Esta é a primeira de longas reflexões que eu fiz sobre mente humana após meses de experiências (chamadas de mediúnicas em certos meios espiritualistas). Em resumo, eu passei pouco mais de uma década de minha vida (aproximadamente dos 20 aos 35 anos de idade) como um cético, ateu em prática. Mas após experiências mediúnicas que me causaram significativo sofrimento, e que, muitos me classificariam como esquizofrênico ou louco, eu senti a necessidade de me dedicar a espiritualidade. Ainda assim, achei bastante ilógico desconsiderar as tentativas de explicações sobre a mente e seus fenômenos mais "polêmicos", então escrevi uma série de reflexões...
Reflexão sobre Expansão e Extensibilidade da Mente
Existem
duas possibilidades de desenvolver as capacidades mentais de um ser
vivo (particularmente o ser humano): Racionalmente, resolvendo
problemas, pesquisando soluções e desenvolvendo novas ideias / projetos e
sentimentalmente, colocando-se no lugar de diversos outros seres vivos,
e imaginando suas motivações, percepções e reações, principalmente no
lugar de outros seres de intelecto complexo (como o homo sapiens na
Terra por exemplo). Note que se trata de um desenvolvimento do pensar
(entender fatos, eventos etc) e do sentir (não apenas os sentidos do
indivíduo, mas também os sentimentos próprios e alheios). Apesar de
diferentes, o desenvolvimento racional-mnemônico e o sensitivo-intuitivo
não são excludentes entre si.
Um possível exemplo é quando
estuda-se ideias, conceitos, dogmas, filosofias, teogonias e religiões. O
estudo através da leitura e interpretação de textos geralmente é
racional ao menos inicialmente. A partir do momento em que o estudioso
dedica-se à prática de um ou mais temas estudados ou a partir de um
momento de profunda reflexão sobre tais assuntos, as duas formas de
desenvolvimento (racional-mnemônico e o sensitivo-intuitivo)
aproximam-se entre si.
A aquisição de conhecimento aliada à
prática de entender “o próximo” pode ser tratada como uma forma de
expansão e/ou extensão da mente. O termo extensão parece mais utilizado
no segundo caso, também como sinônimo de solidariedade e ágape.
A
prática da solidariedade / ágape é uma maneira de exercitar o entender
dos seres humanos além das necessidades e desejos individuais, além de
ser uma maneira ou oportunidade de criar um elo saudável, onde não há
foco em cobrar a pessoa que recebe a ajuda.
Existem maneiras
diferentes de expandir a mente no campo sensitivo-intuitivo, mas esta é
uma das mais intensas: É onde há a possibilidade de conhecer a fundo não
só os problemas da pessoa que está a receber a ajuda, mas também suas
experiências, motivações etc.
Obviamente se tratando de uma
relação interpessoal, o processo geralmente não é simples: Quanto mais
ou maiores os problemas da pessoa que recebe a ajuda, mais desafiadora
será a prática da extensibilidade.
Importante notar que pessoas
em necessidade, seja sócio / econômica, afetiva etc, geralmente vivem em
grupos como famílias ou comunidades e são também uma realidade social
em muitos países, portanto também são um “problema” de grande
abrangência nestes territórios. Tal problema pode exigir um
desenvolvimento mais intelectual / racional, principalmente por pessoas
da área de assistência social que precisam encontrar soluções para
auxiliar estes grupos de pessoas…
Enfim, ajudar uma comunidade ou uma pessoa são práticas de
extensibilidade da mente humana. Em geral entende-se que é mais difícil
um indivíduo ajudar uma comunidade inteira, a menos em caso deste
indivíduo ter recursos que facilitem uma intervenção para auxiliar o
grupo, como um alto posto político e/ou econômico.
Limites da Extensibilidade
Em
geral, o indivíduo pode se ocupar gerando a possibilidade de inclusão
de uma ou mais pessoas necessitadas na sociedade ou até buscar um bem
estar social das comunidades.
Para isto é necessário certo grau
de empatia, afinal uma pessoa sem esta qualidade não vê motivos para
ajudar o próximo, seja uma pessoa ou uma comunidade toda.
Este
exercício de ajudar o próximo, numa escala menor ou maior, é contínuo e
cedo ou tarde requer que mais pessoas o pratiquem. Por exemplo uma
população sem visão da amplitude de toda sua nação (sociedade) tende a
ser ignorante, exploradora, intolerante e até mesmo separatista, pois a
mentalidade e comportamento contrários à extensibilidade é o pensar
apenas em si mesmo (egoísmo, individualismo) e a cobrança (de uma
recompensa, taxa etc) antes de prestar qualquer tipo de auxílio ao
próximo.
Similaridades e Relações entre Expansão e Projeção da Mente
Teorias
espirituais e religiosas levam a extensibilidade além dos agrupamentos
humanos, sejam eles vilas, cidades ou até nações. Em muitas delas a
mente humana se estende além do corpo, seja antes, depois ou até mesmo
durante a vida na Terra.
Parece algo muito diferente dos
pensamentos e sentimentos voltados às outras pessoas e a sociedade, mas
na verdade esta diferença é mínima, pois alguns filósofos ao longo da
história, já fizeram esta relação. O filósofo dinamarquês do período
iluminista, Soren Kierkegaard, por exemplo, identifica 3 estágios da
existência humana que variam de acordo com as visões de mundo e as
experiências particulares de cada pessoa:
O 1º estágio é o
estético, no qual o prazer momentâneo do belo e do desejo imediatista
satisfeito é o que garante a “felicidade” ao ser humano. É descrito como
o paraíso das experiências sensoriais e do ponto de vista mais
religioso, também é o estágio onde predominam o pecado e o desespero
(não necessariamente no sentido de medo, mas possivelmente a falta de
esperança).
O 2º estágio é o ético, que, ao suceder o estágio
estético, garante uma evolução na condição humana. Neste estágio o ser
vai abandonando seus prazeres e gostos pessoais por haver encontrado nas
leis da moral e da conduta universais um patamar melhor para sua
existência. A pessoa que entra no estágio ético, compreende que as leis,
ainda que de forma um tanto abstrata, são mecanismos que limitam o
comportamento humano e que podem ser um guia na racionalidade. A moral e
a ética levam o indivíduo a aceitar uma certa limitação e desse modo o
peso da culpa faz-lhe distinguir o próprio ser de forma individual. Aqui
o ser pode aprender o valor da vida.
Por fim, no 3º estágio, o
religioso, é o mais difícil de ser assimilado. No estágio anterior, o
ético, podem surgir pensamentos ou sentimentos de dúvida, de culpa ou de
inconformidade que farão a pessoa regredir ao estágio estético, ou
avançar ao religioso (aqui podemos usar a palavra estágio espiritual,
mesmo porque, Kierkegaard era bem crítico à igreja protestante de seu
tempo). O estágio ético é como uma mola propulsora que não permite à
pessoa ficar apenas naqueles padrões de compreensão. Ela necessita mais.
E essa transição para o religioso é difícil e dolorosa, assim muitas
das vezes, a pessoa adere ao que lhe parece mais confortável e fácil,
retornando ao primeiro estágio, o estético. Porque, para se garantir o
alcance definitivo do estágio religioso, a pessoa necessita se
comprometer com a própria fé e nunca duvidar ou retornar ao ponto de
partida, o primeiro estágio. A crença em um Deus vivo e forte, não
somente em uma imagem ou pensamento, mas um Deus supremo e no qual o
Amor é representado de forma íntegra, o único caminho, a Verdade
suprema. Uma compreensão que muitas vezes fere o próprio ego, mas que ao
ser atingida no estágio religioso, serve de guia a uma existência
engrandecedora e verdadeira.
Portanto, a mente que busca o
conhecimento e o bem, ainda que seja de modo abstrato, pode se estender
além do corpo, sendo assim, indissociável do conceito de extensibilidade
como conjunto empatia e ágape / solidariedade.
O estado mental
de pureza e de compreensão do todo é representado nas religiões em
esquemas gráficos ou em imagens de profetas, santos, enfim, de
personagens da religião:
A “coroa” vista no topo da árvore da
vida do judaísmo e no mais elevado chakra do hinduísmo, o disco acima da
cabeça nas imagens egípcias de deuses e faraós e as auras em torno da
cabeça nas imagens de Jesus e dos santos no cristianismo é uma
representação desta expansão mental / desta extensibilidade. A
mediunidade do espiritismo e da umbanda, assim como o tonali da religião
asteca, é a abertura e a expansão da mente nesta maneira.
Mas
criar uma representação visível da bondade e de um conjunto de dons
tidos como sobrenaturais faz sentido? Ora, tanto a bondade, como as
histórias de pessoas capazes de realizar milagres e outros feitos
aparentemente inexplicáveis existem desde antes da história escrita
(iniciada aproximadamente em 3500 aC), então obviamente uma forma de
registrar tais coisas é representá-las de alguma forma nas artes como
nas pinturas e nas esculturas.
Se estes registros existem desde antes da história da escrita seriam todos eles mentiras? Superstições? Provavelmente não.
Talvez
enquanto o ser humano não realiza o desenvolvimento racional-mnemônico e
principalmente o sensitivo-intuitivo, ele não pode perceber nada além
da curvatura espaço-tempo. As mentes desenvolvidas desta maneira e as
mentes que de alguma forma se mantém coesas após o desencarne,
naturalmente “se deslocariam” para uma dimensão além do espaço / tempo
conhecido (plano astral, 4ª dimensão etc), ou talvez, seja uma matéria
(elemento ou radiação) inicialmente imperceptível para a maioria dos
seres humanos.
Talvez o fato da glândula pineal ser um
fotorreceptor interno na cabeça do ser humano tenha alguma relação com
as matérias / elementos / radiações imperceptíveis e com as mentes
desencarnadas / espíritos.
Verdadeiras Religiões - A mente se expandindo e conectando-se à algo maior:
No
judaísmo místico cada uma das ordens de espíritos (anjos) está situada
em uma zona do cosmo representada por uma zéfira (gema ou fruto),
separadas em 4 níveis:
Atziluth: plano da emanação; onde Deus age
diretamente (praticamente só, o mistério / paradoxo da mudança do
imutável ao mutável);
Beriah: plano das criações; onde espíritos
superiores (expandidos?), os anjos, começam a perceber suas existências
distintas de Deus; separado de Atziluth pelo abismo (ou reflexo, pseudo
sefirat) do Daath. lar dos arcanjos (permanentes);
Yetzirah:
plano das formações dos elementos e da vida material; onde os anjos
(temporários) agem. Onde define-se o bem e o mal. O bem ganha força para
superar o mau após dedicarmos a fazer o bem para os outros. Pode ser
percebido ao falar (orar) para Deus, ou a estudar o Torá;
Asiah:
plano das ações (Malkhut), representando a existência material. Os
ofanin (Ishim?), liderados por Sandalphon, ouvem e apoiam esforços
contra o mau. Espiritualidade e piedade são transmitidas a este mundo,
onde os poderes obscuros e impuros espreitam.
O espelho ou abismo
do Daat está no espaço entre o nível Beriah e o Atziluth. Somente num
momento de verdadeira solidariedade / piedade e certeza(?) / Harmonia /
gratidão? (Alegria e gratidão por ser solidário ou piedoso) é possível
ver o (reflexo do?) Kéter.
Isto parece explicar alguns outros
processos mediúnicos, pois na religião asteca por exemplo, a abertura do
tonali (a alma do topo da cabeça) deixaria o indivíduo (certamente um
típico religioso ou sacerdote) vulnerável aos tanto aos espíritos maus
como aos bons.
No espiritismo, a necessidade de progredir
(progresso este inseparável da humildade e da solidariedade) são
ressaltadas para que o médium receba orientações e consolações de bons
espíritos.
A busca por algo além da vida e do universo material
pode gerar um efeito desconfortável de “vazio” psicológico, chamado aqui
de escorregão mental. Talvez forçando uma região do cérebro
(tálamo, glândula pineal?) numa tentativa de perceber ou projetar dados /
informações da mente além da curvatura espaço / tempo, o escorregão
então geraria um breve “vazio”. Com insistência, (mas sem
desenvolver empatia, praticar solidariedade, ágape?) breves contatos com
dados mentais (vibrações ou espíritos) mais próximos à Terra,
ocorreriam. Estes podem ser interpretados como mentes que se projetaram
além do corpo, mas permanecem perdidas ou apegadas à Terra.
“Dentro do judaísmo místico” estariam estas mentes em Asiah ou até mesmo em Yetzirah?
Talvez uma experiência profunda como o êxtase ampliaria muito o alcance da mente?
As Dimensões da Mente e suas Projeções
De
fato estas dimensões não possuem estruturas fáceis de se entender como
as 3 dimensões do universo material conhecido até então. Devem ser
alcançadas com um tipo de expansão mental, pois as dimensões chamadas de
4ª ou de plano astral estão ligadas a um tipo de movimento em várias
(ou todas) direções “para fora” (expansão / explosão) enquanto a
retração mental estaria ligado ao universo material ou a um espaço “sub”
vinculado à todas direções para “dentro” (contração / implosão)?
Explicar
experiências psíquicas que alcançam além de nosso corpo é difícil por
várias razões… Talvez a partir de determinado ponto de percepção ou
conhecimento das dimensões (além da curvatura espaço tempo), geram-se
aberturas que podem atrair as mentes projetadas / desencarnadas. Quais
tipos de mentes serão atraídas varia conforme os sentimentos do “ser
material”…
Funcionaria como uma lei natural de reação à projeção
de pensamentos, sentimentos, memórias, conhecimentos etc. Ou talvez como
um tipo de magnetismo que atrai o que se assemelha (ou o que está
relacionado), o que explicaria a teoria do magnetismo animal proposta
por Franz Mesmer no século 18.
Como mencionado anteriormente o
movimento de extensão e/ou expansão seria relacionado à ágape, abrir-se a
outras mentes e se dispor a perdoar. Enquanto o de retração seria o
individualismo, o egoísmo e o preconceito / intolerância…
Para entender melhor as possíveis “dimensões” da mente, é útil recorrer a alguns autores:
O
filósofo grego do século IV aC, Sócrates, afirmou que é importante
sempre buscar o bem (kalos, que abrange o bem e o belo, similar ao inglês "fine"), e que só assim se encontra ou se aproxima da
verdade. Todo estudo e todo conhecimento deve ser voltado ao bem senão
tende à falsidade ou à inutilidade. Os mais belos e mais verdadeiros
prazeres estão associados à inteligência e à sabedoria, aspectos da
mente, que por sua vez, só encontra a verdadeira beleza no bem.
Sócrates,
chamando a mente de alma (psique), afirma que ela é imortal. Três de seus
argumentos são:
Tudo existe através de relações. (sim, tem semelhança com a teoria geral
dos sistemas, desenvolvida 24 séculos depois) Portanto a existência do
frio e do calor são interdependentes, assim como a existência dos corpos
grandes e dos pequenos, do egoísmo e do altruísmo etc. Estas relações
parecem se apoiar em uma dualidade ou em oposições. Assim a vida existe
por causa da morte e vice-versa. A mente (alma) do vivo deve “morrer” e a
mente do morto deve reviver (nega a inexistência, assim como outros
filósofos também negaram).
Os opostos não existem simultaneamente, pois isto seria o estado de caos
(teoricamente anterior a existência do universo), provavelmente citado
por Anaxágoras e presente no mito de Khaos, a entidade que deu origem
aos “primeiros deuses” da mitologia grega.
As reminiscências
podem trazer lembranças ou associações de uma vida anterior ao
nascimento da pessoa, ou seja, de outra vida, outra encarnação.
O
que pode fazer dano à mente (alma) é o vício, mas mesmo o vício que
pode degenerar tanto a mente, não é capaz de destruí-la por completo,
portanto a alma é imortal.
Os pensamentos e sentimentos existindo
fazem da mente alguma coisa. O psicanalista suíço, Carl Gustav Jung,
afirma isto e também diz que o fato de não conseguirmos medir a mente
não deve nos impedir de estudá-la. Jung reconhece a repetição de
comportamentos e de certas crenças através das gerações de seres humanos
como um elemento ligado ao inconsciente da mente. O inconsciente não
seria formado apenas por impulsos primitivos de sobrevivência e de
memórias e sentimentos reprimidos, ele também tem a ligação com a
possibilidade de uma “memória” além da vida intrauterina, e portanto,
com uma função transcendente. No inconsciente também existem um desejo
de comodidade que tende a ser estagnante e uma força criativa, que pode
ter ou receber inspirações pelo fato de estar conectada com o que existe
ou existiu além da vida intrauterina de cada pessoa.
Porém Jung
entende por transcendência uma espécie de harmonia entre o inconsciente e
o consciente. O consciente que está ligado não só ao ego (o Eu, ou
“self”), às normas sociais, mas também ao viver o presente, às
percepções e interpretações “em tempo real” etc.
De acordo com
Sócrates/ Platão tudo o que é visível (entende-se tudo que é capturado
por um dos 5 sentidos) é mutável, podendo ser composto e decomposto. A
alma/ mente seria (ao menos quando afastada dos sentidos do corpo
material) imutável, por isso seria imortal.
Considerando que a
expansão da mente pode se dar pelo desenvolvimento racional (muito
estudo) e pelo desenvolvimento sentimental (uso da empatia, buscar
entender o próximo etc), esta expansão de um modo mais literal ativaria
um outro sentido. Talvez relacionado ao que antigas culturas afirmavam
sobre o “olho da mente”, localizado na glândula pineal, no tálamo ou em
algum outro ponto “dentro da cabeça” etc…
Este sentido passaria a
detectar sentimentos e manifestações sutis de origem eletromagnética ou
de origem em algum comprimento de onda que não era percebido até
então.
Imutável x Mutável?
O conceito de uma
entidade eterna onipresente (imutável) é totalmente distinto do plano
material onde todos seres e objetos estão submetidos ao espaço e tempo
(mutável).
O supremo Deus do judaísmo, do orfismo (grego),
possivelmente também do hinduísmo e do politeísmo fenício (cananeu)
teria(m) criado o universo, gerando (ou “movendo”) o tempo (e o espaço
“físico”?)
Se dimensões “mentais / espirituais” como a “quarta”
ou o "plano astral" forem mais próximas de Deus, seriam elas atemporais?
Seriam apenas conectadas (ou as próprias conexões) entre mentes
encarnadas e projetadas, ignorando os efeitos do tempo?
Do ponto
de vista da mente humana, a transição do imutável ao mutável, seria uma
mudança / transformação constituída de contradições, assim como parece
contraditória a passagem da existência à não-existência ou vice-versa.
Estas contradições já foram discutidas por filósofos da Grécia antiga,
talvez de maneira pouco ou nada frutífera, já que tratam de assuntos
extremamente complexos e distantes das questões da vida na Terra.
Atualmente, cientistas que tentam desvendar sobre o surgimento do
universo são os que mais se aproximam de temas deste nível, mas através
de métodos científicos, sejam baseados no empirismo, na teoria geral dos
sistemas ou outro meio "mensurável"…
Expandindo a Mente além da Solidariedade e da Piedade
Analisando
a árvore da vida judaica de baixo para cima encontramos 3 zéfiras acima
de Chesed (a Piedade). Possivelmente o tema central da doutrina de
Jesus Cristo, Chesed/ piedade, também representa a ágape e o ato de
auxiliar o próximo sem esperar recompensa. Acima deste conceito de ágape
estão as zéfiras de Binah (o Entendimento), Chokmah (a Sabedoria) e
Kether (a “Coroa”). O Entendimento e a Sabedoria estão relacionadas a
outras antigas religiões com elementos astrológicos (Grega e Romana): O
Entendimento está relacionado à Saturno (comparado com Kronos da
religião grega) e a Sabedoria com Urano (comparado com Caelus da
religião romana). Na astrologia estes planetas representam a mente
superior, talvez a mente além do corpo humano que se aproximam da Mente
Cósmica / de Deus. Por fim o Kether está relacionado à Netuno na
astrologia (talvez isto explique porque no mito grego da Atlântida havia
uma posição especial para Poseidon, a divindade comparada com Netuno) e
o ponto mais alto da árvore da vida, a zéfira “mais escondida” no
universo.
Em alguns textos judaicos o Kether representa a humildade de Deus que
cria o universo. Ao “olhar para baixo, suas lágrimas” representam a
tristeza sincera pela situação de dor / vazio do próximo e a duradoura
esperança. Aqui possíveis interpretações são que Deus dá uma chance
(eternamente) a cada ciclo de renascimento do universo… Um estado mental
além da solidariedade, a tentativa de ajudar aqueles que se perderam e a
esperança que transcende os renascimentos cósmicos.
Como este
processo de expansão mental é um processo de evolução, ou de
desenvolvimento, ele pode ser árduo e para a maioria das pessoas deve
ser bastante lento, isto quando ocorre. A dificuldade está em
desenvolver variados aspectos da mente, como a racionalidade e o
sentimento.
Logicamente, muitas das lideranças do sistema
socioeconômico dominante, irão preferir que a maioria das pessoas não
desenvolva tais aspectos mentais. Na verdade, o lado racional é
permitido, desde que se atenha às tarefas específicas e limitadas, como
uma profissão. Já o lado sentimental é permitido desde que possa ser
manipulado, seja por propagandas consumistas, religiosas conservadoras,
discursos de medo, paranoia etc.
Além disto, é possível que
aconteça algum tipo de isolamento psicossocial quando o indivíduo
desenvolve qualquer um destes aspectos mentais em demasia (em comparação
à maioria da população). Este desenvolvimento mental em demasia pode
parecer pura especulação, pois o conhecimento neste campo envolve
complexos estudos do cérebro e possivelmente experiências e dados
inconclusivos, mas mesmo assim, assumindo que existe a tal
neuro-plasticidade, ela pode ter um limite. Ultrapassado este limite
pode ocorrer a síndrome do burnout, que tida como um desgaste
profissional, na verdade pode estar vinculada ao excesso de atividades
racionais ou de racionalização da mente. Por um outro lado, síndromes
como a despersonalização podem estar relacionadas a um desequilíbrio nos
aspectos sentimentais.
Apesar das possíveis dificuldades do
processo de expansão mental, é possível perceber que os processos
positivos ou expansivos estão em “sair de si mesmo”: Buscar
conhecimentos novos, relações novas, sentimentos profundos com uma outra
pessoa, ou mesmo novos sentimentos com grupos maiores de pessoas. Os
processos positivos mais internos são a reflexão sobre os próprios
sentimentos, sobre as experiências individuais ou mesmo sobre as
experiências coletivas.
Já os negativos estão em fechar-se em si mesmo, seja isolando-se ou
impondo seus sentimentos e pensamentos sobre outros. Oprimir, ameaçar,
agredir o próximo são manifestações externas dos processos negativos.
Logo
é possível entender por evolução, os processos positivos, por uma
questão óbvia: Embora estes processos pareçam subtrair dos indivíduos
como no caso de “doar-se”, ao demonstrarem sentimentos POSITIVOS, eles
ADICIONAM ao todo, ou seja, nas relações com todas as coisas, rumo a
algo literalmente maior, expansivo. Além disto, se um indivíduo doa seu
conhecimento ou sua atenção e emoções a(s) outra(s) pessoa(s), forma-se
uma relação, e, independentemente de sua duração em tal processo pode
existir uma troca de informações, conhecimentos, afetos etc.
Logicamente
os processos NEGATIVOS, de um modo geral, SUBTRAEM do todo, das
relações e são típicos da rivalidade, da ignorância (inclui
negacionismo) da ganância etc.
Portanto, "expandir conectando”
deve ser a verdadeira evolução de todas as coisas. Conectando pessoas,
seres vivos com o ambiente, estruturando as forças psíquicas, sociais,
biológicas, eletromagnéticas do universo, continuando o processo de
expansão cósmica sem colapsar…
Bhakti-Yoga, as Filosofias e as Ciências
O
Bhakti-Yoga é um dos ramos da Yoga (união da mente e do corpo em um
contínuo único), conhecido como caminho do amor, que leva à
auto-realização, ou à comunhão divina, através da devoção. Como o
próprio nome indica, este caminho não consiste em um simples fervor
(fanatismo) nem em um mero desejo de explorar ou de conquistar: O
Bhakti-Yoga requer uma postura não-interesseira, como a humildade, para
adquirir a compreensão do absoluto.
Embora possa ser visto como
uma vertente religiosa devido a suas origens em um processo de
restauração e reforma do hinduísmo medieval (século VIII), o Bhakti-Yoga
também é um caminho de desenvolvimento psíquico (mental) e portanto,
também um método de aquisição de conhecimento.
Este método mostra
que a mente material é a diretora dos sentidos materiais e que apesar
de podermos controlá-la, raramente o fazemos. Isto ocorre porque a mente
material é um reservatório, de certa forma, constituído de uma
sequência de pensamentos e sentimentos condicionados pela própria lógica
e com estímulo dos (cinco) sentidos.
O ser humano tende a
considerar que a mente material é o “eu”, mas o Bhakti-Yoga nomeia de
Jivatma a verdadeira consciência (ou o verdadeiro “eu”) que conecta a
mente material com o absoluto (Krishna). Em seu estado natural ou ideal,
o jivatma deveria controlar a mente material e não o contrário. Isto se
assemelha com os conceitos de mente superior e de mente inferior
apresentados por Sócrates na civilização helênica do século IV antes de
Cristo.
A comparação da mente material com o “eu” pode ser notada
em teorias psicológicas como a psicanálise de Freud e até mesmo na
psicologia analítica de Jung. Apesar do último se aproximar mais das
teorias orientais, ao considerar que o inconsciente conecta a algo
maior, ao que ele chama de inconsciente coletivo…
Isto aconteceu
porque nenhum dos dois pesquisadores quis se afastar em definitivo das
correntes científicas dominantes de sua época: o empirismo (monista e/ou
materialista) e o racionalismo. Mesmo assim, ambos são poucos aceitos
por “cientistas” empiristas e monistas materialistas. Neste caso, o
termo empirista refere-se a uma filosofia, mesmo porque em sua origem
(durante o período iluminista), tanto o empirismo como o racionalismo
eram de fato teorias filosóficas. Além disto, cientistas que aceitam
apenas estas teorias científicas, negam tantas outras, reduzindo a
“ciência” a uma ou duas correntes teóricas de séculos atrás, o que pode e
deve ser considerado um reducionismo.
O primeiro estudioso a
tentar avançar além do racionalismo e do empirismo (na história
ocidental), foi o matemático e filósofo, Edmund Husserl, ao desenvolver o
método investigativo da fenomenologia. A partir de seu método, que
aparentemente foi aceito por alguns cientistas, surgiu a terceira frente
da psicologia (as abordagens fenomenológicas), ao lado das frentes
psicanalíticas e comportamentais.
A fenomenologia surgiu da necessidade de enxergar o todo e da
necessidade de “sentir o que o próximo sente” no processo de estudo ou
de comunicação entre o “analista” e o “objeto” analisado (este processo
chamado de “projeção de consciência” é de certa forma transcendental,
pois requer o abandono de preconceitos e a busca por entender o
próximo).
No Bhakti-Yoga o conhecimento do absoluto deve descer
diretamente do absoluto, que talvez possa ser considerado “o todo”.
Porém é útil destacar que isto vai de encontro ao conceito de Deus do
hermetismo e do misticismo judaico: O conhecimento do absoluto sai do
imutável (Deus eterno e onipresente) e chega ao mutável. O mutável
possivelmente é o “universo onde o tempo passa”, ou seja o universo em 3
dimensões / o espaço-tempo continuum.
Na religião órfica e nas
filosofias da Grécia Clássica, este processo também é mencionado: O
orfismo mostra que Ananke (a necessidade), gerou Chronos (o tempo) e
tanto os filósofos naturalistas (pré-socráticos) como os filósofos
socráticos citavam um Deus supremo como criador do universo. Portanto
Nous, a mente cósmica, citada por Anaxágoras seria esse Deus supremo e
imutável que organizou o universo, enquanto Sócrates assumia um Deus
supremo desmentindo uma parte significante dos mitos politeístas da
antiga cultura helênica.
Todas estas “filosofias” buscavam o
conhecimento e o desenvolvimento da mente. E como mencionado
anteriormente, o desenvolvimento da mente não se dá apenas pela
racionalidade, mas também pelo sentir, pelo desenvolvimento da empatia e
dos sentimentos. Assim fica claro que chamar estas teorias de
criacionistas é um reducionismo por parte daqueles que consideram-se
superiores aos demais ou que pensam que o universo se resume às três
dimensões e à matéria. Afinal estas teorias não são religiões
institucionalizadas, não priorizam uma hierarquia da humanidade, nem
priorizam meros dogmas. Por mais polêmico que pareça, estas “teorias” ou
“filosofias” são métodos de aquisição de conhecimento, portanto são
saberes, não tão diferentes nem tão distantes das ciências.