conhecido como caminho do amor, que leva à auto-realização, ou à comunhão divina, através da devoção. Como o próprio nome indica, este caminho não consiste em um simples fervor (fanatismo) nem em um mero desejo de explorar ou de conquistar: O Bhakti-Yoga requer uma postura não-interesseira, como a humildade, para adquirir a compreensão do absoluto. 

Embora possa ser visto como uma vertente religiosa devido a suas origens em um processo de restauração e reforma do hinduísmo medieval (século VIII), o Bhakti-Yoga também é um caminho de desenvolvimento psíquico (mental) e portanto, também um método de aquisição de conhecimento. 

Este método mostra que a mente material é a diretora dos sentidos materiais e que apesar de podermos controlá-la, raramente o fazemos. Isto ocorre porque a mente material é um reservatório, de certa forma, constituído de uma sequência de pensamentos e sentimentos condicionados pela própria lógica e com estímulo dos (cinco) sentidos. 

O ser humano tende a considerar que a mente material é o “eu”, mas o Bhakti-Yoga nomeia de Jivatma a verdadeira consciência (ou o verdadeiro “eu”) que conecta a mente material com o absoluto (Krishna). Em seu estado natural ou ideal, o jivatma deveria controlar a mente material e não o contrário. Isto se assemelha com os conceitos de mente superior e de mente inferior apresentados por Sócrates na civilização helênica do século IV antes de Cristo. 

A comparação da mente material com o “eu” pode ser notada em teorias psicológicas como a psicanálise de Freud e até mesmo na psicologia analítica de Jung. Apesar do último se aproximar mais das teorias orientais, ao considerar que o inconsciente conecta a algo maior, ao que ele chama de inconsciente coletivo… 

Isto aconteceu porque nenhum dos dois pesquisadores quis se afastar em definitivo das correntes científicas dominantes de sua época: o empirismo (monista e/ou materialista) e o racionalismo. Mesmo assim, ambos são poucos aceitos por “cientistas” empiristas e monistas materialistas. Neste caso, o termo empirista refere-se a uma filosofia, mesmo porque em sua origem (durante o período iluminista), tanto o empirismo como o racionalismo eram de fato teorias filosóficas. Além disto, cientistas que aceitam apenas estas teorias científicas, negam tantas outras, reduzindo a “ciência” a uma ou duas correntes teóricas de séculos atrás, o que pode e deve ser considerado um reducionismo. 

O primeiro estudioso a tentar avançar além do racionalismo e do empirismo (na história ocidental), foi o matemático e filósofo, Edmund Husserl, ao desenvolver o método investigativo da fenomenologia. A partir de seu método, que aparentemente foi aceito por alguns cientistas, surgiu a terceira frente da psicologia (as abordagens fenomenológicas), ao lado das frentes psicanalíticas e comportamentais. A fenomenologia surgiu da necessidade de enxergar o todo e da necessidade de “sentir o que o próximo sente” no processo de estudo ou de comunicação entre o “analista” e o “objeto” analisado (este processo chamado de “projeção de consciência” é de certa forma transcendental, pois requer o abandono de preconceitos e a busca por entender o próximo). 

No Bhakti-Yoga o conhecimento do absoluto deve descer diretamente do absoluto, que talvez possa ser considerado “o todo”. Porém é útil destacar que isto vai de encontro ao conceito de Deus do hermetismo e do misticismo judaico: O conhecimento do absoluto sai do imutável (Deus eterno e onipresente) e chega ao mutável. O mutável possivelmente é o “universo onde o tempo passa”, ou seja o universo em 3 dimensões / o espaço-tempo continuum. 

Na religião órfica e nas filosofias da Grécia Clássica, este processo também é mencionado: O orfismo mostra que Ananke (a necessidade), gerou Chronos (o tempo) e tanto os filósofos naturalistas (pré-socráticos) como os filósofos socráticos citavam um Deus supremo como criador do universo. Portanto Nous, a mente cósmica, citada por Anaxágoras seria esse Deus supremo e imutável que organizou o universo, enquanto Sócrates assumia um Deus supremo desmentindo uma parte significante dos mitos politeístas da antiga cultura helênica. 

Todas estas “filosofias” buscavam o conhecimento e o desenvolvimento da mente. E como mencionado anteriormente, o desenvolvimento da mente não se dá apenas pela racionalidade, mas também pelo sentir, pelo desenvolvimento da empatia e dos sentimentos. Assim fica claro que chamar estas teorias de criacionistas é um reducionismo por parte daqueles que consideram-se superiores aos demais ou que pensam que o universo se resume às três dimensões e à matéria. Afinal estas teorias não são religiões institucionalizadas, não priorizam uma hierarquia da humanidade, nem priorizam meros dogmas. Por mais polêmico que pareça, estas “teorias” ou “filosofias” são métodos de aquisição de conhecimento, portanto são saberes, não tão diferentes nem tão distantes das ciências.

Leitura ecumênica de "as boas obras", "a oração" e "o amigo insistente"

Aqui continuo com os ensinamentos de Jesus, conforme os textos atribuídos a Mateus e a Lucas:  Fazer as boas obras discretamente (Mateus, Lu...